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Em nome do filho

Capítulo 8 – Em nome do Filho

Capítulo 008

Uma novela de:
Wesley Alcântara

Cena 01. Mansão Amadeu/ Quarto de Empregados/ Interior/ Noite.
Continuação imediata da cena anterior.
Dama está deitada na cama, assistindo TV, com todas as luzes apagadas. A porta se abre lentamente, e Eneida, irmã de Vitória, entra, fecha a porta e acende a luz.
Dama (assustada) – Eneida?
Eneida – Búu. Pensou que fosse quem? O meu fantasma?
Eneida retira uma arma de sua bolsa e aponta para Dama.
Dama (assustada/ chorando) – Não faça uma bobagem dessas.
Eneida – A balança se inverteu Dama. Agora é você que está na linha de tiro.
Eneida destrava a arma. Dama fica parada e com semblante de muito medo.
Dama – Não faça nada que você vá se arrepender depois.
Eneida – Senta e relaxa, só quero te dar dois tiros.
Dama (BAIXINHO) – Pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso…/
Eneida – Não adianta pedir a Deus pra perdoar os teus pecados, ele não vai aceitar.
Dama – Por que você tá tão diferente? Me diz o que eu fiz pra você?
Eneida abaixa a arma.
Eneida – Nada! Eu quis só te impressionar Dama. A Vitória me contou que você estava aqui, fazendo chantagem barata com ela. Qual foi mulher? Vai ficar medindo forças com uma assassina?
Dama – O que farei então? Preciso de grana e quero sentir o gostinho da vingança também.
Eneida – Vingança? Eu tenho certeza que você vai se dar mal com isso, mas não falo mais nada.
Dama se levanta.
Dama – Vou ajeitar o quarto de hóspedes para você. Deve estar cansada.
Eneida – Tô morta.
Dama (saindo) – Então me siga.
Eneida olha para a arma.
Eneida (rindo) – E a jumenta quase se cagou toda por causa de uma arma de brinquedo.
Eneida sai do quarto.
Corta para:
Cena 02. Bar Chegaí/ Fachada/ Exterior/ Noite.
Algumas mesas espalhadas pela calçada, com pessoas sentadas tomando cerveja e conversando. Clima muito descontraído. Música de pagode dá o tom ao ambiente.
Diálogo da cena posterior.
Tamara – Tá aqui Zé. Tá pronto o cartaz, vê se você gostou.
Zé Diogo (contente) – Mas tá uma maravilha Tamara, tu é profissa nisso mesmo. Quanto lhe devo?
Corta rapidamente para:
Cena 03. Bar Chegaí/ Balcão/ Interior/ Noite.
Zé Diogo está do lado de dentro do Balcão, com o cartaz aberto em mãos, enquanto Tamara está sentada em um banco de frente pro balcão.
Zé Diogo – Quanto você cobrou Tamara?
Tamara – Ah Zé, uma mão lava a outra. Deixa esse favor pendente na casa, quando eu precisar eu cobro, pode ser?
Zé Diogo – Claro que pode… Tô até pensando em colar este aqui já.
Tamara – Acho perfeito. Já fez os anúncios na rádio? Pediu carro de som pra anunciar?
Zé Diogo – Ainda não.
Tamara – Mas tem que fazer. O marketing é a alma do negócio.
Zé Diogo – Vou fazer isso amanhã bem cedo. (T) Agora tu aceita uma cerva?
Tamara – Só se tiver geladinha, com a garrafa até nevada.
Zé Diogo – E me diz, desde quando o Bar Chegaí num tem uma loura gelada?
Tamara – Tem razão. Esse bar arrasa.
Zé Diogo retira uma cerveja do freezer, abre e serve a Tamara.
Tamara – Me acompanha?
Zé Diogo – Mais tarde eu tomo um gole, agora nem posso.
Tamara então dá uma golada boa na cerveja.
Tamara (pra si) – Melhor do que essa cerveja, só o meu cargo de gerente.
