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Filho Amado

Capítulo 65 – Filho Amado

Filho Amado. 

 

Capítulo 65. 

 


 

Noronha vai até o filho: O gato comeu a língua de vocês? Eu perguntei o que está acontecendo aqui!- Grita. 

 

Caio corre pra abraçar o filho: A vó Anna tava me batendo, ela me chamou de “imbecil” papai, e me bateu- Ele chora. 

 

Noronha fica impressionado: Ela…Te bateu?- Ele encara a mãe, furioso- Ela te bateu! 

 

Anna se explica: Eu estava fazendo o meu trabalho quando o menino me interrompeu e sujou todo o piso que eu tinha acabado de limpar, merecia umas bofetadas pra aprender a prestar atenção, não foi nada demais… 

 

Noronha o pega no colo: Leva o Caio pra tomar banho, Bruno…Preciso conversar com minha mãe. 

 

Bruno e Caio saem. 

 

No porão… 

 

Jasmine treme. 

 

Éssio, preocupado: O que foi? Tá doente? 

 

Jasmine chora: Me deu um arrepio agora, uma sensação que nunca tinha sentido antes…Acho que tem alguma coisa acontecendo com o Caio…Eu preciso ver o meu filho- Ela esconde o rosto entre os braços. 

 

Éssio a acalma: O Noronha gosta do filho, não deixaria ninguém fazer o mal pro pequenino, ele está seguro sim… 

 

Na sala… 

 

Noronha olha seriamente para a mãe: Eu falei pra você não encostar o dedo no meu filho, mesmo que ele esteja errado, nada lhe dá o direito de encostar nele com essa sua mão pesada! A mão que eu já senti muitas vezes estapear meu rosto… 

 

Anna, odiosa: O Caio é igual você quando era pequeno, foi mimado pelo pai, e hoje é essa pess… 

 

Noronha a interrompe: Se o Caio fizer algo de errado venha me comunicar e não bater nele cruelmente, poxa, o menino é uma criança e não pode se traumatizar! Ele é puro, não tem maldade! 

 

Anna: Eu fiz o que achava certo e não me arrependo, tem que aprender tudo na marra mesmo, pra aprender a virar gente de verdade!- Defende-se. 

 

Noronha pega o balde: Cala a boca, e vai limpar as coisas, se você encostar de novo no Caio quem vai pagar é o Éssio…Cada qual defende a sua cria, e a sua cria está nas minhas mãos- Ele mostra a chave. 

 

Anna o ofende: Cuidado pro Caio não acabar do mesmo jeito que você, matando gente e virando corrupto! 

 

Noronha joga a água do balde nela, depois o próprio balde: PARA DE ME OFENDER E VAI TRABALHAR! AGORA! 

 

Apartamento de Marinez/ Meio-Dia. 

 

Marinez: Acho bom você ir morar com o Noronha, filha, desejo sua felicidade com ele! 
Aurora: Mas eu só vou se você for comigo, jamais te abandonarei aqui… 

 

Marinez, receosa: Eu acho que ele não me quer por lá, só me convidou pra não criar um clima sem graça…Vai sozinha, prometo que fico bem, reconstruo minha vida, arranjo trabalho. 

 

Aurora nega: Nada disso, o Noronha gosta de você, se ele te convidou não foi atoa! Eu só vou morar contanto que vá também, e ponto! 

 

Marinez pensa um pouco: Então eu vou…Aliás, nós vamos. Nós vamos morar na casa do Noronha! 

 

Clube de Pescaria Peixe Feliz é Peixe Morto/ Meio-Dia. 

 

Betânia e Jurema estão na recepção, um pescador as atende. 

 

Peixoto folheia as páginas: Aqui está…Belarmino Prestes! Ele tinha um barco motorizado no clube mas não o usava há tempos… 

 

Jurema: O barco ainda tá aqui, fofura? Se sim, precisamos entrar nele e vasculha-lo por motivos pessoais… 

 

Peixoto pega a chave: O barco está no setor azul, é fácil de ser reconhecido pelo nome: Barco Pig Pig. 

 

Betânia debocha: Pig Pig? Dessa vez ele se superou, aquele homem beirava o ridículo mesmo, aposto que foi rejeitado no infern… 

 

Jurema a corta: Não ligue pras bobagens que minha acompanhante fala- Ela pega a chave- Vamos até lá, obrigado pela informação, fofura- Ela solta uma piscadela. 

