Dia Especial – Capítulo 12 (Último Capítulo)
CAPÍTULO 12
Cena 1 – Casa de Antony. Chácara Santo Antônio. Manhã.
Antony: Thales, tem como você parar de ser rebelde um pouco? Por que você não entende de uma vez que Gilda e eu não temos mais volta?
Thales: Mas eu não tenho nada a ver com essa briga de vocês. E tô com muita saudade da Gilda, faz tempo que não vejo ela, que não ligo na casa dela.
Antony: Se ela estivesse com saudades de você, já tinha ligado. – Ele é duro. – E joguei o número dela fora justamente para você não ficar ligando. Até apaguei do meu celular para não arriscar.
Thales: Por que o senhor tá fazendo isso?
Antony: Filho, entenda que é um direito dela não querer mais ver a gente. Se ela quer se afastar, que se afaste. Será até melhor assim.
Thales: Até hoje você não me disse o que fez vocês brigarem. Ainda acho que o senhor fez algo muito mal para que a Gilda se afastasse da gente.
Antony: Olha aqui para mim. – Ele pega no queixo do garoto, fazendo-o olhar em seus olhos. – Quando você for maiorzinho, pode ter certeza que irei te explicar tudo que não posso te explicar agora.
Thales: Promete?
Antony: É claro que eu prometo. – Ele dá um beijo na testa do filho e o abraça. – Mas e aí, gostou da sua nova babá? Hoje é o primeiro dia dela aqui, já que daqui a pouco estou indo para o hospital.
Thales: A Carol é muito legal, gostei bastante dela. E o melhor de tudo: achei uma jogadora de verdade.
Antony: Então quer dizer que eu não jogo tão bem?
Thales: Não mesmo. A Carol é mil vezes melhor. – Ele sorri. – Não é nada fácil ganhar dela no vídeo game, e é assim que eu gosto.
Antony: Uhm, bom saber. Pois gostaria de te informar que quando eu tiver um tempinho livre irei treinar bastante para deixar a Carol e você no chinelo.
Thales: Essa eu quero ver. – Ambos gargalham.
Cena 2 – Apartamento de Gilda. Morumbi. Manhã.
Gilda: Eu pensei, pensei e pensei. – Ela está cabisbaixa. – Mas a minha decisão não se alterou. Pelo visto nós não temos mais volta, Bismarque.
Bismarque: Não estou acreditando nisto. – Lágrimas caem dos seus olhos. – Não creio que gastei tanto dinheiro, recebi várias broncas no trabalho, perdi horas de sono para no final você não compreender o que fiz.
Gilda: Pode ser que o problema não esteja na minha incompreensão, mas sim no fato de eu estar apaixonada pelo Antony. – Ela engole seco. – Acabamos nos desentendendo, porém, ainda preciso escutá-lo. Acho que tomei atitudes precipitadas, pois estava completamente assustada.
Bismarque: Não quero saber sobre o seu envolvimento com esse cara. O foco aqui é a gente, o nosso amor. E sinceramente? Não acredito que você será capaz de trocar um amor de anos para apostar numa paixão que durou apenas uma semana. Essa sua escolha não tem cabimento.
Gilda: Você me magoou muito, Bismarque. O meu coração foi estraçalhado em mil pedaços. E foi o Antony quem pegou pedaço por pedaço e o reconstruiu. – Ela engole seco. – Você fez com que eu me sentisse a pior mulher do mundo, me mostrou que pelo fato de eu ter ficado cega não merecia mais ser amada. Daí me apareceu o Antony como quem não quer nada e me fez sentir o contrário, mostrou-me que eu poderia sim ser amada por alguém, mesmo estando cega.
Bismarque: Acontece que tudo aquilo que eu falei foi da boca para fora. Tudo não passou de um plano para que você se afastasse de mim, para que eu pudesse planejar o nosso casamento nos mínimos detalhes, para que você tivesse a melhor surpresa da sua vida. – Ele se emociona. – Eu te amo, Gilda. E já tentei te explicar isso um zilhão de vezes, mas você não me escuta, não quer se convencer.
Gilda: Nós podemos ser bons amigos, será que isso não é o bastante para você? – Ela tenta contornar a situação.
Bismarque: Amigos? Amigos? Gilda, você está escutando o que tá me propondo? – Ele chora. – Eu até quero ser seu amigo, pois todo marido deve ser companheiro, amigo da sua esposa. Mas ser apenas amigo não dá, eu quero mais, bem mais.
Gilda: Desculpe, mas isso tudo que você fez… somente facilitou que eu entregasse o meu coração a outra pessoa. – Ela também chora. – Tudo poderia ter sido mais fácil, mais bonito e mágico entre nós. Porém, acabou.