Tamara levanta seu copo em sinal de comemoração.
Corta para:
Cena 04. Mansão Amadeu/ Quarto de Hóspedes/ Interior/ Noite.
Dama está terminando de ajeitar as roupas de cama, enquanto Eneida aplica uma máscara facial, se olhando no espelho.
Dama (terminando) – Pronto Eneida, suas instalações estão devidamente ajeitadas.
Eneida (olhando no espelho) – Nada como uma serviçal eficiente. O que seriam dos nobres, sem a criadagem? O que seria da Rainha, sem seus súditos?
Dama – Você tá me confundindo?
Eneida vira-se para Dama.
Eneida – De forma alguma, querida. Foi só uma brincadeira, pra descontrair o ambiente.
Dama – Suas brincadeiras hoje estão passando dos limites.
Eneida – Pelo menos, eu não estou fazendo chantagem com ninguém, e muito menos traçando um plano de vingança tosco e incoerente.
Dama (ríspida) – Escuta aqui Eneida, se você veio pra ficar…/
Eneida (corta) – Escuta aqui você. Eu não estou querendo livrar a pele da Vitória, até porque se ela fez, é justo que pague. O que estou criticando, é a forma amadora que você encontrou para se vingar e arrancar qualquer tostão da minha irmã.
Dama – Amadora ou não, eu estou conseguindo o que quero. Além do mais, a sua irmã tá comendo na palma da minha mão.
Eneida – Nunca subestime a inteligência e a capacidade maligna que a Vitória tem. Ela tá criando uma emboscada pra você, que tá caindo feito um patinho.
Dama – Eu não vou discutir os meus métodos com você, até porque, não lhe interessa essa história.
Eneida – Só estou te dando um conselho.
Dama – Se conselho fosse bom, venderiam nas melhores farmácias. Agora, vou me deitar. Boa NOITE.
Dama sai do quarto, fechando a porta.
Eneida (se deitando) – Quem avisa amiga é.
Corta para:
Cena 05. Mansão Amadeu/ Jardim Frontal/ Exterior/ Noite-Dia.
O jardim, todo iluminado em cores quentes, clareia a frente da mansão. Transposição da noite para o dia, sem música.
Corta para:
Cena 06. Mansão Amadeu/ Sala de Estar/ Interior/ Dia.
Estão na sala, sentados nos sofás: Ana Rosa, Fabrício, Vitória, Miguel e Milena, conversando.
Milena – Ai gente, vamos? Não vejo razão para estarmos aqui parados feito dois de paus.
Vitória – Estamos esperando o Antero. Marquei com ele aqui.
Miguel – Além do mais, tem o Álvaro, que é advogado da empresa.
Ana Rosa (a Fabrício) – Eu tenho mesmo que ir?
Milena – Se fosse para o inferno sim, mas como se trata de coisas de família, acho que você pode ficar em casa mesmo.
Miguel – Para com essas provocações Milena.
Milena – Eu só disse a verdade. A Ana Rosa é uma inútil mesmo.
Ana Rosa – Mas isso depende do ponto de vista, porque inútil pra mim é passar o dia todo rastreando e fiscalizando um homem, porque não se garante como mulher.
Milena se levanta e fica de frente para Ana Rosa.
Vitória – Que baita coice, dá-lhe Aninha.
Milena (apontando dedo) – Continua esse seu sermão barato pra ver o que te acontece. Que ódio de você.
Ana Rosa se levanta e fica de frente para Milena.
Ana Rosa (rude) – Tá com ódio de mim? Deita na rodovia por cinco minutos, que passa. Eu não tenho medo de você.
Miguel intervém e retira Milena, que se senta nervosa no outro sofá.
Fabrício – Senta Ana Rosa.
Ana Rosa se senta.
Vitória – Adorei o barraco. Mas poderiam ter feito no Fórum, só assim já sairiam presas.
Nesse instante Antero e Álvaro chegam.
