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Contratempo de Amar

Contratempo de amar – Capítulo VI

– Eu também estou contando os minutos pra você chegar! – afirmo eufórica ao conversar ao telefone com Catarina.

Ai, amiga! Eu nem acredito que eu consegui essa folga pra te visitar! – Catarina também parece empolgada – Mas como está tudo aí? E essa Joana? Já arranjou uma melhor amiga nova, não é?

Você vai adorar a Jo. – dou risada do ciúme sem sentido de Catarina – As coisas estão na mesma. Mas eu estou tentando ser indiferente à tudo isso… – digo, pesarosamente.

Esse é o problema, gatita… Você não pode ser indiferente à tudo o tempo todo.

Eu sei, eu sei… Mas por enquanto preciso disso. Pra manter a sanidade. – olho pra o relógio – Tenho que trabalhar agora. Me liga mais tarde? Pra confirmar o horário do voo e tal?

Ligo sim! Te amo, gatita! – Catarina se despede.

– Também te amo. Até mais tarde. – desligo – Nossa! Que susto! – exclamo ao me virar e ver Diego parado em pé na porta do meu escritório.

– Não queria te assustar. – diz, aparentemente envergonhado – Mas também não queria interromper sua conversa com seu namorado. – posso ouvir certo ciúme em sua voz e a ideia parece divertida.

– Meu namorado? – fico confusa, mas logo entendo – Ah sim, meu namorado… Não se preocupe, não interrompeu nada, já tínhamos terminado nossa conversa. – minto, o alfinetando propositalmente.

– Eu preciso do seu parecer no relatório do Cortez. – ele diz, soando enraivado.

– Já está terminado, enviei pro seu email agora mesmo. – Joana bate na porta que estava semiaberta e eu faço sinal para que entre.

– Perdão, não queria interromper. – diz ao perceber o clima.

– Não está interrompendo, Jo. – Diego responde, mais suave – A não ser que Isabel queira ligar pra o namorado em horário de serviço mais uma vez. Mas aí você vai precisar perguntar pra ela. – ironiza e sai da sala, batendo a porta com força.

– Seu namorado? – Jo pergunta, confusa – Mas você não tem namorado.

– Eu sei. – digo e logo caio na risada – Ele entrou aqui de fininho e pegou o fim de uma conversa minha com a Cati, deve ter pensado que era algum namorado.

– Nossa, eu não entendo vocês dois. – arregala os olhos e se senta – Vivem se engalfinhando. Por que você não resolve logo essa situação, amiga? Ninguém merece viver nesse pé de guerra. – aconselha.

– Ah, Jo! Eu já tentei falar tranquilamente com ele, mas ele não me escuta! – desabafo – Vive armado toda vez que olho na direção dele. Cansei de ficar remoendo isso.

– É, só que ele é o seu chefe… – ela argumenta, e talvez tenha razão.

– Que me demita se achar que deve. – cruzo os braços como uma criança emburrada – Mas ele não faria isso sem um motivo justo.

– Ai ai, vocês ainda vão me fazer ter uma úlcera nervosa… – ri – Ok, eu não vim aqui pra bater papo. O Gustavo mandou chamar você. – fala com insinuação.

– Ai Deus, o que será ele quer agora? – murmuro.

– Você sabe o que ele quer… – Jo faz caras e bocas e jogo uma caneta em sua direção, a fazendo rir.

 

Vou em direção ao escritório de Gustavo rogando para que ele não insinue nada. Eu estava tendo um dia muito divertido e não precisava me preocupar com os seus flertes à essa hora da manhã.

 

– Entre, Isabel! – Gustavo se levanta quando bato na porta.

– Joana disse que você queria me ver. – tento soar o mais indiferente que posso.

– Sim, eu queria saber como anda a sua supervisão do Cortez. – ele aponta a cadeira e eu me sento.

– Vai bem. Acabei de enviar o meu parecer final para o Diego. – respondo.

– Ótimo! Ótimo… – ele coça o queixo – Gostaria de discutir sobre seu parecer de forma mais detalhada. Você sabe que sou muito criterioso com os candidatos. – ele continua e eu não sei onde quer chegar.

– Eu imaginei que sim, Gustavo. Posso te apresentar os detalhes quando quiser, é só me dizer.

– Vou me reunir com os chefes de setor hoje à noite em minha casa para que eles me apresentem o parecer de seus candidatos e analisem algumas propostas de implantações. Você poderia comparecer na reunião?

– Eu? – pergunto, confusa – Não seria mais apropriado que o Diego falasse à respeito, já que ele é o diretor do meu setor?

– Conversei com o Diego e ele me disse que você está exercendo um excelente papel nessa supervisão. Não vejo motivos para não permitir que você apresente o parecer.

– Ele disse isso? – pergunto, surpresa – Bem, eu agradeço a oportunidade. Espero não desapontá-lo.

– Acho que seria muito difícil, Isabel. – Gustavo sorri – Enviarei um motorista às 20h.

– Estarei esperando. – aceno com a cabeça e saio da sala.

