Séries de Web
Dia Especial

Dia Especial – Capítulo 2

CAPÍTULO 2

Cena 1 – Casa de Emília. Jardim Ângela. Tarde.

Dênis: Antes de mais nada vou guardar a minha graninha aqui. – Ele pega uma caixa que está trancada com um cadeado, e destranca a mesma. Dentro dela é possível ver várias cédulas de dinheiro arrumadas organizadamente, onde Dênis deposita mais uma certa quantia. – Creio que já tenho uns vinte ou trinta mil aqui. Aquela velha não pode nem sonhar que eu estou cobrando bem mais do que ela imagina pelos meus programas. – Ele então tranca a caixa com o cadeado novamente e a coloca em seu guarda-roupa. – Logo eu terei um bom dinheirinho e poderei fugir daqui o quanto antes. Não aguento mais ter que ser escravo daquela cafetina dos infernos.

Emília: Falando sozinho meu querido sobrinho? – Ela fala com um tom de ironia. Dênis se assusta e vira para ficar de frente com ela. – Cadê o meu dinheiro? Espero que a noite tenha sido produtiva.

Dênis: Aqui está o seu maldito dinheiro. – Ele bate na mão dela com força. – Pode conferir. Não tem nem um centavo a mais, nem a menos.

Emília: Uhm. – Ela confere a grana. – É assim que eu gosto. A noite foi mesmo muito produtiva, como eu já havia presumido.

Dênis: Se você soubesse o nojo que eu tenho de ti. Acho que nunca mais olharia na minha cara. – Ele vai até a porta do seu quarto e faz um gesto com a mão para que ela saia. – Agora que a cafetina já pegou a única coisa que lhe interessa… já pode sair do meu quarto.

Emília: Olha só como você fala comigo, moleque. – Ela fala irritada. – Num piscar de olhos eu te coloco para fora desta casa. E olha que eu não brinco em serviço.

Dênis: Estou tremendo de medo de você, Emília. Faça-me o favor, cai logo fora daqui. – Ele vai até a mulher e a pega pelo braço. – Já basta ter que morar na mesma casa que você.

Emília: Você é tão ingrato. – Ela se solta. – Este dinheiro aqui que você ganha com os seus programas é o mesmo dinheiro que coloca comida dentro desta casa. Então, pense muito bem antes de falar merda para mim, pois aqui você come, dorme, tem casa limpinha, tem roupa lavada, quer mais o quê?

Dênis: Queria apenas um serviço que EU escolhesse. Mas não, você já fez este favor para mim.

Emília: Para com isso que já tá ficando feio. – Ela gargalha alto. – Você não terminou nem o ensino médio, garoto. Se lembra que você ficou com depressãozinha por causa da morte dos seus pais? Nem quis continuar com os estudos. – Ela fica bem próximo de Dênis. – Ou seja, não tem escolaridade suficiente para ter um emprego que pague tão bem quanto esse. Seus clientes lhe pagam o quanto você cobrar, olha que maravilha.

Dênis: Você é nojenta, não tem coração. Não sei nem se deve ser considerada como um ser humano. Mas enfim, me deixe em paz nem que seja por alguns minutos, por favor. – Ele implora.

Emília: Tudo bem, tudo bem. Até porque você precisa descansar para mais tarde, não é? Pois o dinheiro que tu recebe varia também de acordo com o seu desempenho na cama. – Ela sorri. – Tenha bons sonhos, meu lindo. – Ela sai.

Dênis: Vagabunda. – Ele grita e taca um livro na porta. – Piranha. – Ele se joga em sua cama e começa a chorar.

Cena 2 – Parque Villa-Lobos. Alto de Pinheiros. Tarde.

Marcos: Eu não consigo mesmo esconder nada de você, não é? – Ele fica sem saída. – Gilda, tentei o quanto eu pude. Mas o fato é que não estou aguentando mais, e deixei a emoção falar mais alto que a razão.

Gilda: Pois eu acho muito errado o que você está fazendo. Se não dá mais certo, por que não termina com tudo de uma vez? É bem melhor do que trair.

Marcos: Não, isso não é um caso antigo. Acontece que eu contratei um garoto de programa. Hoje será a primeira vez que saio com outro cara, e garanto que será a última.