Álvaro (entrando) – Nem me dei ao trabalho de tocar a campainha. Ouvi um falatório e decidi entrar.
Vitória – Eram duas gazelas se dando ao desfrute da discussão.
Fabrício – Agora sim poderemos ir?
Vitória – Lógico. Não quero me atrasar.
Todos se levantam e saem da casa.
Corta para:
Cena 07. Casa de Edu/ Sala/ Interior/ Dia.
Edu está deitado no sofá assistindo TV, enquanto Seu Lucído está sentado na escrivaninha, mexendo no computador.
Lucído – Por que tem que existir tantas Helenas assim?
Edu – Ué vô, é um nome muito normal. Lógico que existiriam várias pelo Brasil a fora.
Lucído – Mas eu acharei a minha Helena. Isso eu garanto a você.
Edu se senta no sofá.
Edu – Me explica uma coisa?
Lucído – Fala.
Edu – Olha só vô, o senhor tá sempre procurando ou falando nessa tal Helena que eu desconheço quem seja. Me diz, com franqueza, quem ela é? É sua amante? Uma namorada da juventude? Diz.
Lucído – Na hora certa você saberá.
Edu – Se eu acreditasse nessas feitiçarias, eu pediria a mãe pra colocar o tarô na mesa e descobrir quem é essa mulher.
Lucído – Nem tudo é na base da adivinhação.
Edu (se levantando) – Quer saber vô? Tô caindo fora. Vou visitar minha namorada que ganho mais. Deixa o senhor e suas maluquices por aí.
Edu sai e Lucído volta a digitar.
Corta para:
Cena 08. Fórum/ Fachada/ Exterior/ Dia.
Um prédio grandioso com o letreiro: ”FÓRUM”.
Fluxo natural de pessoas, na maioria em trajes sociais, entrando no local.
Corta para:
Cena 09. Fórum/ Sala de Reunião/ Interior/ Dia.
Sala em tons escuros, ambiente requintado. Uma enorme mesa ocupa quase que a totalidade da sala.
Nas laterais estão, lado direito: Vitória, Antero e Ana Rosa. Do lado esquerdo: Álvaro, Fabrício, Miguel e Milena.
Vitória (a Antero/ Cochichando) – Essa desgraça de leitura vai demorar tanto assim?
Antero – Calma chefa, a juíza já deve estar chegando.
Vitória (impaciente) – Tinha que ser fêmea, deve estar retocando o batom ou olhando algum promotor pelos corredores.
Antero sorri contidamente.
Miguel (a Álvaro) – Será que o meu pai possuía muitos bens?
Álvaro – Inúmeros. Você e Fabrício podem se considerar milionários. Verdadeiros magnatas.
Miguel (feliz) – Há males que vem para o bem.
Eis que toca uma campainha, todos se levantam, a juíza entra e se senta na cabeceira da mesa.
Juíza (a todos) – Podem se sentar.
Todos se sentam, a juíza toma posse do livro de testamento, abrindo-o.
Juíza – Eu, Norma Ferreira e Silva, juíza da vara cinco, que se encontra localizado neste fórum, situando-se na cidade de Flores, no estado do Espírito Santo. Aos vinte dias do mês em curso, dou por aberta a leitura do livro de testamento feito por: Ângelo Salles de Queirós e reconhecido pela comarca local, dando a este documento plenos poderes válidos na repartição de seus bens, conforme seu último desejo em vida.
Miguel olha para Vitória totalmente feliz.
Juíza (lendo) – “Eu Ângelo Sales de Queirós, no uso das minhas atribuições legais e gozando plenamente de minhas faculdades mentais utilizo-me do recurso que a lei concebe a mim para a divisão dos meus bens materiais, que foram constituídos a partir de trabalho digno. Sendo realizado o documento de testamento da herança feito por advogados de minha plena confiança e lavrado em cartório de primeira instância com a supervisão de duas testemunhas, as quais se encontram aqui presentes.”
