Diva – Capítulo 28

“Dora estava perplexa diante de Constança, que a estava ameaçando. Há algum tempo, mesmo que a contra gosto, Dora a mando de sua irmã, fez de sua sobrinha Charlote uma estrela de TV. Em breve começariam as gravações da novela a qual ela protagonizaria. Agora Constança veio até São Paulo, e estava usando do mesmo artifício para subornar sua irmã Dora novamente.”

 

DORA : (a beira das lágrimas/furiosa) Ora, sua chantagista!

 

“Constança dá uma gargalhada.”

 

DORA : (furiosa) Eu odeio você!

 

“Constança sabia o verdadeiro nome de Dora. E estava usando isso para suborna-la. Dora havia sido registrada pelo seu pai com o nome de José Astoufo Perpétuo do Socorro. Uma mulher com um nome de homem.”

 

DORA : (chorando) Você já conseguiu o que queria, minha irmã! Sua filha já é uma atriz!

 

CONSTANÇA : Mas eu quero mais. Eu quero o seu dinheiro.

 

“Quando o pai de Dora havia ido fazer sua certidão de nascimento, ele foi ao cartório completamente embriagado. O funcionário que a registrou, nem mesmo percebeu. E por um equívoco, ela recebeu um nome masculino.”

 

DORA : (chorando) Eu não tenho dinheiro!

 

CONSTANÇA : Não interessa. Se vira!

 

“Dora Farrell. Um nome que serviu para encobrir um passado humilhante.”

 

FLASHBACK…

 

1998…

 

(Na Escola São Francisco Tadeu…)

 

“Dora tinha 9 anos quando começou a estudar numa escola rural.”

 

PROFESSORA : Ana?

 

ANA : Presente!

 

PROFESSORA : Berenice?

 

BERENICE : Presente.

 

PROFESSORA : Daniel?

 

DANIEL : Presente!

 

PROFESSORA : José?

 

DORA : Presente.

 

“As outras crianças começam a rir e debochar de Dora.”

 

FIM DO FLASHBACK…

 

DORA : (chorando) O que você quer fazer com esse dinheiro?!

 

CONSTANÇA : Quitar algumas dívidas. E aproveitar a vida enquanto me é tempo.

 

“Constança sorri maliciosamente.”

 

CONSTANÇA : I o quero sê tratada como uma rainha.

 

DORA : (chorando) Você não pode fazer isso comigo!

 

CONSTANÇA : Qué pagá pra vê? Si eu divulgá pra mídia o seu verdadero nome, ocê tá arruinada. Vai virá motivo de chacota pur todo o Brasil! Ocê vai se torná uma piada viva, José!

 

DORA : (grita) Não diga esse nome!

 

“Constança chega bem perto de Dora.”

 

CONSTANÇA : E eu vim pra ficá. É bom ocê tratá eu i a Charlote comu nós merecemo. Ocê num vai negá esse favor a sua irmã mais véia, ou vai?

 

DORA : (chorando) Não!

 

“Charlote desce as escadas e Dora enxuga rapidamente suas lágrimas.”

 

CHARLOTE : Pronto, já arrumei o seu quarto mãe.

 

CONSTANÇA : Perfeito!

 

CHARLOTE : (preocupada) O que houve tia Dora? Tá chorando? Ficou emocionada com a chegada da mamãe?

 

CONSTANÇA : Ocê num imagina o quanto! Dorinha tava só emoções aqui agora a pouco! Foi de saudade né irmãzinha?

 

“Dora concorda com a cabeça enquanto Charlote nem desconfiava da mulher cruel que era sua mãe.”

 

(No Dia Seguinte…)

 

“Depois de passar por um período de luto, Pascualita voltou à casa de Dora, afim de cuidar de Charlote e de sua dieta. Logo de manhã voltou a praticar seu velho ritual, acordando Charlote aos berros e aos chutes.”

