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Em nome do filho

“Em Nome do Filho” – ÚLTIMO CAPÍTULO

Roteiro de Telenovela Brasileira                 Capítulo 030

 

 

Uma novela de:

Wesley Alcântara

 

Cena 01. Mansão Amadeu/ Escritório/ Int./ Dia.

Continuação imediata da última cena do capítulo anterior. Miguel, Ana Rosa, Eva, Milena e Vitória estão de pé se olhando. Clima tenso. Todas as mulheres estão de bolsa a tira colo.

Miguel – Eu queria reunir todas as mulheres que me amaram.

Milena – Que amaram, não. Que amam. Ao menos eu te amo.

Miguel – Eu queria olha na cara de cada uma de vocês e poder debochar e dizer o quanto vocês foram idiotas, presunçosas e incompetentes.

Todas ficam surpresas.

Miguel (a Ana Rosa) – Você provou que não é nada confiável. Traiu a sua melhor amiga por causa de sexo. Mostrou que é uma piranha, que eu pegava fácil a hora que queria. Eu tenho nojo de você Ana Rosa.

Ana Rosa – Seu ordinário, você me paga.

Miguel (a Milena) – Quantos chifres, patadas e mentiras eu passei pra você. Olha, se existe alguma pessoa mais tola que você, eu não conheci. É chata, pegajosa e sozinha na vida. Aceitou o casamento todo, as migalhas que eu te dei. Você não tem amor próprio, não tem senso do ridículo. Vai morrer sozinha, sem ninguém. Eu tô pulando fora do barco.

Milena começa a chorar.

Miguel (a Vitória) – E você? Sua falsa manca, falsa moralista, falsa mãe. Uma puta de cabaré. Merece a solidão também. Eu tenho nojo, uma enorme repulsa dessa sua cara de bacon estragado. Quero que você fique pobre, que vire mendiga e que coma o pão que o diabo amassou.

Vitória engole a seco.

Miguel (a Eva) – E sobrou você. Imbecil, tosca e sem vida. Cada momento ao seu lado era um tormento. Você é repugnante e ingênua demais. Se entregou a qualquer homem, e sabe o nome disso? Carência. É uma puta como qualquer outra aqui. Tá sem filho, sem o amor da sua vida e tentando tramar uma vingança tosca e incoerente.

Eva dá um tapa na cara de Miguel.

Miguel – Eu trouxe vocês aqui, pra dizer tudo que eu sinto de vocês e dizer também que vocês não passam de um monte de estrume com roupa de grife. É uma etiqueta cara numa peça vagabunda. O dinheiro da minha herança já está comigo e eu estou partindo dessa cidade pra nunca mais voltar. Obrigado por me ajudarem, suas idiotas.

Miguel vira de costas para sair do escritório.

Corta rápido para a sala.

Eneida está sentada no sofá lixando as unhas, quando ouve barulho de um tiro, vindo do escritório. Ela corre até lá e abre a porta.

Corta para: Escritório.

Eneida abre a porta e fica em estado de choque.

Eneida (gritando/ chocada) – Morreu.

Ouve-se mais um barulho de tiro.

Eneida se ajoelha no chão, ao lado do corpo de Miguel, que está caído, de bruços. Close em Vitória, séria, com a arma apontada para Miguel.

Vitória (sem esboçar sentimento) – Sai da frente Eneida. Quatro tiros eu dei na Jerusa, quatro tiros eu vou dar no Miguel. E o último na cabeça.

Close em Eva e Ana Rosa assustadas. Milena, num gesto brusco, pega a arma das mãos de Vitória e se ajoelha no chão, chorando.

Milena (revoltada) – Você acabou com a vida do seu próprio filho. Você deixou o meu filho órfão.

Eva (rude) – Correção: O filho é meu.

Vitória (a Milena) – Você é mesmo muito hipócrita. Depois de tudo que ele disse, você ainda se rasteja, se humilha, por um homem que queria ver nós quatro se engalfinhando por um quinhão de miséria. Olha pros lados, garota, se toca. O Miguel iria fugir com todo o dinheiro e cada uma de nós iria ficar a ver navios: sem dinheiro, sem amor, sem o Miguel. Existe uma coisa chamada amor próprio, que vem antes de qualquer amor, e o meu terminou aí, nesses dois tiros que dei nesse ordinário.

Vitória sai do escritório. Eneida se levanta.

Ana Rosa (assustada) – Eu tô com muito medo de tudo que aconteceu aqui hoje.

