Construindo bons personagens
Uma personagem bem construída é fundamental para o funcionamento de uma história e de sua narrativa. As personagens marcantes conseguem provocar na audiência as emoções desejadas, seja por atração ou por repulsa, amor ou ódio, preocupação ou indiferença, arranca bons risos.
Como deve ser sua personagem?
Toda personagem em uma história está em busca de algo. A história baseia-se normalmente sobre uma das personagens que durante todo o enredo passa por conflitos, e batalha bastante até chegar aos seus objetivos. A esta personagem central dá-se o nome de protagonista, pois sua vida e ações são responsáveis muitas vezes pelo rumo da história e das demais personagens. É muito importante que sta personagem principal provoque empatia com o público. Ao construir sua personagem principal pense que ele será responsável por grande parte da audiência.
Seu protagonista precisa ter objetivos fortes e ser marcante. Suas características podem ser comuns e suas atitudes não podem ser tão previsíveis.
Anteposto ao protagonista está o antagonista. O(s) antagonista(s) precisa ter um bom motivo para se opor. Não quer dizer que ele tenha que ter razão nas suas atitudes, mas precisa deixar claro ao público sobre suas ideias.
O conflito precisa ter sentido – ser lógico e com motivos racionais.
Personagens secundárias: as personagens secundárias representa parte importante na composição das histórias que se dedicam a apresentá-las. Elas são responsáveis por incorporar outros temas dentro da obra e muitas vezes são peça chave no desfecho do conflito principal. As personagens principais tornam a história mais extensa e permite a abordagem de diversos temas.
Como criar um personagem:
Defina o cenário. Seja no papel ou na tela, seu personagem deve existir em algum lugar, mesmo que esse lugar seja o vazio. Pode ser um apartamento em Paris, ou um estacionamento em São Paulo. Isso não apenas mostra o lugar do seu personagem, como irá também ajudar a defini-lo.
Defina suas necessidades. Se você está disposto a criar um personagem, significa que você tem ideia de uma história em mente.
Se você quer criar uma extensa e épica narrativa como O Senhor dos Anéis, você irá precisar de inúmeros personagens – alguns bons, maus, masculinos, femininos, ou até aqueles que não são nenhum desses.
Se você está criando uma narrativa íntima, pode ser que não seja preciso mais que um personagem.
Pense criativamente. Ao contrário da primeira coisa que vem em mente quando se pensa em um personagem, nem todos eles são seres vivos. Como exemplo, pode-se citar O Senhor dos Anéis, onde a montanha Caradhras exerce a função de um personagem cheio de malícia. Em O Velho e o Mar de Hemmingway, um peixe espada é um dos personagens principais.
Comece com um arquétipo (modelo). O personagem que você precisa depende da sua narrativa, mas ao começar com uma vasta gama de opções, você pode tomar decisões que pouco a pouco irão definir as características do seu personagem, como um escultor que lapida pouco a pouco o mármore bruto para revelar mais tarde sua obra final: a escultura.
Você quer um Protagonista (herói) ou um Antagonista (vilão)? Talvez você precise de um personagem secundário, como um homem de confiança, um melhor amigo, um amante, ou um parceiro. Note que às vezes, o protagonista é visto como o vilão, como Kong, em King Kong.
Você também pode precisar de anti-heróis, como Clint Eastwood em O Justiceiro Solitário, vilões carismáticos como Lennie Small em Ratos e Homens; excêntricos como Jack Sparrow em Piratas do Caribe; a mulher fatal como Jessica Rabbit em Uma cilada para Roger Rabbit; amigos traiçoeiros como Iago de Othello ou Petyr Baelish de A Guerra dos Tronos; ou talvez um guia trapaceiro como Sméagol em O Senhor dos Anéis. Cada um desses personagens tem um arquétipo característico, que foi se desenvolvendo enquanto a narrativa ia se construindo.
Use características específicas. Uma vez que o arquétipo de seu personagem foi definido, você pode atribuir traços e características, e pouco a pouco começar a revelar sua verdadeira personalidade, como a escultura escondida no mármore bruto. Pergunte a si mesmo o que seu público quer sentir em relação ao seu personagem: amor, pena, repulsão, compaixão – ou até mesmo nada. Projete seu personagem baseado no resultado que você deseja.
Estabeleça se seu personagem é masculino ou feminino. Isso mostrará o ponto de vista geral dele e revelará características únicas dependendo do arquétipo usado, podendo até gerar conflitos para o personagem e sua própria história, quando a sociedade o julgar por suas ações, tanto para o bem ou para o mal. Por exemplo, um homem arrogante é visto de forma diferente do que uma mulher arrogante.
A idade é crucial. Personagens mais velhos geralmente são vistos como mais sábios, mas também podem ser abordados de forma diferente. Um jovem vilão geralmente é retratado como a “ovelha negra” da família. Um velho vilão pode ser tudo isso, mas devido às circunstâncias da vida – dando a ele mais profundidade e complexidade. O jovem herói idealista provoca um sentimento diferente que do velho herói desgastado pelo tempo que está apenas fazendo a coisa certa. E quando eles encontram seus finais na narrativa, as reações causadas também serão diferentes.
