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Eventyr

Eventyr – Capítulo 22

Acordei bem cedo e muito cansada. Eu havia desmaiado e não sabia explicar exatamente o motivo. Melhor, o motivo eu sabia – invadi as lembranças de Nicardo –, só não sabia por que isso havia me feito desmaiar.

O dia começava a clarear. Os seres não haviam dormido – acredito que nem façam isso – e começavam a subir para as árvores. Provavelmente não iria demorar muito para o dragão sair em busca de comida.

Um dragão de guarda que só vigia o local durante a noite é um pouco inútil. Minto. Um dragão de guarda que só vigia o local durante a noite e completamente inútil.

– Já acordada? – era a voz de Nicardo.

– É o que parece? – fui grossa, mas logo corrigi – Acordei cedo. Acho que perdi o sono, sei lá.

– Ah… – ele suspirou.

– E você, o que faz já acordado? – perguntei.

– Tecnicamente eu não dormi. – Nicardo segurava duas xícaras – Cuidado, está um pouco quente.

– O que é isso? – perguntei cheirando o liquido verde que estava dentro da xícara.

– É um chá feito de energéticos naturais, os seres da floresta que prepararam. – ele sorriu.

– Isso é bom? – perguntei soprando a fumaça.

– Não muito, mas é ótimo para recuperar as energias. – ele tomou um longo gole – Beba, vai te fazer bem!

Dei mais dois sopros no chá e bebi um gole. Era horrível. Parecia uma mistura de hortelã, vinagre, boldo e um toque de limão.

– Isso é horrível! – disse fazendo caretas enquanto engolia o chá – Mas já estou me sentindo um pouco melhor.

– Você perdeu muitas energias invadindo minhas lembranças. – ele fitava o horizonte e bebia outro gole do chá. – Não sabia que você já podia fazer isso.

– He, he… – sorri constrangida – Desculpe, nem eu sabia que podia fazer isso.

– Mas conte-me, você se lembra como conseguiu? – ele perguntou.

– Consegui o que? – não me toquei.

– Como você conseguiu entrar em minhas lembranças? – ele dava o último gole no chá. Minha xícara ainda estava cheia.

– Não sei dizer. – tentei beber um pouco mais do chá. Tive que me segurar para não cuspir – Eu… Cof, cof… Eu não me lembro exatamente. Eu apenas fiquei tentando visualizar a cena e… E então… Eu… Não consigo me lembrar, não sei.

– Agora terá que tomar cuidado. – Nicardo continuava a fitar o horizonte – Se ficar invadindo as lembranças alheias, assim, cansada e com poucas energias você pode até morrer!

– Ai, que horror! – estava evitando levar a xícara até a boca – Se bem que, comparado ao que já passei aqui em Monetrra, não deveria ficar surpresa. Mas e você? Por que não dormiu?

– Eu? – ele olhou para mim – Eu fiquei cuidando de você.

– Como? – quase deixei a xícara cair. Não seria nada ruim.

– Você ficou com febre, estava delirando e gritando por meu nome. – ele respondeu.

– Seu nome? – estranhei. Provavelmente foi reação ao que vi nas lembranças dele.

– Provavelmente o motivo para Alexis não ter nem chegado perto de você. – ele voltou a fitar o horizonte.

– E onde ele está? – perguntei.

– Dormiu igual uma pedra. – ele virou o rosto em direção onde Alexis estava.

– Ótimo! – bufei – Foi melhor assim.

– Como? – ele perguntou.

– Ah, nada. – bebi acidentalmente mais um pouco de chá. Fiz careta – Você… Cof, cof, cof… Você deve saber.

– Não. – ele respondeu me fitando – Desde que você aprendeu a se bloquear que não consigo mais ver o que você está sentindo. São poucas as vezes que vejo você… “Desbloqueada”.

– Não entendi. – acabei bebendo outro gole de chá sem querer. Começava a me sentir mais forte.

– Não se lembra? – ele jogou um olhar duvidoso para cima de mim – No castelo de Zoira, eu disse que… Você não se lembra mesmo?