Eneida – Sai todo mundo do escritório, eu vou isolar a área e chamar a polícia.

Eva e Ana Rosa saem, mas Milena permanece com a arma na mão e chorando ao lado do corpo de Miguel.

Eneida – Não adianta mais chorar. Vem logo pra sala.

Milena (gritando) – Sai daqui e me deixa com o meu marido. Sai!

Eneida sai e Milena fica ali ao lado de Miguel.

Milena (chorando) – E apesar dos tropeços, meu querido, nosso breve casamento chegou ao “Que a morte os separe”. Eu sei que você não acreditava em reencarnação, em vidas passadas, mas eu te garanto que nossos destinos foram entrelaçados há muitos anos, há muitas gerações. É tão difícil pra mim, saber que você se foi, que nunca mais vou te ver, ou te sentir. Ah como isso me dói. De dez vidas, onze eu te daria meu amor. Não há outra pessoa, outro lugar, ou outro sentimento que supra a falta que você vai me fazer. A vida já não tem sentido pra mim sem você, NÃO TEM!

Milena fica olhando a arma.

Corta para:

Cena 02. Cruzeiro Municipal/ Ext./ Noite.

(Música “Relicário” – Nando Reis e Cássia Eller). Edu está sentado num banco, de onde admira a paisagem da cidade, vista do alto. Malu está deitada em seu colo. Os dois se beijam.

(Fade out trilha).

Malu – Você não acha estranho a minha mãe não ter ligado ainda?

Edu – Acho sim, aliás, estranhíssimo demais.

Malu – Hoje a gente acampa aqui no cruzeiro, mas amanhã bem cedo vou lá em casa saber qual nóia é essa da minha mãe.

Edu – E sobre a sua prima? Alguma notícia?

Malu – Nada, pra mim mataram a Eva. Mas se ela estiver viva, onde será que ela está nesse momento?

Corta rapidamente para:

Cena 03. Mansão Amadeu/ Jardim/ Ext./ Noite.

Isa sai do carro com uma arma na mão, quando Eva vai saindo da casa e chega próxima ao carro.

Isa – Tava demorando demais, eu ia invadir. Conseguiu gravar?

Eva (assustada) – O tiro saiu pela culatra, mataram o Miguel.

Isa fica assustada.

Eva – A Eneida ligou pra delegacia. O corpo tá lá dentro… Meu Deus, foi horrível. Eu preciso ir até em casa avisar ao Fabrício. O Miguel era irmão dele.

Eva entra no carro e dá partida. Isa fica ali, meio perdida.

Isa (pra si) – Já sei, vou ficar aqui e esperar o camburão chegar e entramos todos juntos.

Corta para:

Cena 04. Pontos Turísticos/ Ext./ Noite.

(Música “Uma história de Amor” – Fanzine.) Vista aérea, plano aberto. CAM aérea faz um clipe dos principais pontos turísticos da fictícia cidade de Flores: Pórtico de entrada da cidade, Praça Central, Cruzeiro e termina na fachada de um apartamento no centro da cidade.

Corta para:

Cena 05. Apartamento/ Quarto/ Int./ Noite.

Fabrício e Eva estão conversando. Fabrício bastante surpreso.

Fabrício (desorientado) – O meu irmão tá morto? Não, não pode ser. Como assim? Como você sabe, aliás, onde é que você estava até uma hora dessas?

Eva (tentando se controlar) – Fabrício, há muitas coisas sobre mim que você desconhece… Mas o fato é que eu tinha, de uma certa forma, uma ligação com o seu irmão. Eu estava lá na casa dele, quando a Vitória deu dois tiros certeiros nele.

Fabrício (arrasado) – A mãe dele? A Vitória matou o próprio filho? Meu Deus, essa mulher é realmente um monstro… Eu não quero ir até lá e ver tamanha crueldade. Eu seria capaz de perder o eixo e acabar com a vida dessa infeliz.

Eva – Você não vai ver seu irmão?

Fabrício – Amanhã, no velório, nós iremos. Hoje eu só quero uma coisa.

Eva – Um bom calmante?

Fabrício – Você vai sentar aqui e me explicar direitinho que história é essa que une você e o Miguel. Vai me contar ponto por ponto, vírgula por vírgula.

Fabrício olha sério para Eva, que fica muito tensa.

Corta para:

Cena 06. Mansão Amadeu/ Jardim/ Ext./ Noite.