Bismarque: Então é isso? Você vai mesmo me trocar por ele? Eu não signifiquei nada para você? – Ele pega nas mãos de Gilda. – É justo você me deixar para ficar com ele somente porque eu fiz uma burrada tentando acertar? É justo você trocar o homem que foi capaz de crucificar a própria vida para realizar um sonho, o nosso maior sonho?
Gilda: Bismarque, não complica as coisas. Eu te peço, tente me entender.
Bismarque: Eu crucifiquei minha vida literalmente, pois falar aquilo para você não foi nada fácil. Aquelas palavras não doeram somente em você, eu também estava dando facadas em mim. Ou você acha que foi fácil? Que foi fácil para mim decepcionar a mulher da minha vida, o meu grande amor? Eu me crucifiquei para isso.
Gilda: Você está me deixando confusa. Por favor, acho melhor você voltar outro dia. Não estou me sentindo muito bem.
Bismarque: Para Gilda! Para de tentar tapar o sol com a peneira. Você me ama, e o que tu sente por aquele cara é somente uma paixão, uma paixão passageira.
Gilda: Você não pode dizer isso. Você não é Deus, Bismarque, eu já lhe disse isto. Ou seja, cê não sabe o que eu sinto ou deixo de sentir. Não sabe o que passa aqui dentro de mim.
Bismarque: Então olhe nos meus olhos e diz que não me quer mais.
Gilda: Não sei se te informaram, mas eu estou cega.
Bismarque: Não tem problema! Se você não pode olhar dentro dos meus olhos, ao menos sinta o meu calor e diga que mesmo assim você não me quer mais. – Ele a pega pela cintura e a aproxima de seu corpo. – Quero ouvir da sua boca que você não sente mais nem uma luzinha se acender dentro de ti quando está junto ao meu corpo.
Gilda: Me solta, Bismarque. Por favor, me solta. – Ela tenta se livrar do homem, que não permite.
Bismarque: Eu te amo, Gilda. Muito. – Ele passa a mão nos cabelos da mulher. – Você falou tanto sobre aquele tal de Antony. Mas em nenhum momento disse que não me ama mais. Então estou lhe dando a oportunidade de fazer isso, mas vai fazer assim: colada em mim.
Gilda: Eu não preciso dizer que não te amo mais. Até porque o fato de eu estar envolvida com outro homem já é o suficiente para que conclua isso.
Bismarque: Já que você quer ser resistente, vou ter que apelar. – Ele a beija.
Cena 3 – Casa de Emília. Jardim Ângela. Tarde.
Valentina: Ah, como é bom tomar banho em casa. – Ela se joga no sofá com os cabelos ainda molhados. – Ainda bem que a minha loucura não resultou em algo pior. Já pensou se eu ficasse anos na prisão?
Dênis: Você deu sorte, muita sorte mesmo. Essa sua ideia de girino de se entregar para proteger o Antony foi uma grande estupidez.
Valentina: Só sei que uma coisa continua me martirizando: o fato de eu não saber se minha mãe tinha ou não um caso com o Luan. – Ela leva as mãos até a cabeça. – Aquele desgraçado caiu logo fora, sem dar explicação alguma.
Dênis: O melhor que tu tem a fazer é procurar um advogado para tratar do divórcio e pronto. Não fica aí pensando naquele traste não.
Valentina: Você com certeza está bem aliviado com a morte da minha mãe, né? Não vai ter mais ninguém para te explorar e te chamar de imprestável. Juro que serei como uma irmã para você, não farei nenhuma maldade contigo. – Eles sorriem e ela o abraça. – Daqui pra frente vai ser somente nós.
Dênis: É justamente sobre isso que eu queria falar com você. – Ele fala meio sem graça.
Valentina: Acho que vou preparar um lanchinho. – Ela se levanta. – Você vai querer também?
Dênis: Valentina, eu preciso te contar uma coisa antes.
Ela o olha por alguns segundos.
Valentina: Eu já sei o que tu vai falar. – Ela dá um sorriso tímido. – Vai jogar na minha cara que eu também deveria estar feliz pela morte da minha mãe, já que ela só sabia me manipular. – Ela se aproxima dele. – Pois é, Dênis! A ficha caiu lá na cadeia. Esse tempo serviu para que eu pensasse na conversa que você e eu tivemos, e também cheguei à mesma conclusão que você.
Dênis: Que bom saber que você caiu na real. Mas eu não estou feliz com a morte de sua mãe, e nem quero que você fique. O assunto é outro.
