Corujas Sem Asas 2×07 – O Pacto
“Corujas Sem Asas”
uma web-série de Pedro Paulo Gondim
2ª temporada || Episódio 07
“O Pacto”
Oeste/Cidade Pannakah. Casa de Pedra. 3º andar/ “Apê” de Naklada. [Manhã].
Comansavá: [lendo um livro] Mãe, você vai ao Graclapecha?
Naklada: [amarrando uma fita rosa em seu braço] Sim. Não vou demorar muito. Trarei também algumas coisinhas especiais. [ela ri] Cuide-se!
Comansavá: [com o livro ao colo; sorrindo] Tchau!
Anos atrás em Hanisined…
Antigo Palácio Real. Piso 02/Quarto 05 [Noite].
Naklada: [segurando uma xícara de chá; sentada numa poltrona de ouro] Tudo bem?
Guikoltra: [deitado na cama] Tudo. [cansado] Hoje foi um dia muito puxado, além de eu ter ido novamente ao “Colégio Palacial”.
Naklada: [espantada] Comansavá aprontou novamente?
Guikoltra: [pega o travesseiro e o afofa] Não se preocupe, foi Savabian. Ele tinha que apresentar um trabalho sobre o sistema solar. E ele fez sozinho!
Naklada: [bebe um pouco do chá] E como eu não soube?
Guikoltra: Não sei o porquê dele não te contar, mas ele é meu filho e tenho que prestigiar sua vida a cada instante.
Naklada: [estranhando; bebe mais um pouco] E seu outro filho? Comansavá deve se sentir só com tua ausência.
Guikoltra: [ajeita-se no travesseiro] Está de brincadeira? Pelo que sei, Comansavá é seu filho com outro homem, o qual nunca quis revelar. Meu filho verdadeiro é Savabian!
O “tiro saiu pela culatra”! Como Comansavá ainda era iniciante, suas forças mágicas não atingiram o real propósito, fazendo Naklada entrar em desespero, mas, segurando-se para não contar nada inapropriado.
Guikoltra: [levanta-se] Está bem? Parece meio abatida?
Naklada: [com uma mão na cabeça] Sim, só… estou com um pouco de dor.
Savabian, ainda pré-adolescente, bate à porta e entra com a resposta do rei. Preocupado, diz a Naklada que sente muito por não poder ter ido à feira de ciências, mas mesmo assim a considera uma boa mãe.
Savabian: Aliás, vim avisar que Comansavá está berrando de dor no quarto dele, como se estivesse tendo um filho! [eles correm]
Centro da porção sul. Cidade “Corujiah” [Manhã].
O Nuilloppah chefe chama mais criaturas de sua espécie. Enquanto aparecem mais uns cem “dele”, as pobres corujas sem asas, as quais não têm nem culpa de terem nascido, desesperam-se dentro da grande jaula, todas desejando poderem voar. As bocas enormes e dentes afiados dos Nuilloppahs poderiam destruir várias delas em poucos segundos. Desde as mais escuras às mais brancas corujas começam a embranquecer, chegando a um tom “neve”. As mais velhas começam a tremer, como se estivessem numa gélida temperatura. As mais novas, choramingam como se estivessem sentindo dor intensa, interna.
Oeste/Cidade Pannakah. Novo Graclapecha/Piso 08 [Manhã]
Ximirica está no corredor. Vendo que ninguém está, entra na sala 51. Ao trancar a porta, olha seguramente para um quadro de pintura abstrata em sua parede.
Ximirica: [sorri] Será mais fácil do que eu pensei. Soube finalmente aonde “ele” havia escondido isso aqui. Vagabundo! Aquele desgraçado ainda vai me pagar!
Ao pegar o quadro e colocá-lo no chão, revela-se um cofre. Diferente, ele possui várias agulhas elétricas, por onde um barbante branco deve passar e formar algo. Ao olhar mais atentamente ao quadro, sua inteligência supera a frieza, vendo que, no canto inferior à esquerda, há um losango com uma estrela ao meio.
Ximirica: [alegre] Fácil demais. Hoje, vou pegá-lo nem que custem muitas vidas!
Depois de quase dez minutos, ele finalmente consegue fazer a figura. Quando ela cintila, as ondas elétricas fazem o barbante ficar lilás. Com um passo para traz, Ximirica volta a sorrir ao levantar a porta da caixa-forte. Vê-se então um livro de tom cinza escuro, com escrita hanisinediensse na capa. O livro de couro pesado traz, em sua grande largura, folhas já encardidas, como se fossem guardadas há séculos.
Ximirica: [andando] Finalmente. Depois de tanto desejá-lo…
Ele vai até a janela da sala, que está aberta. Colocando o livro ao beiral dela, como apoio, ele vira para espirrar.
