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Contratempo de Amar

Contratempo de amar – Capítulo VII

– De onde você tirou que tenho um namorado? – pergunto, surpresa.

– As paredes da R.B. Enterprise têm ouvidos, Isabel. – ele ri e dá um gole em seu conhaque – Suas alfinetadas com o Diego são praticamente um ritual para os funcionários.

– Eu não pensei que… – me envergonho – Não é minha intenção distrair os funcionários.

– Relaxa, Isabel, eu não estou te repreendendo. – ele ergue as mãos em rendição – Só estou tentando ter uma conversa normal com você, não precisa se desculpar por nada.

– Desculp… – ele sorri e eu sorrio também.

– Mas confesso que saber do seu namorado por uma das secretárias foi uma surpresa e tanto… – ele dá outro gole.

– Eu não tenho nenhum namorado. – confesso – Foi um mal-entendido. Diego deve ter entendido errado.

– Oh! – exclama, surpreso – Fico feliz por isso. – ele se aproxima mais, e vou recuando. O que ele pensa que está fazendo?

– Eu acho melhor esperar meu táxi no jardim… – tento fugir da situação.

– Isabel, você não se sente nem um pouco atraída por mim? – ele se aproxima mais, me deixando sem saída.

– Gustavo, você deve ter confundido a situação, eu não…- ele interrompe.

– É só uma pergunta, Isabel. – ele diz, calmamente, me encurralando com seus braços em sua mesa – Você não pensou nem por um momento em responder a nenhuma das minhas investidas?

 

Me desvencilho da mesa, mas Gustavo me toma nos braços e eu fico sem reação. Fugir? O estapear? Gritar? Ele está alterado, talvez pelo excesso de conhaque. É seu terceiro copo na noite? Isso é suficiente pra tirar uma pessoa do seu juízo perfeito?

 

– Gustavo, isso não é apropriado. – tento me soltar, sem criar uma cena dramática com o meu chefe.

– O que não é apropriado? – ele toca em meus cabelos, correndo os dedos sobre minha bochecha – Isso?

– Gustavo… – tento soar firme, mas é em vão, ele não recua.

– Gustavo, eu esqueci a minha pasta na sua… – Diego entra no escritório e se depara com a cena – Eu… Eu não queria interromper vocês. – sai com pressa.

– Droga! Diego! – me solto de Gustavo com força e corro atrás de Diego até jardim – Diego, espera! Não é o que você está pensando! – exclamo com convicção, mesmo sem saber o que realmente estava acontecendo no escritório.

– Nossa, Isabel, nunca imaginei que você seria uma garota tão clichê. – Diego diz, e continua andando furioso.

– Diego, me escuta! Por favor! – grito e ele para.

– Você não precisa me explicar nada. – ele se vira e eu posso ver a raiva em seus olhos – A Alemanha deve ter mudado suas concepções de verdade. Saindo com dois caras ao mesmo tempo?!

– Dois caras? – pergunto, confusa, mas então me lembro da mentira que contei sobre ter um namorado – Diego, eu não tenho namorado. Eu estava conversando com uma amiga essa manhã. – explico.

– E você me deixou pensar que era seu namorado por quê? – pergunta, sem entender.

– Diego, qual é! Você não troca duas frases comigo, sempre me acusa de alguma coisa ou me destrata por outra, mas queria que eu te desse o relatório da minha vida pessoal em detalhes?! – jogo o que estava entalado em minha garganta e ele parece irado.

– Pelo visto eu não preciso mais desse relatório, já vi tudo o que tinha pra ver, não é mesmo? – esbraveja.

– Você não viu nada! – passo a mão pelos cabelos – O Gustavo se excedeu um pouco, foi só isso. Não aconteceu nada demais.

– Nossa, que coisa não? Ele se excedeu, só isso. – ele ri, sarcástico.

