Capítulo 63 – Filho Amado
Filho Amado.
Capítulo 63.
Anna, aterrorizada: É brincadeira do Noronha, ele não seria capaz disso, não é mesmo?- Diz, nervosa.
Noronha a encara: Eu tô com cara de quem tá brincando? Essa é a minha ordem!
Anna, desesperada; Pera aí…Quando eu aceitei vir pra cá e ser sua empregada você me prometeu que iria aceitar o Éssio, disse que ia acolhe-lo de braços abertos e não que ia trancafia-lo e maltrata-lo! Isso é uma coisa extremamente desumana, é uma loucura! Que ser em sã consciência faz isso?
Noronha grita: EU FAÇO, EU FAÇO! Acolhi o Éssio muito bem e o que ele me deu em troca? Ah, um beijo com a Jasmine! Isso foi o cúmulo, eu não sou desses que aceita tudo numa boa, por uma questão de ética e de princípios, esses dois merecem ficar juntos, mas no porão! Na escuridão, pra aprenderem a não fazer isso de novo, em meio a poeira e a sujeira!
Anna chora: Não vou permitir que você faça isso com o Éssinho, ele tá debilitado, não tem condições de passar por traumas assim, pode até adquirir uma doença maior e morrer! Como você ia conviver com o sentimento de culpa?
Noronha: Morrer ele não morre, e por duas razões. Primeiro porque os ruins são justamente os que mais tardam a morrer, e segundo porque ele estará na companhia da sua amante favorita, a Jasmine!- Ironiza.
Jasmine se levanta: Eu nem vou me manifestar sobre essa sua decisão, é ridícula, vou embora pra onde minha tia está, tô só esperando meu filho…
Noronha a encara: Se você colocar o pé pra fora dessa casa eu mando o Caio pra um internato na Europa e você nunca mais vê ele- Jasmine para- Isso mesmo, dá meia volta e entra nesse porão sem reclamar. Você também Éssio, e vão logo!
Os outros ficam sem reação.
Anna toma a frente do filho: Pelo amor de Deus e de tudo o que é mais sagrado, não posso permitir que isso aconteça diante dos meus olhos, é uma barbaridade! Faço o dobro de serviço, mas deixa meu filho em paz!
Noronha a puxa: Cala a boca! Éssio e Jasmine, já pro porão! E se habituem, pois será a nova moradia dos dois por tempos, nem precisa me agradecer por estar unindo o casal “ Jéssio”- Ele ri, maldosamente.
Jasmine o encara, querendo chorar: Deixa eu me despedir do Caio ao menos, tentar explicar pra ele…Não traumatize essa criança!
Noronha é distante: Eu converso com ele, tenho muito apresso pelo menino. Não farei nada contra Caio. Agora entra, entra!- Ordena.
Jasmine desce a pequena escada, Éssio não tem como fazer isso por conta da cadeira de rodas.
Anna implora: Desiste disso, por favor, o Éssio não vai suportar! Ele já não é o mesmo…
Noronha coloca o irmão na beira da pequena escada da abertura retangular do porão, e o joga, fazendo o cair degrau por degrau: Ele não ia usar a cadeira lá mesmo!- E fecha a porta- Pronto, trabalho feito!
Anna chora: NÃO! NÃO!
Noronha: Ai que poluição sonora! Vamos jantar que é melhor- Ele tranca a porta do porão- Essa chave fica em minha posse, EM MINHA E APENAS MINHA posse, e eu a protegerei como se fosse uma filha, se alguém tentar algo…Vai pro mesmo lugar, ou pra um andar abaixo!- Ameaça, deixando todos barbarizados.
Caio grita no portão.
Noronha faz sinal pra Ema: Vai buscar o garoto…E não quero ninguém aqui com cara de enterro, o Caio não pode perceber. OUVIRAM?- Todos afirmam “ que sim”.
Anna o olha: Você vai se arrepender muito das medidas que tá tomando…Não ache que eu serei passiva quanto a isso- Ela sai.
Noronha não liga: Vamos jantar que é melhor! Tô com uma fome…
No porão…
Jasmine e Éssio estão no escuro, calados. Não é possível que um enxergue o outro. Jasmine tosse um pouco, a poeira é grande, mas o lugar é vazio. Grande, com poucos objetos que Benê guardava lá quando ainda era o proprietário da casa e nunca tinha feito questão de pegar novamente.
Jasmine, melancólica: Eu jamais pensei que pudesse estar nessa situação…Na escuridão, longe do meu filho…Nesse ponto o Noronha foi esperto. Tô destruída por dentro.
Ela escuta a voz de Éssio, que está próximo: Me desculpa se eu tô fazendo você sofrer, me desculpa por ter te beijado e por tudo…A culpa dessa desgraça que tá acontecendo nas nossas vidas é minha.
