Contratempo de amar – Capítulo XVIII
– Isabel, você precisa se acalmar… – ele continua falando brandamente, e posso ver uma angústia em seu olhar e no de Michelle.
– Pare de mandar eu me acalmar! – esbravejo – O que você quer comigo?!
– Eu sou um velho amigo da sua mãe. – ele confessa por fim, ainda nervoso.
– Um velho amigo? Eu nunca vi você! Nunca ouvi falar de você! Se você fosse amigo dela estaria lá quando ela morreu! – posso ver uma sombra de dor cruzar sua expressão.
– É complicado, Isabel. Eu queria estar lá. – sussurra.
– O que está acontecendo? Quem é você?! – continuo perguntando, como um disco arranhado.
– Eu vou deixar vocês conversarem sozinhos. – Michelle diz, fazendo menção de se retirar.
– Eu não quero conversar nada! Eu vou embora! – pego minhas coisas com pressa, me dirigindo a porta.
– Isabel, por favor! – Samuel suplica e eu paro – Me dê apenas um minuto pra explicar.
Me viro e vejo sua expressão pesarosa. Isso não me comove, mas eu preciso saber quem é este homem e o que ele quer de mim. Respiro fundo.
– Você tem 30 segundos. – digo por fim e Michelle sai da sala com visível preocupação.
– Sente-se. – ele aponta para o sofá.
– Estou bem aqui. – ele passa a mão pelos cabelos – Você está desperdiçando seu tempo.
– Eu realmente era um amigo da sua mãe. Na verdade, eu era apaixonado por ela. – ele começa e eu não compreendo.
– O que então? Um namorado? A minha mãe nunca teve um namorado. Pelo menos não enquanto eu vivi com ela. – respondo, rispidamente.
– Isso faz muito tempo, Isabel. – ele parece escolher as palavras – Antes de você nascer.
– Eu não entendo. – a confusão toma conta da minha mente.
Samuel suspira e novamente aponta para o sofá. Hesito um pouco, mas por fim me sento, ainda tentando manter minha postura irredutível.
– Eu conheci a sua mãe quando ela tinha 16 anos. Nós nos conhecemos em uma breve viagem que eu fiz até aqui, na época eu morava no Sul, só costumava vir aqui nas férias para visitar alguns parentes, e por acaso tive a sorte de visitar a lanchonete onde ela trabalhava na época… – o interrompo.
– Espera… 16 anos? Você quer dizer que… – arregalo os olhos quando começo a fazer a matemática.
– Não! – ele entende onde quero chegar e me tranquiliza – Eu não sou seu pai, Isabel. Quando conheci a sua mãe, ela já conhecia o seu pai.
– Você está querendo dizer que a minha mãe traiu o meu pai com você? – pergunto, incrédula.
– Quando nos conhecemos, ela e seu pai estavam separados. Haviam tido uma discussão muito feia e então terminaram o namoro. Durante esse pouco tempo, eu me apaixonei por ela. Fazia de tudo para vê-la o tempo todo, e ela também sentia muito carinho por mim… – ele parece atormentado pelas lembranças.
– Você teve um caso de verão com ela? É isso? – a história parece não fazer sentido.
– A sua mãe amava o seu pai, eu sabia disso. – sua expressão fica séria – Eu passei um mês na cidade, e no fim desse mês precisei voltar para o Sul.
– E essa foi a história de vocês? – pergunto e percebo que Samuel divaga um pouco, mas logo me encara e responde.
– Sim. – ele diz sem me encarar – Nos despedimos e alguns meses depois me mudei para o exterior. Foi quando descobri que ela estava grávida de você. – as palavras pareciam sair forçadamente.
– E porque você tem esse interesse por mim? – pergunto, confusa – Quero dizer, eu sou a filha da mulher que você amava com outro homem. Porque você queria me conhecer?
– Porque você é filha da mulher que eu amava. – ele sorri ao repetir as palavras – Eu precisava te conhecer pessoalmente. Passei muito tempo tentando descobrir o seu paradeiro depois que soube da morte da Maria.
– Não pareceu ter procurado tão bem. – dou um sorriso sarcástico.
– Isabel… – ele se aproxima e eu evito o olhar – Eu queria estar perto de você naquele momento, mas você era tão nova! Eu sabia que a sua mãe não teria falado de mim pra você… E quando soube que você decidiu ir pra Alemanha, pensei que seria melhor te acompanhar de longe… Mas não consegui manter essa distância por muito tempo.
– Espera… Foi você o cliente especial que me indicou para a vaga na R.B.? – pergunto, agora entendendo tudo.
– Sim. – ele admite – Eu precisava ver como você estava, ver… Ver você.
Toda essa história mexe com a minha cabeça de uma forma que eu ainda não consigo entender. Nada parece fazer muito sentido, como se ainda houvesse alguma peça fora do lugar. Mas acredito que essas informações são o suficiente para o dia de hoje, eu preciso digerir um pouco tudo isso.
– Eu… Eu preciso pensar um pouco. – me levanto e vou em direção à porta.
– Não me afaste sem antes tentar me conhecer, Isabel. Por favor. – ele pede e eu percebo carinho na sua fala.
– Eu só preciso de um tempo. Com licença. – saio com pressa.
Um velho amigo da minha mãe interessado em mim. Alguém que ela nunca havia mencionado… Tudo parece um pouco confuso demais. Mas por hora eu preciso espairecer. Preciso colocar as ideias no lugar, preciso de alguém do meu lado. Será que o Diego está com a Valentina agora? Que se dane, eu preciso dele e preciso já.
Up!