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Agridoce

Capítulo 7 – Agridøcє

Agridøcє

Sai do boxe do chuveiro e me troquei, envolvi a toalha em meus cabelos e caminhei de volta para o quarto. Joy havia puxado uma cadeira e posto de frente para sua cama, assim que passei pela porta, ela me puxou e me fez sentar.

— O que vai fazer?

— Te maquiar! — Ela revirou os olhos como se fosse óbvio.

— Não é pra tanto, Joy! — Bufei, tentando me levantar, ela segurou meus ombros e me forçou a me sentar.

— Wendy… Você não tem um encontro de verdade há quanto tempo? — ela me encarou —  Ou melhor, já teve um encontro de verdade alguma vez?

— Sim. Eu já namorei, se quer saber.

— Uau! Fiquei realmente surpresa com essa noticia! — Pelo canto do olho percebi que Rylan me encarava.

— Viu? Não sou tão anormal assim. Já tive algumas experiências de adolescente, como qualquer outro adolescente normal.

Ela revirou os olhos mais uma vez e abriu uma bolsinha, começou a tirar de lá todo tipo de maquiagem. Coisas de todas as cores, batons de todos os tons possíveis de vermelho. Suspirei. Pelo menos se nada desse certo nesse encontro, podia sair e ir me candidatar em algum circo. Joy começou a abrir seus kits de maquiagem e me mandou fechar os olhos, sentia umas pinceladas ali e acolá. Depois de um tempo que me pareceu muito demorado, Joy disse que eu podia abrir os olhos. Rylan se levantou curioso da minha cama e esticou o pescoço para me olhar.

— Wendy! — Ele sorriu e arregalou os olhos verdes.

— Está tão ruim assim? — Estremeci.

— Não… — ele sacudiu a cabeça. — Claro que não. Não mesmo! Não. — Ele sorria.

— Hm. Que bom, então. — Estiquei o braço para pegar o espelho de mão da Joy que ficava sempre na escrivaninha e me encarei. Fiquei um pouco chocada, definitivamente não era nada do que eu esperava, não tinha batom vermelho, nem delineador, nem sombra preta. Ao contrário, era tudo muito sutil, um gloss com um tom de rosa chiclete, uma sombra meio acinzentada, meio branca, meio um tom indecifrável e minhas bochechas estavam rosadas. Me senti bonita, me perguntei se era assim que Ally se sentia quando se olhava no espelho. Suspirei. Ally.

Depois, Joy soltou meus cabelos da toalha e os penteou me senti como se estivesse no pré esperando minha mãe arrumar meu cabelo em duas trancinhas laterais. Mas ao contrário disso, Joy usou um tal creme rosa que segundo ela fazia milagres, dava volume e deixava sexy, mostrava que eu estava interessada no menino a ponte de me maquiar, mas não o suficiente para arrumar o cabelo de forma correta. Para mim, aquilo era apenas um creme rosa. Dei de ombros.

Me levantei e me encarei no espelho de corpo inteiro que ficava na porta, eu me sentia realmente bonita, como a tempos não me sentia, como nunca me senti. Pude ver pelo reflexo no espelho o olhar fixo e pensativo de Rylan em mim, me senti desconfortável. Hoje ele havia tirado o dia para os olhares penetrantes. E eu não gostava de ser olhada assim, principalmente por aquele par de olhos verdes redondos.

19:58. Abri a janela e o ar quente soprou para dentro do quarto, isso significava que eu não precisava levar um casaco, ou algo do tipo.  Peguei a mesma bolsa surrada na qual eu sempre levava meu material e joguei dentro algumas coisas.

— Obrigada por isso! — Sussurrei para Joy enquanto saia do quarto, ela apenas balançou a cabeça e voltou a foliar sua revista.

Desci pelas escadas, ansiosa demais para esperar o elevador. Abri a porta e olhei para os lados. Não tinha ninguém ali. Peguei o celular na bolsa e já passava das 20:05. Já podia entrar em desespero e voltar pro quarto chorando? Não. Ainda não. Decidi esperar mais 5 minutos, talvez 10. Não passaria de 15. Fechei a porta e encostei-me à parede. A noite estava realmente agradável, abafada, talvez, pudesse esperar 20 minutos.

Olhei para o alto, para o topo de uma árvore, encostei a cabeça na parede e depois fechei os olhos. Tinha essa mania. Então, ouvi passos.

— Hey, Wendy! — Nicholas sorriu, enquanto caminhava em minha direção.

— Oi. — Sussurrei, desencostando da parede.

— Demorei? Tá esperando faz tempo? — ele não me deixou responder, passou os braços pela minha cintura e me abraçou, dando um beijo no alto da minha cabeça, não pude nem reagir.

— Isso foi estranho.

— Só se for pra você! — ele passou a mãos nos cabelos novamente. — Vamos?

— Qual o roteiro? — Me afastei de seus braços e caminhamos em uma distância segura um do outro.

