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Contratempo de Amar

Contratempo de amar – Capítulo XIII

São Paulo, Brasil – 1994.

 

– Eu, Diego Fernandes, prometo sempre te proteger, Maria Isabel, e sempre fazer você dar risada. Prometo nunca te fazer chorar.

– Eu, Maria Isabel, prometo sempre brincar com você, Diego, e sempre dividir tudo o que eu tiver. E nunca deixar você sozinho.

– Pronto, agora a gente casou! – Diego disse, sorrindo pra mim e eu sorri de volta.

– Mamãe, mamãe! – saí correndo do fundo da nossa casa até a cozinha – Eu e o Diego casamos! – mostrei o anel de bala que Diego me deu.

– Nossa, que anel lindo, minha filha! – minha mãe me pegou no colo e olhou o anel de perto – Acho que preciso dar os parabéns pra o meu genro então. – olhou pra Diego.

– Gen… o que? – ele perguntou, confuso.

– O que é um genro, mamãe? – perguntei, também sem entender.

– Deixa pra lá, crianças… – ela riu – Vão brincar. O almoço fica pronto daqui a pouco! – Diego pegou minha mão e saímos novamente para o quintal.

 

– Ai, perdão! Eu nem me apresentei. Meu nome é Valentina! – a moça diz, mas eu ainda não tenho reação.

– Eu.. eu… Sou a Isabel. – consigo me apresentar, por fim.

– Espera… Você é a Isabel?! – Valentina parece surpresa e empolgada – A melhor amiga de infância?! Essa Isabel?!

– Eu acho que sim… – respondo, processando todas as informações.

– O Diego fala tanto de você! – diz, empolgada. Já de você

– Eu volto uma outra hora. – vou em direção a porta e Valentina expressa confusão.

– Espera um pouco! A Cláudia já deve estar voltando e… – a porta se abre.

– Isabel? – Diego me olha, surpreso.

– Eu vim ver se vocês precisavam de alguma coisa. – digo, sem conseguir encará-lo – Mas encontrei a Valentina aqui, então acho que posso voltar pra empresa… – tento passar por ele sem fazer contato.

– Espera, eu… – ele olha pra Valentina e olha pra mim – Você conheceu a Val.

– É, conheci. – o encaro por fim – Parabéns pelo noivado. – digo, contendo a emoção em minha voz.

– Você não sabia do noivado? – Valentina pergunta, confusa, dividindo o olhar entre mim e Diego.

– Nós nos reencontramos a pouco tempo… – Diego explica pra ela, me olhando de canto – Não tivemos tempo de colocar todas as novidades em dia.

 

Não tivemos tempo?! Tivemos muito tempo! Quando você estava me contando o quanto sentia minha falta! Ou como eram divertidas nossas brincadeiras de criança! Ou nas mil e uma vezes que você me levou pra casa! Talvez você devesse ter tirado dois segundos de todos esses encontros pra falar “A propósito, Isabel, eu estou noivo!”. Imbecil.

 

– De fato. – respondo – Não tivemos tempo de colocar as novidades em dia. Tantos anos sem contato… Eu sinto praticamente que não conheço mais o Diego. – digo, o encarando, e posso ver a vergonha nos seus olhos.

– Ah o que é isso! – Valentina diz – Uma amizade tão linda como a de vocês não desaparece assim do nada. Sei que é questão de tempo pra vocês estarem grudados outra vez.

 

Por favor, apenas pare de ser simpática. Eu preciso te detestar nesse momento.

 

– Provavelmente. – dou um sorriso forçado pra Valentina, que retribui – Eu vou indo, meu horário de almoço já acabou e eu preciso voltar pra empresa.

– Está tudo sob controle? – Diego pergunta, ainda sem jeito.

– Sim. Tudo sob controle. – respondo, seca – Por favor, diga a Cláudia que eu irei visitá-la um outro dia.

– Eu direi. – Diego responde.

– Foi um prazer te conhecer, Isabel! – Valentina me abraça e sou pega de surpresa – Vai ser ótimo conhecer você melhor, não tenho muitas amigas por aqui.

– Foi um prazer conhecer você também. – minto – Até logo. – saio da sala com pressa.

 

Parece que saí de um universo paralelo. Entrei naquela sala acreditando que encontraria Cláudia, que veria Diego, que conversaríamos como antigamente… Mas tudo está do avesso. A minha vida antiga não existe mais, e por mais que eu tente revivê-la, não posso ignorar tudo o que está acontecendo. Nada está como antes. Nada é igual. E não há nada que eu possa fazer quanto a isso.

 

No dia seguinte…

 

– A Joana me disse que você queria me ver. – digo, entrando no escritório de Diego.