Valentina: Então diga logo o que é. – Ela se levanta novamente. – Deixe de cerimô… Que malas são aquelas ali na porta?
Dênis: É justamente disso que eu quero falar. Acontece que eu não ficarei aqui com você. Eu estou indo embora, prima.
Valentina: Como assim indo embora, Dênis? Eu não quero que você vá embora, quero que tu fique aqui comigo. – Ela pega as mãos do rapaz. – Não sou igual a minha mãe, serei muito boa contigo.
Dênis: Não é nada disso que você está pensando, minha flor. – Ele beija a testa dela. – Eu gosto muito de você, e sei que tu é como uma irmã para mim. Mas acontece que conheci dois carinhas aí, eles gostaram de mim e me convidaram para morar na casa deles.
Valentina: Oi? Cê tá me dizendo que deixou de ser garoto de programa para se tornar amante fixo? Não tô acreditando nisso. – Ela fala apavorada.
Dênis: Val, claro que não. Tá ficando louca? – Ele sorri. – Eu deixei mesmo de ser garoto de programa. Mas acontece que esses dois rapazes se apaixonaram por mim e estão a fim de experimentarem um namoro à três.
Valentina: Um namoro à três? Você vai namorar dois homens ao mesmo tempo? – Ela fica boquiaberta. – Acho que perdi a fome. Será que você me poderia explicar isso melhor? É muita modernidade para uma cabeça só.
Dênis: Eu posso explicar tudo que você quiser, mas antes preciso te dar uma coisa. – Ele vai até suas malas e pega uma caixinha de madeira. – Estou indo embora e gostaria de dar isto daqui a você.
Valentina: O que é isso?
Dênis dá a caixinha a ela.
Valentina: Que caixa é esta, Dênis?
Dênis: Abra. – Ele entrega a chave para Valentina.
Valentina: Tudo bem. – Ela abre a caixa, há várias cédulas de dinheiro lá. – O que significa isso? Que dinheiro todo é esse?
Dênis: O dinheiro que “desviei” da sua mãe. Estava juntando há algum tempo para poder fugir daqui.
Valentina: Imagina só se eu irei aceitar isto. – Ela fecha a caixa. – Este dinheiro é fruto dos seus programas, Dênis. Você enfrentou vários perigos para tê-lo, não posso aceitar.
Dênis: Se você não aceitar vai estar fazendo uma desfeita imperdoável. Eu não vou precisar mais desse dinheiro, Val. Ele era apenas para que eu pudesse fugir da sua mãe. Agora estou livre dela, e também estou prestes a morar em outra casa.
Valentina: Por isso mesmo que você vai precisar de uma graninha extra. Tudo bem, eu posso até aceitar metade de tudo isto aqui. Mas só se você ficar com a outra metade. Será melhor assim, escute o que estou dizendo.
Dênis: Tá bom, tá bom. Pode ser.
Valentina: Me dá aqui um abraço. – Eles se abraçam. – Te adoro, viu? Muito.
Dênis: Também te adoro muito. E espero que você saiba usufruir muito bem esse dinheiro.
Valentina: Pode deixar que eu saberei. – Ela olha para as malas. – Eles ao menos vão vir te buscar? Ou cê tá pensando que eu vou deixar você ir de ônibus até a casa deles com todo aquele peso ali?
Dênis: Não precisa se preocupar. Daqui a pouco o Marcos vem nos buscar.
Valentina: Como assim nos buscar?
Dênis: Vamos dar um jantar na casa deles para os amigos mais íntimos. Queremos comemorar o início do nosso compromisso, e daremos esse jantar justamente para isso.
Valentina: Então quer dizer que vai ter jantar de comemoração? Mas isso está melhor do que eu imaginei. Agora me conta, me conta como foi que tudo começou.
Eles continuam a conversar em off.
Cena 4 – Hospital São Francisco. Vila Mariana. Tarde.
Antony: Rômulo, vá na frente e prepare a sala de cirurgia. Irei apenas beber um pouco de água. – Ele fala com o enfermeiro ao saírem do elevador. Antony caminha apressado até o bebedouro e acaba esbarrando em Raí.
Raí: Antony? – Ele sorri. – Somente essa correria do dia a dia para fazer com que nós possamos nos ver.
Antony: Tenho que ir correndo para a sala de cirurgia. Vim somente beber um pouco de água. – Ele abraça o amigo. – Já tem um tempo mesmo que não nos vemos, estava com saudades.
Raí: A minha vida aqui também está uma correria tremenda. Mas aproveitando que esbarrarei contigo, quero te convidar para jantar hoje lá em casa. Vai ser um jantar em comemoração ao meu novo relacionamento.