O jardim está com cinco viaturas da polícia, paradas no local. Além de policiais que cercam a área, um bando de curiosos também está no local.

Corta para:

Cena 06. Mansão Amadeu/ Sala de Estar/ Int./ Noite.

Ana Rosa e Eneida estão na sala conversando com a delegada Isa. Alguns policiais fazem a ronda pelo local.

Ana Rosa – Eu tô em estado de choque até agora. Jamais poderia imaginar que veria o amor da minha vida assim.

Isa – Quem matou?

Eneida – Eu estava aqui nasala, sentada, quando ouvi um tiro, corri pro escritório e chegando lá, eu vi o outro disparo. A assassina foi a…/

Nesse instante Milena vem do escritório com a arma nas mãos, e os olhos muito vermelhos e inchados em função de muito choro.

Milena (corta) – A assassina do Miguel sou eu. Eu dei cabo do meu marido. Não foi por dor ou ressentimento, eu o matei por amor…e acho que acabei morrendo junto. Pode me algemar delegada. Manda seus policiais me levarem pra longe dessa casa, pra longe dessa gente.

Isa algema Milena e a entrega para um policial que a leva para fora da casa.

Isa (a Eneida) – Será que eu posso ver o corpo?

Eneida – A polícia civil, junto com o corpo de bombeiros já retirou o corpo. Levaram pro IML da cidade vizinha.

Isa – Eu vou embora, mas eu volto pra apurar essa situação direitinho.

Isa e todos os policiais saem da casa.

Ana Rosa (surpresa) – Por que a Milena fez isso? Assumiu uma culpa que não é dela.

Eneida – Isso se chama estado de choque. A Milena ficou muito abalada, e convenhamos, que ela nunca foi a pessoa mais forte do mundo e por isso, acabou trocando o Tico pelo Teco.

Corta para:

Cena 07. Mansão Amadeu/ Quarto de Vitória/ Int./ Noite

Vitória está colocando algumas roupas na mala, apressada e muito nervosa. Tia Pombinha adentra o quarto, meio grogue.

Tia Pombinha – O que você tá fazendo?

Vitória (desesperada) – Eu preciso dar o fora daqui. Urgente!

Tia Pombinha – Mas o que houve?

Vitória – Em que planeta você vive, Pombalina?

Tia Pombinha – Eu estava dopada de remédios.

Vitória – Eu atirei e matei o Miguel, quando soube que ele tinha passado a perna em todos.

Tia Pombinha fica surpresa.

Vitória – Eu sei que cometi o pior dos pecados, mas enfim, não há algo ruim que não possa piorar. Eu tenho umas boas economias e preciso sumir daqui por uns meses. A polícia não pode me pegar.

Tia Pombinha – Pega seu carro e vamos. Eu posso te ajudar a se esconder.

Vitória – E que garantias eu tenho de que você não vai me passar à perna?

Tia Pombinha – Eu tenho muito mais a ganhar com você livre, do que com você presa ou morta. Se liga.

Vitória pega a mala e sai com Tia Pombinha.

Corta para:

Cena 08. Mansão Amadeu/ Jardim/ Ext./ Noite.

O carro de Vitória sai em alta velocidade da garagem e parte em direção a rua.

Corta para:

Cena 09. Apartamento/ Quarto/ Int./ Noite.

Fabrício está chocado e Eva, totalmente envergonhada.

Eva – Me desculpe, acabei te usando, assim como eles me usaram.

Fabrício – Mas então essa família é pior do que eu pensava. Como puderam te enganar, sequestrar você e seu filho e te depositarem naquele sanatório?

Eva – A minha única saída era você. Eu não tinha com quem contar, o que fazer. Aí, por isso, eu acabei me envolvendo com você.

Fabrício – Então você não me ama?

Eva – Pra ser sincera: nem a mim eu amo mais. Meu único desejo é ter o meu filho em meus braços e disso eu não abro mão, amanhã mesmo eu o pego.

Fabrício abraça Eva.

Fabrício – Nós vamos recuperar o seu filho e vamos construir uma linda família longe dessa cidade lazarenta.

Eva sorri.

Corta para:

Cena 10. Delegacia/ Cela/ Int./ Noite.

A policial vem trazendo Milena para o interior da cela, acompanhada da delegada Isa Nota.

Isa – Chegou ao seu novo lar. Que burra hein, trocou o conforto da mansão Amadeu pelo xadrez duro e frio. Cada um tem a sina que merece.

A policial coloca Milena dentro da cela e fecha o portão.