Gilda: Olha só o que você está fazendo, Marcos. Esse é só o ponta pé inicial, daqui a pouco estará totalmente perdido nisso.

Marcos: Pode deixar que eu vou manter o controle. Te prometo que será somente dessa vez.

Gilda: Você não precisa me prometer nada, até porque é grandinho demais para ficar aí se explicando para mim. Só espero que o Raí não descubra nada disso, pois não há coisa pior no mundo do que descobrir uma traição de alguém que amamos. Ele não merece isso.

Marcos: Mas vai ser somente uma vez, Gilda. Para de ser chata, caramba.

Gilda: Só uma vez. É aí que mora o problema meu irmão. Quem ama não trai, nem que seja somente uma vez. Mas enfim, como eu disse… você sabe o que faz. Agora vamos embora.

Cena 3 – Casa de Valentina. Jardim Ângela. Tarde.

Emília: Santo Deus! Mas que fedor de inhaca que está aqui dentro desta casa. – Ela fala ao entrar na casa da filha. – Será que a minha filha não conhece a palavra higiene? – Ela vê Luan deitado no sofá, enrolado em uma coberta. – E para piorar também não sabe o que é ter um HOMEM dentro de casa, parece mais que adotou um vira-lata. – Emília vai até o genro e puxa a coberta que estava cobrindo o rapaz.

Luan: Mas o que é que significa isto? – Ele está pelado. – Com que direito você invade a minha casa e…

Emília: E nada. – Ela completa. – Você não tem vergonha de estar dormindo até uma hora dessas? E para piorar, não tem coragem nem de vestir uma cueca.

Luan: Até onde eu sei, estou na minha casa. E por favor dona Emília, eu não quero discutir com a senhora. – Ele puxa o cobertor das mãos da mulher. – Faça logo o que veio fazer aqui e volte para sua casa.

Emília: Ah, mas eu não volto mesmo! Irei ficar sentadinha aqui. – Ela se senta no sofá. – Às vezes fico me perguntando como a Valentina teve coragem de se casar com um energúmeno feito você.

Luan: É hoje, é hoje! – Ele fala irritado. – Será que você não tem outro por aí para encher o saco, não? Ah, vai te catar.

Emília: Além de preguiçoso, é mal-educado. Rapaz, você não tem vergonha nessa sua cara? Enquanto a sua mulher está lá trabalhando feito uma louca para colocar dinheiro dentro de casa, você fica aí com a bunda pro alto. Se manca, cara.

Luan: Quem tem que se mancar aqui é você. Pois não é porque você é mãe da Valentina que você pode invadir a nossa casa assim e sair me insultando.

Emília: Não me admira nada que a minha filha coloque umas galhas aí nessa sua cabeça. É bom ela deixar bem enfeitadinha para ver se você aprende.

Luan: O que é que você está querendo dizer com isso? – Ele estranha.

Emília: Não sei se você sabe, mas o patrão da Valentina está de férias. E seguindo a lógica, ele dispensaria a minha filha por um tempo, já que ele está em casa e pode muito bem cuidar do filho dele.

Luan: Você acha que a Val está me traindo com o patrão dela? – Ele pergunta preocupado. Emília o encara com um sorriso no rosto.

Emília: Se fosse eu, não pensaria duas vezes antes de trair você. Um homem que não tem utilidade alguma, não trabalha, não faz nada da vida.

Luan: Ela não teria coragem de fazer isso comigo, até porque a sua filha me ama. E quando ela se casou comigo, ela sabia muito bem como eu era.

Emília: Talvez ela pensou que com o casamento você mudaria, mas pelo visto piorou. – Ela joga o seu veneno. – Enfim, mantenha os olhos abertos, rapaz! Agora deixa eu pegar o isqueiro, pois foi somente isso o que vim fazer. – Ela sorri.

Luan: Não, a Valentina nunca faria uma coisa dessas comigo. – Ele fala para si mesmo. – Ela está me envenenando, essa velha dos infernos.

Emília: Adeus, genrinho querido. – Ela manda beijos e vai embora.

Cena 4 – Empresa Coplax. Paulista. Noite.

Celso: Então é para isso que pago os meus funcionários? – Ele fala consigo mesmo ao ver Bismarque dormindo em cima da papelada. Celso vai até o homem e o acorda. – Bom dia bela adormecida!