 

 

– O Gustavo tanto fez que conseguiu te levar pra casa dele, hein? – Joana alfineta, rindo e recebe uma blusa no meio do rosto enquanto reviro meus olhos.

– Eu só vou pra essa reunião porque “a”, é uma oportunidade incrível! Eu tenho dois meses na empresa e já fui convidada para uma reunião de diretoria e coordenação! – falo enquanto me visto – e “b”, porque vão ter várias pessoas lá, então não tem perigo do Gustavo se insinuar.

– Muito legal do Diego te colocar bem na fita, né… – comenta, como quem não quer nada.

– É. – respondo, reflexiva – É isso que não entendo, sabe? Ele me ignora, depois faz uma coisa dessas…

– Ele está confuso, Bel. – Joana o defende descaradamente.

– Ele não é o único. – suspiro – Não quero que ele finja que está tudo bem. Só quero que ele entenda que pra mim também não está.

– Vamos dar tempo ao tempo, né? – Jo me abraça – Ainda bem que você tem a mim, a Cati, e o seu namorado invisível pra desabafar. – brinca.

– Palhaça. – dou risada e o interfone toca – Deve ser o motorista. Me deseje sorte!

– Você não precisa de sorte. – pisca e eu saio.

 

Ao chegar na casa de Gustavo, me surpreendo com o luxo do lugar. Somente o jardim imenso e colorido com uma bela fonte compondo a decoração era pelo menos duas vezes maior que todo o meu apartamento. Era uma casa rústica e ao mesmo tempo refinada. Sabia que Gustavo tinha dinheiro, mas ver com os meus próprios olhos era totalmente diferente. Pela sua casa, ele realmente era muito rico. Muitas mulheres deveriam estar aos seus pés, então eu me pergunto o que o motivaria a me cortejar. Talvez fosse um daqueles galãs insaciáveis, querendo que eu fosse o seu mais novo brinquedinho.

 

– Bem-vinda, Isabel. – Gustavo beija a minha mão quando me ajuda a descer do carro.

– Obrigada. – sinto minhas bochechas queimarem. Ele realmente sabe ser galante – Bela casa.

– Muito obrigada. – sorri – Vamos entrar, os outros já estão nos aguardando.

 

A reunião durou algumas horas e muitos assuntos foram abordados. Ao espiar Diego estralando o pescoço, dou um sorriso, mas logo desvio o olhar quando escuto meu nome ser mencionado por Gustavo.

 

– O que você acha dessa questão, Isabel? – Gustavo pergunta.

– Eu acho que não devo opinar sobre isso. – respondo, tentando ser comedida, afinal, havia ido ali apenas para apresentar um parecer sobre um contrato, e não para palpitar nas opiniões dos supervisores.

– Não seja tola, Isabel, você tem capacidade para participar dessa decisão. – Gustavo diz, me encorajando.

– Gustavo, uma advogada recém contratada deveria ter poder de voto numa decisão da coordenação? – Um dos diretores de setor se pronuncia, e eu sinto o sangue fugir do meu rosto. Foi rude, porém ele estava certo.

– A senhorita Ávila tem um currículo impecável. Não vejo porque deixá-la de fora. – Gustavo dá de ombros – E não estou pedindo que vote, apenas que dê a sua opinião.

 

Diego me encara e provavelmente nota como estou totalmente desconfortável naquela situação. Os demais chefes se entreolham, questionando o excesso de confiança de Gustavo em mim, e eu percebo que sou o centro das atenções. Droga, o que eles estão pensando?

 

– Eu acho que já conseguimos material suficiente pra darmos continuidade às atividades desse mês, não é Gustavo? – Gustavo olha para Diego e assente, insatisfeito – Está tarde, é melhor irmos para nossas casas.

– Creio que sim. – Gustavo responde, entendendo que Diego apenas estava colocando panos quentes na situação – Estão liberados. – todos começam a sair.

– Gustavo… – o chamo, ainda digerindo a situação constrangedora – Obrigada pelo convite para a reunião. Mas eu realmente não deveria opinar em assuntos tão importantes.

– Você mereceu estar aqui. Esses homens são uns dinossauros, não leve isso pro lado pessoal.

– Obrigada. – dou um sorriso, sinceramente. Gustavo era insistente, porém era um homem doce.

– Eu estou indo embora. – Diego se aproxima – Precisa de carona para casa, Isabel? – oferece, aparentemente receoso.

– Não. – respondo séria, porém em tom amigável – Já pedi um táxi, ele já deve estar chegando.

– Tudo bem. – ele assente – Boa noite. E boa noite, Gustavo.

– Boa noite. – murmuro.

– Boa noite, Diego. Obrigado pela ajuda. – Gustavo o cumprimenta e ele sai, nos deixando sozinhos na imensa sala.

– Posso te oferecer alguma bebida enquanto espera? – Gustavo pergunta, indo em direção ao bar – Tenho um vinho tinto excelente em algum lugar por aqui…

– Eu não bebo, obrigada. – agradeço, sorrindo.

– Hum. Você não bebe, tem um namorado… O que mais não sei sobre você, senhorita Ávila? – se aproxima e por um momento eu sinto desconforto percebendo que estamos completamente sozinhos ali.

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