Contratempo de amar – Capítulo XV
– Bom dia, Gustavo. Você me chamou? – pergunto, entrando no escritório e percebendo que ele não estava sozinho ali.
– Bom dia, Isabel. Chamei sim. – ele se levanta da cadeira e um senhor com não mais de cinquenta anos se vira, me encarando. Ele é muito elegante e posso ver pelo seu terno que tem condições. Talvez algum novo cliente ou sócio.
– Isabel, este é Samuel Vasconcelos. – o homem se levanta e estende a mão em minha direção, eu retribuo o cumprimento – O Samuel é um cliente muito importante da R.B., tem uma parceria conosco há muito tempo.
– É um prazer conhecê-lo, senhor Vasconcelos. – digo, educadamente.
– Por favor, me chame só de Samuel. – ele continua me encarando, e eu fico constrangida por ter tanta atenção – O seu empenho é muito comentado por todos os coordenadores da empresa. Meus parabéns.
– Obrigada. – agradeço, sem jeito – Em que posso ajudá-los?
– Samuel me pediu pra que você se encarregasse de um negócio pessoal. – arqueio minha sobrancelha – Como os negócios dele estão diretamente ligados com a empresa, não vejo motivos pra negarmos esse pedido.
– Não seria melhor que o Diego tomasse a frente disso? – pergunto, tentando me esquivar.
– Tomasse a frente do que? – Diego pergunta, adentrando a sala – Samuel! Quanto tempo!
– De fato, meu jovem. – Diego vai em sua direção e o abraça calorosamente. É evidente que os dois são amigos.
– A que devemos a honra da sua visita? – Diego pergunta, encarando a todos e não consigo conter minha expressão de “não faço ideia”.
– Preciso de ajuda com alguns contratos e regulamentos na companhia, e estou aqui pra pegar a sua coordenadora emprestada.
Diego me encara, e gostaria que ele pudesse ler minha mente pra perceber o quão estranha essa situação me parece. Já lidei com alguns homens tentando passar dos limites comigo, alguns mais velhos do que esse Samuel, mas nunca precisei trabalhar sozinha com nenhum deles.
– Algo que eu possa ajudar? – Diego pergunta, e acho que ele percebeu meu desconforto.
– Não. – Samuel é taxativo – A senhorita Ávila é mais do que capacitada pra lidar com o que preciso. Não vou precisar de você dessa vez. – ele dá dois tapinhas nos ombros de Diego e ele sorri de canto.
– Bem, era só isso, Isabel. – Gustavo se dirige a mim – Passei seu cartão pro Samuel e ele entrará em contato pra acertar os detalhes desse processo com você. Leve o tempo que precisar. O Samuel é um cliente muito querido pra nós.
– Foi um prazer conhecê-la, senhorita Ávila. Nos vemos em breve. – ele acena com a cabeça e eu concordo.
– Vamos até meu escritório, Isabel? – Diego pergunta – Preciso acertar algumas coisas contigo.
Me despeço de Gustavo e Samuel e saio com Diego pelo corredor, rumo ao seu escritório.
– Quem é esse homem? – pergunto a Diego, sussurrando.
– Ele é um cliente antigo da R.B. – responde, dando de ombros.
– Isso eu já entendi. – reviro os olhos – Quero saber quem ele é. Por que ele está aqui? O que ele quer comigo?
– Ei, Sherlock! Calma! – Diego ri e eu cruzo os braços – Nós assessoramos a empresa do Samuel também. Algumas vezes ele precisa de um ou dois favores de algum advogado mais experiente. O chefe do setor jurídico da empresa dele é um imbecil.
– E por que ele me chamou? Por que ele não pediu a você pra fazer esse favor já que são amigos? – pergunto, sem conseguir disfarçar minha ansiedade.
– Isabel, o Samuel não vai te matar, ok? – ele pega em meus braços, acredito que tentando me acalmar, mas isso só piora as coisas – Provavelmente ele só quer conhecer o seu trabalho.
– Conhecer meu trabalho, sei… Me engolindo com os olhos daquele jeito?!
– Você já foi mais humilde sabia, garota? – Diego desdenha e eu dou um tapa em seu braço – Au!
– Eu tô falando sério! – ele ergue as mãos em sinal de rendição – Se esse senhor tentar alguma coisa, eu não vou querer nem saber se ele é o novo dono da R.B., entendeu?
– Se ele tentar alguma coisa, pode ter certeza que eu mesmo vou acabar com a raça dele pessoalmente ok, estressadinha? – ele pega nas minhas bochechas e eu me desvencilho, fazendo bico.
Conversar normalmente com Diego é tão bom. Em poucos minutos eu posso esquecer de todo o clima pesado que está pairando sobre nossa amizade. Ele sempre conseguiu me passar segurança. O encaro e acho que ele percebe que tivemos um momento natural, sem pisar em cascas de ovos, só nós dois, como nos velhos tempos.
– Bem, Bel… – de repente ele parece tenso – Eu preciso te contar uma coisa.
– O que? – pergunto, sem saber se quero ouvir a resposta.
– Eu e a Valentina… – ele começa, mas eu o interrompo.
– Diego, não precisa me contar detalhes do seu relacionamento. Eu sei que ainda não estamos nesse nível. – tento evitar ter que ouvir um relato sobre o casal 20.
– Não é um detalhe. – ele parece sério e isso me deixa nervosa – É algo importante. Bem, é muito importante, na verdade.
– Ok… O que aconteceu? – suspiro.
– Ainda não aconteceu, vai acontecer. – ele desvia o olhar – Nós vamos nos casar.
– Eu sei, Diego, é o que acontece quando duas pessoas estão em um noivado. – comento, sem entender.
– Não é isso… – suspira – Nós vamos nos casar daqui a três meses.
Três meses?! Como assim três meses?! Por que tanta pressa, tão de repente? Será que ela está grávida? Ai Deus, será que o Diego vai ser pai?
– Três meses? – pergunto, segurando o máximo minha surpresa e decepção – Uau, isso é… rápido.
– Talvez ela precise voltar pra Paris por um tempo pra finalizar um contrato, e queria que nos casássemos antes disso. – ele parece estar justificando aquilo pra si mesmo, mas fico feliz por não se tratar de uma gravidez – Enfim, eu… eu não queria que você soubesse por outra pessoa. As notícias correm por aqui.
– Eu… fico feliz por você. – forço um sorriso, tendo certeza de que não foi convincente – E agradeço por ter me contado.
– Você é minha amiga, não é? – ele pergunta, sem muita certeza.
– Sim, eu sou. – respondo, tentando internalizar essa informação.
– Uma amiga merece saber quando o seu amigo vai se casar. – ai, só pare de dizer essa palavra – Eu preciso ir agora. Resolver algumas coisas.
– Tudo bem, nos vemos depois.
– Soube que você vai até minha casa hoje. – droga! A visita da tia Cláudia!
– É, eu vou sim! – exclamo – Nos vemos mais tarde então.
– Você pode ir comigo. Eu vou direto pra lá depois daqui.
Isso, tudo que eu preciso é um passeio com você. Me falando sobre seu casamento.
– É, seria ótimo. – minto.
– Então até mais. – ele pisca e sai.
Deixando registrado que estou acompanhando! Up! HAHAHA Eu aqui desejando odiar a Valentina