Corujas Sem Asas |Episódio 1×14
“Corujas Sem Asas”
uma web-série de Pedro Paulo Gondim
1ª Temporada || Episódio 14
“O Filho do Jardineiro”
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O sol raia nas 8h da manhã desse dia. O calor pode até afastar alguns, mas outros estão juntinhos.
Apartamento de Bernardo. Quarto/Cama [Manhã/Chuva fraca]
Bernardo: (com um café e um pacote de bolachas nas mãos) Bom dia, Dona Pedra!
Gustavo: (com cara de sono) Good morning to you, too!
Bernardo: Para de bancar “o inglês” e venha tomar café. Hoje tenho muito que fazer!
Gustavo: (ele esfrega os olhos e se levanta da cama) E o que seria?
Bernardo: Se esqueceu de que hoje é o aniversário de 25 anos da redação de jornalismo onde eu trabalho? Você poderia vir!
Gustavo: Sorry! Você sabe que não gosto muito de festas do pessoal da empresa.
Alguém toca a campainha do apartamento. Bernardo corre para atender e…
Bernardo: O que está fazendo aqui?!
A cena muda para a casa de Sophia, que está escolhendo a roupa que vai à festa. Gilda está lhe ajudando.
Gilda: (mostrando a peça) Olha este vestidinho (longo e vermelho) que trouxe para você experimentar!
Sophia: (triste) Acho que essa não, vovó. Nós somos tão complicadas para escolher roupas. Além do mais, esse vestido não cai bem em mim!
Gilda: Não se preocupe Sophia. Essa festa vai começar daqui a muito tempo, e você já está de pé, para poder “arrasar”?
Sophia: (surpresa) Meldels! Tô passadíssima, hein!
Elas caem na gargalhada. Na casa dos Barny, Heitor acorda super disposto. Lava o rosto, escova os dentes, penteia o cabelo e veste uma roupa. Quando ia descendo às escadas, esbarra na “desconhecida” cozinheira.
Heitor: Desculpe-me… ANA? O que faz aqui?
Ana: Sou a nova cozinheira da sua casa!
Heitor: (surpreso) Agora, a sua família se juntou um pouco mais a minha: Seu marido trabalhando de gerente na empresa de minha família, e você, em minha casa.
Ana: (sorrindo) Coincidências sempre acontecem!
Ana entra na cozinha e sente uma dor nas costas.
Ana: (passando a mão na coluna; cara de dor) Quando é que vou achar alguém que entende de… asas?
Casa dos Barny. Terraço/Jardim [Manhã/Sol].
Jardineiro Wally Demore: (42 anos, pardo, peso alto-médio) Que bom te ver tão disposta hoje, Ana!
Ana: (cara de quem está com dor) Nem me fale! Acordei com uma dor nas costas. E… O que está fazendo?
Wally: Ah, nada de importante, só cuidando de meus bichinhos. (ele está com uma gaiola, e nela, está um canarinho do peito amarelo) Bem, não sei se deve ter autorização para eu ficar com o bichinho, mas acredito que sim. Não quero dar um exemplo errado a esse mundo. Convivemos em um mundo onde as leis permitem nossa convivência em perfeita harmonia, mas tem gente que abusa delas. Sabe, meu tio era um caçador, tinha vários bichos presos em gaiolas e mal alimentados. A maioria morria, mas ele só pegava para traficá-los. Como resultado, hoje ele está preso. Acho que pegou no mínimo, uns 10 anos de prisão.
Ana: (séria e atenta ao assunto) Você tem total razão, Wally! Por que essa insistência em maltratar animais? Nós vivemos em um planeta tão grande!
Wally: E não é difícil achar esses “tipos”. Sabe, esse bichinho só está aqui, pois está com uma asinha quebrada. Eu sei como cuidar dele. Eu amo a ecologia. Meu filho ia ser veterinário, o nome dele era Nicolas.
Ana: (curiosa) E por que ele “ia ser veterinário”? Por que não é?
Wally: (meio triste) Ele foi morto ano passado em um motel. O melhor amigo dele, Gustavo, chorou tanto depois da morte dele.
Ana: (consolando-o) Meus pêsames! Se eu tivesse um filho, eu o ensinaria com prazer a tratar tudo com carinho e amor, sem guerra. Olhe essas roseiras que você cuida! Estão lindas, maravilhosas!
Wally: Eu sei! Sou um jardineiro de confiança (ele sorri). Com licença Ana, preciso ir ao mercado comprar mais adubo. Antônio disse que Heitor quer entregar essas flores ali ao canto para alguém em especial.
Ana acha estranho, pois Heitor disse a ela que sempre odiou plantas. Só tem em casa, pois seu irmão gosta.
No apartamento de Bernardo, um homem visita o rapaz.
Augusto: (21 anos, branco [europeu], peso médio-baixo) Como vai meu querido?
Bernardo: (surpreso) Por que depois de tanto tempo, resolveu me procurar?
Augusto: (colocando as mãos sobre os ombros dele) Ainda não me esqueci da minha primeira vez! E nem da sua!
Flashback: 2010. Motel/Quarto 22 [Noite].
A cena mostra Bernardo, ainda com 15 anos, deitado em uma cama gemendo de prazer, fazendo sexo com Augusto (de 19 anos na época), sendo Bernardo o passivo. Logo após, Augusto e eles se abraçam na cama, debaixo dos lençóis.
O trauma dessa difícil imagem trouxe consequências bruscas a Bernardo, como o fato antigo, dele só transar quando está bêbado demais.
Quando conheceu Gustavo, felizmente a coisa finalmente mudou. Bernardo chorava de tanta dor e agonia nas mãos daquele homem, mas nunca o denunciou.
Bernardo: (chegando perto dele) Eu ainda te amo muito!
Eles começam a e beijar. Gustavo sai do banheiro e vê a cena, pasmo, não acreditando que aquilo está acontecendo.
Gustavo se enche de ciúmes no peito, por ver seu melhor amigo, do mundo, seu camarada, sua alma, seu eterno amor, beijando outros lábios. Lábios que o garoto queria arrancar naquele instante de raiva e fúria.
Gustavo: (olhando-o com desdém) Mais que ódio!
Sem pensar em nada, a adrenalina toma conta do corpo de Gustavo que vai a cozinha, e volta para sala, onde saca uma faca contra o coração de Bernardo, que morre instantaneamente!
Continua…