– Lembro de algo – não estava mentindo – Mas não entendi o que você queria dizer.

– Já está na hora! – era a voz de Neandro. Nem havia visto que ele já estava acordado.

– Vamos, os seres da floresta já começaram a apagar as lanternas. – agora era a voz do Tales – O dragão já deve ter saído.

Alexis também já estava de pé e Selena vinha em nossa direção. Levantei-me e Nicardo fez o mesmo. Não esperava muitas palavras do Alexis, mas pelo menos um “bom dia” ou um “oi’ achei que ele poderia me dar.

Depois que todas as lanternas haviam sido apagadas, as lanternas das árvores que faziam um caminho à esquerda voltaram a se acender. Devido à claridade, as luzes das lanternas ficaram mais fracas e quase não podemos enxergar-las.

O caminho realmente não havia sido muito longo, não demorou muito e avistamos um velho templo.

O templo era uma casa grande, com quatro colunas – duas de cada lado da porta – e com um ar de mistério. Era feita de tijolos brancos, seu telhado parecia gesso, mas em geral estava tudo muito acabado. Tinha musgos, trepadeiras e cipós por todo lugar. Algumas partes das paredes estavam quebradas e tivemos que avastar as muitas teias de aranha do caminho.

Dentro o templo era ainda mais empoeirado e velho do que por fora. Parecia que ninguém entrava lá há pelo menos uns 150 anos, estava com medo de tudo desmoronar nas nossas cabeças.

– E agora? – Tales se perguntava – Se eu fosse um cristal mágico… Onde eu me guardaria?

– Isso aqui é muito grande! – Selena disse – Nunca sairemos daqui antes de 24 horas.

– Não diga uma coisa dessas! – gritei – Por que mesmo que nós não viemos à noite?

– Vai me dizer que não sabem? – Neandro andava pelo salão. – Dragões como esse, que só vigiam durante a noite, tem o hábito de caçar durante o dia para repor a energia que perdeu a noite. Por isso, durante o dia, sua força e inteligência diminuem e podemos destruir-lo com mais facilidade. Problema seria se ele fosse um dragão enfeitiçado, daí só o destruiríamos se achássemos o ponto fraco dele.

– Que horror! – fiquei com medo do dragão.

– Mas como vamos achar o cristal num lugar deste tamanho. – Alexis perguntou.

– Parados é que não é! – Tales falou. – Sugiro que façamos grupos. Eu e a Selena vamos procurar nas salas a esquerda, Neandro e Alexis procurem nas salas a direita e Nicardo e Beatriz procurem na sala principal e nas do meio.

– Ei, por que esse ai tem que ficar com a Beatriz? – Alexis perguntou um pouco zangado.

– Quer trocar? – Tales perguntou.

– Não! – Alexis respondeu e começou a procurar na primeira porta.

– Em 30 minutos tentem estar de volta! – Tales seguiu com Selena para outra porta.

O salão era um imenso círculo cercado por varias portas. Eram 12 portas, quatro para cada um dos grupos. Entramos na nossa primeira porta.

A sala era uma biblioteca. Demos uma olhada superficial e depois começamos a revirar as gavetas, armários e livros. Havia um pouco de tudo, mas nada de cristais, eram anotações e mais anotações, tipos diversos de pesos para papel, alguns tinteiros e objetos de escritório. Mas uma coisa me chamou a atenção. Foi um livro de magia.

O livro de capa grossa e roxa, com muitas páginas e um tipo de cadeado. Procurei a chave que, por sorte, estava na gaveta do armário que encontrei o livro.

– Acho que aqui não tem nada! – Nicardo parou de procurar.

– Como? – instintivamente escondi o livro atrás de mim.

– O que foi? – Nicardo perguntou – Achou alguma coisa?

– Não! – gritei – Nada!

– Então por que está nervosa?

– N-n-n-nervosa, q-q-q-quem? Eu? – estava gaguejando.