Antony: Como assim? – Ele bebe a água. – Você terminou com o Marcos?
Raí: Claro que não. Vamos embora juntos que te explico tudo no caminho.
Antony: Tudo bem, mas preciso pegar o Thales em casa.
Raí: Não se preocupe quanto a isso. Passamos na sua casa para pegar o Thales.
Antony: Vem cá, a Gilda não vai estar lá? Você não acha que será um incômodo para ela? Faz tempo que ela não me procura mais, desde aquele dia. Acho que a sua cunhada não quer me ver tão cedo na frente dela.
Raí: Hoje de manhã conversei com ela, tenho certeza que não será nenhum incômodo para a Gilda.
Antony: Você explicou para ela sobre o que ocorreu comigo e com a Lia? Queria tanto que ela soubesse a verdade, que me perdoasse.
Raí: Contar eu não contei. Só disse que você a matou em legítima defesa. Ela ficou toda preocupada por ter julgado você sem nem ao menos escutar a sua explicação.
Antony: Por que você não contou tudo?
Raí: Porque é algo que você deve fazer, não eu. Hoje à noite será o momento ideal para que tu explique tudo a ela.
Antony: Ótima ideia. – Ele sorri.
Raí: Mas, adianto que quando saí da casa dela hoje mais cedo, ela ficou conversando com o Bismarque.
Antony: Bismarque não é o ex-marido dela? – Ele estranha.
Raí: Aí que tá, não sei se ele ainda pode ser chamado de ex.
Antony: Entendi. Mas se eles tiverem se acertado, será melhor assim. Acho que seria muito injusto da minha parte escolher entre a Valentina e a Gilda. Eu amo as duas demais, assim como também fiz ambas sofrerem demais com toda essa história.
Raí: A Valentina já saiu da cadeia?
Antony: Se eu não me engano ela sairia hoje. Agora deixa eu correr, pois uma cirurgia me aguarda. Tchau, Raí. Até mais. – Ele sai correndo.
Raí: Tchau, Antony! Tchau.
Mais tarde…
Cena 5 – Cobertura de Marcos e Raí. Morumbi. Noite.
Marcos: Chegamos! – Ele fala ao abrir a porta, cheio de malas. – Me ajudem aqui, por favor!
Raí: Pode deixar que eu te ajudo. – Ele deixa uma taça de champanhe na bancada e vai até eles (Dênis, Marcos e Valentina).
Valentina: Boa noite. – Ela fala para que todos possam escutar.
Dênis: Lar, doce lar. – Ele abre os braços, feliz.
Raí: Seja muito bem-vindo. – Ele o beija.
Marcos: Ei, que negócio é esse? – Ele fala ao fechar a porta. – Também quero beijo.
Os três se beijam apaixonados. Todos que estão no local começam a bater palmas ao trio.
Thales: Pai, é certo o que eles estão fazendo? – Ele pergunta baixinho.
Antony: O que vale é o amor, meu filho. – Ele cochicha de volta. – Não importa com quem seja ou como seja, as diferentes formas de amar devem ser respeitadas sempre.
Thales: Eu sei, mas não seria mais certo se fosse apenas dois e não três?
Antony: Thales, estamos vivendo tempos modernos. E nós devemos respeitar as diferenças.
Thales: Já que é assim, o senhor podia ficar com a Gilda e a Val. Que tal?
Antony: Filho. – Ele engole seco. – Eu não quero mais magoar nenhuma delas, então é melhor deixar do jeito que está: cada um no seu quadrado. E outra, elas nunca aceitariam um namoro à três, assim como eu também não quero ter duas mulheres.
Thales: Você fala que não quer magoar nenhuma delas, mas quem tá magoado é o senhor. Acha isso certo?
Antony: Quem ama de verdade, é capaz de fazer qualquer coisa para ver o outro feliz. E eu prefiro ficar sozinho, magoado, do que fazer as duas sofrerem por causa de mim.
Thales: Elas não precisam sofrer por causa de você, pai.
Antony: Filho, eu não posso e nem vou ficar com as duas. E tenho certeza que se eu escolher uma, acabarei magoando a outra.
Thales: É, você tem razão.
Valentina se aproxima deles.
Valentina: Oi, Antony. Oi, Thales. Como estão vocês?
Antony: Eu estou bem. – Ele fala sem muita firmeza. – E você?
Thales: Também estou muito bem.
Valentina: Eu poderia estar melhor. – Ela o encara.
Antony: Gostaria de agradecer pelo que você fez. – Ele fala sem graça. – Muito obrigado mesmo. Mas acho que foi uma atitude precipitada.
Valentina: Quando a gente ama, somos capazes de colocar a própria vida em jogo para salvar a vida de quem amamos.