— Tem uma Starbucks aqui perto do Campus. — ele passou a mão na barba por fazer. — Ou, posso ir até minha casa e pegar meu carro e vamos ao shopping. Se preferir.

— Starbucks. Perfeito.

Nicholas sorriu e caminhamos para o prédio principal e depois para a saída do Campus, Nicholas tagarelou o caminho todo, cerca de três quarteirões, então paramos em uma enorme Starbucks, Nicholas abriu a porta e se afastou para que eu entrasse, estava relativamente cheia e eu nem sabia que Starbucks ficavam abertas até àquela hora. Escolhemos uma mesa de dois lugares no canto, do lado das janelas e nos sentamos.

— Então, quer tomar o que? Vou lá pedir.

— Hm.. Acho que um Frappuccino  de caramelo.

— Ok. — Nicholas se levantou e foi para a fila, voltando minutos depois com dois frappuccinos de caramelo, me entregou um e se sentou na minha frente.

— Bem movimentada essa Starbucks.

— Bem legal, né? — ele sorriu. — Finais de semana eles fazem um horário especial, meio que eles tem uma parceria com o Campus, abrem mais tarde e ficam abertos até bem tarde por que é sempre lotada.

Olhei para a janela e para um carro que passava, sem saber se aquilo exigia algum tipo de comentário da minha parte.

— Está melhor? Tipo, com relação a sua irmã e tal?

— Acho que sim, na verdade nem sei. Não falei com ela hoje, também, depois que nos vimos, não tive muito tempo para pensar no assunto.

— Você está muito bonita.

— Você também. — Olhei para  a janela. E ele realmente estava, usava uma blusa de flanela azul escura, os longos cabelos pretos estavam jogados no rosto do lado direito e presos atrás da orelha no esquerdo. Sua barba por fazer destacava seus lábios grossos e rosados.

— Obrigado, senhorita Wendy! — ele sorriu, mostrando uma fileira perfeita de dentes brancos.

— Então, Nicholas… — Comecei, mas ele me interrompeu.

— Nick.

— Ok, Nick.

— E então, o que? — Ele me encarou, arregalando um pouco os olhos.

—Nada. — abaixei a cabeça sem graça. —  Ia tentar puxar algum assunto, mas não veio nada na minha cabeça. Não sou boa nisso.

— Percebi. — Ele sorriu.

Nicholas me lembrava um pouco Rylan, era todo cheio de risos e sorrisos. Qual era o problema dos meninos da Universidade? Tinha gastado sua cota de mau humor no colegial?

—Então, Wendy… — meu nome saiu quase como um suspiro. — Acho que não perguntei o que está cursando!?

— Línguas.

— Hm. Bem a sua cara mesmo. — mais um sorriso. — Faço Filosofia.

— Sinceramente? Isso não é nada a sua cara.

— Eu sei. — deu de ombros, pegando o canudo do frappuccino e colocando na boca. — Alguns pais querem que os filhos sejam médicos, outros advogados. Meu pai quer que eu faça Filosofia. — ele deu de ombros.

— Mais e o que você queria fazer?

— Nunca parei para pensar nisso. — ele sorriu, meio sem graça. — Desde pequeno eu soube que seria esse o meu final.

— Não é tão difícil arrumar uma bolsa, sabia?

— Você é bolsista?

— Sim. Seria bem complicado para o meu pai e para minha mãe pagarem a faculdade para as duas filhas. Não que eles tenham reclamado ou dito algo, mas eu preferi ir atrás de uma bolsa.

— E sua irmã?

— A dela eles pagam. — dei de ombros.

— Isso não é justo.

— Já te disseram que o mundo não é justo? — tentei sorrir. — E de qualquer modo, eu que escolhi assim.

— Você é inteligente. Deve ser fácil para você.

— Você também é.

— Não como você.

— Não, não como eu. Por que cada um tem sua própria inteligência. Nenhuma é igual à outra.

Ele esticou o braço por cima da mesa e tocou minhas mãos que estavam cruzadas em volta do copo, quase intacto. Minha primeira reação foi afastar as mãos, deixando que sua mão caísse em cima da mesa, mas diante do seu olhar castanho/esverdeado que me encararam, quase como se me atravessassem. Eu deixei que ele me tocasse.

— Obrigado. — Sussurrou. Eu encarei as janelas novamente. — Não conheço sua irmã, e espero não ofende-la com o que vou dizer; mas ela é que deveria ficar chateada por não te ter por perto, você é uma menina magnífica, Wendy!

Passamos mais de uma hora sentados naquela mesa, no canto da Starbucks ao lado da janela, conversando, e quando digo conversando, ele falava e eu escutava na grande esmagadora maioria das vezes. No final de dois copos de frappuccino de caramelo e duas tortinhas, e um local quase totalmente vazio, decidimos que era hora de ir embora.

— Já quer ir? — Ele perguntou botando as mãos nos bolsos da calça e me olhando.