Bismarque: Celso? – Ele levanta o rosto assustado. – Que horas são?

Celso: Creio que seja a hora de você dormir, mas por favor faça isto lá na sua casa. – Ele fala com certa ironia. – Vamos que eu preciso fechar a empresa.

Bismarque: Mil perdões, chefe. É que eu trabalhei demais hoje. Estou cansado pra caramba. – Ele se levanta e pega suas coisas.

Celso: Cuidado porque quem dorme demais ou se cansa muito rápido tem tendência a ficar sempre para trás, não só no trabalho como na vida.

Bismarque: Prometo que isso não voltará a acontecer. – Ele fica com vergonha. – Com licença. – Ele se apressa para ir embora.

Celso: BISMARQUE.

O noivo de Gilda então se vira.

Celso: O seu crachá, vai deixar aqui?

Bismarque volta e pega o crachá em cima da mesa.

Bismarque: Boa noite! Até amanhã. – Ele sai correndo.

Celso: Mas é mesmo cada um que me aparece. – Ele revira os olhos, indignado.

No carro…

Bismarque: Meu Deus, como está sendo difícil conciliar todas essas coisas. Estou cansado demais, mas com certeza valerá a pena por cada segundo que não estou dormindo. – Ele para no sinal. – E outra, será que eu devo levar adiante aquela discussão com a Gilda ou não? Daqui a pouco eu posso acabar magoando ela de verdade, e não é essa a minha intenção. – Ele fica triste. O sinal abre e ele volta a dirigir. – Porém, é a única saída que tenho.

Cena 5 – Casa de Valentina. Jardim Ângela. Noite. 

Valentina: Hoje vai chover canivete! – Ela fala ao entrar em casa e encontrar Luan acordado. – Eu chegando em casa e encontrando você acordado? Não é todo dia que isso acontece. – Ela brinca. – Por acaso hoje é alguma data especial?

Luan: Para de ser boba. Não posso mais ficar acordado para perguntar à minha mulher como foi o dia dela? – Valentina o beija e senta no colo do rapaz.

Valentina: Claro que pode. E eu fico muito feliz por isso. – Ela o abraça. – Sinto tanta falta do meu marido pegajoso de antigamente, agora ele só pensa em dormir e fazer nada o dia inteiro.

Luan: Antigamente nós saíamos juntos bem mais do que agora, né? – Ele relembra. – Temos que voltar a fazer isso.

Valentina: Gente, que bicho te picou? – Ela coloca a mão no rosto dele, checando se o rapaz está com febre. – Parece até que abduziram o Luan que me casei e colocaram no lugar o Luan que namorei.

Luan: Não cansa de zoar com a minha cara? – Ele brinca. – Mas brincadeiras à parte, acho que devemos voltar a ser aquele casal de antes.

Valentina: Nossa amor. Estou feliz demais por isso. – Ela se levanta. – O que mais quero é que voltemos a ser como antes.

Luan: E seremos, minha flor. – Ele se levanta e a pega pela cintura. – Mas agora, mudando completamente de assunto. A sua mãe veio aqui quase agora e fez vários insultos contra mim.

Valentina: O que foi que a dona Emília aprontou dessa vez? – Ela pergunta revirando os olhos. – Será que a minha mãe não vai parar nunca de se intrometer no nosso casamento?

Luan: Tente conversar com ela sobre isso. Pois a mim ela não escuta. Enfim, acredita que ela veio aqui e ensinou que você estivesse me traindo?

Valentina: Como é que é? – Valentina engole seco. – A mamãe está ficando louca, pirada? Só pode. De onde foi que ela tirou uma coisa dessas?

Luan: Também não sei. Só sei que ela falou com todas as letras que se eu não mudasse o meu jeito preguiçoso de ser, você estaria mais do que certa em colocar chifres em mim.

Valentina: Ela está maluca, completamente surtada. – Ela fica desesperada. – Mamãe não tem o direito de falar isso para você, até porque não é verdade. Concordo com ela apenas sobre você ser bastante preguiçoso, mas…

Luan: Ah, então você também acha isso de mim? – Ele a interrompe. – Sei que não está errada em achar, mas sei lá, quando se casou comigo sabia muito bem como eu era.

