Capítulo 9 – Três Jogadas

Três Jogadas.

Capítulo 09.

“O mal que fazemos não atrai contra nós tanta perseguição e tanto ódio como as nossas boas qualidades.”

François La Rochefoucauld

Cena 1. Rio de Janeiro – Laranjeiras / Lanchonete / Manhã

Continuação imediata da cena anterior.

Na hora que ela vai procurar o dinheiro, uma moeda cai perto da mesa de Amanda.

Amanda se agacha: Deixa que eu pego. – Stacy pega a moeda e ergue a cabeça.

Stacy perplexa: Gustavo?! O que você está fazendo aqui? – Amanda se senta à mesa. – Com uma garota?! Então é essa a sua ocupação com a faculdade, seu canalha?! – ela se enfurece.

Foca em Stacy, furiosa. Gustavo fica sem saber o que dizer.

Gustavo se levanta: Não é nada disso do que você está pensando, Stacy.

Stacy furiosa: Eu não estou pensando, eu estou vendo. Que decepção, Gustavo. – Gustavo encosta em Stacy. – SAI! – ela se afasta.

Gustavo tentando se explicar: Ela é da faculdade, a gente tá conversando sobre a faculdade. Não é nada disso, Stacy.

Stacy chorando: Sempre as mesmas desculpas, sempre as mesmas respostas prontas. Sempre a mesma história. Sempre o mesmo Gustavo. Eu não quero ouvir suas desculpas e muito menos suas explicações. Bom ESTUDO pra você! – ela pega o copo de suco e taca na roupa de Amanda.

Stacy sai furiosa.

Amanda se levanta: MALUCA!

Stacy para: Não queira conhecer a maluca!

Um clima tenso predomina. Amanda olha para Gustavo.

Gustavo desvia o olhar: Vai ficar me encarando?

Amanda furiosa: Por que você não me contou que tinha namorada, Gustavo?!

Gustavo fica sem reação.

Cena 2. Rio de Janeiro – Laranjeiras / Hospital Santo André / Manhã

Marta e Adriana ainda se encaram. Marta se ajeita na cama.

Marta: Conversar comigo? Nunca temos assunto.

Adriana se afasta um pouco: Eu quero te pedir perdão pelo o que fiz. Eu sei que tudo o que fiz foi errado. E eu nunca vou me perdoar por isso.

Marta se ajeita novamente: Que bom que sabe. Eu passei minha vida toda dizendo que jamais lhe perdoaria. A sua crueldade foi imensa.

Adriana: Eu sei. Mas eu não conseguia olhar para aquela criança sem relembrar de tudo o que aconteceu.

Marta: Você foi egoísta. Pensou só em você e esqueceu-se de uma criança que veio a esse mundo sem culpa, com inocência.

Adriana chorando: Eu não ia conseguir criá-la sem lembrar-se do traste. Toda vez que eu olhasse para ela eu ia me lembrar, e não ia suportar. Ia enlouquecer!

Marta: Imbecil esse que você deu uma segunda chance.

Adriana: A gente tem que levar mais de um tapa pra aprender a bater. – ela pega nas mãos de Marta. – Me perdoa. Por favor!

Marta se comove: Você não precisa do meu perdão. Eu sempre te amei, mesmo com todos os seus defeitos. Sempre fui obrigada a criar e recriar histórias para aquela criança inocente que não tinha culpa de tamanho sofrimento. – ela começa a chorar. – Mesmo sabendo que você não precisa, eu te dou o meu perdão! Eu quero morrer em paz!

Adriana limpa as lágrimas: Eu sei que não fui uma boa mãe, mas agora eu aprendi a lição e sei que vou ter que encarar meu passado. – Ela se aproxima de Marta e pega em suas mãos. – E outra: você não vai morrer! Você vai se curar. Vai ficar boa e logo vai sair daqui, pra curtir mais um pouco da vida.

Marta sorri: Você não deve o pedido só a mim. A sua filha também merece te conhecer e saber que a mãe dela não está morta. Ela está aqui no hospital. Procura ela!

Adriana se lembra de Stacy e fica ali pensativa. Ela e Marta se entreolham, sorrindo.

Cena 3. Rio de Janeiro – Catete / Apt. da Branca / Manhã

Branca está lendo um livro. Tóta chega, com um uísque.

Tóta bebendo: Encontrei com o Jordan na viagem.

Branca fecha o livro: Jordan Pasquim?