Jasmine: Ninguém imaginava que essa “vingança” iria chegar nessas proporções, eu que tanto abominava essa palavra agora sinto ela na pele.
Éssio, triste: A culpa é minha. Eu sempre me senti tão superior ao Noronha porque eu tinha mais atenção do que ele! Agora resolveu se vingar, porque tem alguma coisa dentro de si que não o deixa em paz enquanto eu não sofrer ao máximo! Ele não vai descansar enquanto eu não for pisado- E suspira.
Jasmine: Noronha tá devolvendo tudo na mesma moeda Éssio…Ele quer se sentir superior a você. Mas isso é momentâneo, já ele nos tira daqui. A loucura dele dura apenas alguns instantes…
Éssio: Será? Eu já tô tão fraco, além de paraplégico, praticamente morri por dentro. Noronha me tem em suas mãos, sabe de todos os meus crimes, e eu tô indefeso…
Jasmine anda pelo porão, tateando, até acha-lo, e consegue tocar em seu rosto: Calma, amanhã nós vamos sair daqui, confia em mim! Nós erramos, eu reconheço porque eu sou casada e traí meu marido, mas ele não me ama mesmo. O Noronha logo vai nos libertar e esquecer de tudo. Podem falar o que quiser dele, mas vivi anos ao seu lado, o Noronha é boa pessoa. Ele é sofrido, foi maltratado e pisado, alimenta esse desejo de vingança mas é tão frágil!
Éssio escorre as lágrimas: A culpa é minha…E eu o provocava, não levava nada a sério. Mal imaginava que ele se transformaria em uma pessoa assim. O QUE EU FIZ FOI MONSTRUOSO- Ele chora.
Jasmine se senta ao seu lado: Se arrepender é o primeiro passo, mas a culpa também não é totalmente sua. Sua mãe sempre te tratou melhor! E isso tem um motivo, resta saber qual…
Éssio jura: Eu vou pedir desculpa pro Noronha quando ele vier aqui…- Ele encosta a cabeça na de Jasmine- É o mínimo que posso fazer diante disso.
UM POUCO DEPOIS…
Noronha coloca Caio pra dormir.
Caio se cobre: Onde a mamãe tá? Eu não vi ela desde que cheguei da escola!
Noronha lhe dá um beijo na testa: A mamãe tá doente, mas logo logo ela vai voltar! Enquanto isso não acontece, eu vou contar uma história pra você dormir, faz tempo que não faço isso!
Caio, feliz: E-BA! Deixa eu escolher um livro- Ele vai até o criado-mudo ao lado da cama e pega um.
Noronha o folheia: Essas histórias de hoje em dia são horríveis mesmo…Vou dar uma incrementada- Ele fecha o livro- Era uma vez dois irmãos…
Sala da casa de Jurema/ Noite.
Jurema coloca o colchão no chão: Aqui nessa região faz muito frio, então peguei essa coberta que é quentinha e macia! Se tiver cheiro de mofo não se preocupe, é que não a uso desde a morte de meu marido!
Betânia analisa o colchão: Você vai me ceder sua cama, não é?
Jurema ri: Ai, você é muito bem humorada mesmo! Vamos dormir porque amanhã acordaremos cedo pra continuar a “caça” a mala do Belarmino!- E apaga a luz.
Betânia se deita, e se enrola no cobertor mofado: Não vou ficar aqui por muito tempo, imagina uma pessoa nobre como Betânia Flores Amaral dormindo em colchonete vagabundo! Já que o Noronha me rejeitou, terei que partir pra outro homem- Ela fecha os olhos e tenta dormir, ainda um pouco incomodada com o frio.
Casa de Noronha/ Quarto de Anna.
Anna está chorando na cama: Isso não podia ter acontecido com o meu filho, ele não merece nada disso!- Ela olha para a imagem de uma santa em sua cômoda- O Noronha acha que pode fazer isso comigo e com o meu filho por diversão, mas está enganado! Vou mostrar pra ele que sou capaz de muita coisa! Quando o idiota bobear, pego o dinheiro dele e fujo com Éssinho, rumo a vida feliz que tanto desejo, e nunca consegui por que sempre aparece alguém pra me atrapalhar- Ela abre uma de suas gavetas e vê o baú acinzentado- Eu e Éssio vamos ser felizes, custe o que custar!
NO DIA SEGUINTE.
Casa de Noronha/ Manhã.
Noronha pega algumas frutas e as coloca em uma cesta, Américo aparece.
Noronha pega algumas maçãs: Olha, você parece melhor da horrível queda que sofreu!