Valentina: Sim, amor. Claro que sabia. Mas acontece que a sua preguiça acabou piorando. Não tem nem mais disposição nem mesmo para fazer amor.

Luan: Não seja por isso. – Ele a pega pela cintura. – Vamos resolver esse problema agora. – Luan a beija.

Cena 6 – Casa de Emília. Jardim Ângela. Noite.

Dênis: Hoje eu estou vestido para matar. – Ele se olha no espelho enquanto se perfuma. – Quer dizer, que dia eu não estou vestido para matar? – Ele começa a rir sozinho.

Emília: Estou começando a achar que você está ficando maluco, Dênis. É a segunda vez hoje que te pego falando sozinho. – Ela analisa o garoto. – Tá bonito, cheiroso. Creio que tenha clientes hoje. Isso é bom, muito bom.

Dênis: Vá para o inferno! – Ele fala com raiva. – Será que pode ao menos deixar que eu me arrume?

Emília: Vim aqui somente para falar que alguns dos clientes que te indiquei me ligaram reclamando dos seus serviços. Estão dizendo que você ejacula rápido demais na cama, não dá nem tempo de se divertirem direito.

Dênis: Eu sempre ejaculei rápido demais, e não perco o meu ritmo na cama por conta disso. Faço sexo por poucos minutos, mas faço gostoso!

Emília: Talvez eles queiram bem mais do que poucos minutos de sexo e um orgasmo rápido.

Dênis: Ah, pelo amor de Deus! Se é esperma o que eles querem, por que não vão em uma dessas clínicas de fertilização in vitro? Lá deve ter vários congelados.

Emília: O recado está dado. Se você continuar com esse desempenho aí, daqui a pouco não vão nem querer te pagar mais. – Ela caçoa e Dênis não gosta. – Por que você não marca uma consulta médica para ver essa história direito? Não quero prejuízo no meu caixa.

Dênis: Para sua informação, eu já marquei a consulta há algum tempo. E será amanhã mesmo, satisfeita?

Emília: Muito satisfeita. – Ela sai.

Dênis: Só sabe pensar no dinheiro. Vaca. Ainda tem coragem de falar que é para comida e coisa do tipo, pensa que eu não sei que ela também compra as roupinhas e perfumes dela com a minha grana. – Ele termina de se arrumar. – Vamos para mais uma noite de luta. – Ele sai.

Cena 7 – Apartamento de Gilda. Morumbi. Noite.

Raí: Gilda? – Ele entra no quarto da moça, que está deitada. – Está acordada?

Gilda: Estou sim, Raí. Pode entrar. – Ela se senta na cama. – Senta aí. Aconteceu alguma coisa?

Raí: A empregada abriu a porta para mim, e me disse que você estava no quarto. Não queria te incomodar, vim somente saber se o Marcos está por aqui, já que não encontrei ele em casa e ainda por cima o seu irmão não atende o celular.

Gilda: Não se preocupe com o Marcos, Raí. Ele não está aqui, mas tenho certeza que ele está bem. Quer dizer, não tenho tanta certeza assim. Só que se algo de ruim tivesse acontecido com ele, já teríamos sido noticiados.

Raí: Você tem razão, não tem por que eu me preocupar tanto. Mas, como cê tem tanta certeza de que ele está bem? – Ele estranha.

Gilda: Ele deve estar pensando sobre vocês. – Ela tenta disfarçar. – Conversei com o meu irmão sobre as constantes discussões de vocês. E como sabemos: notícia ruim se espalha rápido. Se algo de ruim tivesse acontecido, já estaríamos sabendo.

Raí: Entendi. Mas como foi que ele reagiu? O que ele te disse?

Gilda: Ele me disse as mesmas coisas que você. Ambos sentem falta de carinho e atenção.

Raí: Ah é? Bom saber. Pois enquanto eu não tiver isso dele, ele também não terá de mim.

Gilda: Vocês formam o casal mais cabeça dura que já vi em toda a minha vida. Gente, como pode? Vocês não podem ser assim não. Nenhum relacionamento vai para frente desse jeito.

Raí: Eu já cansei de tentar me explicar para o Marcos, Gilda. Deixei claro para ele que haveria dias que eu não poderia estar ali dando o carinho e a atenção que ele merece. Mas custa ele ao menos dar um pouquinho disso para mim? Será que é pedir muito? O problema é que seu irmão pensa que o sentimento tem que partir somente de mim, ele acha que só pode receber afeto e não pode dar. Porém, não é bem assim que a banda toca. Também preciso receber nem que seja um pouquinho dos sentimentos dele para comigo.

