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Lágrimas do Céu

Lágrimas do Céu – Capítulo I

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Era noite quando William resolveu andar pela cidade, sozinho e pensar um pouco na vida. Caminhava sem rumo e não esperava encontrar ninguém, tinha apenas a lua como sua companheira. Tem cabelos pretos, curtos e ondulados, mas já possui a marca da idade que avançava deixando uns fios brancos, que dava certo charme. A noite estava serena, com uma leve brisa. Ele parou perto de um lago e ficou a observar o reflexo da lua na água e se lembrou das vezes que passeou de barco por ali, costumava ir com sua ex-namorada, que pensou que poderia ser sua noiva, mas a vida resolveu deixar-lo solitário.

Seu ultimo romance durou quase dois anos, lhe rendeu um noivado. Ela era de uma boa família tradicional, bem educada e possuía elegância ao andar. Adoravam fazer passeios a dois pela cidade, mas ela se queixava dele trabalhar muito, isso a irritava. Ele achou que o trabalho acabou atrapalhando a sua vida. A data do casamento já havia sido marcada, porem um desentendimento em uma tarde de terça-feira fez tudo vir a baixo. Eles haviam saído para comemorar a promoção dele na empresa, estavam muito felizes quando aconteceu uma briga, ele havia recebido um telefonema e ele teve que deixá-la para ir correndo para o escritório resolver um problema. Isso estava ocorrendo com freqüência, mas depois desse episódio nunca mais se falaram e até hoje ele tem o anel dela que havia sido deixado na mesa do restaurante naquele dia.

Não sabia por que ainda pensava nela, já fazia oito anos que terminaram, mas o rosto dela ainda vagava em seu pensamento, principalmente quando estava assim, sozinho e sem nada para fazer. A cidade estava calma para ser uma sexta-feira e ainda mais a noite. De onde estava dava para ver prédios e algumas casas, bem alinhadas que apresentava harmonia e beleza à cidade. Pensou em ir a algum restaurante, mas para que, se já perdera a fome, mesmo por que seu dia foi cheio, com uma reunião que cansou muito a mente. Mas, no momento não queria pensar no trabalho, que era a única coisa que lhe restou na vida.

Também não queria pensar em antigos amores, queria apenas seguir a vida, mesmo que solitário. William estava tentando preencher a mente com coisas positivas, mas era difícil. Pois, o único momento que tivera de felicidade foi ao lado de Helena. Ele tinha pensado até em ter filhos com ela, mas foi tudo em vão. Parou um pouco com seus pensamentos e resolveu apenas escutar o som do silencia que pairava sobre o local. Porem, escutou uma pessoa chorando, olhou ao seu redor a fim de saber quem era. Olhou um pouco mais adiante e encontrou uma mulher com as mãos no rosto. Parecia ser jovem, e ele logo foi ao encontro dela.

– Moça, o que houve? – William parecia preocupado.

– Não é nada – a moça virou o rosto para o gentil homem que lhe dera um lenço azul claro que retirara do bolso, mas antes de entregar a ela, enxugou suas lágrimas com delicadeza – Obrigada, não se preocupe comigo, vou ficar bem.

Ela era uma jovem bonita, magra, com longas madeixas loiras com leves cachos. Mesmo com o rosto vermelho por ter chorado, William não pode deixar de ver que possuía um rosto delicado, com pele branca e belos olhos azuis. Eles ficaram ali por um tempo sem falarem absolutamente nada um ao outro. Ouviam apenas o som do vento a bater nas frondosas arvores que circulavam o local.

– Desculpe-me a intromissão, mas poderia contar o porquê da senhorita estar aqui á essa hora e dessa forma? Com essa tristeza no olhar – ele a olhava atentamente com um ar preocupado, como se fosse um pai falando com a filha.

– Já disse ao senhor, não precisa se preocupar. Só quero ficar aqui um pouco e… depois irei logo para casa – ela deixou duas ultimas lagrimas caírem sobre seu belo rosto.

– Tudo bem se não quiseres me contar, mas eu só pretendo ajudar você. Eu gostaria de levá-la para casa se assim desejares.

– Obrigada, mas não há necessidade. Posso lhe dar um abraço? – a jovem se sentiu acolhida pelo gentil homem.

Ele balançou a cabeça positivamente e deu um forte abraço na jovem, isso o fez sentir um leve aroma de rosas que exalava do corpo da jovem. Ela deu um pequeno sorriso, meio tímido, pegou sua pequena bolsa, agradeceu-o e saiu sozinha até sumir na escuridão da cidade.

William ficou olhando para o lado ao qual a jovem havia ido embora, queria que ela voltasse e lhe contasse o que se passava, mas isso não aconteceu. Pensou em ir atrás dela, mas seria intromissão de mais da parte dele, por isso resolveu apenas observá-la. Procurou o seu lenço, porem percebeu que ela o havia levado. Encontrou apenas uma delicada pulseira dourada, com pedrinhas brancas em formato de coração, então pensou que poderia ser da jovem mulher. Guardou-a no bolso do casaco como uma lembrança daquele dia, mas também guardará a imagem dela em sua mente.