– Sim, você! – ele chegou mais perto – O que está escondendo ai atrás.

– Nada! – não sabia por que estava mentindo. Por algum motivo desejei que o livro estivesse na Terra.

– Mostre as mãos! – eu estava perdida.

– Tudo bem, eu mostro o que estava escondido. – me rendi.

Com um pouco de relutância eu mostrei as minhas mãos e fechei os olhos. Sabia que era idiotice esconder um livro de magia ao Nicardo, mas por algum motivo eu estava com medo.

Fiquei esperando o que ele iria dizer. Esperei até que ele agisse como o Alexis e caçoasse da minha cara por esconder algo tão besta.

– O que você estava escondendo? – Nicardo perguntou.

Eu abri os olhos bem devagar e fitei as minhas mãos. Estavam vazias. Olhei para o chão e ao meu redor e nenhum sinal do livro. Estava apenas eu com a minha cara de tacho olhando para Nicardo que não entendia nada.

– Eu disse que não estava nervosa e nem escondendo nada! – disfarcei.

– Ótimo! – Nicardo seguiu em direção a porta – Acho que aqui não tem nada.

– Concordo. – disse ainda procurando o livro.

Quando seguimos para a próxima porta, acabei tropeçando – praxe – e Nicardo me segurou. Nesse exato momento Alexis saia da sala dele e me viu nos braços de Nicardo. Seu olhar não foi dos melhores e eu não gostei disto.

– Acharam alguma coisa? – Neandro saia da sala.

– Nada! – Nicardo respondeu.

– Pelo visto vocês também não tiveram sorte. – disse quando vi as mãos de ambos vazias.

– O jeito é procurar. – Neandro estendia as palmas das mãos. Neste momento Selena e Tales saiam da sala.

– Nada também?- já fui perguntando.

– Vocês também não encontraram? – Selena perguntou.

– Não. – Neandro respondeu.

– Mas vamos com calma. – Tales estava um pouco mais animado – Acho que ninguém esperava encontrar o cristal logo na primeira tentativa!

– Vamos continuar procu… Aaahhh! – tropecei novamente, mas desta vez não deu tempo de ninguém me segurar.

Fui direto ao chão. Senti meus lábios sangrando, havia mordido a língua, mas o estrago mesmo foi na testa. Havia feito um grande corte e sangrava muito.

– Mas que droga! – ouvi Tales gritar – Alexis, me dê sua camisa!

– Eu não. – ouvi Alexis, também gritando.

– Para de brincadeira, a coisa é seria! – Tales falava com uma autoridade que jamais imaginaria que tivesse – Precisamos parar o sangramento.

– Por que não usa a sua? – Alexis era teimoso.

– Tome – era Nicardo – Use a minha!

Tales tirou do bolso um botão de sua camisa e apertou fazendo o botão se transformar em uma pequena faca.

– Mas… Como? – ouvi Neandro falando.

– Foi um presentinho do meu antigo trabalho. – Tales rasgava a camisa de Nicardo e amarrava em minha testa – É encantada. Pode virar a arma que eu quiser.

Tales amarrou outra faixa a minha cabeça e me pegou no colo. Não tinha reparado ainda, mas ele tinha braços fortes. Seus longos cabelos estavam fazendo cócegas em minha barriga e acabei quase caindo de seus braços. Ele me colocou sentada em uma pequena elevação que tinha em um dos cantos da sala.

– Bem, acho que agora precisamos reorganizar o grupo… – Tales começou a falar.

Estava de olhos fechados, mas sentia como se as paredes estivessem caindo. Melhor dizendo, como se o chão estivesse desabando.

– Gente… – tentei falar, mas ninguém ouviu.

– Então Nicardo fica cuidando da Beatriz e Alexis e Selena continuam juntos… – Tales reorganizava o grupo.

– Gente… – tentei novamente.

– Eu e Neandro seguimos sozinhos – Tales continuou – Tudo bem para você Neandro?

– Sem problemas! – Neandro assentiu – Eu posso seguir sozinho.

