A Fênix – Capítulo 04
Capítulo 04
Cena 01 – Mansão Alcântara Barreto de Albuquerque. Noite.
Helena vai chegando para junto da mesa.
Helena: Mais uma vez eu resolvi aparecer para o jantar, algum problema?
Raquel: Claro que tem problema, como você vem até a minha casa a essa hora da noite depois de sumir por anos, reaparecer do nada e sem nem avisar?
Helena: Raquel querida, somos irmãs. Eu não tenho porque avisar, somos da mesma família então podemos compartilhar nossas coisas entre nós.
Raquel: Esse não é o caso.
Mateus: Deixa ela jantar mãe, que mau tem?
Raquel: Não se meta Mateus.
Helena: Rapaz, por que você está de óculos escuros à noite?
Mateus tira os óculos: Por isso.
Helena, surpresa: Minha nossa, o que foi isso?
Mateus: Peguei uma briguinha com um playboy na escola hoje e esse foi o resultado! Mas tudo bem, ele apanhou mais.
Miguel: E ele brigou pra me defender.
Helena puxa uma cadeira e senta: É mesmo? Sabe, teve uma vez que eu também peguei briga com uma patricinha na escola pra defender a mãe de vocês?
Miguel: Jura?
Mateus: Mãe, por que você nunca nos falou disso?
Raquel: Ah Helena, você sempre foi tão brincalhona.
Helena: Mas aquilo não foi brincadeira, eu lembro que nós arrancamos os nossos cabelos e rolamos no chão, ela ficou com a cara toda arranhada…
Mateus: (risos), já gostei da senhora tia Helena.
Miguel e Mateus riem e se divertem com a história de Helena, mas Raquel fica irritada. Ela se vira e sai andando.
Raquel, pensando: Não estou gostando nada da presença dela nessa casa, isso vai acabar me prejudicando.
Cena 02 – Morro do Alemão.
Léo e Zeca estão na laje da casa olhando para a cidade.
Zeca: Sabe que às vezes, quando eu fico aqui e olho pra essa vista, eu me sinto tão distante disso.
Léo: Como assim?
Zeca: Eu olho pro céu e é como se eu viajasse pra um futuro distante e bem melhor do que essa realidade em que a gente se encontra!
Léo: E que futuro é esse?
Zeca: Eu, você e a mamãe, vivemos feliz em um apartamento no litoral, nós dois estamos fazendo Faculdade e a mamãe trabalha, e não tem nem sinal daquele velho maldito na nossa vida.
Léo: (suspiro), ah, como eu ia querer que isso fosse a nossa realidade.
Zeca: Quem sabe um dia isso acontece?
Léo: Talvez, mas isso é um futuro meio incerto.
Zeca: Mas que não tem porque não dar certo, quem sabe um dia sorte bate na nossa porta.
Cena 03 – Mansão Alcântara Barreto de Albuquerque.
Sérgio chega e vê Helena sentada no sofá com Mateus e Miguel.
Sérgio: Helena? Você por aqui?
Helena: Sim cunhadinho, surpreso em me ver?
Sérgio: Devo dizer que sim.
Raquel entra na sala: Sérgio, ainda bem que chegou, venha, quero falar com você.
Raquel puxa Sérgio pelo braço.
Cena 04 – Quarto de Raquel e Sérgio.
Raquel bate a porta: Posso saber onde você andou?
Sérgio: Por que tanto mau-humor?
Raquel: E ainda pergunta?! Você saiu de manhã e voltou só agora de noite.
Sérgio: E daí, não posso mais ter liberdade pra andar por aí?
Raquel: Andar por aí, sei, aposto que estava com alguém.
Sérgio: E se eu estivesse, e daí?
Raquel: Você é muito imundo mesmo.
Sérgio: Eu não entendo porque tamanha desconfiança.
Raquel: Como você quer que eu não desconfie de você? Depois do que aconteceu há 15 anos atrás naquela boate.
Sérgio: Lembre-se que tiramos vantagem daquilo!
Raquel: Ah, chega! Eu vou direto ao ponto, não estou gostando nem um pouco da presença da Helena nessa casa.
Sérgio: Por que tanta preocupação?
Raquel: Porque ela desconfia de nós dois, ela se lembra de tudo!
Sérgio: Mas como ela lembra?
Raquel: Ela se lembra de tudo, tudo mesmo! Desde quando éramos crianças, quando os gêmeos nasceram, o acidente, aquela noite na boate, ela lembra.
Sérgio: Ela disse que se lembra disso tudo?
Raquel: Não, mas ela desconfia que nós provocamos o acidente, ela então lembra.
Sérgio se senta na cama, preocupado: Não pode ser, mas o que será que ela planeja fazer?
Raquel: Eu não sei, sinceramente não sei! Ela disse que quer se vingar e claro, quer descobrir qual dos meninos é o filho dela e onde o outro está.
Sérgio: Pelo visto estamos em perigo. O que faremos?
Raquel: Não sei. Mas essa maldita é realmente dura na queda, sobreviveu ao acidente, sobreviveu a aquela noite na boate e voltou rica! Desde sempre ela atrapalha a minha vida!