Gilda: Te entendo perfeitamente, meu cunhado. E o Marcos é mesmo um cabeça dura, mas com o tempo eu faço ele enxergar que o que está fazendo contigo não é certo.

Raí: Não precisa fazer ele enxergar nada não, Gilda. Deixe que ele mesmo abra os olhos sozinho. – Ele se aproxima de Gilda. – Mas e você, como está? Não era hoje que você tinha consulta médica para saber se a sua cegueira é reversível?

Gilda: Pois é. – Ela fica cabisbaixa. – Não é reversível. Terei que conviver com isso para o resto da minha vida. O que me resta é adaptar-me à minha nova realidade.

Raí: Sinto muito, querida. – Ele acaricia a mão dela. – E as coisas lá na escola? Já acertou tudo?

Gilda: Pensei que eu já tinha assinado toda a papelada necessária, mas hoje recebi uma ligação lá da diretoria. Terei que voltar à escola amanhã para assinar alguns papeis que ficaram pendentes, e escalei o Marcos para ir comigo.

Raí: Marcos, Marcos. Só quero saber por onde ele anda, isto sim.

Cena 8 – Casa de Antony. Chácara Santo Antônio. Noite.

Antony: E então o rapaz descobriu que na verdade o lobisomem que assustava toda a cidade era ele, e fim. – Ele percebe que Thales ainda está acordado. – Acho que os meus contos de terror não servem mais para você pegar no sono. – Ele dá um beijo no filho, ambos estão deitados na cama do garoto.

Thales: É que o meu pensamento estava longe. Desculpa papai, não consegui prestar atenção na sua história.

Antony: Ué, não estou acreditando nisso. Eu estava aqui falando durante todo esse tempo e você nem tava dando a mínima para mim? – Ele brinca.

Thales: Eu estava pensando na mamãe, em como nós éramos felizes. Vocês discutiam bastante, mas no dia seguinte sempre faziam as pazes. – Ele relembra. – Tenho muita saudade dela!

Antony: Eu também, meu filho. – Ele fica triste. – Também sinto muita falta da sua mãe.

Thales: Será que a Valentina te fará tão feliz quanto a mamãe fez? – Ele se vira para o pai. – Gosto muito dela, mas não sei se ela conseguirá substituir a minha mãe.

Antony: Substituir a sua mãe? Não é essa a intenção, meu filho. – Ele acaricia o cabelo de Thales. – A Valentina nunca poderá substituir sua mãe. Quer dizer, nem ela nem ninguém.

Thales: Então por que você está namorando com ela?

Antony: Porque eu gosto dela. Mas isto não significa que ela tomará o lugar da sua mãe. A Val apenas vai ocupar um novo lugar em nossas vidas.

Thales: Mas só se ela se separar do marido dela, né?

Antony estranha.

Thales: Desculpa de novo, é que eu acabei escutando a conversa de vocês.

Antony: Pois é, meu filho. Só poderei continuar com a Valentina se ela deixar o marido dela para ficar comigo, caso contrário…

Thales: Se ela te ama de verdade, pode ter certeza que logo a Val terminará com ele. – Thales vira de costas para o pai. – Ela faz você feliz, papai?

Antony: Que pergunta é essa, Thales? Mas é claro que a Valentina me faz feliz, muito feliz. Eu a amo de corpo e alma. Não vejo a hora de nós três formarmos uma verdadeira família.

Thales: Assim como você, a mamãe e eu? – Ele sorri. – Lembra quando saíamos juntos? Nos divertíamos tanto. Até hoje não consigo entender o porquê dela ter se matado.

Antony: São coisas da vida, meu filho. – Ele revira os olhos, que estão cheios de lágrimas. – Tudo nesta vida há um propósito, mesmo que não faça sentido algum para nós.

Thales: E quando ela chegava do trabalho surtada? Você mandava eu vim para o quarto, enquanto vocês brigavam lá embaixo. Não sei por que, já que eu escutava tudo daqui de cima. – O silêncio paira por alguns segundos. – A mamãe também já te deu muita dor de cabeça, assim como a Valentina está lhe dando agora.