Tóta senta ao lado da mulher: O próprio. – ele coloca o copo na mesa – O ex-noivo da Clarice.

Branca se levanta: Eu tenho um nojo tão grande desse homem, Tóta. Foi ele quem matou a minha menina, destruiu a vida dela. E eu não vou perdoar esse cara nunca!

Tóta: Eu até hoje não entendo por que você sempre chamou a Clarice de sua menina.

Branca: Você sabe que eu era a melhor amiga da Sílvia, a mãe dela. Sempre tive um carinho enorme por ela. E a Clarice sempre buscava a mim, quando brigava com a mãe.

Tóta: Elas não tinham uma boa relação, né?

Branca: A Sílvia era uma mulher difícil de lidar, mas era um amor de pessoa. Mas ela era muito egocêntrica. Uma pessoa muito centralizada, tudo com ela, tudo por ela, tudo para ela. Já a Clarice não era tão egoísta assim.

Tóta: Eu me lembro de pouca coisa. O que lembro é que o Jordan era bem agressivo e batia na Clarice. Uma pena uma jovem ter tido um fim tão trágico. E a irmã dela, Luana. Por onde será que ela anda?

 

NO CEMITÉRIO…

Clarice chega ao cemitério. Toda de preto e com rosas ela vai até o túmulo. No instante que ela passa entre os túmulos e covas, uma ventania passa, levantando folhas e galhos secos. Quando Clarice passa, na vidraça de um dos jazigos, é possível vê uma sombra e uma pessoa, que não se sabe o sexo, aparentemente vestida toda de preta. Clarice se arrepia, olha para trás, mas continua andando. Até chegar no túmulo.

 

CLARICE GALVÃO

☆ 1958 – † 1980

Clarice coloca as flores no túmulo: Descanse em paz, irmã.

MAIS TARDE…

Cena 4. Rio de Janeiro – Leme / Apt. Da Clarice / Tarde

Clarice chega em casa. Paloma almoça sozinha, pensativa. Clarice caminha até a copa.

Clarice chega: Paloma! Cadê Kiara?

Paloma vira-se: Saiu era de manhã.

Clarice estranha: Não disse para onde ia?

Paloma: Não. Só disse que ia sair. Perguntou se eu queria ir, eu disse que não. Por que a pergunta?

Clarice ainda estranha: Nada. E Leandro, não está em casa? Ele tinha ido numa empresa de perfume. Sabe se já voltou?

Paloma se levanta: Voltou não. Ah, mas a Janaína disse que ele ligou avisando que iria almoçar fora. Parece que encontrou tal de Jordan – Clarice gela. – e que iria almoçar com o homem. O tio depois de velho tá trocando de time?

Clarice: Nem brinca com isso. – ela ri para disfarçar a tensão. – É um amigo dele de trabalho. Só está você em casa? E Júlia e Igor?

Paloma: Igor está trancafiado no quarto como de costume.

Clarice: Fala da Júlia. Não tenta protegê-la. Onde ela está?

Paloma: No quarto com o tal Luigi, o garoto que ela conheceu na festa.

Clarice fica perplexa. Ela ajeita sua bolsa e sai.

No quarto de Júlia…

Clarice invade o quarto. Júlia e Luigi estão deitados na cama.

Clarice invade o quarto e encara os dois: Atrapalho alguma coisa?

Júlia se assusta: Mãe! Isso é jeito de entrar no meu quarto?

Clarice sorri: Eu sabia que nada demais estaria acontecendo aqui dentro. Vim conhecer o rapaz melhor.

Luigi se levanta sorridente: Prazer, Luigi.

Clarice o encara por um tempo. Júlia estranha.

Júlia estranhando: Aconteceu alguma coisa mãe?

Clarice assustada: O rosto dele… é bem familiar. O seu rosto não me é estranho. Parece que eu te conheço de outro lugar. – Silêncio por um tempo. – Sina minha. – ela sorri e sai.

Júlia e Luigi se entreolham. Clima tenso.

Cena 5. Rio de Janeiro – Urca / Apt. da Eliane / Tarde

Vanessa pega sua bolsa. Eliane se aproxima.

Vanessa sorrindo: Foi um prazer passar o dia com você. Obrigada pela comida e pelo suco. – ela se levanta. – Eu espero que nossa conversa tenha valido a pena.

Eliane sorridente: Valeu muita coisa. Depois da conversa eu criei esperança no meu casamento.

