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[crítica] Dia Especial: Crônica genuína entretém e surpreende.

Dia Especial, web série de Rodrigo Gomes, #ValeAPenaLer?

Você sabe o que é uma crônica? De acordo com o site Brasil Escola, a crônica é uma forma textual no estilo de narração que tem por base fatos que acontecem em nosso cotidiano. Por este motivo, é uma leitura agradável, pois o leitor interage com os acontecimentos e por muitas vezes se identifica com as ações tomadas pelas personagens (…)o cronista tende a dialogar sobre fatos até mesmo íntimos com o leitor. (…)O texto é curto e de linguagem simples…

Dia Especial, exibida entre março e abril de 2016, não é uma crônica em si, afinal, está em formato de série, com 12 capítulos, mas quando eu disse no título que se tratava de uma “crônica genuína”, me referia ao espirito dessa obra, ao tom que o autor adotou. Rodrigo Gomes, veterano no Series de Web, teceu uma trama que contempla o simples, o banal, as escolhas que temos que fazer nosso cotidiano.

Vejamos: Gilda é uma professora que descobriu-se cega, o que colocou em risco seu namoro com Bismarque, uma vez que ele pretende abandoná-la após descobrir a nova condição daquela que um dia amou. Ela ensinava na turma de Thales, filho de Antony, que se solidariza com o estado da educadora do filho. Esse homem mantém um caso com Valentina, que trabalha em sua casa, mas a mulher já é casada com Luan. A mãe dela é Emília, cafetina do próprio sobrinho, Dennis, que passa a fazer programas com Marcos, irmão de Gilda. E assim voltamos ao início. Que ciclo! O mundo é mesmo muito pequeno.

Uma história com tantos arcos e personagens centrais pode resultar em um monte de nada se não for bem conduzida. Felizmente, o oposto aconteceu com Dia Especial. O modo como foi planejada e construída chegou a me deixar boquiaberto. Rodrigo preparou bem o terreno, apresentando as personagens e construindo boas situações para depois amarrá-las e conectá-las de uma forma incrível (e plausível). Planejamento é essencial para um bom resultado, e graças a esse acerto, Dia Especial conquistou este crítico que vos escreve. Foi o maior, mas não o único mérito.

Bons diálogos são como vitaminas para o gênero crônica, ou, em outras palavras, eles fortificam o contar da história, e, para minha alegria, pude ler falas poderosas em Dia Especial. Não se assuste quando iniciar a web série e deparar-se com momentos de pura conversa, seja sobre os dramas de cada um, a rotina ou sexo. Esteja disposto para uma leitura coesa e agradável, graças também à boa construção dos personagens: Nenhum deles é perfeito; e sim, humano. Cheios de falhas, particularidades, vícios, maldades, intuições…

Antes que me acusem de fechar os olhos para os pontos negativos, não se preocupem, vou falar deles agora. Dia Especial não é perfeita, tal qual nenhuma história é, creio eu, e se fosse, minha crítica soaria como uma “puxação de saco”. O tom de alguns diálogos me incomodou um bocado. Eram formais demais para uma conversa, alguns beirando como falas que alguém do sec. XIX proferiria. A falta de naturalidade poderia ter sido evitada com um empenho maior em captar o que falamos no cotidiano. Não estou exigindo um texto cheio de gírias ou palavrões, apenas algo mais simples, que não beire o melodrama forçado. O autor tem diversos vícios na escrita, como “confesso” e “sinceramente”, por exemplo, que contribuíram para empobrecer as falas.

Faltou também apuração no tamanho das cenas. Algumas eram demasiadamente grandes, cansativas, enroladas, com tópicos impertinentes. É preciso ter noção de quando cortar um ato e partir para o outro no momento certo. Longo demais= leitor enjoa. Curto demais= leitor se confunde. E não há segredo para achar o tamanho ideal, é algo que o autor descobre por conta própria, de maneira automática.

Por fim, uma dica, não só para Rodrigo, como para todos os que pretendem se aventurar no mundo da escrita: NUNCA subestime o seu leitor. Se ele prossegue lendo, é porque se interessou pelo seu ‘produto’. O porquê de eu estar ressaltando isso? Explicarei com uma metáfora: O personagem A tem um grande segredo que é revelado para o público, mas os outros personagens da história sequer desconfiam disso. Em certa parte, B descobre o que A esconde, e, horrorizado, corre para informar C. No momento em que B relata para C sua descoberta, o leitor precisa mesmo ler TODO O SEGREDO de novo sendo que ele já sabia? Não! É desnecessário. O exemplo em especial não se aplica à Dia Especial, entretanto, a web não se livrou de explicar situações para o leitor, como se ele não fosse capaz de entender por si só. O leitor é ágil, sagaz, e o autor jamais pode trata-lo como se não fosse.

Enfim, vale a pena ler Dia Especial?

Sim, principalmente se você gostar de tramas bem feitas. O final, escrito de maneira caprichada, fugiu do convencional, e apresentou resoluções muito interessantes para as personagens. Rodrigo pôde explorar mais uma vez sua criatividade e ousar, na medida do possível, como fez quando matou o protagonista de sua web novela anteriormente (só não revelo qual!). A série é um grande acerto em sua carreira, e espero que ele não demore a nos presentear com obras tão boas quanto ou até melhores do que essa!

NOTA: 4,5 DE 5,0.

O MELHOR E O PIOR.

(CUIDADO COM OS SPOILERS).

O melhor de Dia Especial foi a trama amarrada, cheia de boas conexões e revelações, como na eletrizante cena abaixo do capítulo 08.

Antony: Ainda tem mais uma coisa. – Ele fica nervoso e começa a tremer. – Como você sabe, a mãe do Thales morreu com uma facada no peito. E todos pensam que foi ela quem se matou.

Gilda: Como assim “pensam”? – Ela estranha. – Não foi ela quem se matou?

Antony: Não. – Ele fica quieto por alguns segundos. – Fui eu.

Gilda fica atônita.

Antony: Fui eu quem matou a Lia, eu matei a mãe do meu filho.

O pior foi a formalidade desnecessária em alguns diálogos, que poderiam ter sido mais naturais, além de terem sido vítimas de vícios de escrita do autor.

Antony: Hoje simplesmente houve um beijo entre a Gilda e eu. – Eles sorriem. – E admito que gostei bastante!

Dênis: Às vezes tento entender o porquê disso tudo. O porquê de você ter me trazido para morar contigo. Era somente para me explorar mesmo? Desde o início este sempre foi o seu plano?

Bismarque: Meu Deus! Acho que nem irei almoçar mais hoje. Esses canapés estão divinos. – Ele fala com a boca cheia. – Comi um melhor do que o outro, daqui a pouco vou querer todos.

Essa foi a crítica da semana, pessoal, espero que tenham gostado! Vale a pena ler ‘Dia Especial’ com toda a certeza, vocês não vão se arrepender se o fizerem.

Victor Morais

Escrevi as webs novelas Beira-Mar e Filho Amado que foram publicadas no portal. Atualmente escrevo " Ser Humano", que se passa nos anos 80 e trata da relação complicada entre mãe e filha. Drama, emoções, cotidiano, conflitos familiares...Esse é o meu estilo.

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Um comentário sobre “[crítica] Dia Especial: Crônica genuína entretém e surpreende.

  • Ohhh meu Deeeeus!! Que menino arrasador hahaha.
    Concordo com todos os pontos que você levantou, e procurarei estar sempre atento a eles.
    Adorei a sua crítica, a qual foi otimamente construída.
    Espero que continue a ler as minhas tramas, ciente de que sua opinião será sempre muito bem-vinda!!!

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