 

No porto dos barcos… 

 

A dupla entra no pequeno barco ancorado, que está cheio de velharias, a cada passo o piso range cada vez mais. 

 

Jurema acende a lanterna do celular: Aqui tá tudo muito escuro…Como vamos achar a mala? 

 

Betânia tosse: Quanta poeira! Só não entendi até agora porque ele não colocou o Pig Pig no testamento, tem algo muito estranho por trás disso! 

 

Jurema começa a vasculhar algumas coisas, em velhos baús se encontram uniformes e outros itens sem importância: Vamos ter que orar pra São Longuinho nos ajudar a encontrar a mala, já que a luminosidade não está ajudando!  

 

Betânia vai até o painel: Deve ter algum botão aqui que acende a luz, afinal tem uma lâmpada ali e por certo não foi instalada a toa!- Ela mexe nos botões- Resta saber qual é o botão… 

 

Jurema continua procurando: Para de mexer no que você desconhece, o barco é velho e pode nos surpreender! Vem me ajudar a procurar a maldita mala! 

 

Betânia aperta todos: Deve ser um desses aqui!- De repente o barco arranco em toda a velocidade, as duas caem para trás e batem as cabeças. 

 

Jurema: MEU DEUS, O QUE VOCÊ FEZ? 

 

Betânia tenta se levantar, mas o veículo está muito rápido: Não sei…Eu jurava que o barco tava ancorado! 

 

Jurema se levanta: E agora? Qual é o botão que faz pra parar?- Ela inicia uma oração- São Longuinho, nos mostre como parar essa joça e onde está a mala! 

 

De repente uma coisa pesada cai na cabeça de Betânia, que grita: AI! APERTA TODOS OS BOTÕES LOGO ANTES QUE A GENTE VÁ PARAR EM PARIS! 

 

Jurema aperta tudo, nervosa, o suor escorre em seu rosto, e, quando menos se esperava, o barco para e fica permanece em repouso na água, em meio ao silêncio. 

 

As duas estão ofegantes. 

 

Jurema se vira: Graças a Deus! Epa…Betânia, olha a mala atrás de você! É A MALA! É A MALA!- Vibra. 

 

Betânia nota: Então foi isso que caiu na minha cabeça…Se doeu tanto assim, é porque o Belarmino trocou as notas por barras de ouro!- Ela se levanta e pega o objeto- VIVA! VIVA! 

 

Jurema e ela começam a pular: ACHAMOS FINALMENTE! A MALA É NOSSA! 

 

Betânia resolve abri-la, pra felicidade de ambas, não havia cadeado nessa mala: Vamos ver as nossas preciosidades… 

 

Mas quando a mala é aberta se obtém uma triste constatação: Eram pedras, e não barras de ouro. 

 

Jurema, decepcionada: Não é possível…No bilhete tava escrito sobre pescador, eu achei que… 

 

Betânia revira as pedras e acha um bilhete: Outro desses…Não aguento mais, ele tá brincando com a nossa cara, aposto que não tem dinheiro nenhum! 

 

Jurema pega o papel e o lê: “O passo final é o mais complicado, o passo final terá de vencer, descubra o animal que eu mais gosto e multipliquem ao quadrado, depois descubra o que mais gosto de fazer. E enfim poderão obter o dinheiro precioso, e bom pra viver!” 

 

Betânia, irada: É uma farsa, tenho certeza! Não tem dinheiro nenhum, ele sabia que iriamos procurar pela mala e resolveu fazer a gente sofrer, desgraçado! 

 

Jurema: Raciocina, Betty, ele escreveu como que se fosse pro Benê! Veja: “poderá” “ descubra”, o Belarmino escreveu no singular! 

 

Betânia se levanta: Pode até ser, mas já cansei de correr atrás dessa grana e me dar mal no fim! Vamos embora- Ela sai, mas logo volta- MEU DEUS JUREMA! VEM AQUI FORA! 

 

Jurema corre pra lá, e fica boquiaberta. 

 

Estavam no meio do rio, sem nada a vista, era um ponto onde só havia água. E nada mais. 

 

Jurema cai desmaiada no chão. 

 

Casa de Noronha/ Meio-Dia. 

 

Noronha está no sofá, com Caio. 

 

Caio, triste: Eu não aguento mais a bruxa da vó Anna! Quero minha mãe, e quero ir embora daqui! 