Álvaro (a juíza) – As testemunhas são: Álvaro Trajano de Toledo e Ana Rosa Medeiros. Aqui presentes.
Juíza – Muito bem, estando o documento de posse legal, dou início a leitura. (PAUSA) “Meus apartamentos, situados nos seguintes bairros: Copacabana, Ipanema, Méier e Jardim Botânico deixo para Ana Rosa Medeiros. A que estimo muito e que desejo toda a felicidade”.
Milena – E a rapariga conseguiu.
Juíza – Silencio, por favor.
Todos ficam em silêncio.
Juíza – Minha mansão situada no bairro de Moema, zona sul de São Paulo, deixo para meu amigo Antero Cavalcanti.
Antero faz cara de pouco satisfeito.
Juíza – Minha mansão, situada em Flores, a qual fora construída por meus avós, deixo para minha ex-esposa Vitória Lemos de Amadeu, assim como, uma quantia no valor de 300 mil reais.
Vitória (inconformada) – Só isso? Que velho pão duro. Eu vive mais de vinte anos da minha vida ao lado dele pra receber isso? Mesquinharia.
Juíza (rude) – Ou a senhora se controla, ou terei de usar medida de força para contê-la.
Miguel – Por favor, mãe. Acalme-se!
Vitória respira fundo e fica calada, mas morrendo de ódio.
Juíza – Para Meu pupilo Oscar de Valença, deixo 10% das ações da empresa LA SALUD.
Todos se olham espantados.
Álvaro (a juíza) – Desculpe interrompê-la excelência, mas é que esse pupilo não fora encontrado.
Juíza – Nesse caso, os 10% das ações serão congelados. Poderá apenas ser mantido pelo administrador, que não poderá vender ou, sequer se apropriar dos lucros, até que o responsável legal assuma sua parte.
Álvaro – Compreendo.
Juíza – Por último e não menos importante, deixo para meus filhos, Fabrício Menezes de Queirós e Miguel Amadeu de Queirós: Uma quantia de 35 milhões de reais e 45% da empresa para cada um, salvo de uma única cláusula.
Miguel (afobado) – Quer bendita cláusula é essa?
Juíza – Só poderão receber a parte de vocês, ou seja, os 45% da empresa e mais os 35 milhões de reais, após terem um filho legítimo com três exames de DNA que comprove a paternidade.
Miguel olha para Milena com ar de reprovação. Vitória se alegra.
Juíza – Sem mais delongas, dou por encerrada a leitura do testamento. Peço que todas as partes ao saírem daqui, não se esqueçam de assinar o termo de contrato.
A juíza se levanta e sai da sala.
Miguel – E agora?
Vitória (alegre) – Agora trate de arrumar um rebento e tirar a gente desse sufoco.
Miguel (a Milena) – É a nossa hora.
Milena massageia a barriga com tristeza.

Corta para:
Cena 10. Fórum/ Estacionamento/ Exterior/ Dia.
Miguel e Milena estão entrando no carro.
Corta para:
Cena 11. Fórum/ Carro de Miguel/ Interior/ Dia.
Miguel está com o carro desligado, pensativo.
Milena – Não tem o que pensar, acabou. A gente perdeu.
Miguel continua pensativo.
Milena – Tá pensando em que? Acho que não tem mais saída. O jeito é se conformar. Liga esse carro e vamos embora.
Miguel – Não. Eu sei um jeito da gente colocar a mão naquela bolada.
Milena – Odeio quando você fala assim, mas vamos lá, qual o plano?
Miguel – A EVA.
Milena – Essa piranha não. Eu não quero.
Miguel – A Eva é a única forma de termos um filho legítimo, já que você é estéril.
Milena começa a chorar.
Milena – Para de ficar esfregando isso na minha cara.
Miguel – Não tô esfregando, tenta me entender Milena. A Eva tá caidinha por mim e a única chance que temos de colocar a mão nesse dinheiro é ludibriando aquela mulher. O plano é o seguinte: eu engravido ela e você forja uma gravidez pra você. Aos olhos de todos, o bebê será seu.
