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Contratempo de Amar

Contratempo de amar – Capítulo XXV – ÚLTIMAS SEMANAS

Eu nunca tinha reparado como esse parque é melancólico. As árvores secas, o silêncio, até mesmo a vista da cidade se torna algo triste daqui de cima… Mas sempre foi o meu lugar favorito no mundo, com todas as minhas mil e uma lembranças da adolescência… Mesmo que o Diego estivesse presente na maior parte delas. Diego. O homem que se tornou um completo estranho pra mim. Nunca imaginei que tudo seria tão diferente. Não aguento mais as oscilações no seu comportamento, a forma como me trata mesmo estando comprometido com a Valentina, não aguento mais o que sinto por ele. É, talvez o problema seja eu, afinal.

São Paulo, Brasil – 1998

 – Mãe, como meu pai era? – pergunto disfarçadamente pois sei que ela não gosta de falar sobre ele. Na verdade, ela nunca falou nada sobre ele.

– Por que você está perguntando isso agora? – ela pergunta, me fazendo virar e encarar seu rosto.

– Todas as minhas colegas sabem coisas sobre os pais delas… Eu não sei nada sobre o meu.

 

Minha mãe suspira e eu posso ver que ela não está feliz em falar sobre isso. Mas eu preciso saber alguma coisa, qualquer coisa.

 

– Seu pai era um homem muito bonito. – ela tornou a me virar de costas e continuou a pentear os meus cabelos – Muitas meninas queriam namorar com ele na época.

– Mas ele escolheu a senhora?

– Ei, não precisa ficar tão surpresa, mocinha. – dou um risinho – Nos conhecemos no colégio e nos apaixonamos. Tudo parecia ser tão simples pra nós. Eu o amava, ele… Ele dizia que me amava também. Estávamos felizes.

– Então porque ele deixou a gente? – pergunto, temendo que ela se entristeça.

– As coisas nunca são tão simples, Isabel. Nossa vida é feita de escolhas, e o seu pai fez uma escolha.

– A escolha errada. – respondi, tentando esconder minha indignação. Ela me fez virar novamente e a olhar nos olhos.

– Uma escolha. E ele precisou lidar com as consequências disso, assim como precisaria lidar se tivesse ficado.

– Com quais consequências ele precisou lidar?

– Nunca ter visto você. Não ter tido a oportunidade de te carregar no colo, de conversar com você e ver como você é simplesmente incrível. Essa é a pior consequência com que ele precisou lidar.

– Você ainda o ama, mãe? – pergunto, analisando seu sorriso triste.

– Eu amo o que ele me deu, minha princesa. Amo você.

 

Nunca havia conversado muito sobre o meu pai com a minha mãe. Nunca precisei e nem queria saber nada sobre ele. Mas agora tudo está tão confuso. Eu não sei mais como entender o que está acontecendo. Talvez eu precise tomar outros rumos.

 

– Eu não entendo… – Frederico parece atordoado com as informações – Esse Samuel apareceu do nada? Logo agora?

– Foi confuso pra mim também… Eu não sei o que ele quer exatamente. Só sei que ele é a única pessoa que teve contato com a minha mãe quando ela era jovem, além da tia Cláudia…

– E você acha que ele está escondendo algo?

– Eu tenho certeza. – respondo, com convicção – Essa história toda está muito mal contada… Não faz o menor sentido o Samuel seguir os meus passos depois de tantos anos sem motivo algum.

– Bel, essa história toda é… surreal. – Fred afirma, incrédulo – Por que você está me contando isso? Quero dizer, não estou reclamando… Mas não achei que você confiaria algo assim pra mim depois de tudo.

 

Boa parte do desejo de contar ao Frederico sobre a história com o Samuel vem do fato de não ter mais ninguém por perto pra desabafar. Joana sempre me escuta, mas não posso sobrecarregá-la com meus problemas todos os dias, ela também tem as suas preocupações. Diego já deixou claro que não tem mais interesse em me ajudar, e isso me deixa sozinha novamente. Fred é o único que tem demonstrado um apoio que eu nunca esperaria encontrar… Pode ser egoísta, mas eu preciso disso agora.

 

– Eu… Eu preciso de você. – as palavras saíram de forma automática e por um momento me arrependi de dizê-las.

– Eu estou aqui pra você, Bel. Pro que você precisar.

– Eu quero encontrar o meu pai.

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