Deu mais uma pequena volta pelo local, porem logo foi para casa, à hora já estava avançada. Para que pensar nisso se não trabalharia no outro dia, faria como todos os sábado, acordar, tomar um belo banho e vestir sua roupa de caminhada. Não tomava café em casa, preferia ir até a lanchonete perto do prédio onde morava. Era chato comer sozinho, na lanchonete pelo menos tinha a companhia do seu amigo, o dono do local.

Ao chegar ao seu apartamento, retirou os sapatos, o casaco e vestiu sua roupa de dormir. Demorou um pouco para adormecer, pois ainda possuía a imagem da jovem em sua mente. Pensou se há encontraria outro dia, gostaria de entregar a pulseira dela e saber se está bem. Ele tinha se esquecido de perguntar o nome dela, como a procuraria e não sabe onde mora seria quase impossível ocorrer um reencontro. Adormeceu com um ar sereno no rosto.

William acordou na manhã de sábado com um susto ao ouvir o telefone tocar fortemente, ele levantou rapidamente da cama, mas não conseguiu atender. Observou que a sua mãe havia ligado. O que será que ocorrera para ela ligar assim tão cedo? Olhou o relógio, que marcava oito horas de uma manhã ensolarada. Pensou em ligar para ela, porem resolveu antes tomar banho e se preparar para a sua caminhada.

Pegou sua toalha e se dirigiu ao banheiro, ele é branco e magro, mas não possui músculos. Quando entrou no chuveiro escutou mais uma vez seu telefone tocar, pensou em deixar para lá, mas poderia ser sua mãe ligando novamente. Enrolou-se na toalha rapidamente e conseguiu atender a ligação:

– Alo! Mãe porque ligou tão cedo, sabe que eu saio para minha caminhada – disse com ar um pouco irritado.

– Eu sei filho, por isso eu liguei cedo. Você não dá mais noticias suas e durante a semana está ocupado no trabalho, foi à única forma de me comunicar – ela parecia preocupada.

– Estou bem mãe, não precisa se preocupar comigo. Estou bem de saúde, o trabalho anda bem. Estou tomando conta muito bem da empresa que foi do meu pai – ele queria terminar logo aquela conversa.

– Tudo bem meu filho, estou bem também, mas com saudade de ti. Quando vens aqui em casa? – falou com um pouco entristecida.

– A senhora sabe que ando trabalhando muito, quando der lhe farei uma visita.

– Espero que seja em breve. Bom, não vou tomar mais o seu tempo. Eu te amo meu filho, fique bem.

Ele nunca foi muito de conversar com a mãe e depois que o pai dele faleceu o diálogo entre os dois ficaram menos freqüentes. Ele tinha pensado em voltar para a casa da mãe, pois apenas ele é o filho não casado, nem tem filhos. Porem lembrou que não possui uma boa amizade com seus irmãos e com o restante da família. Deve ser por isso que não mantém muito contato com eles, mas não poderia deixar de visitar sua querida mãe. Marcaria um encontro com ela em algum restaurante e conversar mais a vontade. Deixou o telefone na sala e voltou para o seu banho, sem demora ficou pronto e resolveu descer do prédio o mais rápido possível. Caminhou como sempre fez até chegar a querida lanchonete Il Caffè, logo que chegou foi recebido pelo velho amigo italiano.

– William! Como sempre veio tomar seu café aqui – o senhor falou sorridente.

– Sim, é sempre um prazer vir aqui. Como o senhor está? – William retribuiu o sorriso.

– Hoje vou fazer companhia ao amigo, se assim permitir.

– Claro que pode, nem precisava perguntar.

Os dois ficaram um tempo tirando conversa fora como se fossem dois amigos de infância que fazia muito tempo que não se viam. William conheceu Jeremias através do seu pai e logo tratou de fazer amizade com o velho italiano que adorava contar suas histórias. Apesar da idade avançada, possuía uma pequena lanchonete padaria que dividia o comando com a filha e tinha a esposa sempre perto. Jeremias tem uma bela família que deixa William com um pouco de inveja, pois apesar de ser rico, não construiu uma. Nem ao menos consegue conviver com a família que sua querida mãe formou.

Agradeceu a companhia do amigo e saiu para sua caminhada matinal. Ali perto tem uma bela praça, arborizada e com uma boa pista para corrida ou caminhada. Algumas crianças estavam a brincar no escorrego e no balanço, mas William deixou-os para lá e resolveu apenas sentir o vendo sobre o seu rosto enquanto dava uma corrida não muito forte, mais devagar pela pista. O sol estava brilhante no céu, deixando o dia quente, mais bonito. Uma das coisas que William se preocupa, além da sua empresa é da sua saúde. Não faz atividade física por beleza, mas sim por saúde. Desde que seu pai morrera de enfarto do coração ele resolveu retomar um velho habito, que é o da corrida ao ar livre. Faz isso pelo menos três vezes na semana, mas quando está cheio de tanto trabalhar, ao fim da tarde dá uma corridinha pela praça.

