O internato
Capítulo 07
Marieta – A gigantona cantou para subir! ( rindo). Legal, eu gostei.
Manoela – Cala boca garota, se ficou maluca, daqui a pouco, eles nos levam para o porão por mau comportamento. Cecília, onde você…
Tarde demais, a garota já havia passado entre a multidão e estava na fileira da frente encarando o corpo da mulher estendido com os olhos esbugalhados. Rapidamente tirou do bolso sua agenda de organização e transcreveu os símbolos da parede na folha de papel. Ciclope ao chegar começou a chorar e rapidamente com um soco no gramado fez muitos alunos voarem. Nossa protagonista foi uma delas.
As amigas correram em direção a ela.
Manoela – Você está bem?
Cecília – Estou. Estava anotando a mensagem, acho que chegou a hora do meu faro Sherlock Holmes entrar em ação.
Pela primeira vez Marieta concordou com ela, adorava séries policiais.
Marieta- Posso te ajudar?
Cecília – Nem pensar. ( E saiu a disparar para o interior do Internato, deixando ela enfurecida. Manoela ficou preocupada)
Manoela – Essa menina vai se meter em apuros, que talvez nenhum ser humano seja capaz de resolver. Cecília, aonde você vai, a Olímpiada não irá acabar por causa dela, não se esqueça… ( e saiu atrás da menina. Marieta a segui)
Cecília quando passava rapidamente pela entrada para o corredor, foi agarrada pelo ombro por ninguém menos que Lorenzo, que chorava litros pelo acontecido.
Lorenzo – Foi você, não é, sua cachorra, foi você que mandou dar cabo da minha querida mãezinha.
Cecília – Eu não fiz nada, me solte.
Lorenzo – Não minta para mim, disse que ia se vingar de mim e dela, foi o que fez, não foi ASSASSINA.
Cecília – Você que é um assassino, um assassino de inocentes, manipulador barato, ratazana de esgoto. Pensa que eu esqueci o que fez com o Abielzinho, eu posso ter adiado minha entrada em campo, mas o que é seu ainda está aguardado e pode ter certeza é muito pior do que aconteceu aqui hoje.
Lorenzo a soltou raivoso e ela sorriu para ele, mandando beijinhos irônicos, saindo de fininho. Abiel logo veio se juntar a ele, abraçando pelo ombro.
Abiel – O que foi amor, por que está chorando?
Lorenzo – Por nada. Se ela quer guerra, ela acabou de me chamar.
Abiel – ELA QUEM?
Lorenzo – Deixa para lá, agora faz aquela massagem sensual em mim, por que devido aos últimos acontecimentos, o que eu preciso é compreender a morte da minha mãezinha.
Abiel olhou para ele calmamente e limpando as lágrimas, conduziu o ser maquiado para os aposentos luxuosos da escola.
Cecília subiu o grande escadão de madeira e foi se dar na biblioteca, procurando o primeiro símbolo que tinha certeza que já o vira em algum livro antigo. Foi então que algo surpreendente aconteceu, enquanto mexia discretamente nos livros a estante partiu ao meio em uma fração de segundos, o cupim ali tomara a última dose de sustentação. Uma chuva de livros e mais livros acudiu sua cabeça e ela caiu desacordada sobre a pilha no soalho de taco.
***
Em uma academia na área leste do local…
Lorenzo desceu da esteira e sentou no colo de Abiel que estava puxando peso com um dos braços, dava para perceber seu bíceps malhado. Beijando-o animalescamente.
Lorenzo – Sabia que eu adoro homem desse jeito aí, transpirado.
Abiel – Ah é? Então sente a pressão! – Ele largou o peso e soprou suas orelhas. Lorenzo caiu numa nostalgia sexual horrenda.
Manoela e Marieta chegaram ao local e o sorriso no rosto do rapaz quando as viu desapareceu.
Lorenzo – O que essas pamonhas do inferno, estão fazendo aqui? Vou aumentar a carga de deveres delas, isso se não manda-las passar uma temporada de férias amarradas sobre o calabouço dos crocodilos. – Disse levantando bruscamente do colo de Abiel, quase lhe batendo o cotovelo.
Abiel o acompanhou.
Marieta – Beleza a bicha louca caiu direitinho no meu plano. Faça o plano que combinamos, hein? Tudo pela Cecília.
Manoela – Pode deixar. – Disse a menina fazendo em nome do pai.
Lorenzo se aproximou e por um tempo manteve- se calado com os braços cruzados. Marieta imitou o gesto ironizando, franzindo a testa, séria.
Lorenzo – Posso saber o que as dondocas fazem aqui?
Marieta – Claro que pode. Queremos propor um pacto.
Lorenzo pareceu se assustar com aquilo – Pacto?
Marieta – É complicado. Podemos caminhar um pouco para eu lhe explicar melhor?