 

Noronha penteia seu cabelo: Era assim que sua mãe penteava? Ah, deixa pra lá…A vó Anna não vai mais te fazer mal, filho, e aliás, para de chamar ela de vó! Ela é a nossa empregada, ouviu?

 

Caio “ faz que sim” com a cabeça. 

 

Ema chega: Noronha hoje veio uma delegada aqui e queria falar com o senhor, pediu pra que a procurasse na delegacia, é uma novata, chegou pra investigar os casos que foram arquivados e o primeiro era o da morte do Chico Branco. 

 

Noronha: Obrigado, vou lá daqui a pouco mesmo esclarecer essa história pra descobrirmos quem matou o Chico. E todos vão poder ver que não fui eu- Diz, com firmeza. 

 

Bruno aparece com uma bandeja: Já que o Caio não quis almoçar, eu fiz um lanchinho pra ele!- Ele vai entregar pro menino quando acaba derrubando todo o suco de goiaba na calça de Noronha. 

 

Noronha, furioso: BRUNO OLHA O QUE VOCÊ FEZ, INUTIL! 

 

Bruno larga tudo pra ajuda-lo: Ai desculpa, eu não tenho muita habilidade pra carregar bandeja! Vou pegar um lencinho e… 

 

Noronha se levanta: Esquece! Vou trocar de roupa, depois pega essa calça e põe pra lavar, aliás, lave na mão porque é de um tecido muito delicado e fino…- Ele sai. 

 

Um pouco depois… 

 

Noronha sai do quarto e entrega a peça pra Bruno: Aqui está a calça engoiabada, trate de distrair o Caio porque ele ainda tá muito aterrorizado, deixa a calça pra depois…Vou na delegacia mas volto logo! 

 

Bruno faz como um soldado: Sim chefe, o Caio será muito bem tratado, chefe. 

 

Na lavanderia… 

 

Bruno coloca a calça no tanque: Pelo menos ficou com cheirinho bom…- E a joga- Depois trato da calça. 

 

Anna aparece com um balde de roupas, ela as coloca no tanque quando vê a calça: Era o que faltava…Também não vou lavar isso hoje não- Ela a pega pra avaliar o que tinha acontecido quando algo cai do bolso, ela se abaixa e vê que é uma chave. 

 

Anna, emocionada: Meu Deus…É  a chave do porão onde o Éssinho tá!- Ela pega e esconde no avental- Preciso tirar cópias urgentemente, sabia que Deus não ia me deixar longe do meu filho por muito tempo!- Ela sorri. 

 

UM POUCO DEPOIS… 

 

Anna está no portão, ela observa o muro alto e a grade: Eu nunca vou conseguir sair daqui, e a Ema não me deixa encostar nas chaves do portão, se eu gritar, o Éssio pode se dar mal…Raciocina Anna, você é boa nisso…Vou ter que pegar a chave da Ema por mal, preciso sair e garantir o futuro do meu filho…Não vamos ficar aqui por muito tempo- Ela vai saindo quando uma voz a para. 

 

É um menino de rua: Tia, tem uma moedinha? 

 

Anna se vira novamente: Tive uma ideia…- Ela se aproxima do portão- Escuta aqui menino, você quer ganhar 10 reais? 

 

Os olhos do menino brilham: QUERO SIM!! E MUITO! 

 

Anna ri: Você precisa me fazer um favor que eu te pago, mas faça tudo direitinho ou então sem dinheiro…Vá no chaveiro ali da esquina e mande que ele faça duas cópias dessa chave- Ela mostra- Essa chave é MUITO importante, se você a perder pode ter certeza que te denuncio!- Ele faz cara de medo- Depois vá na farmácia e encomende esse remédio que tá no bilhete. Fale que Anna Dávila encomendou, ele conhece minha letra e sabe que eu pago logo. Vai querer fazer esse favor pra mim? 

 

O menino aceita: Claro- Ele pega a chave- Volto logo, mas vou querer meu dinheiro! 
Anna observa ele ir: Se esse rato de rua perder a chave…Ele me paga!- Ela se encosta nas grades, pensativa- É a minha chance de me livrar desse pesadelo que atormenta meu filho e a mim, hora da virada!- E ri maldosamente. 

 

Delegacia/ Interior/ Tarde. 

 

Noronha termina de contar:…E foi isso o que ocorreu, depois que eu tive uma pequena discussão com o senhor Chico Branco, fui no hospital pra ter notícias do meu pai, que, por obra do destino, havia sofrido um infarto! 

 

Adams registra tudo. 