 

PASCUALITA : Levante chica. Hora de acordar!

 

CHARLOTE : Oh não! Você voltou?

 

PASCUALITA : Está na hora de seu desayuno…seu…seu café da manhã. Vamos! Saia dessa cama e vá trocar de roupa!

 

“Charlote se levanta e vai até o banheiro para trocar de roupa. Pascualita percebe uma pequena cartela de remédios sobre o criado mudo do quarto de Charlote.”

 

PASCUALITA : O que é isto?

 

“Pascualita apanha a cartela de remédios.”

 

PASCUALITA : Son os mesmos comprimidos que yo usava para non sentir apetite!

 

“Pascualita analisa a cartela.”

 

PASCUALITA : Bem que yo desconfiei que ela estava resistindo bien a dieta. Bien até demais! Hija de la puta!

 

“Pascualita tem uma ideia.”

 

PASCUALITA : Já sei!

 

“Pascualita aproveita enquanto Charlote estava no banheiro e troca os remédios dela por purgantes.”

 

PASCUALITA : Agora yo quero só ver!

 

“Pascualita sai de dentro do quarto, Charlote volta do banheiro.”

 

CHARLOTE : (fala sozinha) Eu quase ia me esquecendo! Preciso tomar meu remédio que causa sensação de saciedade, ou se não, não vou aguentar essa dieta.

 

“Charlote toma um comprimido junto com um copo d’água sem perceber que aquilo na verdade era purgante.”

 

(Minutos Depois, na Mesa do Café da Manhã…)

 

“Dora e Charlote sentam-se a mesa, e Muriel as serve.”

 

CHARLOTE : E a mamãe? Não vem tomar café?

 

MURIEL : Dona Constança pediu café na cama.

 

DORA : Como assim?

 

MURIEL : Faço o que ela pediu?

 

DORA : Não, Muriel! Deixe que eu mesma preparo o café da manhã para minha irmã!

 

“Dora se levantada mesa.”

 

CHARLOTE : Ah, que lindo. Titia sempre tão hospitalar.

 

DORA : (grita) Hospitaleira, Charlote!!!! Hospitaleira! Pelo amor de Deus! Parou de falar com sotaque mas continua assassinando o pobre português!

 

CHARLOTE : Eu não fiz nada com o Seu Manuel da Padaria. Pare de mentir! Ora essa! Onde já se viu. Ficar acusando os outros de assassinato!…Mas, calma ai, espera só um pouquinho! O Seu Manuel ta morto?

 

DORA : Meu Deus, Charlote. Você fede de burra. Não vou nem falar nada!

 

CHARLOTE : Mas, o que foi que eu fiz?

 

“Dora vai até a cozinha e prepara uma tigela de cereais para Constança.”

 

DORA : Agora um toque especial!

 

“Dora cospe nos cereais e coloca a tigela numa bandeja junto com o leite e o iogurte.”

 

DORA : Delicia! Hahaha!!!

 

“Dora disfarça sua cara de satisfação pra chamar a empregada.”

 

DORA : (grita) Muriel!!!

 

“Muriel entra na cozinha.”

 

MURIEL : Sim?

 

DORA : Leve esta bandeja para o quarto de minha irmã.

 

“Muriel pega a bandeja e leva até o quarto de Constança.”

 

MURIEL : Seu café, Dona Constança!

 

“Constança olha pra bandeja.”

 

CONSTANÇA : Não vou comer isso!

 

MURIEL : Por que?

 

CONSTANÇA : Eu num vim para cidade grande para comer comida de galinha! Que grãozinhos são esses misturados no leite?

 

MURIEL : São cereais!

 

CONSTANÇA : Não quero! Leve isso daqui e traga comida de verdade! Égua!!!

 

(Voltando a Mesa do Café da Manhã…)

 

“Dora e Charlote comem sob o olhar de Pascualita.”

 

CHARLOTE : Hum…estou me sentindo enjoada!