Milena – Delegada, eu posso te pedir um último favor?

Isa – Ligar pro seu advogado ou pra alguém da família? Isso só amanhã.

Milena – Não é isso não. Eu queria que você me permitisse ir ao velório do meu marido. Me despedir dele pela última vez, será que posso?

Isa – Sabe de uma coisa: eu sei que você não é a assassina do seu marido. Tá acobertando alguém, não sei por qual motivo. Mas mesmo assim, eu a acompanho amanhã no sepultamento.

Milena – Obrigada!

Isa vai embora e Milena se ajoelha no chão, segurando firme na grade.

(Música “Luxúria” – Isabela Taviani).

Corta para:

Cena 11. Pontos Turísticos/ Ext./ Noite-Dia.

(continuação da música da cena anterior). Transposição da noite para o dia com vista aérea, plano aberto. CAM aérea faz um clipe dos principais pontos turísticos da fictícia cidade de Flores: Pórtico de entrada da cidade, Praça Central, Cruzeiro e termina na fachada de um galpão velho e abandonado.

Corta para:

Cena 12. Galpão Abandonado/ Int./ Dia.

Um enorme galpão abandonado e muito sujo. O carro de Vitória está no local. Ao lado, em um papelão esparramado no chão, Vitória dorme. Mais a frente está Tia Pombinha, no celular. Close no diálogo.

Tia Pombinha (cel.) – Gaivota querida venha. Já trouxe a Vitória para o nosso lugar combinado. Acho que ela adoraria a sua ilustre visita aqui.

Tia Pombinha desliga o celular e vai até onde Vitória está deitada.

Tia Pombinha – Acorda Vitória, teremos visita muito em breve.

Vitória acorda meio desorientada.

Vitória – Onde a gente tá?

Tia Pombinha (séria) – Para de graça e desce do palco, seu show já acabou Vitória Amadeu. Você não queria tanto saber quem é a Gaivota? Pois então, ela vai pousa, muito em breve. Aí acaba de uma vez por todas com essa sua curiosidade.

Vitória – Ela vai me entregar o maldito DVD?

Tia Pombinha – Essa é uma questão sua e dela.

Vitória olha preocupada para Tia Pombinha.

Corta para:

Cena 13. Mansão Trajano/ Quarto de Meg/ Int./ Dia.

Meg está arrumando suas malas. Mafalda adentra o quarto.

Mafalda – Que isso Meg?

Meg – Tô dando um tempo dessa city. Vou tentar refazer minha vida longe daqui.

Mafalda – Desistiu de denunciar a Vitória?

Meg – Se eu denunciá-la, vou junto pro xadrez. E, apesar de ter acobertado todos os males que a Vitória fez, eu não quero terminar meus dias numa cela lotada, fria e suja. Acho que posso me redimir de uma outra forma, em um outro lugar. Não sei, mas eu não quero continuar nessa cidade, que pra mim, vai ficar vazia, sem graça.

Mafalda – E vai pra onde?

Meg – Vou passear com o Lui e o Bebê. Acho que vamos visitar os lençóis Maranhenses.

Mafalda abraça a irmã muito emocionada.

Mafalda – Fico muito feliz por você, pelas boas atitudes que tem tomado. Não há caminho certo ou errado nessa vida, há caminho a ser seguido. Infelizmente, nossa história não pode ser escrita com um lápis, e caso não esteja bom, apagar e recomeçar novamente. A nossa vida é pautada em erros e acertos. Há sempre o recomeçar. Se o que você fez até agora, não foi bom, recomece e recomece, recome outra vez. Não espere o fim da vida.

Meg beija Mafalda no rosto, pega a mala e sai do quarto.

Corta para:

Cena 14. Galpão Abandonado/ Int./ Dia.

Vitória e Tia Pombinha estão de pé, ansiosas. De repente, um carro entra a toda velocidade e para próximo a elas.

Vitória (ansiosa) – É a Gaivota?

Tia Pombinha – Em carne e osso.

Nesse instante a porta do carro se abre e uma pessoa, a qual não é revelada, aparece.

Vitória (surpresa) – Você? Eu não acredito.

A Gaivota dá alguns passos e fica diante de Vitória, a qual revela ser Yvete.

Yvete – Você me subestimou demais Vitória. Aprenda uma coisa: O APRENDIZ, NUNCA VAI SUPERAR O MESTRE.

Vitória – E o que você quer de mim Catalina? Ou devo chama-la de Yvete, Gaivota. São tantos nomes que até me perco.