Sérgio: vai tentar se livrar dela mais uma vez?
Raquel: Eu não tenho outra alternativa! Se ela conseguir alguma prova, nós dois perdemos toda a nossa fortuna e vamos parar na cadeia!
Cena 05 – Manhã seguinte. Casa dos Matos.
Wanda e Humberto estão no quarto conversando.
Wanda: E então, dormiu bem?
Humberto: Sim, e você?
Wanda: Mais ou menos.
Humberto: Pelo que pude ver, você e o Sérgio estão se dando muito bem.
Wanda: Do que está falando?
Humberto: Você sabe, ele ficou boa parte do dia aqui, ao que parece vocês são muito amigos.
Wanda: Amigos? Eu e aquele imundo? Nunca. Você não está achando que…
Humberto: Que o que? Que há algo entre vocês? Eu tenho sim minhas dúvidas.
Wanda: Mas só pode ser brincadeira, eu e o Sérgio? Não me faça rir Humberto!
Humberto: Olha lá Wanda, eu sou muito ligado nesse tipo de coisa.
Wanda: Quanta ousadia sua dizer isso, o Sérgio passou boa parte do dia com você, eu imagino como sejam essas conversinhas de velhos amigos entre vocês.
Humberto: Tem medo que esses nossos passeios envolvam outras mulheres?
Wanda: Não começa!
Humberto: Tudo bem, tudo bem. Mas eu conheço muito bem o Sérgio, eu imagino como os chifres devem pesar na cabeça da Raquel!
Wanda: E você fala isso com a maior naturalidade?
Humberto: Perdão, mas é o que eu acho!
Wanda: Quer saber? Dane-se o que você acha ou deixa de achar!
Cena 06 – Mansão dos Alcântara Barreto de Albuquerque. Quarto de Miguel.
Miguel acabou de sair do banho e está só de toalha, ele está escolhendo uma roupa para ir para a Universidade e Mateus está deitado em sua cama.
Mateus: Vai conseguir sobreviver um dia naquela Universidade sem mim?
Miguel: Não enche Mateus, eu sei muito bem me virar.
Mateus: Eu sei, eu pude ver isso ontem, se eu não tivesse aparecido você ia ter apanhado feio.
Miguel: Eu podia ter me livrado do Jonas sozinho, você não tinha porque partir pra porrada com ele por minha causa.
Mateus: Eu só fiz te fender!
Miguel: Eu podia ter dado conta daqueles valentões sem ninguém se machucar.
Mateus: Sei, ia vir com aquelas suas palavrinhas de que tudo pode ser resolvido no diálogo, que violência não vale a pena.
Miguel: Teria sido bem melhor do que se arrebentar e ser expulso.
Mateus se levanta, irritado: Ah, quer saber Miguel? Você é um mal-agradecido, eu tô aqui com olho roxo, todo arrebentado, levei suspensão pra te defender e é assim que você me agradece?
Miguel: Ai, tá bom, me desculpa.
Mateus: Desculpa por…
Miguel, sem jeito: Desculpa por ser tão injusto com você, eu reconheço que você sempre me defendeu e sempre cuidou de mim e etc.
Mateus abraça Miguel: Ah, eu sabia que você me amava, me dá um abraço, me beija!
Miguel, se afastando: Sai Mateus, quanta frescura.
Mateus, rindo: Relaxa Miguel, eu só tô brincando.
Miguel: Ok, mas será que dá pra você me dar licença pra eu me trocar ou vai querer que eu tire a toalha na sua frente?
Mateus: Deus me livre, vou sair fora!
Mateus diz isso e sai correndo do quarto.
Miguel, rindo: Esse meu irmão é uma figura.
Miguel tira a toalha e veste uma cueca. Quando ele está vestindo sua calça, ele olha para o espelho e vê que alguém está escorado na porta o observando, é Sérgio.
Miguel se vira: O que faz aqui?
Sérgio, irônico: (assobio), que físico.
Miguel: Cai fora daqui agora, eu tô me trocando.
Sérgio se aproxima: Calma rapaz, eu sou seu pai, eu já dei banho em você e conheço muito bem esse seu corpinho. Aliás, conheço até demais.
Miguel: Cai fora daqui agora, eu já falei.
Sérgio: E olha, você ficou mais bonito desde aquela época.
Miguel: Fica longe de mim.
Sergio passa a mão no peitoral de Miguel: Quem diria que aquele menininho iria se tornar esse rapaz tão bonito?!
Miguel se afasta: Para, não me toca!
Sérgio: Por que esse medo todo? Não se lembra de como a gente se divertia quando passeávamos juntos pela floresta nos acampamentos de férias?
Miguel: Não me lembre daquilo.
Sérgio: Faz tanto tempo que nós não acampamos, não acha? Que tal se…
Miguel, alto: Nunca!
Sérgio segura Miguel pelo braço: Mais respeito, não use esse tom de voz comigo garoto!
Helena entra no quarto.
Helena: Deixa ele em paz seu imundo.