Capítulo 7 – Jovens Tardes
Roteiro de telenovela Brasileira Capítulo 007
Continuação Imediata do Capítulo anterior:
Cena 01. Interior, noite, Mansão Kalil. SALA DE JANTAR.
Tomázia (gritando) – Larga essa faca. Ela é a sua filha, larga.
Marechal olha fixamente para a faca e a deixa cair no chão.
Melina – Pai você iria me matar?
Tomázia e Melina começam a chorar.
Marechal – Meu sonho era que você nunca tivesse nascido. Sabe Melina, eu nunca consegui ter amor por você e por muitos anos eu achei que a culpa era minha, que eu era um insensível.
Tomázia – Para de magoar a minha filha.
Marechal (emocionado) – Eu tentei ter algum sentimento, algum afeto, mas não deu, desculpa Melina, mas eu não posso continuar olhando você. Você é a maior decepção da minha vida.
Marechal sai da sala de jantar e Tomázia e Melina se abraçam chorosas.
Tomázia – Eu juro, por mim, pelo Laerte e por você, minha filha, que te amarei sempre. Se seu pai não te ama, eu te amarei em dobro.
Melina – Eu só queria um olhar de afeto dele, um abraço ou uma palavra que fizesse meu coração transbordar, mãe. Eu só queria me sentir parte da família. Mas meu pai, ah meu pai.
Melina começa a chorar descontroladamente. Helena e Santa chegam à sala de jantar e tentam ajudar Tomázia.
Tomázia – Trás um copo de água com açúcar pra ela Santa, trás logo.
Santa – Sim senhora.
Santa sai para buscar a água.
Helena – Melhor levá-la pro quarto, pra ver se ela descansa um pouco.
Tomázia – Tem razão Helena. Me ajuda aqui, pega pelas pernas e me ajuda a subir as escadas.
Tomázia e Helena carregam Melina, que está chorando e completamente triste.
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Cena 2. Interior, noite, Mansão Acioli. Quarto de Bela.
Bela está de camisola de seda e passando hidratantes no rosto, quando Missy Justem entra no quarto sem qualquer aviso.
Missy Justem – É, tá tarde já. Desisto de tentar ver a Lorena hoje. Amanhã tomamos café juntas.
Bela – Vá se acostumando baby. Todas as noites serão assim. A órfã tá namorando o filho do Marechal com a Tomázia.
Missy Justem – O que? Não acredito.
Bela – Mas é. Tão de namorico, acho que isso é birra.
Missy Justem – Mas como o mundo é pequeno hein. A história se repete como num ciclo vicioso. Acioli versus Kalil.
Bela – Eu estava tão preocupada com as minhas vinganças, que acabei me esquecendo dessa garota, mas já já eu mexo meus pauzinhos e acabo de uma vez por todas com esse namorico de beira de estrada. Dê-me cinco minutos e uma dose de vodca.
Missy e Bela riem.
Filó bate na porta e entra.
Filó – Com licença.
Bela – Ih, veio interromper o que desta vez?
Filó – Eu só vim dizer a senhorita Justem que o quarto de hóspedes está devidamente arrumado, e que pode se recolher quando quiser.
Missy Justem – Obrigada Filomena.
Filó – Com licença e boa noite.
Filó sai do quarto.
Bela – Você pediu a Filó para arrumar um quarto?
Missy Justem – Pedi sim.
Bela – Pra quê?
Missy Justem – Pra eu poder dormir nesse período em que ficarei na cidade.
Bela – Missy, mas você irá dormir no lugar de sempre. Não importa se é no Brasil, na Itália ou em Nova Iorque. Você vai sempre dormir ao meu lado, nanossa cama.
Missy Justem – Eu pensei que com a sua vinda para cá, com o Marechal mais próximo, que você tivesse mudado e…/
Bela – Mudaram as estações, nada mudou. Tudo aqui dentro do meu coração permanece o mesmo. O desejo de justiça contra essa gente provinciana e o amor que eu sinto por você. Absolutamente nada mudou.