Yvete – Chame do que quiser.

Tia Pombinha – A Catalina é uma velha amiga minha. Nos conhecemos nos tempos áureos da pornochanchada no Brasil. Desde então, nos tornamos amigas. E foi a mando dela, que eu vim pra essa cidade te vigiar.

Yvete – E você, Vitória, faz muita merda pra tentar esconder esse seu passado de merda. Uma pena, porque não consegue, não vai conseguir nunca. É como tentar anular Deus. Eu sabia que hora ou outra, você acabaria deixando seu rabo pra trás, aí deu nisso.

Vitória – Qual o objetivo em me destruir?

Yvete – Eu não te destruí, eu só quero uma boa grana, pra viver minha velhice bem e longe de tudo que me faz mal.

Vitória – E aí decidiu me usar.

Yvete – Você usa todo mundo sempre… O feitiço acabou virando contra a feiticeira.

Vitória – Eu só lamento, tô mais dura que um coco. Vai ter que esperar a partilha dos bens do Miguel.

Yvete – Eu já esperei demais, já aturei demais. Não fico nem mais um dia sem uma boa grana na minha mão.

Tia Pombinha – Por falar em grana, cadê o meu combinado Catalina?

Yvete (a Tia Pombinha) – É um ou dois?

Tia Pombinha – Um já tá de bom tamanho.

Yvete – Ok!

Yvete saca uma arma e dá um tiro na testa de Tia Pombinha, que cai morta no chão. Vitória fica assustada.

Yvete – Não se assuste, a sua cartilha é sempre a mesma. Descartando o que não presta mais, pura e simples lei da sobrevivência.

Vitória – A diferença é que eu sou uma sobrevivente do inferno, e uma sobrevivente do inferno é capaz de tudo. Eu não atravessei o oceano a nado para terminar morta na praia. Eu vou ter tudo que eu sempre quis, custe o que custar.

Yvete aponta a arma para Vitória.

Yvete – Pega logo a grana que eu sei que você tem no carro e me dá. Ou você vai virar uma peneira pra pescadores.

Vitória (com medo) – Calma Catalina, eu vou pegar. Mas acho que ali só tem uns 100 mil reais.

Yvete – Não importa, depois eu volto e pego mais.

Vitória vai até o carro, entra, fecha a porta e dá partida no carro em alta velocidade.

Yvete dá alguns tiros, que acerta o vidro traseiro e fura um pneu dianteiro.

Yvete (gritando) – Para esse carro sua pilantra.

Yvete corre para seu carro e sai disparada atrás de Vitória.

Close final no corpo de Tia Pombinha estirado no chão, com a bala alojada no meio da testa.

Corta para:

Cena 15. Rio de Janeiro/ Aeroporto Internacional/ Ext./ Dia.

(Música “A noite vai chegar” – Lady Zu). Imagem de um avião parado na pista de pouso, enquanto várias pessoas embarcam.

Corta para:

Cena 16. Avião/ Int./ Dia.

Heloísa Ambrósio está sentada em uma poltrona próximo a janela, enquanto várias pessoas passam pelo corredor e se acomodam em suas respectivas poltronas. Até que Lucas aparece com sua passagem em mãos e olha a numeração.

(Fade out Música).

Lucas – Acho que esse é meu lugar.

Lucas se senta ao lado de Heloísa.

Lucas (a Heloísa) – Tudo bem?

Heloísa – Você tá indo pra…/

Lucas (corta) – Exatamente. Tô indo para lá!

Heloísa – Mas eu nem disse o local, como sabe? É vidente? Pai de santo? Essas coisas de misticismo é no próximo trabalho do autor, Pecado Original.

Lucas dá uma risada.

Lucas – Você é muito engraçada.

Heloísa – Tá me chamando de palhaça?

Lucas – Tô te elogiando, baby!

Heloísa – Elogiando ou debochando? Olha que tô virada no samurai hoje, desço-lhe a mão na cara e a única coisa que vai ficar engraçada aqui é a sua dor de dente.

Lucas – Calma. É que esse avião não tem escala, vai direto pra um único país. Então é exatamente para lá que estou indo.

Heloísa – Ah sim, desculpa a minha sutileza ímpar. Mas você vai a passeio.

Lucas – Vida nova minha rainha. Quero recomeçar do zero e você?

Heloísa – Exatamente isso. Acho que vamos nos dar bem.

Heloísa e Lucas se olham e riem.

