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Gira Mundão

Gira Mundão | Cap 02 | Escravos para sempre?

ÚLTIMA CENA DO CAPÍTULO ANTERIOR:

Lopes: Linda sua filha em?
Jorge: Ah, essa boca moleque! Ela é uma moça direita, de família, não irá namorar nem casar com você.
Lopes: Posso dar uma palavrinha com sua filha na mansão?
Jorge: Vai vai, mas qualquer coisa além do comum, você vai ver.

Capítulo 2
CONTINUA:




Cena 1 – Mansão – Tarde 
Lopes foi até a mansão falar com Aparecida. As duas amigas estão conversando sobre a festa. Como estão sozinhas em casa, qualquer barulho poderia assustá-las. 
Aparecida: Jamili, pode ser dia 16? Nos outros dias vou estar trabalhando.. então, só este dia estarei livre.
Jamili: Dia 16 não vai dar.. Tenho que ir urgentemente para uma festa de família…
Aparecida: Jamili! Se não é dia 16 não vai ser NUNCA!
Jamili: Calma calma.. Mais tarde eu converso com meus tios, são eles que estão organizando a festa.
Aparecida: Tudo bem, mas só tenho até o dia 13 para receber a resposta. Se até lá, olha escute bem menina e olhe para mim!
Jamili: Tá bom ”mãe”.
Aparecida: Se até lá você não me entregar o que eu preciso para fazer esta festa bombar, eu continuo sem você!
Jamili: Blá blá blá, pode deixar.
Do nada, acontece um barulho muito forte na janela 
Jamili: Que susto meu deus!
Aparecida: É só o Lopes mulher! Nossa, você ia morrer de rir se você vesse o pulo que cê deu!
Lopes: Eu vim conversar com as senhoritas
Aparecida: Lopes
Lopes: O quê?
Aparecida: Cai fora vai, oshe!
Cena 2 – Mansão – Dia
É a hora dos escravos da Fazenda Coro Velho trabalharem. Taú e Xoloni ficaram encarregados de limpar a mansão de Jorge. 
Jorge: Quando eu sair, quero tudo limpo! Tenho visitas importantes hoje, e quero mostrar a eles que aqui é uma mansão descente, de gente!. Vamos, Aparecida.
Aparecida: É para já meu pai, mas o senhor pode esperar um tantinho de nada?
Jorge: Aparecida! Não me atrase, eu preciso sair.
Aparecida: Então saia meu pai, não tem motivo nenhum para me levar.
Jorge: Aparecida, José quer negociar e você é a nossa negociadora, lembrada?
Aparecida: Essa vida de negociadora não está dando certo.. Vou me demitir
Jorge: Ah meu deus! Glória deus! Eu nunca lhe pedi nada, faça essa menina parar de se arrumar para nós irmos logo!
Aparecida: Tudo bem pai! Mas se me chamarem de feia, a culpa é do senhor.
Jorge: Tudo bem, tudo bem! Pode ir, irei dar as ordens aos escravos.
Taú: Não precisa dar ordem nenhuma não tio, já estamos cientes.
Jorge: Eu dou as ordens a hora que eu bem quiser. Se eu quiser, repito cinco vezes a mesma ordem. Eu quero que vocês, limpem essa mansão como se fossem limpar por completo a alma de vocês. Escutaram?
Taú: Sim
Xoloni: Sim
Jorge: Pois bem, quando eu retornar quero esse lugar sorrindo de tanto brilho
*Jorge sai*
Taú: Por onde nós começamos?
Xoloni: Aqui é realmente grande.. Que tal a gente começar pelo quarto?
Taú: Aqui temos 3 quartos, qual a gente começa primeiro?
Xoloni: O que você achar que dá menos trabalho.
Taú: Então, vamos por esse daqui.
Cena 3 – Fazenda de Jopretino – Noite
No fim do expediente, Zaila e Amara recebem a visita de Gaxambu na fazenda de Jopretino. O menino estava o dia inteiro trabalhando com outras crianças no outro lado da fazenda, o lado em que os escravos adultos são proibidos de entrar.
Gaxambu: Mãe!
Zaila: Meu filho, que saudade! Você está bem? Fizeram alguma coisa com você?
Gaxambu: Estou muito bem mãe! Calma, não fizeram nada..
Amara: Onde você estava menino?
Gaxambu: Eu estava com a Carolina. Mãe, você tem que se acostumar, já é a segunda vez que eu saio, e não a primeira…
Zaila: Que bom! Mas coração de mãe é assim mesmo meu filho. Comeu algo?
Gaxambu: Comi só frutas..
Amara: O importante é que você está aqui agora.. Daqui a pouco vamos para as senzalas.
Gaxambu: Então.. eu estou aqui como uma visita
Zaila: Como assim?
Gaxambu: Carolina arrumou uma senzala só para nós
Zaila: Quer dizer que não vou te ver mais?
Gaxambu: Não mãe, não é isso
Amara: Então o que é menino!? Explique direito!
Gaxambu: Eu irei morar agora em uma senzala separada. Nos veremos apenas nos fins de semana.
Zaila: Não é possível! Eles não podem fazer isso meu deus!Cena 4 – Bar do Carlinhos – Dia
Toda manhã, Pedro Maciel vai ao Bar do Carlinhos, onde conversa sobre a vila e as fazendas com seus colegas de bebidas. 
Joaquim: Encha meu copo, Carlos!
Carlos: É para já
Pedro Maciel: Então.. Ficaram sabendo de uma festa que o Jorge vai dar na fazenda dele?
Carlos: Sim, parece que vai ser de aniversário da Jamili
Pedro Maciel: Esse povo não sabe nem criar uma festa surpresa, ficaria muito mais interessante
Joaquim: Chega de falar nesse assunto. Pra quê falar nesse assunto já que o seu Jorge não vai convidar a gente? Ele nunca convida os pobres, só os mais nobres vão as festas dele.
Pedro Maciel: Eu sou nobre, porém humilde. Então eu estarei nessa festa
Joaquim: Mas a maioria do povo aqui nesse bar não vai
Pedro Maciel: E aí se esse povo todo não vai. O importante é que eu vou.
De repente, a porta bate, é Jorge entrando no bar. 
Jorge: Cheguei
Carlos: Bem vindo novamente, Jorge, o que lhe trás a estes cantos?
Jorge: Eu quero uma dose. Uma dose bem louca mesmo.
Carlos: É pra já. Aliás homem, estávamos falando de você agora pouco.
Jorge: E que diabos eu posso saber do que estavam falando de mim?
Carlos: Sobre a festa que sua filha vai dar, porque o senhor não convida os pobre como nós?
Jorge: Festa minha não tem pra pobre não. Anda logo, chega de mimimi e vá fazer o seu trabalho.