Missy Justem – Momentos assim reforçam a minha escolha de ter atravessado a América para estar com você. Não me arrependo de estar aqui.
Bela olha Missy emocionada e a abraça forte.
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Imagens aéreas da cidade amanhecendo com fundo musical em BOSSA NOVA.
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Cena 3. Interior, dia, Pensão Milú. Quarto de Letícia.
Letícia está dormindo e Murilo aparece entra no quarto sorrateiramente com um colã preto, salto alto e peruca.
Murilo (cochichando) – Três, dois, um…
Murilo (dançando e cantando no ritmo “single ladies”) – Ah o docin de leite, ah o docin de leite, ah o docin de leite, ah o docin de leite. Ô Ô Ô Ô.
Letícia acorda assustada.
Letícia (gritando assustada) – Merda! Me acordou bicha. Podia ser menos escandaloso hein Murilo. Vai se exibir lá pra sua platéia. Num sou suas nega não.
Murilo – Ih, acordou de mau humor?
Letícia – Lógico, óbvio. Imagina acordar com alguém dançando e cantando pessimamente na sua frente. Vá ver se eu tô na esquina Murilo.
Murilo – Bi, bi, bi, olha o recalque passando de carro. Meu amor, tanto mau humor assim é falta de homem.
Letícia joga um travesseiro em Murilo.
Murilo – Te juro que se eu gostasse da fruta te dava uns tratos. Mas tenho horror, um verdadeiro nojo. Eca, só de pensar já fico com náuseas.
Letícia – Nem se você fosse o último boy magia, eu iria querer. Não fui achada no lixo não.
Murilo – Eu sou muito mais eu. Olha bem pra mim, pra minha pele, tô num patamar bem mais alto que você.
Letícia – Cala a boca e dança. Só assim pra você ser menos insuportável.
Murilo ajeita a peruca.
Murilo (dançando e cantando no ritmo “single ladies”) – Hoje eu tô solteira, hoje eu tô solteira… Hoje eu tô solteira, hoje eu tô solteira… Ô Ô Ô Ô Ô.
Letícia se levanta e começa a dançar sem jeito.
Murilo – Ah não viada. Eu aceito tudo: seus insultos, seu mau humor e até seu bafo de onça, mas agora essa dancinha de quinta? Ah num suporto não. Pode parar.
Letícia – Invejosa.
Murilo – Recalcada.
Letícia – Desbundada.
Murilo – Mal amada.
Letícia – Ai chega disso. Você cansa a minha beleza.
Murilo – Na verdade é esse seu rosto que não te favorece. O corpo até que tá apresentável, pra sua idade, até que tá.
Letícia (jogando travesseiro) – Ai Murilo, que chato.
Murilo joga o travesseiro em Letícia e então começa uma guerra de travesseiros.
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Cena 04. Exterior, dia, Mansão Ceregí. Piscina.
Fufu está de maiô sentada na cadeira, de óculos escuros e lendo a VOGUE.
Fufu (p/ si) – Áureos tempos em que Bela Acioli só aparecia aqui.
Nesse instante Igor aparece, todo de terno e gravata.
Igor – Só passei pra dar um beijo na minha linda.
Fufu – Pode beijar.
Igor se abaixa e beija com carinho o rosto de Fufu.
Igor – Bom dia. Vejo que acordou disposta hoje.
Fufu – Tô muito branca amore, precisava urgentemente desse sol matinal.
Igor – Passou protetor?
Fufu – Uhum.
Igor – Não tome muito sol, não faz bem a pele. (T) Eu agora vou indo, tenho uma lipoaspiração pra realizar e algumas consultas de rotina.
Fufu – Igor, por favor, me concede um dedinho de prosa?
Igor – Mais tarde tia.