– Por que você tem que decidir os grupos? – Alexis arrumando encrenca.

– Gente! – gritei.

– O que foi? – todos se viraram para mim.

– Acho que o chão está caindo. – finalmente fui ouvida.

Todos olharam para baixo. Eu não consegui, mas pelas expressões de todos, provavelmente eu estava certa, o chão estava realmente caindo.

– É um elevador? – Tales analisava a situação. – Mas como?

Não demorou muito e o chão parou. Estávamos agora em outra sala, completamente escura. O único sinal de luz que tínhamos era o teto, mas ele se fechou bruscamente quando paramos.

– Onde será que estamos? – Selena parecia com medo.

– Espere um minuto. – eu disse.

Apesar de estar com a cabeça doendo, fiz uma pequena bola de fogo. O lugar não ficou muito iluminado – a bola foi muito pequena – mas já dava para enxergar a cara de todo mundo.

– Beatriz, você não deveria estar fazendo isso! – Nicardo pareceu não gostar de eu estar fazendo esforço.

– Olhem! – Selena gritou – Uma tocha!

Selena pegou a tocha e levou até mim. Coloquei a bola de fogo nela e ela acendeu. Conseguimos enxergar um pouco mais do local e encontramos mais tochas. Selena seguiu acendendo todas até o local ficar completamente iluminado.

Deparamos-nos com um tipo de caverna. Havia um altar e mais duas tochas em cada lado. Na parede atrás do altar, uma figura de um dragão esculpida. Por um instante pensamos que fosse um dragão real, tamanha a perfeição dos detalhes.

– Vejam! – Alexis se aproximou da parede – No olho do dragão…

Todos nós olhamos é nos enchemos de felicidade. Era o cristal, pregado no olhou do dragão. Alexis puxou e guardou junto com os outros.

– Agora vamos sair logo deste lugar e ir embora! – Alexis pulava. Parecia estar tentando fazer o chão subir novamente.

– Mas temos que matar o dragão! – Tales lembrou.

– Deixe o dragão e esse bando de seres da floresta viver em paz! – Alexis continuava a tentar achar uma forma de fazer o chão subir.

– Mas nós prometemos! – Tales entrou na frente de Alexis – Se não cumprirmos a promessa os seres da floresta podem nos manter presos aqui até nos tornamos um deles, só de vingança.

– Acho que teremos que matar o dragão de qualquer jeito! – Selena parecia assustada.

Olhamos para o local onde estava o altar e o desenho do dragão e – para nossa surpresa – o desenho estava saindo da parede e se tornando um dragão de verdade.

O grande lagarto de fogo era vermelho e havia uma pequena chama em seu rabo e em seus olhos. Ele abriu a boca e botou fogo em toda a parede, que aos poucos foi se abaixando e se transformando em pequenas tochas de luz.

– É um dragão enfeitiçado! – Neandro gritou.

Alexis e Nicardo já estavam com espadas preparadas. Neandro também preparou suas duas espadas mágicas e Selena preparou um tipo de espada feito apenas com água. Ainda me intrigava como ela sabia tantos truques.

– Beatriz, fique em um lugar seguro. – Nicardo gritou.

Sai engatinhado da pequena elevação e – novamente – senti as paredes se mexerem. O teto que estava fechado se abriu tão bruscamente quanto fechou. Estávamos subindo outra vez.

– Então era isso! – Tales gritou – Uma passagem secreta acionada por aquela pequena elevação.

De volta à sala principal, Nicardo me pegou no colo antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa. Ele estava sem camisa e não pude evitar não olhar para seu corpo tão bem definido. Tirando a aparência meio “empedrada” do Nicardo, ele até que era muito bonito. Talvez até mais bonito que o Alexis.

Nicardo me deixou em frente à porta do templo. Já imaginava o motivo dele ter me deixado ali. Ele queria facilitar a minha vida na hora da fuga, já prevendo que eu não poderia correr muito. Na verdade, se não fosse à força extra do chá, provavelmente estaria desmaiada neste momento.