Milena – Mas e depois que o bebê nascer? A Eva vai querer.
Miguel – Eu dou um jeito de sumir com ela. Apagar ela do nosso caminho. E assim eu terei a empresa e o dinheiro, como sempre quis e você terá o seu sonhado filho, não é um plano perfeito?
Milena (ressabiada) – É. Perfeito até demais, mas enfim, tudo que eu quero é um filho. Eu topo.
Miguel – Pra isso, eu precisarei manter relações com ela.
Milena – Pelo meu filho e pelo nosso casamento, eu aceito qualquer acordo.
Miguel (ligando o carro) – Assim que eu gosto.
Corta para:
Cena 12. Livraria Dom Casmurro/ Sala de Eva/ Interior/ Dia.
Tamara e Eva estão sentadas a mesa conversando. Conversa já iniciada.
Tamara – Você me chamou aqui, mas não disse nada ainda, o que houve?
Eva – Eu vou ser bem direta Tamara, não gosto de rodeios.
Tamara engole seco.
Eva – Eu consegui uma nova assistente, que tem um currículo impecável e que trabalhará aqui conosco. A decisão é minha junto com o Lucas.
Tamara (feliz) – Que ótimo, mais uma ajudante, só assim, eu posso dar mais atenção ao projeto novo.
Eva (séria) – Não é bem assim Tamara. As coisas não vão funcionar conforme você acha.
Tamara fica intrigada.
Eva – Você voltará para o cargo de vendedora e a Regina, ocupará o cargo, que você estava provisoriamente.
Tamara – Eu não concordo. Eu me dediquei anos a essa livraria, ocupei diversas funções na falta de funcionários, te auxiliei quando você mais precisava e não é justo que agora, eu seja jogada fora, como um sapato velho que não serve mais. É um desrespeito a uma mulher e o seu profissional.
Eva – Se controle Tamara. Desde o início, você sabia que estávamos colocando você como assistente, provisoriamente, até que uma outra pessoa viesse. E chegou.
Tamara – É gélida a forma como vocês me descartam.
Eva – Não estamos te descartando, tanto é que os seus benefícios, como salário mais alto, permanecerá. A única coisa é que você será vendedora.
Tamara – Tá bem. Vou fazer o que? Mas não reclame lá na frente, quando você notar que eu era a pessoa mais experiente para esse cargo.
Eva – Eu sei da sua capacidade, nunca duvidei disso.
Tamara – Me dá licença. Vou colocar meu uniforme de vendedora.
Tamara sai da sala.
Corta para: CORREDOR.
Tamara saindo da sala de Eva.
Tamara (com ódio) – Eu vou te destruir Eva Magalhães. Agora não só pelo cargo, mas pela maneira nojenta que você me derrubou.
Corta para:
Cena 13. Bar Chegaí/ Rua/ Exterior/ Dia.
Vários homens estão montando um palco de pequeno porte na frente do bar. Eis que Zé Diogo aparece para conferir a obra.
Zé Diogo (chegando) – Tá tudo nos conformes aí Cabral?
Cabral – Meus homens estão empolgados aqui com a montagem do palco. A maioria é daqui do bairro e estão loucos pelo show do Péricles.
Zé Diogo – Tomara que o show seja um sucesso absurdo.
Cabral – No que depender dessa galera aqui, vai ser massa meu amigo.
Zé Diogo – Vou buscar um refresco pra essa galera aqui. Mas de antemão quero te agradecer pelo apoio meu amigo.
Cabral – No que depender de mim, pode sempre fazer eventos nessa cidade.
Zé dá um aperto de mão em Cabral e sai.
Corta para:
Cena 14. Mansão Amadeu/ Jardim/ Exterior/ Dia.
CAM aérea mostra um carro importado estacionando bem em frente à entrada principal da mansão.
Corta para:
Cena 15. Mansão Amadeu/ Sala de Estar/ Interior/ Dia.