— Não sei… — pisquei. — Você quer?

— Não. — Ele me encarou. — Quer conhecer minha casa?

— Não! Não, claro que não! — Pisquei, balançando a cabeça.

— Epa! O que você está pensando? — ele enfiou as mãos mais fundo no bolso. — Tipo conhecer minha casa, mesmo. Não meu quarto, ou minha cama. Só se quiser. — sorriu.

— Acho melhor não… Pensando bem, estou cansada e está ficando tarde.

— Você continua sendo uma péssima mentirosa, Wendy!

— Eu sei. — rimos juntos. — Talvez, só talvez eu possa ir, mas nada de contato físico e se tentar me levar pro seu quarto eu grito, ok?

— Sim, senhora! — ele riu, descontraído.

Caminhamos como se tivéssemos indo para o Campus, mas viramos a rua no primeiro quarteirão, havia muitos comércios ali, todos já fechados. Viramos mais uma rua e entramos em uma rua fechada, dando de cara com enormes — ENORMES — casas. Caminhamos até o final da rua e Nick parou na frente da primeira casa. Era a mais discreta da rua, mesmo assim não deixava de ser enorme. Minha casa se comparada aquela parecia um banheiro do lado de um shopping.

— E seus pais?

— Não estão em casa, na verdade, nunca estão.

— Então a casa é toda sua?

— Tem um menino da Universidade que mora aqui comigo, também. Às vezes ele trás umas amigas. — Ele deu de ombros, pegando a chave no bolso da calça.

— Joy ia amar isso aqui!

— Por quê e quem é? — ele abriu o portão e se afastou para que eu entrasse.

— Minha colega de quarto. Ela não gosta de ter colegas de quarto. Não gosta nem de morar no campus.

— Ah, eu também não. Por isso prefiro morar aqui, apesar de me sentir meio sozinho. Tem alguns quartos vagos, se ela quiser. Mas, que fique bem claro, que se você fosse minha colega de quarto, eu até mudaria de ideia. — ele sorriu e deu de ombros.

— Aí eu é que me sentiria sozinha! — fiz biquinho. — No começo ela me dava um pouco de medo, quer dizer, ainda da. Ela tem um humor meio instável, chega dando bom dia, e sai do quarto mandando você ir para a ponte que partiu!

— Rá! Ela e o Ralph iam se dar bem.

— Conhece o Ralph?

— Ele que mora aqui comigo. — ele me encarou. — Conhece, também?

— O menino dos olhos de ônix. — dei de ombro. — Ele é amigo da Ally e da colega de quarto dela.

— Epa! — ele cruzou os braços na frente do corpo. — Então é você a Wen?

— Hã?

— Ralph vivi falando de uma tal de Wen. Enche meus neurônios por causa dessa menina. — ele me encarou, olhando de cima a baixo. — Óculos? Confere. Cabelo? Confere. Irmã gêmea? Confere. — ele sussurrava para si mesmo.

— Não estou entendendo, Nick.

— Acho que me meti em problemas! — Ele passou a mão nos cabelos. Se continuasse com essa mania de passar a mão nos cabelos toda hora, ia acabar ficando careca antes da hora.

— Continuo não entendendo.

— Eu e o Ralph meio que fizemos um pacto de “colegas de casa e universidade”. Nunca. Nunca pegaríamos a menina que o outro está afim.

— O Ralph está afim de mim, Nick? — O encarei, com os olhos arregalados. Um cara estava afim de mim, em 18 anos, eu só tinha conseguido chamar a atenção de um menino. Era meio perturbador descobrir que agora tinha mais um.

— E eu também. — Ele sorriu. Bacana! Agora eram três. Revirei os olhos.

Ele passou a mão novamente pelos cabelos e se aproximou, dei um passo para trás, e ele deu mais um passo para frente, e eu mais um para trás, me fazendo encostar-se à parede da garagem. Colocou uma mão em cada lado da minha cabeça, encostando-as á parede e aproximou sua cabeça da minha.

— Sem contato físico. — ele sussurrou e continuou aproximar sua cabeça da minha até que senti sua respiração quente em minha boca. — Já beijou, Wendy? Não vale travesseiros, nem primos. — ele sorriu e seu hálito quente me invadiu.

— Já namorei uma vez. — Tentei abaixar a cabeça, mais bati minha testa na dele.

— Hm… — ele sussurrou. — Eu quero te beijar, Wendy. Eu posso?

— Você costuma pedir permissão para todas as meninas que quer beijar de língua?

— Beijar de língua? Quem ainda usa essa expressão? — ele gargalhou gostosamente. Nossas testas se encostavam agora, se ele se mexesse um centímetro que fosse, ou eu, nossos lábios se tocariam. — E não, não costumo pedir permissão, mas você é diferente.

— Diferente como? — Sussurrei.

— Diferente… — Ele sussurrou e se aproximou um centímetro.

  • Capítulo 8 – Dia 12/01

Stephanie

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