Fufu – Mais tarde pode ser tarde demais. Me escuta agora, prometo ser rápida.
Igor se senta ao lado de Fufu.
Fufu – Talvez você não goste de ouvir meu sobrinho, mas acho necessário dizer, é sobre a Carmita.
Igor – O que tem ela? Aliás, por onde ela anda? Já liguei pro Marechal, pros hotéis da cidade e até na casa daquela prima dela eu cheguei a procurar.
Fufu – É sobre isso que estou querendo falar com você. A Carmita sumiu e ela é responsabilidade sua. Não dá pra fingir que de uma hora pra outra, ela deixou de existir. Legalmente ela ainda é sua esposa, e o laço da fraternidade, do companheirismo é pra toda vida. O amor se foi, mas a cumplicidade não.
Igor – Tenho pensado em tudo que diz respeito à Carmita e eu e cheguei a uma simples decisão, ela é o amor da minha vida. Tá certo que o que eu fiz com ela foi imperdoável, eu humilhei a minha mulher, mas estava cego de desejo, de paixão.
Fufu – Realmente foi humilhante, mas corra atrás do prejuízo. A Carmita te ama e sei que não para de pensar em você, vá à luta e a procure. Vocês merecem a felicidade.
Igor – Farei isso mesmo tia. Eu mereço a Carmita, preciso dar valor.
Fufu – Vá trabalhar que eu darei meu jeito aqui.
Igor (saindo) – Tá bem, beijo.
Fufu (pra si) – Enfim o efeito Bela Acioli passou.
Nesse instante uma empregada aparece.
Empregada – A senhora deseja um refresco, uma água?
Fufu – Champanhe minha querida. O mais caro que tiver nessa casa. É hora de comemorar.
Empregada – Sim senhora.
A empregada sai e Fufu, sorridente, volta a ler sua VOGUE.
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Cena 05. Interior, dia, Mansão Acioli. SALA DE JANTAR.
Bela está sentada a mesa, e Filó está a servindo.
Bela – Meu café é com adoçante hein. Nada de colocar açúcar como fez ontem e anteontem. Tá ficando cada dia mais ineficiente.
Filó – Desculpa dona Bela.
Filó pega uma xícara e coloca café e pinga algumas gotas de adoçante.
Filó (entregando o café) – Aqui está, do jeito que a senhora gosta.
Bela prova o café e faz cara de mistério.
Filó – E então?
Bela – O café hoje tá muito bom.
Filó solta um lindo sorriso.
Bela – Mas não vá se acostumando hein. Sou mega exigente com meus criados.
Nesse instante aparece Lorena com uma cara de sono.
Lorena (se sentando) – Bom dia tia, bom dia Filó.
Bela fecha a cara.
Lorena (com Filó) – Faz uma torrada com ovos mexidos pra mim?
Filó (saindo) – Sim senhora, com licença.
Filó sai.
Bela – Chegou muito tarde ontem, não estou gostando disso não.
Lorena – Aconteceu o maior carnaval lá na casa do Laerte. O pai dele não me aceitou por eu ser sua sobrinha, acredita? Aí me expulsou e brigou com ele. Rodamos horas e horas pra achar um hotel pra ele.
Bela – O Marechal é neurótico comigo. Aí todo mundo no fim tem que pagar por isso.
Lorena – O que a senhora aprontou com ele?
Bela – Nada, absolutamente nada. Mas num tô gostando de você ir a hotel com o namoradinho, e nem de chegar em casa de madrugada. É uma menina ainda e fora que pega mal. Tem que se valorizar. Você é sobrinha e herdeira única da modelo mais famosa do Brasil, portanto porte-se como tal e deixe de se dar ao desfrute por aí. A cidade é pequena e daqui a pouco as pessoas começam a comentar e tem ti ti ti por todo canto.
Lorena – Essa sua fala teria caindo muito bem ontem, no sermão dominical. Ah, poupe-me tia. Eu sou bem grandinha e sei o que devo ou não fazer da minha vida.