Algumas vezes personagens também podem ser contraditórios. Dom Quixote era um velho excêntrico que gastou sua vida em um quarto lendo contos de cavalaria, e era lamentavelmente ingênuo. Porém foi essa ingenuidade que o levou a procurar por aventuras e amor, e a criar situações fantásticas do mundo ao seu redor quando a realidade não condizia com suas expectativas.
Defina o propósito ou objetivo de seu personagem. Em um conto de terror, o protagonista quer sobreviver a todo o custo – por exemplo, Ripley em Alien; em um conto de romance, o antagonista quer impedir o herói de alcançar seu “verdadeiro amor”, como o Príncipe Humperdinick em A Princesa Prometida.
A maneira que seu personagem irá lidar com os inevitáveis obstáculos que estão entre ele e seus objetivos irá defini-lo. Em narrativas complexas, tais obstáculos se chocam com objetivos e feitos de outros personagens que estão no caminho, gerando assim mais ação e reviravoltas, aumentando a tensão na narrativa.
Dê propósito a seu personagem: Para realmente desenvolver um personagem, dê a ele uma personalidade que vai além da própria narrativa. Certos traços da personalidade podem nem chegar a fazer parte da narrativa diretamente, mas irão ajudar a mostrar as decisões que seu personagem irá fazer no futuro.
Faça uma lista de prós e contras, e tenha certeza de que ela esteja balanceada. Em outras palavras, não tenha mais de dez contras para cada pró e vice-versa. Até os personagens mais ranzinzas gostam de alguma coisa, mesmo que sejam apenas eles mesmos.
O propósito de um personagem é feito de suas características complementares, que podem levar a ações inesperadas, fazendo com que a opinião do público mude sobre ele. Por exemplo, o personagem que ama a liberdade provavelmente não goste de autoridades, como policiais; personagens que gostam de grandes banquetes ou carros do ano não irão gostar de frugalidades ou limitações. Se o seu personagem é cruel, mas inesperadamente resgata uma criança indefesa de um prédio em chamas, o público é forçado a reformular toda a opinião sobre ele.
Atribua peculiaridades a seus personagens. Bons hábitos, maus hábitos, ou apenas coisas que o personagem não para de fazer sem algum esforço. Tais hábitos podem ser inofensivos, como o roer de unhas, (que podem indicar preocupação); ou pentear os cabelos obsessivamente (indicando vaidade ou insegurança); ou um sério vício em drogas (mostra uma pessoa que evita responsabilidades e anseia por fugir de problemas); ou um desejo suicida (alguém sem esperança e desamparado).
Dê um lar a seu personagem. Trabalhe com as características externas de seu personagem: onde ele vive, como é esse lugar, se ele tem ou não animais de estimação. Ele vive em uma casa bem cuidada de um bairro nobre, ou em um casebre caindo aos pedaços no subúrbio? A maioria desses detalhes que você escolhe deve mostrar alguma coisa sobre o personagem, ou a história dele.
Desenvolva seus medos, motivações, e maiores segredos. Desenvolvendo tais características, cria-se um arquétipo muito mais realista que dará origem a um personagem melhor construído.
Fique atento / Dicas:
O tipo de personagem que você cria determina como a narrativa irá se desenvolver. Se os personagens principais estão bem alinhados com seus propósitos, a narrativa irá começar superficialmente, e o personagem irá tender a se harmonizar com o ambiente e os outros personagens ao seu redor. Se os personagens estão descentralizados, um conflito irá se desdobrar desde o início, resultando em obstáculos constantes para eles no desenrolar da obra.
Não entregue tudo sobre o personagem logo de início. Ao menos que não seja do feitio do personagem manter segredos, faça com que ele seja um pouco misterioso. Dê a seu público enigmas para serem desvendados nas entrelinhas. Apenas tenha cuidado para não fazê-los muito misteriosos.
Lembre-se: Esse processo pretende fazer com que você crie um personagem que seja mais ou menos uma pessoa real. Se necessário, atribua ou remova os passos antes citados para criar seu personagem.
Observe as pessoas ao seu redor; seu tio José ou sua tia Maria podem acabar entrando em uma de suas histórias. Ou você pode acabar misturando os dois, e criar o tio José Maria para sua narrativa.
Quando pessoas lhe contarem histórias interessantes, ouça-as! Sendo elas verdade ou não. Quem sabe? Você pode arranjar um personagem perfeito na filha da ex-namorada do seu pai que matou o marido que a maltratava.
Embora não seja necessário trabalhar esses passos na ordem em que são apresentados, você pode achar muito mais fácil desenvolver a personalidade de um personagem antes mesmo que você descubra como eles se parecem.
Se você está tendo problemas em criar personagens coadjuvantes, use estereótipos e exagere-os.
Exemplo: Velha bibliotecária que se tornou amarga depois que seu marido a espancou. Ela constantemente teme que ele algum dia irá encontrá-la.
Ou, ao invés do exposto acima, use estereótipos e inverta-os.
Exemplo: Velha bibliotecária que age como chata porque acha que deve agir assim. Na verdade, ela é aquele tipo de pessoa que ama cachorrinhos e sorvete, e é o tipo de senhora que você chama de “vovó”, mesmo que ela que não seja seu parente.
Fonte: http://pt.wikihow.com/Criar-um-Personagem-Fict%C3%ADcio
DICA: Você pode conhecer arquétipos de personagens através do link: Arquétipos para a Construção de Personagensx – por Sandro Massarani