– Diego, eu não preciso te dar satisfação da minha vida! Você já deixou isso bem claro! – afirmo, direta, e posso ver a decepção no seu rosto. Talvez não devesse ter falado dessa forma, droga.

– É, não precisa mesmo. – ele responde, sério, e se vira para ir embora, mas logo volta a me encarar – Na verdade, isso explica muita coisa.

– O que você quer dizer? – pergunto, sem entender onde ele queria chegar.

– Você vive dizendo que está disposta a qualquer coisa pra conseguir aquilo que queria, pra subir na vida e ter uma grande carreira… – ele se aproxima – Deixou seu país, deixou seus amigos… Acredito que deixar o Gustavo tirar suas roupas é um dos seus menores problemas, não é mesmo?

 

Diego mal termina a frase e eu o acerto um tapa em seu rosto com toda a minha força. Com lágrimas nos olhos e a voz embargada, tento responder a sua acusação, sentindo cada palavra como uma facada em meu peito. Como ele pode ser capaz de falar comigo desse jeito? Será que realmente chegamos nesse nível de falta de respeito?

 

– Nunca mais! – aponto o dedo para o seu rosto – Nunca mais ouse me dirigir a palavra! – as lágrimas começam a jorrar e Diego me encara com uma expressão de dor, obviamente não pelo tapa, mas sim pela mágoa – A partir de hoje eu só vou me referir a você para assuntos da empresa. Você é o meu chefe na R.B., mas não significa nada pra mim, entendeu? Você não me cumprimenta, não me olha, não diz o meu nome a não ser que seja relacionado ao nosso trabalho. Eu fui clara? – sibilo, entredentes.

– Esse é um favor que você me faz, senhorita Ávila. – ele sorri, tristemente – Você não existe pra mim há 12 anos. Continuar assim não vai ser difícil. Aproveite a sua noite. – ele entra em seu carro e sai pelos portões.

 

Ao ver o seu carro saindo pelos grandes portões da mansão, não consegui mais segurar a dor que estava sentido e desabo me entregando ao choro. De fato a minha amizade com Diego era um caso passado. Eu não era mais a mesma e ele definitivamente não era mais o mesmo. Precisava seguir em frente, precisava esquecer de uma vez o que aconteceu nessa cidade e construir uma nova vida. Avisto meu táxi chegando no portão e saio de uma vez em direção à ele. Amanhã seria um novo dia. Era fim de semana e Catarina chegaria para me visitar. Eu poderia contar com ela e Joana para colocar esse peso pra fora.

 

 

– Eu ainda não acredito que tudo isso aconteceu em uma noite. – Catarina sussurrou após eu ter contado todos os acontecimentos da reunião desastrosa. Joana havia ido buscá-la no aeroporto já que seu voo chegou no mesmo horário da minha reunião.

– O Diego é um imbecil! – Jo vociferou, levantando do sofá – Como é que ele pôde falar desse jeito contigo?!

– Sem falar desse Gustavo, né? Que loucura desse homem querer te agarrar à força! – Cati continuou, sem acreditar nas reviravoltas dessa história.

– Não interessa mais. – afirmei, me forçando a acreditar nisso – Eu só quero esquecer que tudo isso aconteceu e seguir com a minha vida.

– Bel, você tem certeza que quer continuar trabalhando nesse lugar? – Cati perguntou, afagando meus cabelos – Você sabe que poderia voltar pro seu antigo emprego a qualquer momento, não sabe?

– Catita, você me conhece. – levantei em direção à cozinha para pegar um copo d’água – Não vou deixar que isso interfira na minha carreira.

– O Fred anda perguntando por você. – ela lança a informação, analisando minha reação.

– Fred, o ex-quase noivo? – Jo pergunta para Cati, se sentando ao seu lado.

– O próprio. – ela afirma, ainda me encarando – Sabia que tive que segurá-lo pra que não viesse bater aqui? Quando soube que eu ia te visitar, enlouqueceu de vez. Disse que viria também pra conversar mais uma vez. Eu tive que acalmar ele por lá.

