Contratempo de amar – Capítulo XXIII
– Pode entrar. – ouço a voz de Diego atrás da porta quando bato.
– Eu vim deixar esses relatórios com você, caso o Gustavo precise deles logo. – digo, tentando analisar o clima entre nós.
– Obrigada, Isabel. – ele responde, sem me encarar.
Não é possível! Até quando ele vai continuar me ignorando?
– Diego, olha pra mim! – digo, impulsivamente, e ele me encara, com uma expressão atordoada.
– O que? – pergunta, terminando de me tirar do sério.
– “O que”?! Você não fala comigo há dias! Me ignora, ignora minhas mensagens, ligações… Até quando você vai continuar com esse ciúme imbecil?! – desabafo e posso ver a incredulidade no rosto dele.
– Ciúme? – ele ri, sarcasticamente – É isso que você acha que eu estou sentindo? Ciúme por causa do seu noivinho? Vê se cresce, Isabel!
Por um momento fico confusa com a aspereza das suas palavras. Se não era esse o motivo da indiferença dele, o que estava acontecendo? Porque ele estava me tratando assim?
– Se não é isso… o que eu te fiz então? Por que você está me evitando? – pergunto, sem conseguir conter o tremor na minha voz.
Ele respira fundo e passa a mão pelos cabelos, visivelmente tentando se acalmar. Mordo os lábios com força, ele não vai me ver chorando.
– Nem tudo é sobre você, Isabel. – ele diz, finalmente, e fica cada vez mais difícil conter as lágrimas – Eu tenho os meus problemas. E eu acho que seria melhor ficar sozinho por agora.
– Eu sei que você tem seus problemas, eu não acho que você tem nenhuma obrigação comigo. – argumento – Mas ficar sozinho? Você prometeu me ajudar. Me ajudar a descobrir o que o Samuel está escondendo. – e prometeu não me fazer chorar mais.
– Eu não devia ter prometido isso. – ele me encara e eu estremeço – Isso não me diz respeito, Isabel. E você deveria esquecer essa história também, provavelmente não deve ser nada importante.
Eu não posso acreditar no que estou ouvindo. Não diz respeito a ele? Nada importante? É a minha vida, minha origem, como isso pode não ser importante? Não consigo evitar uma lágrima, mas logo a limpo na esperança que ele não tenha visto.
– Eu não queria incomodar. Me desculpe. – falo de forma rápida, tentando sair dali o mais depressa possível.
– Nós nos precipitamos, Isabel. Não devíamos ter colocado tanta expectativa nessa história. O melhor que você faz é deixar isso pra lá.
Respiro fundo e tento manter a compostura por mais alguns segundos.
– Sim, você está certo. Eu preciso esquecer essa história. Se você puder me dar licença, eu tenho trabalho a fazer. – saio antes que ele possa me dizer qualquer coisa.
Passo apressada pela mesa de Joana para que ela não perceba minha cara. Eu preciso ficar sozinha agora.
São Paulo, Brasil – 2003.
– Você não tem esse direito! – ouço minha mãe gritando ao telefone enquanto entro em casa depois de voltar do colégio.
– Mãe? O que houve? – vou até ela e percebo que ela não esperava que eu estivesse ali.
– Nada, minha filha. – suspira e desliga o telefone – Mais cobranças…
– E a senhora está nervosa assim por causa de uma cobrança? – pergunto, sem entender.
– É só o cansaço. – ela sorri de canto – Vamos almoçar, ok? Deixa que eu resolvo isso depois.