Lorenzo olhou um instante para Abiel que acenou a cabeça positivamente.
Lorenzo – Certo.
Ele saiu com Marieta e a garota piscou para Manoela que trancou a porta da academia.
Abiel – O que você está fazendo?
Manoela – Vou te contar uma vez por todas, o que aconteceu naquela queda de avião! E você vai ter que me ouvir!
O Rosto do rapaz de encheu de curiosidade.
Quando eles estavam passando por um chiqueiro de porco. Lorenzo perguntou.
Lorenzo – E então qual é o pacto? Até agora a senhora não disse nada.
Marieta – Não há pacto algum, nós o enganamos babaca! – E soltou uma risada diabólica.
Lorenzo – O QUÊEEEEEEEEEEEEEEEEEE?
Marieta – Ah essa hora, Manoela está contando tudinho para seu namorado. A verdadeira história do acidente de avião.
Lorenzo se encheu de fúria e quando pensou em fugir, ela agarrou o seu braço.
Lorenzo – Me solta!
Marieta – Você não vai a lugar nenhum!
Lorenzo – Ah, mas não é você que vai me impedir sua haleto de sapatismo.
Marieta- Pensando melhor. Você vai sim para um lugar bem melhor. Direto para esse chiqueiro de porco. – E o atira com vontade na lama, vendo seu corpo ficar grudento ao se desgrudar.
Marieta – É isso que você merece, sua bicha maligna.
E sai ao disparar da academia. Lorenzo se levanta para ir atrás dela, mas um leitão o derruba ao passar. Gritando de ódio. Ele berra o nome de Ciclopeeeee.
Marieta bate com estrondo na porta e Manoela abre.
Marieta – Bom, agora teremos que fugir. Contou a ele?
Manoela – Plantei a dúvida. Agora é com ele!
Abiel tentou obter mais informações, mas elas sumiram por cima de um caminho ao noroeste entre palmeiras.
Minutos mais tardes. Lorenzo chegou todo sujo de lama no local, sobre o riso de alguns e Abiel o encarava sério.
Abiel – POR QUE VOCÊ NÃO ME CONTOU A VERDADE?
Lorenzo bufou de medo.
***
Ao acordar percebeu que estava trancada dentro da biblioteca silenciosa, já era de noite. Menos mal ninguém notara. Fora o que ela se enganara. Dois vultos apareceram raivosos para ela, saindo da próxima estante. Um era de Manoela e o outro de Marieta. A garota berrou de susto.
Manoela – Bonito, hein? Procuramos você por toda parte. A Olímpiada foi adiada. Foi ideia de a Marieta invadir a biblioteca hoje por uma passagem secreta pelos túneis do armário de limpeza da despensa. Perdemo-nos ainda no banheiro masculino, foi um nojo só, quando pelo nos chuveiros e eu ainda tive o…
Marieta – Privilégio espero você dizer, ela viu um garoto pelado que sacudia bem aquelas bolas que…
Cecília- Ai tá bom, sua abusada, eu não quero ouvir isso. Enfim, eu achei o que eu tanto procurava. (e tirou entre a pilha o livro antigo de Heliógrafos, manual incompleto, por que nem todos poderiam ser traduzidos. Mas um livro que estava abaixo, chamou atenção delas: O Diário de Merlim Bottegge, o antigo diretor. As letras faiscavam com um brilho que atiçou a curiosidade nos olhos das garotas)
Marieta – Que livro é esse?
Cecília – Sei lá.
Manoela – Eu se fosse vocês o deixavam aí, a gente não…
Mas foi em vão. Cecília o abriu repentinamente. Deslizou a mão pela capa dura. Algo parecido com uma boca recheada de dentes, quase a engoliu, ela virou as páginas.
Cecília – São só relatos. Não temos tempo para…
MAS ELA VIU…O PRIMEIRO SÍMBOLO DO HELIÓGRAFO ESTAVA CRAVADO NA CONTRA CAPA INTERNA DO LIVRO. COM UM DESENHO DE UM PIANISTA FAMOSO.
Marieta – Esse não é o Aaron Copland?
Manoela – QUEM?
Marieta – Meu pai é super fã dele. Possui discos e mais discos no sótão, quando sente tristeza vai ouvi-lo, tem um ritmo calmo e melancólico.
Cecília – Mas por que não escreveram o nome dele e preferiram colocar esse símbolo. Tem alguma coisa estranha.
Marieta – Talvez o fantasma voltou para se vingar da diretora, vai que ela matou ele no passado.
Manoela – Não viaja Marieta! Esse lance de Fantasma não existe.
Cecília – Tive uma ideia, o livro de Heliógrafos. Vamos traduzir o símbolo para o sistema indo-arábico, dele para o Latim e daí conseguimos traduzir para o português.