– Fique aqui! – Nicardo passava a mão em meu rosto – Se a coisa ficar feia… Fuja!

– Mas e vocês? – perguntei.

– Apenas fuja!

Comecei a reparar na luta. Alexis e Neandro começaram atacando pela cabeça. Nicardo atacava o peito, mas a espada batia no corpo do dragão como se estivesse batendo contra uma rocha. Selena estava apagando os golpes de fogo que o dragão jogava, assim como eu fiz com o monstro de fogo no trem a cominho de Padja.

Tales parecia observar atentamente cada passo que o dragão dava. Ele parecia procurar por algo muito especifico. Lembrei então do que Neandro disse sobre dragões enfeitiçados. Tales procurava o ponto fraco do dragão.

– Isso está ficando difícil! – Nicardo se afastava.

– Esse dragão não é atingido por nada. – Neandro gritou também se afastando.

– Parece o monstro que destruímos no vulcão de Padja! – Alexis também se afastou.

– Eu não vou entrar dentro dele! – Neandro estava traumatizado.

– Cuidado Nicardo! – gritei.

O dragão havia jogado um imensa bola de fogo na direção de Nicardo. Por um rápido instante achei que estava tudo perdido, mas algo aconteceu.

A sala inteira estava tomada por uma imensa bola d’água e a grande bola de fogo havia sido engolida por ela e desaparecido. Selena estava na frente de Nicardo, com os braços cruzados em “X” e de olhos fechados. O dragão ficou confuso e parecia estar nadando dentro da bola.

Eu havia ficado “de fora”, e reparei que todos estavam começando a ficar sem ar. Imaginei que eles devessem estar dentro de um oceano – aquela bola estava realmente cheia de água – e tentei gritar, mas não me ouviam.

Nicardo começou a balançar Selena desesperado e ela abriu os olhos assustada. Assim que ela abriu os olhos, a bola se desfaz e transforma-se em uma grande onda e tomou todo o local.

– Beatriz! – Nicardo e Alexis gritaram quando me viram boiando na água.

Eu tentava nadar para perto deles, mas o grande oceano que aquilo havia virado estava agitado demais e sempre me levava para longe deles. Nicardo mergulhou e chegou até mim, segurando firme em minha mão.

– Não vou desgrudar de você! – ele me abraçou.

– Os cristais! – Neandro gritou quando viu os cristais sendo levados pela correnteza.

– O dragão! – gritei.

O dragão estava com as chamas dos olhos apagadas e parecia estar confuso e fraco. Só então me veio à cabeça a resposta para destruir o dragão. Havia achado seu ponto fraco.

– O olho! – gritei enquanto era levada pela correnteza para perto do dragão – O olho e o ponto fraco!

Assim que disse isso, Tales transformou o seu botão em um revolver e começou a pular de parede em parede até chegar ao topo onde mergulhou feito uma bala para dentro do oceano. BANG, BANG CABUM! Tales havia dado dois tiros no olho do dragão e caiu feito um meteoro dentro do oceano, jogando água para tudo o que e lado.

O dragão cambaleou e caiu, se dissolvendo em pó junto com a água. Estava morto.

– Conseguiu pegar os cristais? – Tales parecia um pouco sem ar.

– Consegui! – Neandro respondeu – Mas como vamos sair daqui?

– A saída ficou submersa! – Tales gritava – A água parece não estar saindo. E como se houvesse uma barreira tapando a passagem.

– Mas parece estar livre! – Neandro olhava a passagem – Talvez seja mágica?

– Só indo até lá para descobrir! – Tales falou.

– Eu vou te ajudar. – Nicardo me abraçava – Prenda a respiração!

Mergulhamos e seguimos em direção a porta. Havíamos chegado quase ao teto e por isso foi um longo caminho até a saída. Eu quase não aguentei.

Nadamos e nadamos cada vez mais fundo e a pressão parecia fazer minha cabeça explodir. O ferimento ardia devido à água que entrava e meu pulmão parecia estufado e pesando toneladas. Estava quase perdendo os sentidos quando finalmente conseguimos sair.