 

DORA : Que emocionante!

 

“Charlote se levanta e corre para o banheiro. Pascualita dá uma risadinha.”

 

DORA : (ri) Que diabos você aprontou dessa vez, Pascualita?

 

PASCUALITA : Eu? Nada! (ri)

 

(Enquanto Isso no Apartamento de Galdéria…)

 

“Galdéria acorda e vai conversar com Guto.”

 

GUTO : Ué, mas que cara é essa?

 

GALDÉRIA : Precisamos ter uma conversa séria!

 

“Galdéria e Guto se sentam no sofá da sala.”

 

GUTO : Pode falar, eu estou te ouvindo!

 

“Direta e sem rodeios Galdéria fala de uma vez o que pretendia falar para seu assessor.”

 

GALDÉRIA : Nossa relação está fadada ao fracasso, Guto.

 

GUTO : Como assim?

 

GALDÉRIA : Estamos há anos luz de sermos um casal perfeito. Está bastante nítido.

 

GUTO : Ei, ei, ei, espera. Por que está dizendo essas coisas?

 

“Galdéria espera um pouco para responder.”

 

GALDÉRIA : Eu acho que nós devemos terminar!

 

GUTO : Meu Deus, Galdéria. Ainda ontem você havia dito que me amava e agora está querendo terminar comigo. Foi alguma coisa que eu fiz? Foi algo que eu disse?

 

GALDÉRIA : Não, Guto. Não é nada disso. Apenas quero nos poupar de futuras frustrações!

 

GUTO : Isso não pode ser! Tem de haver alguma explicação.

 

GALDÉRIA : Não sou eu que estou dizendo isso! Todos nos vêem com maus olhos. Nossa relação é uma piada de mal gosto para todos ao nosso redor. Não é possível que você não veja!

 

GUTO : Mas que fodam-se os outros, porra! Cago e ando para o que eles dizem!!!

 

“Guto dá um murro no braço do sofá.”

 

GUTO : Estava tudo indo tão bem.

 

GALDÉRIA : Okay. Concordo. Mas e daqui a alguns anos?

 

GUTO :Eu nunca me importei com isso Galdéria, você sabe! O amor, ele não envelhece.

 

GALDÉRIA : Iremos fracassar se continuarmos juntos.

 

GUTO : Por acaso está falando de sua vida profissional, Galdéria?

 

“Galdéria permanece em silêncio.”

 

GUTO : Entendi. Você optou por sua carreira ao invés do nosso amor.

 

“Guto se levanta do sofá.”

 

GALDÉRIA : Pra onde você vai?

 

GUTO : Pro inferno você e sua maldita carreira, Galdéria Pedrosa.

 

“Guto vai embora do apartamento. Galdéria permanece estática no sofá da sala, com os seus olhos marejados de lágrimas.”

 

GALDÉRIA : (gaguejando) Não…

 

“Galdéria se levanta do sofá.”

 

GALDÉRIA : …não. O que foi que eu fiz? (grita) Não!!! Maldição!!!

 

“Galdéria puxa seus cabelos.”

 

GALDÉRIA : (grita) Guto!!!!

 

“Galdéria vai até a marquise furiosa, e empurra a estátua de lá, fazendo-a cair do alto do quinto andar em cheio sobre um automóvel. Na vaga em plena avenida, o alarme do carro dispara. E o motorista ao se deparar com o estrago feito pela estátua, fica desesperado.”

 

(Voltando a Casa de Dora…)

 

“Charlote ainda sofrendo de má digestão, estava passando um pente fino num site de fofocas. Este fôra um dos hábitos que adquirira desde a sua vinda a São Paulo, embora o fizesse por falta de lazeres mais familiares na cidade grande. Só que desta vez acabou lendo algo que a desagradou.”

 

CHARLOTE : (lendo) Charles Novaes é flagrado com uma prostituta em plena Avenida Irving na noite anterior.