Vanessa segura às mãos de Eliane: Tiago é um homem do bem, íntegro e fiel à família que tem. Tenho certeza que ele seria INCAPAZ de trair.

Eliane sorrindo: Eu nem sei como te agradecer. Conversar com você me fez um bem tremendo. Não quer ficar mais um pouco? Eu preparo um café pra gente.

Vanessa sorri: Infelizmente não posso. Eu vou chegar ao trabalho e o Tiago vai me matar porque eu demorei. Mas eu digo que foi por uma boa causa.

Eliane rindo: Qualquer coisa manda ele resolver comigo. Agora que eu tenho com quem desabafar, tenho uma AMIGA, não vou desgrudar de você. Eu pago bem mais! – ela sussurra.

Vanessa gargalha. Eliane e Vanessa se entreolham, sorrindo.

Vanessa: Agora eu realmente preciso ir. Abra a porta que eu pretendo voltar.

Eliane abre a porta: Eu espero que volte, foi um prazer conversar com você.

Vanessa vai embora. Eliane fecha a porta, esperançosa.

Cena 6. Rio de Janeiro – Gávea / Revista Luz  / Tarde

Melissa entra no banheiro apressada. Lá, ela vomita bastante. A mulher sai do banheiro e vai até a pia, onde ela se encara pelo reflexo do espelho, pensativa, lavando a boca.

Na sala de Tiago…

Melissa bate na porta: Posso entrar?

Tiago guarda uns papéis: Entra.

Melissa entra e fecha a porta: Eu não estou me sentindo bem. Tem como me liberar?

Tiago a olha: Logo hoje que estamos com bastante serviço. Não dá pra segurar?

Melissa: Infelizmente não. Eu compenso no final de semana. Tem como ou não? Eu realmente não estou me sentindo nada bem.

Tiago: Vai, pode ir. Não precisa vir no final de semana. Não vou descontar seu dia.

Melissa sorri: Obrigada. – Melissa sai.

No corredor…

Melissa está cabisbaixa. Alice esbarra na mulher.

Alice sorrindo: O corredor é bem largo. Não acha?

Melissa debochada: Jura?! Eu realmente achei que o seu tamanho estava impedindo minha passagem. Vou tomar cuidado da próxima vez. Com licença.

Alice puxa Melissa pelos braços: Você não tem medo de ser enxotada daqui, né?

Melissa se solta: Quem vai me demitir?! Você?! Não viaja Alice. Você é tão funcionária quanto eu.

Alice exaltada: SÓCIA. Eu sou SÓCIA disso aqui tudo. Tenho 50% da empresa. O que é suficiente pra te colocar fora daqui.

Melissa: Então coloca, vai. Faça o seu primeiro ato de dignidade de toda sua vida, que por sinal é um poço de incapacidade de não ter dignidade, CÁRATER e utilidade. – ela sorri debochada e Alice fica furiosa. –Eu realmente preciso ir. Dá licença. Fica com Deus, AMIGA.

Melissa sai furiosa. Alice fica com cara de tacho.

Cena 7. Rio de Janeiro – Leblon / Bar do Abê / Tarde

Ferraz toma cerveja. Um homem aparentemente arrumado chega.

Homem empurra Ferraz: Dá licença.

Ferraz larga o copo: O senhor está com algum problema?

Homem ri: Eu apenas quero passar. Eu deveria estar com algum problema?

Ferraz sem paciência: Precisava ter me empurrado?

Homem: Eu só quero passar. VOCÊ VAI SAIR DA FRENTE OU NÃO? – ele se exalta.

Ferraz furioso: EU TAMBÉM SEI GRITAR.

Homem: Bem tipo favelado. – ele continua empurrando Ferraz. – Dá licença. Será que eu vou ter que repetir que eu quero passar?

Ferraz quebra uma garrafa. O homem se assusta.

Ferraz furioso: VOCÊ ME CHAMOU DE QUÊ?! – ele aponta o vidro para o homem.

Homem rindo: FA-VE-LA-DO! Seu lugar não é aqui na zona sul. Volta pra favela!

Ferraz furioso corta o braço do homem e o empurra: VOU TE MOSTRAR O FAVELADO!

Todos se assustam e se levantam.

Homem sangrando: OLHA O QUE VOCÊ FEZ. DESGRAÇADO! – ele avança em Ferraz.

O homem dá um soco em Ferraz que cai no chão. Ele se levanta rapidamente, mas leva um chute. O homem começa a surrar Ferraz, que se debate. Os clientes começam a se levantar, já que os dois começam a cai por cima da mesa.