Antony: Era diferente, meu filho. Bem diferente. Dores de cabeça causadas por motivos distintos.

Thales: Enfim, só quero que o senhor seja feliz com quem quer que seja. Desejo que encontre uma mulher fantástica, e que ela traga bastante alegria para esta casa, pois estamos precisando.

Antony: Eu já encontrei, Thales. Agora só falta ela acordar e perceber que o nosso amor está escrito nas estrelas.

Cena 9 – Motel Mesquita. República. Noite.

Marcos: Nossa. – Ele está ofegante, deitado numa cama completamente suado. – Meu Deus! Você é muito bom no que faz, pena que durou poucos minutos.

Dênis: Engano seu. – Ele sorri. – Meu desempenho varia de pessoa para pessoa, mas não dura muito tempo não! Sempre chego ao meu ápice rápido demais. Alguns clientes até se queixam disso.

Marcos: Uhm, bom saber que o seu desempenho comigo foi ótimo, senão excelente. Tudo bem que não durou muito, porém, esses brinquedinhos que você trouxe deram para quebrar um galho. – Ele deita a cabeça no peitoral de Dênis. – Há quanto tempo você faz este tipo de serviço?

Dênis: Desde os meus dezesseis anos, ou seja, faço isso tem doze anos. – Ele faz cafuné na cabeça de Marcos. – Mas se fosse pelo meu querer, eu não seria garoto de programa.

Marcos: Então você não faz isso por prazer? – Ele se levanta e senta ao lado de Dênis, que continua deitado. – É por algum tipo de necessidade?

Dênis: Não. Na verdade, eu sou obrigado a fazer isso. – Ele fica tristonho. – Foi a minha tia quem me pôs nessa vida. Os meus pais morreram em um acidente de carro, ela ficou com a minha guarda e… aqui estou eu.

Marcos: Tu dá para ela o dinheiro que ganha com os seus programas? – Ele se interessa pela história do rapaz. – Ela age como uma cafetina?

Dênis: Sim. – Ele respira fundo. Depois se senta ao lado de Marcos. – Mas não quero falar sobre isso. Conte-me mais sobre você, sobre o porquê de ter contratado os meus serviços.

Marcos: Meu namorado não está dando conta do recado. – Ele revira os olhos, indignado. – Tive que procurar prazer em outros lençóis.

Dênis: Então quer dizer que você é comprometido? – Ele se surpreende e sorri. – Isso nunca iria passar pela minha cabeça. Até porque se eu tivesse um namorado como você, com certeza faria de um tudo para que não se aborrecesse comigo.

Marcos: Que meigo! – Ele dá um beijo na bochecha do rapaz. – Mas acontece que eu amo ele demais, esta foi a primeira vez que o traí. E mesmo tendo gostado muito dos seus serviços, acho que não voltaremos a nos ver mais.

Dênis: Que pena! – Ele pega na mão de Marcos. – Sabia que você é o primeiro cliente que se abre assim comigo? Assim como é o primeiro que eu tenho a oportunidade de contar sobre a minha vida pessoal.

Marcos: Sério? – Ele pergunta envergonhado. – Você faz programa com qualquer tipo de pessoa? Quer dizer, homens e mulheres?

Dênis: Sim. O meu cardápio é bem variado. – Ele sorri.

O telefone de Marcos toca.

Marcos: É o meu namorado. Tenho que atender. – Ele fala ao ver o nome de Raí no visor do celular. – Raí?

Raí (ao telefone): Aonde é que você tá? Caramba, não acha que está tarde demais para ficar na rua?

Marcos (ao celular): E desde quando você se importa com os meus horários? Até onde sei, mal conversamos quando estamos juntos em casa. Por que está sentindo tanto a minha falta?

Raí (ao telefone): Por favor, né? Não estou com cabeça pra discutir com você pelo telefone. Faça-me o favor.

Marcos (ao telefone): Me poupe, Raí. Para que foi que você me ligou então? Ah, vai te catar. – Ele desliga o celular.

Dênis: Nossa! Impressionante o carinho que um sente pelo outro. – Ele é irônico.

Marcos: Quer saber de uma coisa? Mudei de ideia. Precisarei dos seus serviços amanhã novamente, neste local e no mesmo horário. Pode ser?