Caímos no chão e ficamos com o corpo sujo de terra e folhas. A entrada do templo era como um aquário víamos como se a água estivesse presa dentro de uma caixa de vidro.

– Vocês estão bem? – Neandro perguntou.

– Acho que sim! – Alexis parecia estar tirando água do ouvido.

– Estou! – Tales respondeu.

– Você está bem Beatriz? – Nicardo ainda segurava minha mão.

– Eu estou… Mais ou menos. – respondi enquanto cospia água.

– Selena? – todos nós olhamos em direção a Selena.

– Eu…

Selena caiu desmaiada. Tales correu e a pegou nos braços.

– Pelo jeito hoje não é o dia de vocês meninas. – Tales olhava para mim. – Acho que ela só está cansada. Vamos voltar e pedir para os seres do bosque nos deixarem voltar, temos pouco tempo.

Neandro explicou rapidamente tudo o que acontece e o ser com penteado de coroa abriu uma passagem em uma árvore, que saia exatamente na entrada da floresta.

– Obrigado! – Neandro agradeceu.

Saímos e pegamos os cavalos. Desta vez, como nem eu e nem Selena estávamos em condições de conduzir a Epona, quem conduziu para mim foi Nicardo. Selena havia sido colocada no mesmo cavalo que Tales.

Seguimos direto para a grande mansão, onde fomos colocadas em uma cama especial. O lugar era realmente equipado e tivemos até atendimento médico.

No dia seguinte eu fui à última a acordar. Estavam todos na sala, conversando. Selena já parecia bem melhor e os demais estavam menos preocupados.

Minha cabeça estava com um esparadrapo no local do corte e enfaixada do modo correto. Entrei na sala.

– E agora? – Neandro perguntou.

– Foi um milagre as anotações estarem intactas! – Alexis olhava as anotações.

– Beatriz! – Nicardo se levantou. – Você já está melhor?

– O que está acontecendo aqui? – perguntei.

– Estávamos traçando um plano para busca do cristal perdido de Zoira. – Neandro respondeu – Após pegarmos o cristal de Koram, nós estávamos pensando em voltar para Zoira e procuramos novamente o cristal.

– Então o próximo destino é Koram? – perguntei.

– Sim!

– Então… O que estamos esperando? – tentei animar a todos.

Fomos a cavalo até a fronteira de Monaya com Koram. Epona e os demais cavalos já estavam cansados quando ultrapassamos os limites de Monaya e paramos para dar água aos cavalos.

– Vamos dar um tempinho aqui e depois vamos voltar a seguir para a cidade. – Neandro amarava os cavalos em frente a uma loja. Era um tipo de restaurante.

– O que desejam? – um senhor bigodudo perguntou.

– Uma bebida gelada. – Tales respondeu.

– Água! – Neandro parou Tales – Não queremos nada com álcool.

– Entendo. – o senhor anotou o pedido.

O senhor entrou no balcão e separou seis copos e encheu todos os seis de água, depois pegou os copos e colocou na bandeja. Tudo isso seria muito natural se não fosse o fato do senhor não tirar os olhos da gente.

– A água. – ele colocava os copos na mesa. – Mais alguma coisa?

– Não, obrigado! – Neandro respondeu.

Enquanto bebíamos a água, o senhor ficou do balcão fitando o tempo inteiro a todos nós. Fiquei um pouco assustada, mas tentei ignorar.

– Vamos saindo? – Nicardo se levantou.

– Vamos! – Neandro se levantou e seguiu até o balcão. – Quanto ficou?

– Desta vez é por conta da casa. – o senhor levantou uma das sobrancelhas e vi outra pessoa descendo de uma escada e outra saindo de outra mesa.

– Vamos embora? – perguntei desconfiada.

– Acho que não! – um dos homens parou em frente à porta.

– Como assim? – Tales perguntou.

– Estão todos presos!

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