Antony fica sem graça.
Antony: Eu vou até ali conversar com a Gilda. Acho melhor aproveitar que o Bismarque desgrudou um pouco dela. Com licença. – Ele se afasta.
Valentina: O seu pai está bem mesmo, Thales? Ele disse que sim, mas parecia que não.
Thales: Isso só ele pode responder.
Valentina: E desde quando Gilda e ele pertencem ao mesmo ciclo de amizades? O que ela está fazendo aqui?
Thales: Parece que ela é irmã do Marcos.
Valentina: A Gilda vai ser cunhada do meu primo? – Ela se espanta. – O mundo é mesmo muito pequeno.
Cena 6 – Cobertura de Marcos e Raí. Morumbi. Noite.
Bismarque: Acho que o Raí já deve ter explicado tudo direitinho para você.
Marcos se vira em direção ao rapaz.
Bismarque: Será que você poderia perdoar o que fiz?
Marcos: Bismarque, Bismarque, Bismarque. O que você fez foi uma grande loucura, sabia? Se eu fosse a Gilda, acho que não te perdoaria nem por obséquio.
Bismarque: Você precisa entender que eu fiz isso pensando na felicidade da sua irmã.
Marcos: Eu sei. Mas para fazê-la feliz, você partiu o coração dela. Sabe como é difícil de reconstruir um coração partido? E fica mais difícil ainda se quem quer reconstruí-lo, for a mesma pessoa que o partiu.
Bismarque: Te entendo perfeitamente, e irei compreender caso você não queira me perdoar.
Marcos: Muito pelo contrário. A Gilda, que foi a mais abalada nessa história toda, conseguiu te perdoar. Por que é que eu não conseguiria fazer o mesmo?
Bismarque: Então quer dizer que…
Marcos: Que eu estou lhe dando uma segunda chance. Uma segunda e última chance. Espero que você não me magoe mais, muito menos a minha irmã. Entendeu?
Bismarque: Será que eu poderia lhe dar um abraço? – Ele fala com os olhos cheios de lágrimas.
Marcos: Claro que pode. – Ele abre os braços e Bismarque o abraça.
Bismarque: Eu nunca quis te ofender, viu? Respeito quem você é, as suas escolhas.
Gilda está sentada no sofá quando Antony se aproxima dela.
Antony: Será que eu posso me sentar? – Ele fala já se sentando.
Gilda: Por que pergunta se já sentou? – Ela brinca. – A sua namorada também veio? Escutei a voz dela dando boa noite.
Antony: Ela não é minha namorada, Gilda. – Ele fica sem graça. – Eu não tenho mais nada com a Valentina. E sim, ela está aqui.
Gilda: Se ela não é sua namorada, o que veio fazer aqui? Creio que o Marcos e o Raí não a conheçam.
Antony: A Val veio com o outro, eles devem ser da mesma família. Mas não é isso o que quero falar contigo. Eu preciso te dar algumas explicações.
Gilda: Você não precisa me explicar nada, Antony. Não tem nem porquê você me explicar algo.
Antony: Mesmo que você não queira me ouvir eu preciso deixar bem claro que não sou um assassino como tu tá pensando.
Gilda: O Raí já me contou que você matou a sua mulher para se defender.
Antony: Sim, Gilda. A Lia era usuária de drogas. Numa noite ela chegou em casa completamente surtada dizendo que iria matar o Thales e eu. – Ele respira fundo. – Então me vi obrigado a matar ela. Pois se ela não morresse, quem acabaria morrendo seria meu filho ou eu.
Gilda: Você ao menos deu explicações à polícia sobre o que fez?
Antony: Não. – Ele fica constrangido. – Eu tive medo deles não acreditarem que foi em legítima defesa. Eu poderia ter sido preso, e o meu filho ficaria desamparado, sem ninguém.
Gilda: Onde você quer chegar me dando explicações, Antony? Você deveria prestar explicações à polícia, não a mim.
Antony: Agora a polícia já sabe de tudo. E o meu único objetivo é deixar tudo muito bem claro entre nós, pois não quero nenhum mal-entendido entre a gente. Não pense que quero me explicar para que você me perdoe e volte para mim, pois percebi que você e Bismarque se acertaram.
Gilda: Então, acho que te devo um pedido de desculpas por não ter deixado você se explicar antes.
Antony: Entendo o seu lado, Gilda. E é claro que te perdoo. Será que agora podemos ao menos sermos amigos?
Gilda: Amigos! – Ela sorri e abraça o rapaz.