(Música “A noite vai chegar” – Lady Zu).

Corta para:

Cena 17. Rodovia/ Ext./ Dia.

(Música de suspense). Imagem aérea mostra o carro de Vitória em alta velocidade, fazendo zig e zag e cortando os demais carros que estão no caminho. Logo atrás vem o carro de Yvete, que está com o braço pelo lado de fora e atirando.

Corta para:

Cena 18. Mansão Amadeu/ Sala de Estar/ Int./ Dia.

Ana Rosa está descendo as escadas com uma mala nas mãos. Eneida está sentada no sofá.

Eneida – Que isso?

Ana Rosa – Depois do enterro do Miguel, eu vou voltar para o Rio. Não tem sentido ficar aqui.

Eneida – Tem razão. Eu vou voltar para a minha casa em Vila Velha, também não ficarei mais aqui. Chega. Minha família, que nunca foi uma família, extinguiu, não há porque cargas d’água eu ficar aqui.

Ana Rosa – Então arrume suas malas e vá embora também.

Nesse instante Fabrício e Eva adentram a casa.

Fabrício (nervoso) – Cadê a pilantra da Vitória?

Ana Rosa – Tá igual à Raimunda: Ninguém sabe e ninguém viu. Depois da morte do Miguel, a matriarca dos Amadeu, escafedeu-se, sumiu, evaporou, virou pó.

Eva – E a sonsa da Milena?

Eneida – Foi presa. Ela confessou a morte do Miguel.

Eva – Mas não foi ela.

Eneida – Aqui nessa casa, tudo é possível.

Fabrício – Eu vou subir e pegar o filho da Eva. Nós vamos embora dessa cidade com ele.

Ana Rosa – Vai sim. Ele tá lá em cima, sendo cuidado pela Teresa.

Fabrício sobe as escadas.

Eneida (a Eva) – Não vai denunciar o que fizeram com você?

Eva – A Vitória está foragida e sem dinheiro, a Milena tá presa por um crime que não cometeu, o Miguel está morto. A vida já se encarregou de punir cada um deles, sem que eu precisasse sujar as minhas mãos.

Ana Rosa – Essas são as voltas que a vida dá.

Corta para:

Cena 19. Rodovia/ Ext./ Dia.

O carro de Vitória está em alta velocidade, mas o carro de Yvete se aproxima e fica lado a lado ao de Vitória. As duas aceleram e Yvete come no tiro e fura mais um pneu dianteiro do carro de Vitória, que começa a cambalear estrada a fora. Yvete bate com seu carro no carro de Vitória e este cai num penhasco, capotando várias vezes. Yvete desce do carro e chega na beirada do penhasco.

Yvete olha para baixo e vê o carro totalmente destruído.

Yvete – E aqui se encerra mais um ciclo. Vitória Lemos de Amadeu morreu. Vá para o inferno, que belzebu te carregue.

Yvete entra em seu carro e acelera.

Corta para:

Cena 20. Mansão Amadeu/ Sala de Estar/ Int./ Dia.

Eva e Ana Rosa estão de pé. Eneida está sentada no sofá. Fabrício desce com Vitor no colo e Eva se emociona.

Eva (feliz/chorando) – É meu, meu filho amado.

Fabrício entrega o bebê a Eva. Que começa a chorar de emoção.

Eva – Podem falar o que for, mas o único amor verdadeiro é o de uma mãe por seu filho. Só quem é mãe sabe o quanto a gente luta, os riscos que a gente passa para estar com a nossa cria.

Corta para:

Cena 21. Cruzeiro Municipal/ Ext./ Dia-noite-dia.

Imagens do cruzeiro amanhecendo e anoitecendo várias vezes.

LETREIRO: “DUAS SEMANAS DEPOIS…”.

Corta para:

Cena 22. Hospital Público/ Enfermaria/ Int./ Dia.

Um quarto com seis leitos, ao fundo, no último leito está Vitória, com muitos ferimentos no rosto, que está bem desfigurado. Um médico entra.

Médico – Bom dia.

Vitória – Só se for pro senhor. Me fala de uma vez, o que eu tenho?

Médico – A senhora tá bem, mas…

Vitória – Esse mas é o que mata. Fala de uma vez.

Médico – Você quebrou a espinha dorsal em três partes, nunca mais poderá voltar a andar.

Vitória (assustada) – O que? Diz que é mentira, por favor!

Médico – É a mais pura verdade. A senhora está de alta, mas ninguém veio visita-la.