A manhã já estava avançada quando ele parou sua atividade e comprou uma água de coco. Sentou em um dos bancos de pedra e pensou em fazer uma visita à mãe, mas não queria encontrar mais ninguém da família, apenas ela. Pegou o telefone, mas desistiu da idéia. Lembrou que era sábado, o dia em que ocorre reunião de almoço na casa da mãe. Passaria mais um dia solitário dentro do seu vazio apartamento, pensou em ir comer em algum dos restaurantes da cidade, mas sozinho não havia graça alguma.

Ele resolveu ir para casa, pedir alguma coisa para comer e assistindo a TV, pois lembrou que logo iria começar o jogo de futebol, o campeonato Europeu. Esporte era a única coisa que consegui tirar a sua mente dos problemas habituais. Não era o que pretendia para um belo dia de sábado, mas era o que tinha para o momento.

Não demorou muito para sua comida chinesa chegar a poucos minutos do começo do jogo, mas ao abrir a porta teve uma surpresa inesperada. Seu amigo John entrou dando-lhe um belo abraço alegre, logo depois de William pegar e pagar por sua comida.

– William! Que prazer vê-lo. Ainda passa os dias de sábado em casa, o que está fazendo? – o amigo entrou e pendurou seu boné no porta casacos ao lado da porta.

– Nada de mais, só assistindo o jogo. Aceita um pouco de comida chinesa – ele falou de forma gentil.

– Não obrigado, você sabe que eu não como essa coisa crua ai – os dois riram ao mesmo tempo.

– O que fazes aqui na cidade? Não o esperava por aqui – William falou de uma forma não muito educada, pois possuía comida em um canto da boca.

– Eu vim ontem para uma entrevista de emprego e para ver umas coisas para o meu casamento. Inclusive para lhe entregar isto.

William ficou surpreso ao receber um envelope branco perola com uma fita vermelha ao redor. Ele abriu e pode observar que era um convite de casamento, mas não qualquer convite. Nele estava escrito:

Querido Sr. William Burk,

Gostaríamos de dividir com você um dos momentos mais especiais de nossas vidas. O escolhemos para compor o nosso casamento e destinamos a você o papel de ser o nosso padrinho. E como nada na vida é fácil, a vida de padrinho também não é!

Você é responsável, de agora em diante por…

…nos ouvir quando precisarmos desabafar sobre o casamento.

… nos aconselhar.

… nos lembrar que fomos feitos um para o outro.

… nos visitar sempre que possível, levando de presente o sorriso e  abraço mais sincero do mundo.

Você aceita esse desafio?

Com carinho,

John e Izzie

William agradeceu o convite e aceitou de imediato, mas ficou surpreso, não esperava que o amigo se casasse tão cedo. Mas gostou da frase no convite “nos visite sempre que possível”, pois ele é um homem ocupado para realizar visitas e John sabe bem disso. Os dois são amigos há muito tempo se conheceram, isso ocorreu na época da faculdade, William cursando administração e John direito. Foi através de um amigo em comum aos dois que foram apresentados e a amizade acabou surgindo naturalmente. Mas, uma coisa William não havia percebido, não ligou o nome da noiva à pessoa então resolveu indagar ao amigo:

– Não sabia que estava noivo, mas quem é a mulher que conseguiu fisgar seu coração? – os dois riram.

– É Izzie, você a conhece. É a morena que estava um ano à frente a mim e que também cursava direito – disse John ainda sorridente.

– Mais é claro, como não. Que sorte a sua, ela é filha de um dos maiores advogados dessa cidade. Sem contar que ela é muito bonita, me desculpe à indiscrição.

– Tudo bem, então você aceita mesmo ser o meu padrinho? – ele falou para o amigo estendendo a mão.               – Como poderia não aceitar tão ilustre e prazerosa proposta, não posso perder o casamento do meu grande amigo. Ainda mais em um lugar privilegiado

– William retribuiu a ação do amigo apertando calorosamente a mão dele.

Os dois amigos ficaram conversando por horas, assistiram ao jogo e se divertiram da forma que os homens mais sabem fazer. Bebida, algumas comidas e um jogo de futebol que não acabou nada bem para o time da casa, mas isso erra o que menos importava. William estava muito feliz em reencontrar o velho amigo que não via a algum tempo, pelo que se lembrava foi logo após a saída de John da cidade. Porem, saber que o amigo tinha uma oportunidade de voltar a viver na mesma cidade que ele o fez ficar feliz novamente. Para um velho homem solitário isso trazia certo conforto. O dia terminou muito bem, melhor do que o esperado, com uma leve chuva deixando a cidade fria e boa para um belo descanso embaixo do edredom, e foi isso que William fez.

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