Abê chega: PARA COM ISSO AGORA. FERRAZ. PARA OS DOIS!

O homem dá mais um soco em Ferraz, que cai. Esse está com bastante sangue no rosto e bem sujo. Abê consegue puxar o homem e Ferraz respira, aliviado.

Ferraz se levanta: EU ACABO COM VOCÊ SEU MERDA! VOCÊ ME PAGA.

Ferraz sai todo surrado do Bar.

No apartamento de Melissa…

Ferraz chega em casa todo surrado. Ele passa pela portaria e o porteiro fica perplexo com o estado do homem. Ferraz está bêbado e bem sujo. Ele se deita no sofá e por ali fica.

Pouco depois…

Melissa chega. Ela vê o estado de Ferraz.

Melissa perplexa, triste: O que eu faço com você Ferraz? Será que um dia você vai tomar jeito?!

O homem se mexe e Melissa fica sem reação. Ela está com o semblante bem triste.

Cena 8. Rio de Janeiro – Laranjeiras / Hospital Santo André / Tarde

Mateus está no quarto de Marta. No canto, Adriana e Mateus conversam. Fernanda e Marta conversam também.

Adriana triste: E o caso dela é muito sério?

Mateus: Eu não posso negar Adriana. O caso dela é muito sério. Eu não quis contar nada pra neta dela, mas a Marta não vai durar muito tempo.

Adriana: O caso dela é pior do que eu podia imaginar. Eu achei que tinha jeito essa situação dela.

Mateus: O que resta é a gente esperar. Ela não está reagindo bem aos medicamentos. E pra completar está se alimentando bem pouco. O coração dela já está ficando bem debilitado. Antes os batimentos dela chegavam a 100/110. Agora não passa de 80, isso quando chega a 80.

Adriana assusta: E isso é muito grave?

Mateus: Os batimentos estão caindo de uma maneira absurda. E a gente não pode nem dizer quanto tempo ela tem. Mas são poucos.

Adriana fica assustada. Ela se aproxima de Fernanda.

Adriana sorrindo: Vamos, Fê. A gente está aqui há muito tempo e essa visita demorada por fazer mal a recuperação dela.

Fernanda se levanta: Vamos sim. Fica com Deus, tia.

Adriana beija o rosto de Marta: Eu te amo! – ela sorri.

Marta: Filha! Deixa uma foto comigo. Deixa eu lembrar de você todos os dias. Eu não sei vou te vê mais.

Adriana tira uma foto da carteira e entrega para Marta e sorri.

Adriana emocionada: Fica em paz!

Adriana e Fernanda saem. No corredor… Stacy chega furiosa e esbarra em Adriana. Ela passa direto, chorando. Adriana acompanha Stacy.

Fernanda: Aconteceu alguma coisa?

Adriana: Essa garota é a que estava de frente pra sala da mãe na hora que chegamos né? Fê, eu tenho quase certeza que essa garota é a minha filha.

Fernanda perplexa: Ela?!

Fernanda e Adriana se entreolham.

Cena 9. Rio de Janeiro – Gávea / Praia / Tarde

Kiara veste sua “saída de praia” e sai. Os homens que encaravam a mulher saem da praia logo em seguida. Kiara para e procura a chave do carro na bolsa. Os homens se aproximam.

Alex sorrindo, por trás de Kiara: Não se mexe! Fica quietinha. Hoje você é nossa gatinha.

Kiara gela: O que vocês querem comigo?! Meu carro? Podem levar.

Kiara entrega a chave do carro. Mas eles pegam e guarda dentro da bolsa dela.

Calmon: A gente não quer nada que é teu. – ele passa a mão no cabelo de Kiara, e depois alisa a nuca da mulher, que treme. – A gente quer você. – ele diz, mordendo a orelha de Kiara.

Kiara consegue dá uma cotovelada em Calmon e sai correndo. Eles pegam uma pedra e vai atrás. Os homens começam perseguir a mulher. Cada vez mais ela se aproxima do restaurante, onde Jordan e Leandro estão.

Kiara correndo, cansada: SOCORROOOOO!

Alex taca a pedra e essa bate na cabeça de Kiara, causando um leve corte. Kiara cai no chão, desmaiada. Uma aglomeração de pessoas se forma perto de Kiara. Foca na imagem de Kiara, no chão.

Fim do Capítulo 9!