Américo ainda está cheio de curativos: Ainda tenho dores, mas estou me recuperando sim, inclusive quero concluir a minha investigação sobre o passado de Anna Maria, ainda faltam algumas peças pra terminar de montar a história e irei busca-las agora. Posso ir no sítio do Benê com o Helder?
Noronha concorda: Claro, pode ir onde quiser. E não se preocupe que minha mãe está pagando muito pelo que fez- Ele sorri- Quando você chegar eu provavelmente não estarei, tenho assuntos pra resolver na prefeitura com o Coronel Bravejo.
Américo coloca seu chapéu: Certo, irei chamar o Helder, espero que ele não esteja bêbado…- E sai.
No porão…
Éssio e Jasmine estão sentados, dormindo lado a lado, Noronha abre a porta e desce.
Noronha, irônico: MAS QUE CASAL LINDO!- Ambos acordam- Devem ter tido uma ótima noite de sono, aqui está o café da manhã de vocês, não coma demais Jasmine porque Éssio não curte gordas!
Jasmine boceja: Acabou com a palhaçada? Uma noite só já basta, não acha?- Ela se levanta- Vou sair daqui agora…
Noronha a pega pelo braço: Você vai sair daqui quando eu achar que está na hora! Eu deixei bem claro a minha ordem!
Jasmine, impaciente: Chega disso, Noronha, deixa a gente sair logo antes que um de nós fique doente e te dê mais trabalho!
Noronha a impede: Jasmine, uma noite só não basta- Ele entrega o alimento- Para de querer mandar em mim, isso é um castigo que só terá fim quando eu quiser!
Éssio, ainda sonolento: Eu tenho uma coisa pra falar com você, Noronha, uma conversa que devíamos ter tido há muito tempo…
Noronha olha em seu relógio: Se você esperou tanto tempo, pode esperar um pouco mais! Tenho um compromisso agora, depois conversamos, irmão!
Jasmine implora: Deixa eu ver o Caio, por favor, eu tô com saudade dele!
Noronha debocha: O menino só perguntou por você uma vez, com um pai como eu, você logo será esquecida!- Ele sai- Mais tarde volto, se divirtam!
Éssio, choroso: Eu sabia que ele não ia ceder tão facilmente…Tô muito fraco, não sei se vou conseguir resistir por muito tempo…
Jasmine se senta ao seu lado: Calma, só mais uns dias e eu consigo convencer o Noronha a nos tirar daqui! Confia em mim, agora coma pra não se enfraquecer ainda mais- Eles repartem o alimento e as frutas, depois comem tudo.
No corredor, Noronha anda quando Anna o para.
Anna, estressada: Eu exijo ver o meu filho, não tire esse meu direito de mãe! O Éssio tá fraco e precisando do meu apoio, coitado, pode até cair em depressão se continuar mofando no escuro…
Noronha mostra a chave: Um dia QUEM SABE eu deixo, mas por hora se contente com as lembranças do seu filho! E nem tente ser espertinha e tentar abrir o porão, ou as consequências serão piores!
Anna grita: CHEGA! Para com isso, me dá as chaves e acaba com essa brincadeira agora! O Éssio aprendeu a lição, ele não vai mais mexer com a Jasmine, liberta meu filho!- Clama.
Noronha nega: Eu não tranquei ele no porão só por conta dessa traição, tem muitos outros fatores envolvidos!
Anna suplica: Ai…Eu não aguento mais discutir sobre o passado, me dá essa chave!- Ela avança pra cima do filho, que a contém, os dois disputam o objeto, mas ele consegue vencer facilmente.
Noronha a joga contra uma das portas, ele coloca a chave no bolso: Tenta isso de novo e eu engulo essa maldita chave, o modelo é antigo, aí o seu filho amado fica preso lá pra sempre! Não seja tão tosca, vai limpar os meus quadros raros, anda!
Anna o encara, furiosa: Já te falei que pelo meu filho sou capaz de tudo, não vou ficar vendo o Éssio sofrer! É uma ameaça!
Noronha: Sou mais poderoso que você, mas não duvido das suas ameaças, uma pessoa que matou várias vezes é capaz de tudo!- Entrega.
Anna fica paralisada.
Sítio de Benê e Josélia…
Benê dá comida para as galinhas: Solineuza, Soriana e Solarinha não me decepcionem, podem tratar de comer tudo que quero ver as três bem fartas!
Josélia chega: Tem uma pessoa querendo falar contigo, Benê.
Benê, curioso: Quem?
Américo aparece: Sou eu. Acho que está na hora de você saber tudo sobre mim, e de conversarmos sobre o doloroso passado dos Dávila- Ele está sério.
Benê fica curioso.
Termina o capítulo 63.