 

Mafalda o analisa: Acho que já é o suficiente, então eu listei alguns nomes que você foi falando pra mim no seu depoimento e que parecem muito interessantes, vou querer falar com eles: 

 

“Bruno. 
Éssio Dávila. 
Coronel Bravejo. 
Ruper. 
José do Gado. 
Aurora. 
Marinez. 
Betânia. 
Alminha.” 

 

Mafalda se levanta: Foi de grande satisfação falar com o senhor, passar bem! 

 

Noronha a cumprimenta: O “senhor” provavelmente tá lá no céu, delegada, espero que resolva esse caso o mais rápido possível pois não quero ficar como culpado. Eu não cometi o crime, não mereço esse nome- Diz, seriamente. 

 

Casa de Noronha/ Tarde. 

 

Anna está escorada no portão, esperando o menino voltar com o serviço pronto. 

 

Ema aparece e pega a vassoura: Tá fazendo o quê parada aí? Tem muita tarefa pra fazer dentro dessa casa! 

 

Anna não dá a mínima: Ema…Vai ver se eu tô na esquina!- A idosa sai- Essa esclerosada também vai me pagar muito pelo que fez comigo, a justiça tarda mas não falha! 

 

O menino aparece: Consegui o que a senhora me pediu! 

 

Anna arregala os olhos, afobada: ÓTIMO! CADÊ? 

 

Ele faz cara feia: Quero que me dê o dinheiro antes, não confio muita nas pessoas e já fui enganado muitas vezes! 

 

Anna pisca o olho: E como vou saber que você não está me enganando? Mostra as cópias! 

 

O menino tira as chaves e o remédio do bolso de seu short velho e rasgado, ela se dá por satisfeito. 

 

Anna tira dois reais da bolsa: Aqui…- O menino rejeita, ela tira mais uma nota de dois e outra de cinco- Nove reais são o suficiente, é tudo que tenho agora! 

 

Ariscamente, ele pega tudo e entrega a encomenda de Anna, depois sai correndo. 

 

Anna confere tudo: Perfeito!- E sorri. 

 

No centro da cidade… 

 

Noronha sai da delegacia e vai caminhando quando o celular toca. Ele vê que é Aurora no visor e atende: Pode falar… 

 

Aurora, empolgada: É só pra falar que eu e a minha mãe aceitamos a sua proposta de ir morar na mansão. 

 

Noronha fica radiante. 

 

Casa de Noronha/ Tarde. 

 

Anna entra na sala, Ema aspira o pó da sala,quieta. 

 

Anna, irritada, toma o aspirador dela: Deixa que eu faço isso, você pode ir passar as camisas porque não tenho paciência com aquele ferro… 

 

Ema bate o pé: Hoje sua amargura se superou!- Ela sobe as escadas. 

 

Anna aspira por alguns minutos, porém ao perceber que está sozinha, deixa o aparelho ligado e vai até a entrada do porão, localizada em baixo das escadas. 

 

Éssio e Jasmine estão deitados no chão, de olhos fechados, quando ouvem o barulho da porta sendo aberta. 

 

Jasmine, zonza: Acho que o Noronha veio nos dar o almoço… 

 

Éssio se senta, com dificuldade: Decidi que quero ter uma conversa definitiva com ele, de irmão pra irmão, pra pedir perdão…Uma conversa que nunca conseguimos ter de verdade… 

 

Jasmine o olha: Faz muito bem, depois que conversarem o nosso pesadelo irá acabar, vamos nos ver livre daqui e teremos vidas dignas- Eles se olham- Sabe Éssio…Desde que estamos presos aqui eu pude conhecer um lado humano seu que nunca imaginava que pudesse ser…Você e seu irmão se parecem muito, são bons…Cometem erros, tem muitos defeitos, mas ao menos tem dignidade. 

 

Éssio sorri: Eu me arrependo dos crimes que cometi, e estou pagando por tudo agora…Vou mudar, quero me tornar uma pessoa boa por inteiro. 
Para a surpresa da dupla, é Anna que desce as escadas, com muita pressa. 

 

Éssio, abismado: MÃE? 

 


 

Termina o capítulo 65. 

Victor Morais

Escrevi as webs novelas Beira-Mar e Filho Amado que foram publicadas no portal. Atualmente escrevo " Ser Humano", que se passa nos anos 80 e trata da relação complicada entre mãe e filha. Drama, emoções, cotidiano, conflitos familiares...Esse é o meu estilo.

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