Bela – E ainda é ríspida comigo. Lorena, eu já tive a sua idade e garanto que todo esse poder que você acha que tem, vai te fazer quebrar a cara, pode apostar.
Nesse instante Filó entra trazendo uma bandeja com torradas e ovos mexidos.
Lorena – Ai que delícia, preciso do meu desjejum Filó… Hoje o dia será longo naquela loja.
Bela – Eu não vou hoje. Farei um tour pela cidade.
Lorena – Ai tia, que desculpa mais esfarrapada pra não ir trabalhar. Você conhece Pedrosa de cabo a rabo, num precisa de tour em plena segunda-feira.
Bela – Mas eu vou acompanhada, vou mostrar a cidade a uma pessoa querida.
Lorena – Quem?
Nesse instante aparece Missy Justem com roupa de ginástica.
Missy Justem – Eu.
Lorena olha surpresa.
Lorena (feliz) – Missy? Você aqui? Meu Deus, milagres acontecem. Eu jurava que você era colada a Times Square.
Lorena se levanta e abraça Missy.
Lorena – Tá bonita hein.
Missy – Olha o que sua tia me faz. Atravessei a América e vim parar aqui, nessa cidade over.
Bela – Mais respeito com a minha cidade.
Missy – Cidade provinciana, puro coronelismo e cheia de preconceitos. Eu não seria feliz aqui.
Lorena – Então você não veio para morar?
Missy – Tá louca? Bebeu? Meu bem, tô dando um tempo aqui, pra sua tia acertar algumas coisas… No máximo, dentro de dois meses já estou desfilando meu casaco de pele de carneiro no Central Park. Hello baby, eu sou chique.
Lorena – O Brasil é lindo. Tanto lugar pra conhecer.
Missy – O único lugar que quero conhecer aqui é o aeroporto meu bem. Aqui as chuvas tropicais são um horror… Fortes demais, barulhentas ao extremo. Prefiro a neve da minha house. Muito mais chique e confortável.
Lorena – Mas você chegou quando?
Missy – Ontem, mais tarde um pouquinho. Você ainda não havia chegado da casa do namoradinho.
Lorena – Já vi que a tia te contou tudo né!
Missy – Vamos lá em cima comigo, trouxe alguns presentes pra você Lorena.
Missy e Lorena saem de mãos dadas feito duas crianças.
Filó – A senhora quer algo mais dona Bela?
Bela (cochichando) – Eu vou dar uma saidinha, coisa rápida, mas nem levarei celular. Caso a Missy ou a Lorena me procurem, diga que fui levar o carro pra revisão e que volto já.
Filó – Sim senhora.
Bela sai andando rápido e Filó fica curiosa.
Filó – Isso tá me cheirando a mentira.
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Cena 06. Interior, dia, Mansão Kalil. QUARTO DE MELINA.
Melina está deitada na cama, com enormes olheiras e maquiagem borrada.
Santa entra no quarto sem bater.
Santa – Vamos descer Melina.
Melina – Trás meu café aqui Santa. Eu não preguei os olhos a noite toda e tô cheia de fome.
Santa – Seu pai me mandou subir aqui e te chamar pra ir tomar café lá embaixo. Ele quer conversar com você.
Melina – Quer me humilhar, mais uma vez né! Mas eu irei. Só vou melhorar essa cara aqui.
Santa – Eu te espero então.
Melina se levanta e vai em direção ao banheiro, enquanto Santa se senta na cama.
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Imagens aéreas da cidade de Pedrosa.
Sonoplastia:
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Cena 07. Interior, dia, Mansão Kalil. SALA DE JANTAR.
Tomázia e Marechal tomam café em silêncio e sozinhos.
Melina chega séria, senta-se bem distante dos pais.
Marechal – Tá com raiva da gente?
Melina – Minha mãe não tem culpa, coitada.