A sala está vazia, Vitória e Antero entram pela porta principal.
Vitória (comemorando) – Rica, agora eu tô rica Antero. Já pensou nisso?
Antero – Você não. O Miguel e o Fabricio podem ficar ricos.
Vitória – Que história é essa de Miguel e Fabricio podem ficar ricos? O Fabrício tanto faz, mas o meu Miguel tá na cara já a sua fortuna. É só ter um filho com a vagabunda.
Antero se senta e Vitória permanece de pé. Ambos de costas para a escada.
Vitória – Eu nem sabia que o velhote era tão rico assim.
Antero – Agora me diz, quem é essa pessoa que ficou com 10% da empresa?
Vitória (intrigada) – Taí uma boa pergunta. Aquele velho era mais esperto que nós dois juntos.
Eis que do P.V de Vitória, vemos Eneida descer as escadas vagarosamente.
Eneida (gritando) – Cheguei queridos!
Vitória e Antero olham assustados para Eneida.
Corta para:
Cena 16. Mansão Amadeu/ Área da piscina/ Exterior/ Dia.
Teresa está varrendo a área, quando Dama aparece.
Dama – A patroa já chegou né?
Teresa – Infelizmente.
Dama – Você também não gosta dela?
Teresa – Não é questão de gostar, mas sim de me adaptar. A dona Vitória é uma pessoa muito amargurada, bem gananciosa e conviver com pessoas assim faz mal. Ela parece carregar uma nuvem negra em torno de si.
Dama – Quero me benzer.
Teresa – Melhor, vamos a uma cartomante?
Dama – Mas encontrar cartomante que preste, é mais difícil do que encontrar agulha num palheiro.
Teresa – Eu conheço uma boa, aliás, ótima. Garanto que você vai gostar.
Dama – Me passa o contato dela depois, tô precisando me espiritualizar.
Teresa – Mas é claro que passo. Agora vou até a sala ver o que a madame deseja.
Dama – Vai lá. Eu continuo aqui arrumando as coisas.
Teresa entrega a vassoura a Dama e sai.
Corta para:
Cena 17. Mansão Amadeu/ Sala de Estar/ Interior/ Dia.
Vitória e Antero continuam olhando assustados para Eneida.
Eneida (deboche) – Vão continuar feito mulas no sereno me olhando? Nem sou tão bonita assim.
Vitória – Não te esperava aqui hoje.
Eneida – E quem disse que eu vim hoje? Tô aqui desde ontem.
Vitória – E por que não me procurou ontem?
Eneida – Pra que meu bem? Estava morta de cansada. E também cheguei tardíssimo ontem. Não queria acordar a donzela.
Antero – Esses anos fora só te valorizaram Eneida.
Eneida (meiga) – Muito obrigada!
Antero – Voltou pra que?
Eneida – Rever minha irmãzinha, cuidar do meu sobrinho adorado.
Vitória – Tu não joga pra perder mesmo Eneida. Veio tirar lascas da minha fortuna.
Eneida – Que fortuna? Tu não passa de uma classuda sem eira nem beira. Burguesa falida. Dondoca sem tesouro. Você não tem nada.
Vitória – Aí é que você se engana, eu tô milionária meu bem. Acabei de vir do Fórum, leitura do testamento do amado Ângelo.
Eneida – Tô passada.
Antero – Tô é com fome. Cadê o café da manhã?
Nesse instante Teresa entra na sala.
Teresa – Com licença, o café já está na mesa.
Vitória – ótimo.
Eneida (a Teresa) – Tem aquele pão francês maravilhoso?
Teresa – Hoje não. Ah lembrei, tem um pãozinho dormido lá na cozinha. Eu o esquento pra senhora.
Eneida – Pão dormido Teresa?
Teresa – Isso.
Eneida – Sabe o que você faz com esse pão dormido? Acorda ele e come. Eu gosto de pão fresco meu bem. Trata de ir a padaria buscar.
Teresa (saindo) – Sim senhora.