Vitória – Quero que me transfira para um sanatório do Rio. Eu tenho o endereço.

Médico – Tem certeza?

Vitória – Faz o que tô falando, e sem perguntas.

O médico sai e Vitória respira fundo.

Corta para:

Cena 23. Rio de Janeiro/ Praia de Copacabana/ Ext./ Dia.

Regininha e Álvaro passeiam de mãos dadas pela praia.

Regininha – Meu amor, eu fiquei sabendo que uma amiga minha está no sanatório do jardim botânico.

Álvaro – É sério?

Regininha – Infelizmente sim. Uma pena, a Ellen que me avisou sobre o ocorrido. Te juro que fiquei péssima com essa situação.

Álvaro – Vamos visita-la hoje mesmo.

Regininha – Eu quero ir hoje, mas gostaria de ir sozinha, tem problema?

Álvaro – Problema nenhum. Eu te deixo lá, vou almoçar e depois te pego.

Regininha – Obrigada.

Álvaro e Regininha se beijam, ao fundo o mar azul de Copacabana.

Corta para:

Cena 24. Fórum/ Sala de audiência/ Int./ Dia.

Eva, Fabrício e um advogado estão sentados, junto com o Juiz.

Juiz – Com o falecimento de Miguel Amadeu de Queirós, e com a prisão de sua esposa legítima, todo o seu patrimônio, avaliado em 58 milhões de reais, ficará para seu único filho Vitor, que estará em posse da mãe legítima: Eva Maria Magalhães.

Eva sorri discretamente.

Corta para:

Cena 25. Casa de Fernanda/ Sala/ Int./ Dia.

Ondina está na sala, junto de Edu, quando Malu desce as escadas.

Malu – Tudo do mesmo jeito, nem sinal dela.

Edu – Você acha que ela…/

Ondina (corta) – Morreu. A Fernanda morreu gente. Não há outra explicação. A minha melhor amiga foi morta por alguém.

Malu se ajoelha no chão e começa a chorar.

Malu (gritando/ chorando) – Não, a minha mãe não, por favor!

Edu se ajoelha e abraça Malu.

Edu – Calma meu amor, tudo vai se resolver. Eu estou aqui, com você, agora e sempre. Te amo!

Edu beija Malu.

Corta para:

Cena 26. Sanatório/ Jardim/ Ext./ Dia.

Regininha está indo em direção ao sanatório, acompanhada de Ellen.

Regininha – Foi ótimo saber que você abrigou aquele monstro aqui, pra ela sofrer, ficar deprimida e definhar, pouco a pouco. A vida da Vitória vai ser longa e miserável.

Ellen – Aceitei, por causa do alto valor da pensão.

Regininha – Quero sapatear na cara dela. Sambar com meu tamanco amarelo nas costas dela.

Ellen cai na risada.

Corta para:

Cena 27. Sanatório/ Quarto de Vitória/ Int./ Dia.

Vitória está sentada na cadeira de3 rodas, assistindo TV. Ellen adentra o quarto e desliga a TV.

Ellen – Tem visita pra você.

Vitória – Não quero receber ninguém.

Ellen (rude) – Aqui você não manda em nada.

Ellen sai e Regininha adentra ao quarto.

Regininha – Tava com saudades do meu malvado favorito.

Vitória – Veio debochar do meu estado?

Regininha – Não, até porque, eu estou acima de qualquer picuinha dessas. Mas eu não iria perder a oportunidade de me solidarizar com o estado de saúde da mulher que matou a minha mãe e a minha tia.

Vitória – Cada um tem o final que merece. Tô de castigo aqui.

Regininha – Sabe que estar num sanatório, estar esquecida pela família e paraplégica, ainda é pouco pra você. Muito pouco. Não há castigo que baste.

Vitória – Quanto ódio no coração hein. Se continuar assim, não vai ganhar seu pedacinho no céu.

Regininha – E você já sabe que o seu é ao lado do tinhoso né?!

Vitória – Eu, o demônio, a Dama e aquela piranha da sua mãe.

Regininha (brava) – Meça suas palavras, sua criatura infeliz, vil e abjeto.

Vitória – A Jerusa era uma piranha, mereceu os quatro tiros que eu dei naquela fuça dela.

Regininha dá um tapão no rosto de Vitória.

Vitória (debochando) – Olha só, a órfã ficou bravinha comigo. Sua mãe sempre foi quenga, piranha e tudo mais.