Antony: Da primeira vez que você teve uma atitude dessas, o resultado foi um beijo inesquecível. – Ele relembra o dia que se conheceram. – Quero que você seja muito feliz, viu?
Gilda: Sei que o que vivemos durou apenas uma semana, mas foi o suficiente para que eu me sentisse menos vulnerável, e não tivesse tanto temor da minha cegueira. – Ela abraça Antony com mais força. – Quando fiquei cega senti meu mundo cair sobre os meus pés, principalmente quando o Bismarque me deixou. Daí você apareceu e o levantou, mostrou-me que eu não podia deixar de viver a vida só porque tinha ficado cega.
Antony: Não imaginava que eu tinha significado tanto para você. – Ele se emociona.
Thales: Também quero participar desse abraço. – Ele se junta ao abraço do casal.
Gilda: Thales, que saudade de você! – Ela o beija. – Como você tá?
Thales: Eu tô bem. – Ele dá um beijo na testa de Gilda.
Valentina: Acho que a única pessoa aqui que não está bem sou eu, Gilda. – Ela fala se aproximando dos três.
Gilda e Antony que estavam sentados, se levantam.
Antony: Valentina, por favor. Não vamos estragar o jantar dos meninos. – Ele fala baixinho para que os outros não escutem.
Gilda: Não, Antony. Quero ver até onde ela quer chegar.
Valentina: Pode ficar tranquilo, Antony. Não quero atrapalhar a festa do meu primo. O Dênis merece ser muito feliz. – Ela se aproxima de Gilda. – Eu quero apenas pedir para que a Gilda me perdoe. – Os olhos dela enchem de lágrimas. – Sei que fui uma estúpida com você, e o mínimo que posso fazer é te pedir desculpas.
Gilda: O que você me disse foi mesmo algo muito imbecil. Usar a minha cegueira para me atacar foi golpe baixo da sua parte.
Valentina: Desculpa, Gilda. – Ela avança na mulher para abraça-la. A emoção toma conta de Valentina. – Eu admito que fui desumana contigo. Sei que as minhas palavras foram duras, pesadas, descabidas. Por favor, eu preciso do seu perdão para que possa me sentir em paz.
Gilda: Olha aqui, Valentina. – Ela pega no rosto da outra. – Não precisa disso, não precisa chorar. Eu te perdoo, você está perdoada se depender de mim. Só não faça isso novamente, com ninguém.
Valentina: Tudo bem. Eu não farei, prometo. Não sou uma pessoa má como fui com você naquele dia. – Ela enxuga as lágrimas. – Desculpe por esta cena. Mas eu precisava do seu perdão, pois desde aquele dia só consigo me lembrar do quão fui idiota contigo. Toda vez que eu deitava a minha cabeça no travesseiro, me lembrava do que fiz e ficava arrependida por tudo. Te pedir perdão é o mínimo que eu podia fazer para “concertar” o que fiz.
Gilda: Essa sua atitude só prova que você é uma pessoa boa, com um coração puro. Apenas cometeu um deslize por conta dos ciúmes.
Valentina: Sim, disse aquilo num ataque de fúria. Mas nada justifica o que fiz.
Bismarque: Amor, está acontecendo alguma coisa aqui? – Ele fala ao perceber o rosto abatido de Valentina.
Gilda: Não, meu amor. Está tudo bem.
Bismarque: Então vamos dar o nosso comunicado? O seu irmão tá curiosíssimo para saber no que resultou a nossa conversa.
Gilda: Antes, eu gostaria de te apresentar à algumas pessoas. Estes daqui são Valentina, Thales e… Antony.
Bismarque: Prazer em conhece-los. – Ele dá um sorriso não muito feliz ao encarar Antony. – O menino é filho de vocês?
Valentina: Não. É filho somente dele. – Ela tenta sorrir.
Bismarque: Então você é o tão falado Antony? Saiba que só tenho a agradecer por ter cuidado da minha mulher enquanto estive ausente.
Antony: Não precisa agradecer. Cuidamos dela com o maior prazer, né filho? – Ele puxa Thales para perto dele.
Thales: Sim, e com muito carinho também.
Bismarque: Agradeço aos dois.
Gilda: Então vamos ao comunicado? – Eles se afastam e chamam a atenção de todos. – O BISMARQUE TEM UMA COISA PARA CONTAR A VOCÊS.
Marcos: Estou quase roendo as minhas unhas dos pés, pois as das mãos já se foram todas. – Ele brinca.
Bismarque: Gostaria de convidar todos aqui presentes para o meu casamento com a Gilda. Nós vamos nos casar!
Marcos: Não brinca! Isso é sério? – Ele fala feliz.
Raí olha para Antony que não esboça nenhuma reação.