Marieta – Brilhante ideia!
Manoela – Eu ainda acho que não…
Mas elas não escutaram. Saíram em direção ao pesquisador virtual levando o identificador de Heliógrafos.
***
Minutos mais tarde…
Manoela as apressa.
Manoela – Alguém pode nos descobrir aqui, era para estarmos dormindo essa hora, vamos…
Cecília – Estamos quase conseguindo.
Marieta – Falta pouco.
Cecília – Pronto ! Mas…
HAVIA UMA EXPRESSÃO DE PROFUNDA CONFUSÃO NO ROSTO. O QUE ERA AQUELA TRADUÇÃO?
Manoela se aproximou assustada – O que foi, parece que viram um fantasma.
Cecília se vira para ela.
Cecília – Não era o nome do Aaron Copland que estava lá. Era uma patologia mental.
E vira o monitor para Manoela ler a seguinte palavra: ESQUIZOFRÊNIA.
A garota fica chocada. Fecha no rosto de Marieta ansiosa para o próximo passo. Lambia os lábios como uma serpente.
Nesse instante, escutaram alguém forçar a porta da biblioteca.
Cecília – Minha nossa, estamos ferradas!
Manoela – Não foi por falta de avisos. Fiquem sabendo que as senhoritas acabaram de tirar um tijolinho lá no céu, por esse pecado horrível.
Marieta – E depois sou eu que viajo na batatinha…
Cecília – Gente, onde está a passagem secreta que entraram?
Manoela – No terceiro andar, vamos depressa…
E assim que elas sumiram no patamar superior. A porta foi escancarada. Ciclope com dezenas de duendes emitam grunhidos estranhos…
Ciclope – Senti cheiro de franguinhos de alunas, rápido deem um jeito de verificarem se não tem ninguém nesse aposento. – Suas narinas duplicaram seu tamanho gigante, pela farejar bruto.
Elas corriam rapidamente para a escada do terceiro andar, quando um duende pousou em frente à turma. Imitindo uma risadinha de satisfação.
Marieta – Ah, não acredito que vamos deixar um tampinha niguelado desse acabar com a gente. Sai da frente, coisinha…
Mas quando ela tocou nele, suas mãos começaram a criar vida e a bater na própria cara. Ele assoviou rindo e logo centenas de duendes iguais àqueles apareceram atrás delas. Cecília ajudou Marieta a correr e Manoela enfim puxando um castiçal de velas, um buraco redondo na parede se abrira. Elas pularam. Antes que Ciclope pusessem suas mãos gordas nelas.
Elas escorregaram por uma enorme tubulação que não parecia ter fim. Gritando como se tivesse num montanha russa. Caindo repentinamente em um ambiente escuro, que possuía líquens nas paredes e musgos no chão. As janelas quebradas de formas irregulares assombravam ali naquela noite.
Cecília – Onde estamos? Ué, vocês não disseram que vieram por aqui?
Manoela – Na verdade, penso eu, o túnel que a gente chegou não era tão estreito como esse e era mais para o leste do terceiro andar. Pegamos o túnel errado.
Marieta que não parava de se estapear – Pelo menos. Ai!. Tivemos. Ai! A chance de…Ai caramba! Ai ai ai!!! De localizar um túnel..ai ai ai ai ai…. a tempo!
Um trovão assustou as três que pularam para longe da janela amedrontadas. Juraram que viram um vulto passar por ali fora. Elas abriram uma portinha lateral de madeira que caia aos pedaços e saíram naquela brisa molhada do temporal.
Pensaram em seguir a pessoa, pois assim quem sabe poderia leva-las para um lugar conhecível. Ficam pasmadas de ver como o Internato era grande, não juravam que havia tantos aposentos nos quase oito meses de estadia ali.
Escutaram berros vindos do corredor paralelo aos aposentos das faxineiras, quando se adentraram num área bem longe do prédio principal, que Marieta identificara por meio de uma árvore. Era um grito de socorro que implorava para alguém ajuda, queria se livrar daquelas vozes, daquela música maldita. Sai de perto de mim: “Copland”, sai.
As garotas vibraram de felicidade com a informação.
Saíram a disparar até o local, guiado pelas vozes e desembarcaram num quarto vazio, antigo, onde era notório que a higiene passava longe, as teias de aranha alcançavam mais de um metro do teto.
Cecília se aproximou dele com cautela das amigas, mas alguém estava no banheiro saiu.
Tony – Espera Jefferson, você já vai tomar seu remedinho, aguenta firma. Droga de enfermeiras deixam tudo para…
Ele flagrou o trio. Era um segurança.
Tony – Alunas? Por aqui? Vocês estão ferradas!
Mas Cecília num gesto rápido o beijou calorosamente para a surpresa das amigas.
CONTINUA…