– Sim, eu queria. – deixa o papel que está lendo de lado e me encara – A minha mãe teve alta ontem a noite.

– Que bom, fico feliz. – respondo de forma sincera, porém seca.

– Isabel, eu… – respira fundo.

– Não. – digo, firme – Por favor, não.

– Eu deveria ter te contado. – diz por fim, e eu posso ver certa tristeza em seu olhar.

– É, deveria. – respondo, sem rodeios – Mas como você mesmo disse, faz pouco tempo que nos reencontramos. Você não tem obrigação de relatar sobre a sua vida.

– Não é bem assim, Bel. – ele se levanta em minha direção, e eu recuo um pouco – Eu só não encontrei o momento certo pra te falar.

– Eu acho que descobrir através da sua noiva enquanto eu visitava a sua mãe em um hospital não foi exatamente o momento certo, não é mesmo? – pergunto, ironicamente.

– Sim, você está certa, mas… Você também não tinha me falado do seu namorado na Alemanha! – Diego rebate e eu tenho vontade de gritar.

– Pelo amor de Deus, Diego! – passo a mão pelos cabelos e desisto de manter o controle. Que se dane, ele começou – Você está realmente comparando um namoro que não existe mais com o seu noivado secreto?!

– Não é um noivado secreto! – ele responde, também se exaltando. – A Valentina trabalha como modelo. Ela estava em Paris desde o fim do ano passado. Todos aqui sabem dela.

 

Modelo. Essa história fica cada vez melhor.

 

– Pelo visto, nem todos. – digo, suspirando.

– Me desculpa! – ele se aproxima mais, mas eu evito olhar em seus olhos – Eu deveria ter contado, mas não contei! Eu não posso consertar isso!

– É! Você não pode! – finalmente o encaro – Então pare de tentar!

– Eu nem sei porque estamos discutindo! – ele diz se virando e esmurrando a mesa.

 

Por que estávamos discutindo? Nossa amizade estava apenas começando a desenrolar outra vez, é compreensível que ele ainda não tivesse mencionado sua noiva, certo? Parece fazer sentido. Mas eu sinto como se tivesse sido traída. Como se por alguma razão eu acreditasse que ele me pertencesse e agora eu estivesse descobrindo que na verdade nunca pertenceu. Talvez eu só esteja me sentindo inferior. Eu não consegui caminhar em frente na minha vida, e ver que Diego conseguiu isso, me faz sentir inferior. Deveria estar feliz por ele, mas nesse momento, era simplesmente muito difícil.

 

– Você tem razão. – digo, e ele se vira pra mim – Não deveríamos estar discutindo. Não por isso.

– Eu realmente não queria te magoar, Isabel. – ele soa sincero – Estamos tentando resolver as coisas entre nós com tanta força, que talvez eu tenha tido medo de estragar tudo outra vez.

– Eu sei. – tento sorrir, mas não sei se consigo – Estamos lidando com muita coisa ao mesmo tempo. Talvez devêssemos ir mais devagar.

– Você está querendo se afastar? – pergunta, entristecido.

– Não! – respondo de forma enfática – Não se trata de afastar, é só que… Talvez a gente esteja tentando com muita força. Não é assim que uma amizade funciona, Diego. Não é assim que a nossa amizade funciona.

– Eu não sei o que fazer. – ele se senta, e posso ver o cansaço em sua expressão.

– Vamos com calma. – digo, me ajoelhando em frente a ele, segurando suas mãos – Não precisamos forçar nada. Vamos deixar as coisas fluírem.

– Você promete que não vai fugir outra vez? – ele pergunta, aparentemente com medo.

 

Fugir outra vez parece uma proposta tentadora. Talvez ir pra outro país e esquecer esses meses fosse o mais eficaz a se fazer. Mas ao olhar Diego em minha frente, ao ver seus olhos me perguntando isso, me lembrei de quando fui embora pela primeira vez. Do seu olhar quando eu disse que deveria me esquecer. Eu não sei se suportaria toda a culpa e toda a dor de uma decisão como essa outra vez. Afinal, pra onde mais eu iria?

 

– Eu não vou fugir. – garanto.

– É a segunda vez que você me promete isso, Isabel. Não quebre essa promessa outra vez. – ele diz e eu não consigo esconder minha cara de confusão – Seus votos em nosso casamento de mentirinha. Você prometeu nunca me deixar sozinho.

 

Ele também se lembrava. Sorri ao ouví-lo dizer aquilo, era bom saber que eu não era a única a estar imersa em lembranças. Mas por um momento tive vontade de lembrá-lo dos seus votos também. Prometeu nunca me fazer chorar, mas essa promessa já foi quebrada vezes demais.

 

– Eu não vou quebrar desta vez. – afirmo – Eu juro.

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