Um cientista, que passa ao corredor, escuta o barulho. Achando estranho, bate na porta. Sem resposta, tenta abrir. Ximirica vira-se, assustado com o ruído da fechadura. Quando tenta falar algo, ele espirra outra vez, mas causando algo.
Ximirica esbarra no livro, o qual cai do beiral. Desesperado, grita e corre, abrindo a porta rapidamente, assustando o cientista, que acaba caindo no chão.
Novo Graclapecha. Piso 01/Entrada e Saída [Manhã]
Naklada está com um pequeno sorriso no rosto, saindo com três pacotes: dois de pílulas alimentícias e outro de cogumelos marrons. O pesado livro esbarra em seu ombro esquerdo, fazendo-a tombar. Passando a mão no local da dor, reclama por uns segundos, mas percebe então que havia a atingido.
Naklada: [impressionada] Não creio! Procurei este livro por anos e, do nada, ele cai em cima de mim. [pega o livro e coloca embaixo de seu braço] Comansavá vai amar saber!
Sorridente, a ex-feiticeira corre em direção à sua casa com as sacolas dando bruscas balançadas. Segundos depois, Ximirica chega ao térreo e sai.
Ximirica: [aflito; procurando] Cadê o livro?!
De volta há anos atrás em Hanisined…
Antigo Palácio Real. Piso 03/Quarto 17 [Noite].
Guikoltra entra desesperadamente no quarto do filho. Naklada, preocupada, para Savabian e o empurra.
Savabian: [cruzando os braços] Não vai me deixar entrar?
Naklada: [zangada] Não. E se isso for culpa sua (…)
Ela ouve alguns gritos dolorosos de Comansavá, o qual se contorce na cama, tentando ser imobilizado por Guikoltra.
Naklada: [olhando-o friamente] (…) não terei dó de matá-lo!
Savabian: Bruxa do demônio! [joga as mãos para trás] Como ousa falar assim com seu próprio filho?
Naklada o empurra mais forte, o fazendo cair no chão. Se arrastando, a olha com ódio, mas ainda sentindo um amor profundamente inexplicável.
Naklada: [sorrindo] Espero que esteja feliz por aí.
Ao entrar, a rainha fecha a porta e a tranca, deixando o jovem príncipe aos prantos no chão. O rei estranha.
Guikoltra: [curioso] Onde está Savabian?
Naklada: [andando] Ah, o coitado não quis vir. Disse que não aguentaria ver seu irmão sofrendo assim.
Guikoltra: [mostrando as mãos do príncipe] Olhe isso. Elas estão… brilhando!
Naklada: [dá de ombros] Agora é sua de vez aceitar os fatos. Seu pesadelo tomou início.
Guikoltra: Não entendo. [coça a cabeça] É algum tipo de doença?
Naklada: Não é possível que não se lembre. Isso é magia!
O rei, espantado com a notícia, se lembra de algo.
Guikoltra: [levantando-se] É verdade. [segura nos braços dela] Por favor, Naklada, peça ao mensageiro que chame as “sem asas” imediatamente.
Naklada: [curiosa] “sem asas”? Que tipo de animal é esse? Um porco, talvez.
Guikoltra: Está perdendo tempo, vá!
Ela sorri falsamente e destranca a porta. Na correria, ela se lembra de algo e de repente para de frente ao grande portão.
Flashback: Leste. Cidade Xurtura. Antigo Graclapecha. Ala 02/Sala 08 [Manhã].
Cientista 01: Sabe o que eu esqueci? Do que iremos fazer com elas.
Cientista 02: Iremos fazer a primeira mutação genética da história hanisinediana!
Eles fazem o teste. Logo após, ao nascer, a coruja defeituosa não agrada aos cientistas do grande laboratório. Naklada, ainda mais esbelta e formosa do que agora, entra no local. Os cientistas assoviam para ela, a qual desfila e sorri.
Naklada: (de jaleco) Tenho uma proposta ótima e sei que não recusarão!
Cientista 01: [aproximando-se; sorrindo] Pode falar. Faríamos qualquer coisa.
Naklada: Ótimo! Olhem… [observando as corujas] Sei que o experimento não deu certo. A ciência aqui ainda não é tão avançada assim!
Cientista 02: E… Qual seria então sua proposta?
Naklada: Aliás, sei que o rei Guikoltra não lhes deu autorização. Disse que pensaria. [sorrindo maleficamente] Se vocês pensam que eu não poderia acabar com suas vidas num estalar de dedos… [estala; um objeto cai] Estão errados!
Cientista 01: [amedrontado] Então nos diga o que quer!
Naklada: É assim que eu gosto. [ajeita o cabelo] Eu lhes darei magia para que a experiência seja bem sucedida. Em troca, quero o veneno mais doloroso do planeta, mas que seja não tão letal em poucas quantidades, pois quero matá-lo pouco a pouco.