Cena 5 – Fazenda Coro Velho – Mansão –  Dia – 1850 
Inicia-se uma nova fase, um salto de vinte anos acontece. Está rolando para todos os lados, pessoas brancas correndo entregando jornais para outras pessoas. Estavam noticiando algo de tão importante nos jornais, era a Lei Eusébio de Queirós, que proibia o tráfico negreiro. 
Joaquim: Moça, já pegou o jornal de hoje?
Hagata: Não, por quê?
Joaquim: Corre que está super importante, vou lhe entregar o jornal
Tudo estava sendo observado por Aparecida que estava em uma janela ao lado de seu pai. Ela virou as costas e falou.
Aparecida: Não sei porque esse povo fica tão preocupado com isso, aliás a escravidão ainda não acabou.
Jorge: Vamos praticar agora somente o tráfico interno, já que o tráfico africano teve de acabar.
Aparecida: Vamos dar essa notícia a nossos escravos?
Jorge: Não, não é necessário que eles fiquem sabendo do que acontece aqui fora.
Jamili entra com uma sexta de flores na mão.
Jamili: Aparecida, essas flores são para você.
Aparecida: Que flores lindas, quem deu?
Jamili: Parece ser um admirador secreto, estavam paradas na frente da casa, com um papel dizendo que era para você
Aparecida: Seja quem for eu agradeço pelo bom ato.
Jorge: Vamos, não podemos perder tempo com flores.
Jamili: Sim, concordo com o senhor. Inclusive, tenho de conversar com você mais tarde.
Jorge: Sobre?
Jamili: Negócios, tenho certeza que lhe interessará.