Marechal – A única culpada aqui é você. Infelizmente nós nos dissemos coisas terríveis ontem e acho que precisamos conversar melhor.
Melina – Você só disse a verdade, o que sentia. Não dá pra consertar o que foi dito. Me magoou demais, mas já foi, ontem é passado.
Tomázia – Escuta seu pai Melina. Ele quer tentar se redimir do que aconteceu ontem.
Melina – Mãe, você sempre colocando panos quentes em tudo. Hipócrita demais, não consegue ver a dimensão e a gravidade do que meu pai disse ontem.
Marechal – Eu não admito que você fale assim com a sua mãe e quer saber a verdade? Eu tô te propondo largar esse vendedor de coxinhas e viver em paz, onde você quiser: aqui, na Alemanha, nos Emirados Árabes. Você escolhe e eu patrocino.
Melina começa a rir.
Melina – Se você não teve sorte no amor, me deixa ao menos tentar. Eu quero e vou ficar com o Hélio, mesmo que goste ou não. Sua opinião pra mim já não vale mais nada.
Marechal – É assim que você quer não é? Viver contando medas, andando de ônibus lotado e limpando privada de madame, já que é assim, faça bom proveito da nova vida.
Tomázia – Pensa direito minha filha. Veja se realmente vale à pena ficar com esse rapaz.
Melina – Eu sei o que é melhor pra mim. Meu destino tá traçado já. Respeito é só o que peço.
Marechal se levanta da mesa do café e sai.
Melina – Ficou bravo? É isso que ele sempre faz, dá as costas e sai. Não sabe admitir a derrota.
Tomázia – Você é que fala demais.
Melina – Ah mãe, chega com esse discurso politicamente correto. Se você não foi feliz, não foi amada, não me negue esse prazer. Agora é a minha vez de escolher.
Tomázia olha Melina com tristeza.
Melina (gritando) – Santa, trás meu café.
Marechal volta à sala de jantar e se senta no mesmo lugar onde estava.
Marechal – Tá com fome Melina?
Melina – Tô sim.
Santa entra com uma bandeja contendo apenas um pão francês.
Santa (entregando a Melina) – Aqui está.
Melina (indignada) – Santa, cadê meu café? Esse pão seco é de ontem, tá duro feito um pedaço de pau.
Santa – Desculpa minha menininha, mas é que seu…/
Marechal – Fui eu que falei pra Santa te dar isso de café da manhã.
Tomázia – Você tá maluco, pirou Marechal? Só faltava essa.
Marechal – Nada como um sanduíche de pão com pão para se dar valor ao presunto. Num vai viver com o vendedor de coxinhas? Então, aprenda desde já a se adequar ao cardápio dele. Não seria nada cordial você fazer cara feia pra um pão seco de ontem. Acostume-se… Já fiz todas as suas refeições de hoje.
Melina joga o pão longe e sai correndo.
Tomázia (gritando) – Melina espera.
Tomázia (com Marechal) – Dessa vez você foi longe demais. Longe demais.
Marechal começa a rir.
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Cena 08. Interior, dia, Pensão Milú. RECEPÇÃO.
Milú, Desiree, Letícia e Murilo estão conversando, sentados no sofá.
Murilo – Dona Milú é verdade que a senhora já foi bicho do seu Hamilton?
Letícia cai na gargalhada.
Milú – Bicho? Como assim menino?
Letícia – Bicho quer dizer peguete. Namoradinha sem tanta importância.
Desiree e Milú se olham chocadas e em seguida olham para Murilo.
Murilo – Gente, qual foi o caô da pergunta? Ué, vão me disser que nunca pensaram naquilo?
Desiree – Murilo, respeito é bom e eu gosto. Não pensamos em ousadia mais não. Na verdade já passamos da idade.
Murilo – Dona Dedê, ah dona Dedê, pra amar, pra ter um boy magia não precisa ser novinha não. Ah senhora e a dona Milú ainda dão um bom caldo. Eita, na idade de vocês eu vou estar mais terrível que chuchu na parreira.