Cena 7 – Cobertura de Marcos e Raí. Morumbi. Noite.
Valentina: Hãn? Mas e esse abraço que acabou de rolar entre vocês? Eu pensei que estavam juntos. – Ela comenta baixinho com Antony.
Antony: Não, Valentina. Gilda e eu não temos mais nada, e nem teremos. Foi apenas um abraço entre amigos.
Valentina: E agora nós vamos poder ficar juntos? – Ela se alegra.
Antony: Claro que não. Eu não acho justo ter que escolher entre você e a Gilda, respeite a minha posição.
Thales: Mas agora cê não precisa escolher, pai. A Gilda vai se casar, só tem a Val agora.
Antony: Não posso, meu filho. Não enquanto o meu coração ainda for apaixonado pelas duas. Mesmo sabendo que a Gilda irá se casar, gosto muito dela. Assim como também gosto muito da Val.
Valentina: Se você gostasse mesmo de mim, iria querer me ver feliz. – Ela fala emburrada.
Antony: E você acha que seria feliz com um homem que gosta de outra?
Valentina: Lógico que não. E olha aí você admitindo que gosta da Gilda.
Antony: Eu sempre disse que gosto muito de vocês duas. E é por isso que eu também não podia ficar com a Gilda, pois se ficássemos juntos eu a faria sofrer porque gosto de você.
Thales: Acho que agora eu entendo o meu pai.
Antony: Outra que ficar com as duas está fora de cogitação. Não sou tão moderno ao ponto de namorar duas mulheres ao mesmo tempo. Fora que as duas precisariam concordar em me dividir.
Valentina: Dividir você? – Ela gargalha. – É melhor ficar do jeito que está.
Antony: É o que eu sempre venho dizendo. – Ele sorri. – Enfim, eu só quero que a Gilda seja muito feliz ao lado do Bismarque. Assim como também quero que você seja muito feliz com quem quer que seja.
Raí: Preciso de alguém para fazer um discurso marcante. – Ele interrompe a conversa deles. – E não tem pessoa melhor que você para fazer discursos.
Antony: Lá vem você me fazer passar vergonha.
Raí: Eu sei que você gosta de se exibir! Vem logo. – Ele pega na mão do amigo e o puxa.
Antony: Já volto.
Antony é puxado por Raí.
Thales: Fico triste pelo meu pai não ter ficado com você nem com a Gilda.
Valentina: Posso até não ter me tornado a sua boadrasta, mas saiba que encontrou uma amiga para toda vida. – Ela beija a testa do menino. – Acho até que foi melhor assim, sabe? Nem a Gilda, nem eu. Foi justa a escolha do seu pai.
Cena 8 – Cobertura de Marcos e Raí. Morumbi. Noite.
Raí: GENTE, GENTE! ATENÇÃO QUE O ANTONY VAI FAZER UM DISCURSO.
Todos prestam atenção.
Raí: O meu querido amigo é bom com palavras, bem melhor do que eu. Por isso quero que ele faça um discurso para este dia tão especial.
Antony: Primeiramente, eu gostaria de dizer que não sei de onde o Raí tirou que sou bom em fazer discursos. – Ele fala aos risos, envergonhado. – Mas vamos lá!
Raí: Para de ser cara de pau, Antony. – Ele dá um tapa de leve no ombro do amigo e se afasta.
Antony: A vida é baseada em escolhas, temos de tomar várias escolhas durante toda nossa caminhada aqui na Terra. Algumas são fáceis de serem tomadas, outras são mais difíceis. Porém, todas elas nos levam à algum lugar, nos trazem consequências tanto boas quanto ruins. – Ele olha para Gilda. – Enfrentamos tanta coisa todos os dias, e na maioria das vezes acontecem mais coisas ruins do que boas. Só que as pessoas preferem engrandecer as coisas ruins, e por isso pensam que a vida não tem o seu lado bom. Esquecem que a felicidade está nos pequenos detalhes. – Os olhos dele enchem de lágrimas. – Mas o segredo da vida é viver um dia após o outro, enfrentar as dificuldades de peito aberto e seguir em frente, sempre de cabeça erguida. Na vida há encontros e despedidas, há lágrimas e sorrisos, há o que vem para o nosso bem e aquilo que vem para o nosso mal. Como é complexa esta tal de vida, não? Ou será que somos nós quem a tornamos complexa? – Ele sorri. – Hoje com certeza é um dia especial não só para o trio que está comemorando o início do relacionamento deles, mas também para cada um de nós aqui presentes. E pode ser que ninguém tenha percebido isso. O que comprova que não damos atenção aos mínimos detalhes, gostamos de dar ênfase ao que acontece de ruim em nossas vidas e esquecemos das coisas boas, ou seja, preferimos tornar a vida em algo complexo.