Teresa sai da sala.
Antero e Vitória se olham e em seguida aplaudem Eneida.
Vitória – Aprendeu direitinho como lidar com a criadagem.
Eneida – Escola de maldades Vitória Amadeu.
Vitória sorri orgulhosa.
Corta para:
Cena 18. Pontos turísticos/ Exterior/ Dia.
Música “Uma história de Amor” – Fanzine.) Vista aérea, plano aberto. CAM aérea faz um clipe dos principais pontos turísticos da fictícia cidade de Flores. Clipe com suaves emendas das imagens, a fim de mostrar toda a beleza da cidade, na seguinte ordem: 1º: Pórtico de entrada da cidade, feito de madeira envernizada e coberto por telha colonial portuguesa, com o letreiro “Bem vindo à Flores”. 2º: Praça Central, com um lindo chafariz no meio, cercada por bancos com pessoas e animais domésticos, além de alguns vendedores de pipocas e brinquedos. 3º: Cruzeiro Municipal, localizado no morro mais alto da cidade, com uma cruz imensa branca, feita em concreto e com iluminação interna, cercado por um grande gramado que é delimitado por canteiro de diversas flores campestres. 4º: Fachada da Livraria Dom Casmurro.
Corta parra:
Cena 19. Livraria Dom Casmurro/ Salão Principal/ Interior/ Dia.
A livraria está fechada e todos os funcionários estão no salão principal.
Tamara (a Téo) – Não sei pra que essa palhaçada. Montando um circo dentro dessa livraria. Mas os dias de reinado da Maria Antonieta estão contados.
Téo – Que rancor é esse maninha?
Tamara – Você ainda não viu nada.
Nesse instante Eva chega com Regininha.
Eva – Desculpem a demora, mas sabem que a pontualidade não é uma das minhas qualidades.
Tamara fecha a cara.
Eva – Convoquei essa reunião para apresentar a minha mais nova assessora e o membro mais novo da família Dom Casmurro, com vocês Regina Leão.
Todos aplaudem Regininha, que sorri timidamente.
Eva – A Regina tem um currículo impecável e é muito engajada em literatura. Espero que gostem dela.
Regininha – Obrigado pelo apoio de todos e sei que juntos vamos fazer a diferença.
Tamara (cochichando) – Discurso besta, mulherzinha idiota.
Eva – Agora vamos abrir a livraria e iniciar os trabalhos. Eu vou almoçar e resolver uns assuntos. Dentro de duas horas tô de volta.
Eva sai.
Regininha (sorrindo) – Então, que comecem os trabalhos.
Todos começam a se movimentar para suas funções, exceto Tamara.
Corta para:
Cena 20. Restaurante Frigideira/ Fachada/ Exterior/ Dia.
Fluxo natural de pessoas passando pelo local, algumas entram no restaurante. Eis que Eva aparece, para em frente à porta de entrada.
Eva – Chegou a hora de colocar os pingos nos is.
Eva entra no restaurante.
Corta rapidamente para:

Cena 21. Restaurante Frigideira/ Salão Principal/ Interior/ Dia.
Ambiente requintado, sem vozerio. Fluxo de garçons por entre as mesas. Restaurante bem movimentado.
Eva entra, olha para os lados e vê Miguel, que também a vê e acena. Eva caminha em direção a mesa de Miguel.
Miguel (levantando) – Que bom que chegou, vai querer comer o que? Tô numa broca danada.
Eva encara Miguel sem esboçar reação.
Miguel – Vamos nos sentar amor.
Eva continua imóvel e calada.
Miguel (sem jeito) – Assim você me deixa encabulado. O que houve?
Eva dá um tapão na cara de Miguel. Todos no restaurante param e olham assustados.
Eva (nervosa) – Casado! Você é casado, seu safado!
Eva é tomada por um ódio e levanta a mão para dar outro tapão em Miguel, que segura seu braço com firmeza. Os dois se encaram com ódio.
Corta para:

FIM

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