Letícia – O Murilo é louco, mas nisso tem razão. Tá na hora de vocês pararem de fazer tricô e colocarem aquela roupa de missa e ir pro baile.
Milú – Ah gente, num sei.
Murilo – Aceita logo dona Milú, vai você e dona Dedê. Ai gente aproveita.
Nesse instante Bela entra na recepção e olha fixamente para Milú.
Bela – Será que posso ter um papo reto com você Milú?
Letícia e Murilo ficam boquiabertos.
Murilo – Mas você não é a modelo Bela Acioli?
Bela olha com desprezo para Murilo e volta a olhar para Milú.
Murilo – Além de velha é antipática? Cruz credo, essa viada é carne de pescoço.
Bela (com Murilo) – Olha pra mim e depois olha pra você. Eu sou rica, sou famosa mundialmente e acima de tudo fina. Agora você não passa de uma bicha.
Murilo (exaltado)- O que? Repete na minha cara.
Bela – Não passa de uma bicha, dessas bichas pão com ovo.
Murilo se levanta e fica cara a cara com Bela.
Letícia – Murilo deixa, não vale à pena.
Letícia se levanta, pega Murilo pelo braço e sai o arrastando.
Bela – Vai falar comigo aqui ou tem um lugar reservado?
Desiree – Se tá falando por causa de mim, saiba que…/
Bela (com desprezo) – Pouco me importa o que você acha ou deixa de achar. Some daqui sua piranha. Eu tenho nojo de você.
Desiree se levanta e dá um tapão no rosto de Bela, que retribui com a mesma intensidade.
Milu (gritando/ histérica) – Para com isso Bela.
Desiree (assustada) – Eu jamais poderia imaginar que você me faria uma coisa dessas. Eu sou a sua mãe.
Bela – Nunca mais volte a pronunciar esta palavra. Você não é a minha mãe. Você foi apenas uma vagabunda parideira. Nem uma vaca é assim, nem uma galinha é assim. Se te chamasse de puta, estaria xingando uma classe que merece o mínimo do meu respeito, ao contrário de você, que de mim não merece nem o desprezo. Eu tenho pena de você.
Desiree (chorando) – Infeliz, você é infeliz. Sabe o que eu acho?
Bela – Num sei e nem quero saber.
Desiree – Mas eu vou dizer assim mesmo.
Bela – Veja lá o que você vai dizer.
Desiree – Você nunca mereceu ter uma mãe. Olha ao seu redor, ninguém gosta de você. Quando você nasceu, dei você mesmo, infelizmente foi por doença, mas teria dado você de qualquer forma, e sabe por quê? Eu nunca gostei de você, não gostei de cara. Chorava demais, fazia muito xixi. Você sempre foi um ser desprezível. Se é que posso te chamar de ser. Pra mim você é um vírus, desses que tem que se manter a longa distância. Porque entra pela pele, pela respiração. Quando tô perto de você eu controlo a minha respiração, pra não me contagiar.
Bela fica dominada de ódio e começa a socar a cara de Desiree, enquanto Milu assiste a tudo perplexa.
Diálogo segue junto com ação.
Bela (estapeando Desiree) – Se eu sou um vírus, agora você está contaminada. Toma vagabunda, toma.
Bela derruba Desiree no chão e cospe em seu rosto.
Bela (exausta) – Perfume vagabundo esse seu. Fiquei impregnada. É o cheiro da infelicidade, da miséria. Vou me benzer pra nunca mais te ver na minha frente.
Milú – Olha o que você fez com a sua mãe. Sai da minha pensão, fora.
Bela – Eu saio, mas ainda volto pra falar com você. Meu papo é com você.
Bela vai embora, enquanto Milu ajuda Desiree a se levantar.
CAM foca em rosto de Desiree todo ensanguentado.
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