Cientista 02: Esse veneno pode demorar anos para ser fabricado!
Naklada: Esperarei o tempo que for necessário. Estamos de acordo?
Cientista 01: Por mim… estou de acordo. E você? [olha para o outro]
Naklada: [estala os dedos novamente fazendo cair um frasco rosado no chão] Faça a escolha certa, cientista!
Cientista 02: [nervoso] É claro que eu aceito.
Naklada sorri e pega seu antigo livro azul de feitiços. Abrindo numa das páginas finais, forma uma bola de magia, usando toda a sua força. Sem ler as letras miúdas de advertência, a feiticeira sofre um grande “colapso invisível”. Dizia-se: “o feitiço pode ocasionar perda quase completa de toda a magia, “ativando” o modo de magia falsa, o qual também pode ocasionar lesões externas futuras ao próximo portador”.
De volta ao Palácio Real…
Naklada: [incrédula] Então… eu transmiti minha magia às corujas, as quais tiveram filhos com magia no sangue, ocasionando uma lesão externa, nesse caso, a falta de asas!
Serva: (cabelos negros; já de idade avançada) [chegando calmamente] Senhora, algum problema? Está meio pálida.
Naklada: [arruma o cabelo] Não, não houve nada. Só queria pedir-lhe um favor.
Serva: [atenta] E o que lhe causa tanta preocupação?
Naklada: [sorri] Nada, só queria que dissesse ao mensageiro chamar as “sem asas”.
Serva: [confusa] Isso é algum tipo de cachorro?
Naklada: Vá logo de uma vez! Não perca tempo!
De volta à atualidade hanisinediana…
Palácio Real. Piso 02/Quarto 04 [Manhã].
Guikoltra bate à porta e pede permissão para entrar. Mariana sorri grita, dando-lhe autorização. Ao entrar, o rei, com uma aparência envelhecida, agora como se estivesse com uns 100 anos, ri da graciosa cena.
Mariana está com Pedro Daniel, filho de Ana, no braço direito e com Patrícia, sua filha, no braço esquerdo. Eles estão sendo amamentados ao mesmo tempo pela “guardiã”, a qual sorri, mas estranha à aparência do rei.
Guikoltra: Vim comunicar que estou indo embora.
Mariana: [olhando-o piedosamente] Como assim? Vai deixar o planeta sem ninguém no comando? Podia esperar pelo menos seu filho voltar!
Guikoltra: [sorri] Ah, Savabian… uma pena ele não ser meu verdadeiro filho. Mas eu o amo mesmo assim. O que quis dizer foi… “embora desta vida”. O tempo aqui pode até ser mais rápido do que o planeta de vocês, mas…
Mariana: [preocupada] “Mas” o quê?
Guikoltra: [cabisbaixo] O tempo de vida é limitado a 210 anos hanisinedianos. Meu “aniversário” será em poucos minutos, atingindo a idade-limite. Então… [olha-a entristecidamente] Diga a Savabian que leia o livro amarelo de couro e diamantes que está trancado ao fundo do calabouço. Lá, está a verdadeira razão pela qual vocês vieram à Hanisined, como também os legítimos pais de Savabian e o irmão dele.
Mariana: [chorosa] Sentirei saudades!
Nesse instante, as asas de Mariana crescem. Ao baterem, elas liberam um pó, quase como uma poeira de ferrugem. Guikoltra tosse, a olha e sorri.
Guikoltra: Sua avó era igualzinha a você, em TODOS os detalhes. Sinto-me honrado por ter a oportunidade de ver minha sobrinha-neta tão grande. [ele cai ao chão de joelhos, ainda sorridente] Adeus, guardiã.
As crianças percebem e começam a chorar. Largando-as no chão, Mariana debruça sobre o corpo de Guikoltra, pranteando apavorada.
Na próxima Terça…
DEPOIS DE ALGUMAS VOLTAS AO PASSADO…
Sophia: Queria fazer uma entrevista com Heitor Barny.
Heitor: Sou eu. Se quiser pode entrar.
O PRESENTE HANISINEDIANO…
Sophia: O que está acontecendo com você?
IRÁ LHE CAUSAR…
Vinícius: Nem pense em me tocar sua menina idiota!
UMA DEVASTADORA…
Laura: É como se fosse uma energia negativa.
E CURIOSA…
Laura: Temos que avisar à Savabian e aos outros guardiões!
BIPOLARIDADE!
Laura: O que é “legal”?
Vinícius: A sua morte!
Cena rápida – Segurando um livro, Naklada lê algumas palavras em língua hanisinedianensse e agita sua lustrosa e brilhante varinha para cima e para baixo em movimentos circulares. Uma onda de luz branca sai como um raio do objeto. Ela ri.
Corujas Sem Asas – 2×08 “Efeito Bipolar” – Terça – 20h – no SdW!