Regininha retira do bolso uma tesoura.

Regininha – Você nunca mais vai falar mal de ninguém. Nunca mais!

Regininha dá outro tapa na cara de Vitória e, em seguida, abre a boca dela, retira a língua para fora e corta um pedaço.

Vitória começa a gritar de dor e em seguida, o sangue começa a jorrar.

Regininha – A minha mãe era o que?

Vitória continua gritando de dor.

Regininha – Eu não ouvi direito. A minha mãe era o que mesmo? Fala.

Vitória se desespera ao ver a quantidade de sangue que sai de sua boca.

Regininha – Agora sim. Nunca mais teremos que ouvir você pronunciar qualquer palavra. Tá aí, pobre, paraplégica e muda. Tá sem a língua! Nem de cobra podemos te chamar mais, uma pena.

Regininha começa a rir e sai do quarto. Vitória fica gritando de dor e com a boca muito ensanguentada.

Corta para:

Cena 28. Apartamento/ Sala/ Int./ Dia.

Teresa está com Vitor no colo, quando Fabrício vem do quarto.

Teresa – Ah seu Fabrício, ainda nem pude agradecer ao senhor pela oportunidade que me deu de trabalhar cuidando do menino Vitor.

Fabrício – Você é pessoa de bem, merece isso e muito mais.

Teresa – Obrigada, de coração!

Fabrício – Você viu a Eva por aí?

Teresa – Ela saiu logo cedo com o Matheus.

Fabrício – Que Matheus?

Teresa – Matheus Riccaz. Um amigo dela, um baiano arretado.

Fabrício – E disse aonde iria? O que iria fazer?

Teresa – Acabar com a fonte dos problemas.

Fabrício – Ela tá me deixando preocupado.

Corta para:

Cena 29. Mansão Amadeu/ Sala de Estar/ Int./ Dia.

Eva está na sala, de pé e impaciente, quando Matheus desce as escadas.

Eva – E então?

Matheus – Ninguém lá em cima.

Eva – Espalhou a gasolina por tudo lá?

Matheus – Cada metro quadrado desse lugar tá com gasolina.

Eva – Gastei um dinheirão nisso.

Matheus – Também, né. Gasolina pela hora da morte.

Eva – Matheus meu querido, pode ir, tem uma surpresa pra ti lá fora.

Matheus dá um abraço em Eva e começa a sair. Eva risca alguns fósforos e joga nas poças de gasolina espalhadas pelo local, que começa a queimar.

Corta para:

Cena 30. Mansão Amadeu/ Entrada/ Ext./ Dia.

Uma enorme comitiva, com limusine está parada do lado de fora. Matheus sai da casa e fica admirado.

Matheus – Oxente, isso é que se chama de uma recepção da moléstia. Aí sim eu vi vantagem.

Matheus se encaminha para a limusine, o motorista abre a porta para ele.

Matheus (ao motorista) – Toque pra Salvador, meu nego, toque. Tô doido pra comer acarajé bem quente de Mãe Marina, sabe não?

Matheus entra no carro e toda a comitiva vai embora.

Eva sai da casa, que começa a pegar fogo. Ela espalha mais gasolina pelo lado de fora da casa, enquanto o diálogo seguinte é inserido.

Eva (off/narrado) Eu acreditei tanto nas pessoas ao longo da minha vida, eu confiei nas boas virtudes, no que eu achava ser natural do ser humano. Dizia um velho profeta, que o amor é o que liberta. Ele tinha razão, libertava mesmo, libertava a parte otária das pessoas mais sensíveis. Eu depositei muito amor, onde só havia enganação. Eu acreditei que esse era o único sentimento verdadeiro existente nas pessoas. Mas não era.

Eva vai caminhando para a saída, enquanto a casa pega fogo ao fundo.

Eva – Cortar o mal pela raiz é um bem necessário. Tô aqui destruindo o ninho de lobos, a casa da ambição. Vida nova.

A casa explode atrás de Eva.

Eva – Eu amei a vida, amei as pessoas e só me ferrei. Quer saber de uma coisa: Que se dane o amor!

Com a Imagem de Eva sorrindo maliciosamente e a casa em explosão atrás dela,

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FIM

 

agradecimentos: Agradeço a Deus, fonte de todo o meu amor. Agradeço ao meu computador e a minha memória. Agradeço ao Séries da Web por mais essa oportunidade. Agradeço aos leitores e aos companheiros de profissão que dedicaram seus preciosos minutos para ler esta trama.

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