Cena 10 – Apartamento de Gilda. Morumbi. Noite.

Gilda: Bismarque? – Ela pergunta ao escutar um barulho na porta do quarto. – É você?

Bismarque: Sim, Gilda. Sou eu. – Ele engole seco. Bismarque observa a mulher deitada na cama. – Não está dormindo ainda por quê? Sempre quando chego você já está no sétimo sono. – Ele sorri.

Gilda: Acho que nós temos uma conversa pendente, não é mesmo? – Ela se vira na cama em direção ao noivo. – Será que você está de cabeça fria ou continua esquentadinho?

Bismarque: Não. – Ele se senta na cama. – Nós podemos conversar sim. Aliás, acho que nem temos mais… – Ele fecha os olhos, preparando-se psicologicamente para o que irá acontecer. – … o que conversar.

Gilda: Como assim, não temos mais o que conversar? – Ela se assusta.

Bismarque: Está mais do que na cara de que precisamos de um tempo para nós. Precisamos pensar um pouco melhor sobre a nossa relação, sobre essa nova fase de nossas vidas.

Gilda: Acontece que não é uma fase, eu ficarei cega para sempre.

Bismarque: Gilda eu preciso de um tempo longe de você. – Ele fala com certo nervosismo na voz. Bismarque então se levanta. – Acho que é o melhor que temos a fazer no momento. – Ele chora, mas não deixa que a mulher perceba.

Gilda: Bismarque o que é que você está fazendo?

O homem pega uma mala dentro do guarda-roupa e começa a tacar suas roupas dentro.

Gilda: Bismarque, por favor, me responda enquanto eu falo contigo. – Ela se desespera. – Você está terminando comigo, é isso?

Bismarque: Não é um término, Gilda. – Ele fecha a mala após ter colocado nela tudo o que necessita. – Não é um término. É apenas um afastamento necessário para que eu possa digerir todo esse turbilhão.

Gilda: E por que você não pode ter esse tempo aqui? Dentro da nossa casa. Temos um quarto de hóspedes, não me incomodo que você fique lá por uns dias.

Bismarque: Gilda, não. – Tudo fica em silêncio por alguns instantes. – Estou saindo de casa, vai ser melhor assim. A distância será essencial neste momento.

Gilda: Isso não tem nexo. A não ser que… você tem outra, é isso? – Ela espera por uma resposta, mas não a obtém. – Bismarque, seja sincero comigo. Você pretende voltar para casa? Ou será que este é o nosso fim e você não tá tendo coragem de dizer isto na minha cara? – Ela chora. – Você não vai mais voltar, não é? A sua partida é definitiva.

Bismarque a olha, já com a mala feita.

Gilda: ANDA, FALA ALGUMA COISA! Se é que tu tem coragem para tanto.

CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO

6 comentários sobre “Dia Especial – Capítulo 2

  • Nossa que situação essa da pobre Gilda, mesmo que o Bismarque tem seus motivos, ele bem que podia fazer logo o que tem que ser feito. digo, se quer terminar que faça isso logo.
    Raí e Marcos acho que esse casal não tá dando mais, agora que o Denis ja entrou na vida de Marcos não acho que sairá por tão cedo.
    E o que falar dessa Emília, mas gente que mulher é essa? É um fardo na vida do soninho e uma venenosa 😮
    Esperando por Antony e Gilda <3 kk

    • É mesmo uma situação muito delicada esta da Gilda, mas saiba que o Bismarque ainda tem uma justificativa para suas atitudes… tu verá isso nos próximos capítulos.
      Será mesmo que é o fim do casal? Dênis veio mesmo para ficar? Saberemos em breve, meu querido.
      Emília não é nada fácil kkk, e o Luan sabe muito bem disso. Assim como o Dênis kk
      Se eu não me engano, é no quarto capítulo que eles se conhecem 😯 fique no aguarde.
      Obrigado pelo comentário, Wags! Continue acompanhando cada capítulo.

  • Que menino super cabeça esse Thales! Uma dica: só toma cuidado para ele não ficar muito adulto. Uma criança de 8 anos também precisa ser infantil, ter ações e pensamentos infantis. Mas gostei do comportamento do garoto.
    Agora aguardando os próximos capítulos!!!

Deixe um comentário

Séries de Web