Contratempo de amar – Capítulo XXVIII (PARTE 1) – ÚLTIMOS CAPÍTULOS
– Isabel, você precisa se acalmar… – Fred diz, mas eu mal o escuto.
– Você não pode pedir pra que eu me acalme agora.
– O detetive ficou de nos dar notícia o quanto antes… – ele pega em minhas mãos, mas não o encaro – Sei que é difícil, mas ao menos tenta respirar.
Em poucas horas eu vou conhecer meu pai. Saber o motivo pelo qual ele me deixou. Eu sei que não devo ter expectativas altas sobre essa história, mas eu realmente preciso colocar um ponto final em tudo isso. A campainha do apartamento toca e eu sinto meu coração parar por um momento. Frederico vai atender quando percebe que eu não me movo.
– Estávamos esperando uma ligação, Sebastião. – ele diz pra o senhor baixinho que entra na sala.
– Não houve tempo. – ele me olha – Ele está na recepção do prédio, não quis subir até aqui.
– Eu desço até lá com você, Bel. – Fred segura meu braço, demonstrando apoio.
– Não. – respiro fundo – Eu preciso fazer isso sozinha.
Meu estômago revira e a vontade de voltar atrás me domina, mas não posso mais adiar esse momento. Desço até a recepção com a mente fervilhando com todas as lembranças da minha infância. Todas as vezes em que perguntava à minha mãe onde o meu pai estava, todos os olhares dos vizinhos julgando o fato de uma menina ter se tornado uma mãe solteira da noite pro dia… Eu estou prestes a conhecer o homem culpado por tudo isso, e eu não sei como agir diante disso. Quando as portas do elevador se abrem, vejo um homem alto, de cabelos escuros e olhos castanhos com uma expressão de pesar. Não parece ter mais de 50 anos. Esse é o meu pai?
– Isabel? – ele me encara e pergunta com uma voz trêmula.
– Fernando Vilela? – tento conter ao máximo minhas emoções, não posso demonstrar o quanto esse homem me afetou.
– Eu não… – ele se aproxima e eu congelo – Eu não sei o que dizer. Você parece tanto com a sua mãe. – isso é algo que eu não precisava ouvir nesse momento.
– Ela sempre me disse que eu parecia com você. – analisando Fernando de perto pude ver que meus olhos eram dele, o formato do meu rosto. Eu tenho muito mais dele do que da minha mãe, e isso é perturbador.
– Não… Você é exatamente como ela. – ele sorri, tristemente – Mas acredito que não foi pra isso que você me procurou.
– Não, não foi. – respiro aliviada por ele querer ir direto ao ponto.
– Isabel, você precisa saber… A razão de eu nunca ter te procurado…
– Não me interessa. – o interrompo, bruscamente – Eu nunca me interessei por isso, e não quero que você se desculpe ou me mostre arrependimento. Eu não preciso disso. Não agora.
– Eu entendo. – posso notar a tristeza em seu rosto, mas isso realmente não me importa – O que levou você a me procurar depois de tantos anos?
– Samuel Vasconcelos. – a sua expressão muda de tristeza para revolta – Eu quero saber qual a relação desse homem com a minha mãe e comigo. Quero saber qual o interesse dele em mim.
– Remorso, culpa. – ele ri, sarcasticamente e se levanta passando as mãos pelos cabelos – Culpa por ter me separado da minha família.
– Separado você da sua família? – balanço a cabeça sem entender – O que você quer dizer com isso?
– Isabel, eu amava a sua mãe. Eu realmente a amava. – ele se senta novamente, e pega minhas mãos, mas meu reflexo me faz retirá-las.
– Amava? – é a minha vez de rir – Amava de que forma? A ignorando quando ela estava apenas com 16 anos, sozinha e grávida? Ou quando ela estava com câncer?
– Eu tentei entrar em contato quando ela adoeceu, Isabel! – ele também se altera.
– Eu já disse que não estou aqui pra ouvir suas desculpas. – suspiro, tentando manter a calma.
– Tudo bem. – ele parece conformado.
– Então… Samuel Vasconcelos?
– Eu e o Samuel éramos muito amigos na adolescência. – arregalo os olhos, surpresa – Costumávamos compartilhar tudo, andar sempre juntos… Ele era como um irmão pra mim. Até o dia em que eu conheci a sua mãe. – arqueio a sobrancelha sem entender – Quando Samuel conheceu a Maria, eu percebi que ele também tinha se encantado por ela. Mas nós nos amávamos, estávamos felizes juntos, ela não o via dessa forma, eu sabia disso.
– Mas ele me disse que conheceu minha mãe durante uma viagem rápida. Que vocês estavam separados… E ele nunca mencionou que conhecia você. – comento, artodoada.
– Não, ele era o meu melhor amigo, conheceu a Maria assim que eu me apaixonei por ela. Quando ele percebeu que a sua mãe não sentia o mesmo por ele, foi morar com os pais no Sul. Então eu e sua mãe tivemos uma discussão feia, ela sempre pensava no futuro e eu só queria viver a minha vida naquele momento. Nos separamos por um tempo e então o Samuel voltou.
– E o que aconteceu?
– A sua mãe estava grávida de você quando nos separamos. Eu não sabia, ela não tinha me contado nada… Talvez fosse esse o motivo de tantos planos pra o futuro. Ela sabia o que iria acontecer.
– Mas o Samuel me disse que passou um mês por aqui. E que então se mudou para fora do país quando percebeu que a minha mãe era apaixonada por você. Eu não entendo como essa história se encaixa.
– O Samuel aproveitou o fato de estarmos separados para estar ao lado da Maria. – ele respira fundo – Eu o confrontei um dia e ele me disse que eu deveria me recuar, que ela era boa demais pra mim e que não merecia sofrer por alguém que não a valorizava. Que os dois estavam juntos e que eu precisava me afastar, porque ela não queria mais nada comigo. Nós brigamos e eu fiquei irado com o que ele me disse. Eu acreditei que ela não me queria mais por perto, que estava apaixonada por ele. Tudo aquilo me doeu muito.
– E como você descobriu da gravidez? – pergunto, tentando entender o rumo da história.
- – CONTINUA EM CAPÍTULO INÉDITO NO SÁBADO (16/07) –