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Cena 6 – Fazenda Coro Velho – Área dos Escravos – Dia
Taú está observando os escravos trabalhando na Fazenda Coro Velho. Acontece que, com o passar do tempo, Taú foi ganhando mais respeito pelos escravos. Ele é chamado de Pai dos escravos nesta fazenda, por ser o escravo mais velho. com 50 anos. Cândido, um novo escravo, está selecionando mangas, ele logo faz uma pergunta a Taú.
Cândido: Taú, venha cá!?
Taú: Que foi homem?
Cândido: Qual tipo de manga que eles gostam?
Taú: Eles não tem preferência. Eles escolhem a manga na hora.
Cândido: Mas como assim, pai?
Taú: Cândido, o que você precisa na hora de escolher as mangas, é sorte. Você vai me entender um dia.
Gaxambu chega correndo pedindo ajuda à Taú. 
Taú: Por que está correndo assim, Gambu? Por onde estava?
Gaxambu: Jorge mandou eu cuidar das ovelhas, só que, as ovelhas fugiram. Vim correndo pedir ajuda ao senhor
Taú: Que pensamento de jegue viu moleque? Agora as ovelhas devem estar bem longe. Mas vamos procurar elas antes que Jorge ou qualquer outro descubra e acabe com tua raça.
Cena 7 – Fazenda Coro Velho – Mansão – Dia
Cândido foi entregar as mangas a Jorge. O coronel está sentando em uma cadeira quando ele chegou. 
Cândido: Ô coronel, eu trouxe as mangas que o sinhô pediu. 
Jorge: Eu não gosto desse tipo de manga
Cândido: Mas, sinhô
Jorge: Mas sinhô nada, podia ter trazido manga espada, manga rosa, entre outras, mas vem logo me trazer MANGA UBÁ?
 
Cena 8 – Mata dos Atracauê – Casa da Augusta – Noite 
Todo início de noite, Gaxambu e Augusta, que é filha de Aparecida, se encontram aqui. Acontece que, Jorge manda Gaxambu entregar as roupas de Augusta limpas a ela, toda noite. E a partir do primeiro dia, rolou um clima entre os dois, que agora namoram secretamente. 

Augusta: Quer mais uma xícara de chá?


Diferente dos outros da família, Augusta não é racista com os negros. Porém seu maior medo é alguém descobrir o relacionamento e contar a sua mãe ou seu avô. 

Gaxambu: Claro! Como andam as coisas aqui?


Augusta: Do mesmo jeito, coisas vem, coisas vão. Já to cansada disso, eu quero ir embora daqui Gaxambu! Até quando essas coisas vão continuar?

 

Gaxambu: Se depender de sua família é pelo resto da eternidade. Calma, nós conseguiremos superar isso, Augusta. Confia em mim.
Augusta: Eu confio.
Cena 9 – Fazenda de Jopretino – Mansão – Tarde
Dois dias se passaram. Carolina e José estão conversando sobre a sua fazenda. Carolina, está com uma xícara de café na mão e diz:
Carolina: Essa fazenda está uma decadência! Não sei mais o que fazer painho, é o fim!
José: Seu avô Jopretino também sofreu com a crise da época, mas não fechou a fazenda dele não, olha hoje, nós estamos com a mesma fazenda. Não é por causa disso que vamos fechar.
Carolina: Mas meu pai, você está como prova viva do que está acontecendo. Temos poucas escravas trabalhando aqui, já ninguém quer mais negociar com a gente.
José: Não querem mais negociar com a gente porque nós fizemos algo de errado. Aí devemos corrigir. Raciocina comigo, se fecharmos do que sobreviveremos?

 

 

NÃO PERCA O PRÓXIMO CAPÍTULO DE GIRA MUNDÃO!

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