Valentina: Então me dê somente um motivo para que este seja um dia especial para mim, pois até agora não vi acontecer nada de bom nele. – Ela o interrompe.
Antony: Não mesmo? E o fato de ter saído da cadeia?
Valentina fica sem graça.
Antony: Hoje é ou não um dia especial para você?
Valentina: É. – Ela engole seco. – Acho que sou do tipo de pessoa que gosta de maximizar o lado ruim da vida.
Antony: Hoje é um dia especial para o Thales, que encontrou em sua nova babá uma concorrente ao seu nível para jogos de vídeo game. E admito que ela é mesmo uma ótima jogadora, bem melhor do que Raí e eu juntos.
Todos sorriem.
Thales: Tenho que concordar, pai.
Antony: Hoje, como eu já disse, é um dia especial para Dênis, Marcos e Raí, que acabaram se apaixonando e agora estão aí formando esse belo trio de namorados.
Eles se abraçam felizes.
Antony: Hoje também deve ser um dia especial para Bismarque e Gilda que se acertaram, e em breve estarão casados. – Ele faz uma pausa. – E confesso que hoje está sendo um dia especial para mim, que me apaixonei por duas mulheres incríveis, mas finalmente tive coragem para abrir mão de ambas. Pois quem ama, respeita a felicidade do outro, e jamais faz o outro sofrer. Essa foi uma escolha que eu fiz: as deixei para que pudessem ser felizes, já que eu não posso proporcionar a felicidade que elas mereciam. Foi uma escolha difícil, confesso. E sei que mais para frente essa minha escolha me trará consequências boas ou ruins. Estou contando-lhes algo ruim da minha vida, mas sei que ainda tá pra acontecer muita coisa boa, e até lá vou seguindo em frente de peito aberto e cabeça erguida. – Ele sorri. – Percebem só como eu encaixei na minha história tudo que havia dito anteriormente? E isto só foi possível porque parei de achar que a vida é algo complexo, pois ela não é. Somos nós quem a complicamos.
Gilda: Então um brinde a nossas escolhas? Que devem ser tomadas com cuidado, já que podem afetar a vida do próximo. – Ela fala entusiasmada. – Você deveria escrever um livro, Antony. Um livro sobre como viver a vida.
Antony: Quem sabe um dia, Gilda.
Dênis estoura uma garrafa de champanhe.
Dênis: Vamos beber, meu povo! – Ele serve as taças de todos. – Ótimo discurso sobre a vida, Antony! Adorei. Acho que vou até parar de complica-la, pois deve ser bem mais divertida do que imagino. Prestarei mais atenção nos detalhes, e deixarei de maximizar as coisas ruins.
Antony: Assim que se fala, Dênis!
Todos estão com suas taças em mãos.
Antony: Proponho que façamos um brinde não às nossas escolhas, mas sim um brinde a este dia especial. Já vivemos outros dias tão especiais quanto este no decorrer de nossas vidas sem sequer nos darmos conta de que eles existem, pois sabemos somente reclamar da vida e resumi-la à mesmice. Então nada mais justo que brindarmos este dia para fazermos jus aos outros que passaram despercebidos.
Todos brindam felizes.
Antony: Que de hoje em diante percebamos a vida com novos olhos, com mais otimismo. Pois sabemos que dias ruins existem, claro que existem, mas são eles quem dão sentido aos nossos dias especiais. Até porque depois da chuva, o sol sempre há de brilhar!
Final mais que perfeito. Tudo se encaixou num final feliz. Parabéns Digo amei a história e ainda bem que pude acompanhar desde o início, como sempre amo o que você faz rs.
Bismarque até que enfim consegui se reconciliar com a Gilda e vão se casar. Marcos, Raí, e Denis agora vão viver juntos e o Antony preferiu terminar somente com a companhia do filho, mas quem sabe o que o futuro reserva pra ele não é? Mais uma vez paragens por Dia Especial e até a próxima que não demore muito pata sair 🙂
Fico imensuravelmente feliz por você ter gostado do final, e principalmente por escrever histórias que lhe agrade.
Ao contrário do que muitos pensavam, Bismarque conseguiu se reconciliar com Gilda.
Marcos, Raí e Dênis ficarão juntos para sempre ou até quando Deus permitir kkk
O destino pode estar mesmo preparando algo fantástico para o Antony.
Muito obrigado pelos comentários e por ter acompanhado a web do início ao fim. Te desejo muito sucesso, e espero que esteja mesmo aqui na próxima: Falsa Felicidade.