– Eu não posso brincar com o Fred, Catarina. – suspiro – Ele é um homem maravilhoso e merece alguém que o ame de verdade.

– Ai Bel, você tem que sair dessa! – Joana diz, determinada – Precisamos de ânimo! Você é uma mulher linda e jovem, tem a vida toda pela frente! Vamos esquecer os palhaços do Diego e do Gustavo por uma noite e curtir um pouco!

– Concordo com a morena. – Cati completa, eufórica – Vamos badalar! Estamos no Brasil! Precisamos nos divertir!

– Tem um barzinho incrível a algumas quadras daqui, você iria adorar, Cati! – Jo diz, entusiasmada.

– Podem ir, meninas. Eu vou ficar. – dou um sorriso torto e caminho para o quarto.

– Ah não, Maria Isabel! – Catarina esbraveja – Eu não me despenquei da Alemanha até aqui pra te ver nessa fossa!

– Catita, você vai ficar aqui por duas semanas. Prometo que te compenso durante esses dias. – ela faz bico – Mas hoje eu realmente quero ficar sozinha.

– Tem certeza, amiga? – Jo pergunta, cautelosa – Podemos te fazer companhia.

– Tenho sim. – afirmo, forçando um sorriso – Vão se divertir. Eu preciso terminar de revisar uns relatórios mesmo. Vou ficar por aqui com meus botões.

– Tudo bem então. – Cati se rende – Mas só vou te liberar hoje, ok?!

– Sim, senhora. – bato continência brincando e elas saem.

 

Poucos minutos após a saída das meninas, ouço a campainha tocar.

 

– O que vocês esqueceram, cabeças ocas? – abro a porta e me deparo com uma visita inesperada – O que você está fazendo aqui?

– Isabel, me perdoe aparecer sem avisar… – Gustavo parece envergonhado – Eu precisava conversar com você sobre o incidente de hoje e não poderia esperar até a segunda. – continuei o encarando, séria – E também achei melhor não termos essa conversa no escritório.

– Você tem razão. – assenti, ainda séria – Entre, por favor. – dou passagem para que ele entre no apartamento.

– Isabel, eu vou direto ao ponto. – respirou fundo – Eu preciso que você me perdoe pelo meu comportamento. Eu fui totalmente desrespeitoso e causei um desconforto desnecessário pra você. Não foi a minha intenção.

– Eu preciso que você pare com os flertes, Gustavo. – disse, firme – Eu deixei passar muitas vezes porque não queria ser indelicada com você e também porque isso não afetava o meu trabalho. Mas agora não posso permitir que continue. – ele abaixa o olhar – Eu fui constrangida diante de todos os supervisores por uma insistência sua em algo que não era necessário para o momento, sabe como isso pode prejudicar minha carreira? Sem mencionar que o Diego, o meu chefe, saiu da sua casa acreditando que nós estávamos tendo algo.

– Eu irei conversar com o Diego sobre isso e vou colocar tudo em pratos limpos. – ele soou sincero – Eu sei que poderia ter te prejudicado, Isabel, mas acredite que essa não foi minha intenção. Eu agi impulsivamente e eu prometo que isso não irá se repetir. Você seria capaz de me perdoar?

– É claro que sim. – respondo, calmamente – Todo mundo erra. Não há motivo pra não te dar uma segunda chance.

– Eu agradeço a sua compreensão, Isabel. – ele sorri e eu retribuo – Nos vemos na segunda, então?

– Sim, nos vemos na segunda. – abro a porta e ele se despede.

 

Gustavo não era má pessoa. Mas havia algo em suas atitudes que me confundia um pouco. Um momento era autoritário e dominador, sempre exibindo o que possui, em outro se torna meigo e compreensivo, depois impulsivo e inconsequente. Muitas características para uma só pessoa. Isso me incomodava e me fazia pensar em qual das personalidades desse homem eu deveria acreditar.

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