Capítulo 62 – Filho Amado
Filho Amado.
Capítulo 62.
Helder está indo em direção ao porão, quando Ema chega, desesperada.
Ema, ofegante: Me ajuda, Helder, aconteceu uma tragédia com o Éssio!
Helder esquece sua missão: O que houve, Ema?
Ema sai correndo: Vem rápido!
Um pouco depois…
Ema entrega uma toalha pra Éssio: Graças a Deus que conseguimos te tirar daí, aquele José é um maluco! Melhor tomarmos cuidado…
Helder seca a cadeira de rodas: Ele não aceita a derrota, Ema, isso só cura com o tempo mesmo!
Éssio seca o cabelo: Obrigado por me ajudar, mas não deixem a minha mãe descobrir isso, ela anda muito tensa e preocupada com o que anda acontecendo, se descobrir disso é capaz de surtar…
Helder ri: O Noronha já deu um “ trabalhinho” pra sua mãe e ela parece bastante ocupada.
Na cozinha…
Anna termina de limpar, ela se levanta: Tá satisfeito agora? Tudo brilhando!
Noronha repara: Tá razoável, isso é pra você aprender a se portar como uma empregada legitima, mais uma dessas e eu coloco você pra limpar a casa toda e ainda meu carro! Se você quer sofrer, te faço sofrer…Dizem que a vingança é um prato que se come frio…O meu está gelado, e quebradiço também.
Anna o encara: Você não tem do que se vingar, isso é pura maldade, porque não suporta ver os outros felizes, é tudo um jogo seu!
Noronha tapa os ouvidos: Cala a boca empregada, cala a boca! Vai esfregar os tapetes e depois a persiana toda, quando acabar terei uma surpresa!- Ele ri.
Anna sai, sem nada dizer.
No jardim…
Éssio tosse água: Ema, vai até meu quarto e pega outra roupa por favor, antes que eu fique com pneumonia!- Ele está debilitado.
De repente Alminha chega: Meu Deus, Éssio o que aconteceu contigo?
Ele se espanta.
Casa de Jurema…
Jurema sintoniza o rádio: Não posso perder o Sertanejíssimo de hoje!
Alguém bate na porta…
Jurema atende, Betânia está com suas malas, chorando e desesperada.
Betânia soluça: Jurema, eu preciso da sua ajuda…
UM POUCO DEPOIS…
Jurema serve chá para a ex-cunhada: Aqui, tome e se acalme!
Betânia, toda borrada de maquiagem: Não sem antes você me responder se deixa ou não eu ficar morando aqui! Já lhe contei minha situação, nem tenho a quem recorrer.
Jurema mexe em seus anéis: Eu sempre soube que apesar de tudo você era uma pessoa sozinha, Betânia, apesar de ser antipática comigo, sentia dó e compaixão por você…- Ela respira fundo- Agora que sua vida tá completamente na lama, acho que tá na hora de ativar meu botão humanizador e te ajudar.
Betânia, eufórica: Isso significa…
Jurema: Significa que eu vou te acolher aqui sim! MAS com uma simples condição.
Betânia, preocupada: Condição?
Jurema revela: Sim, que você trabalhe no meu mercado, tô precisando de gente nova por lá.
Betânia pensa um pouco: Eu não tenho pra onde ir…É isso que me resta, aceito sim- Ela estende a mão- A partir de agora eu trabalho no seu botequim.
Jurema a cumprimenta: É mercado, querida. Mas confesso que fiquei bem surpresa já que aceitou tudo sem pestanejar, parece que uma nova Betânia está a caminho, e faço questão de presenciar!- Ela ri.
Betânia engole em seco.
Cadeia Municipal/ Início de noite.
A janta é servida, em longas mesas os detentos comem, alguns quietos e outros barulhentos.
Batista olha para a comida, sem ânimo de come-la: Saudades dos pratos que minha amada Natércia fazia…- Clécio se aproxima.
Clécio suspira: Já falei com todos os detentos, mas o cara que arranjava as fugas foi executado! Desde então ninguém quer mais fugir pois a segurança da cadeia foi reforçada.
Batista, rancoroso: Pelo jeito vou ficar aqui por mais um tempo, e injustamente!
Clécio come a comida com nojo: Mas eu tive um outro plano! Só que ele depende de você, quero que me responda uma pergunta.
Batista, desanimado: Faça!
Clécio vai até o ouvido dele: Você é lobisomem mesmo?
Batista engasga: Ai…Ai…- Ele bebe suco- Mas que pergunta ridícula é essa, Clécio? E o que isso tem a ver com o nosso plano?
Clécio pressiona: Responda que eu te conto o plano todo! Quem não deve não teme.
Batista mexe um pouco no prato, e hesita, mas logo conta: Eu sou sim- Clécio arregala os olhos- Sou o sétimo filho que minha pobre mãe Letônia teve, e desde o meu aniversário de treze anos carrego essa maldição, e toda sexta de lua cheia me transformo. Apesar de tudo sempre neguei por ter vergonha! Ninguém jamais iria querer se aproximar de um homem lobo- Ele começa a chorar- Mesmo assim o boato se espalhou, e eu continuei negando, E NEGO ATÉ O FIM! A vida sempre foi injusta comigo.
Clécio o olha: Que triste, Batista, eu nem consigo imaginar como é o seu drama…Mas pela primeira vez na sua vida a maldição servirá pro bem!
Batista: Não entendi, no que minha maldição se relaciona com o plano?
Clécio começa a contar-lhe baixinho, ele se interessa.
Na casa de Noronha…
Alminha percebe o estado de Éssio: Alguém te jogou na piscina, foi isso?
Éssio disfarça: Foi um acidente, tia, não se preocupe. Já estou melhor…
Anna aparece com os tapetes, ela vê o filho tossindo e larga tudo, indo em seu socorro.
Anna, desesperada: Éssinho, você tá todo molhado…Quem fez isso com você?
Éssio não a encara: Foi um ACIDENTE, mas já está tudo bem!
Helder entrega: Foi o José do Gado quem fez isso, Anna, o Éssio não quis que você soubesse mas é bom contar antes que você descubra por outra pessoa!
Anna, indignada: Aquele idiota não pode te importunar, ele tenta te culpar pelo fracasso e não consegue enxergar que a culpa foi dele! Isso não vai ficar assim, ele não tem esse direito!
Éssio pede: Não vá fazer nada contra ele, por favor! Depois das confusões de hoje não quero mais problemas na minha vida! Vamos relevar isso, e deixar o portão fechado da próxima vez!
Alminha sai sem que ninguém perceba.
Anna, furiosa: Se eu pudesse mataria logo esse infeliz!
Ema e Helder a olham, assustados.
Dentro da casa…
Alminha entra, analisa a mansão por dentro e fica fascinada, Noronha aparece e fica surpreso em vê-la.
Noronha está com um jornal na mão: Tia? Que surpresa ver a senhora por aqui, mas lamento se você veio falar com minha mãe, agora ela é minha empregada e não pode conversar no horário de serviço.
Alminha, séria: A minha conversa é com você mesmo, mas queria que fosse em um lugar mais reservado, o que irei lhe falar é algo muito importante.
Noronha se anima: Fiquei até curioso agora! Vamos pro meu escritório…
Lá…
Alminha se senta: Eu não vou tomar muito o seu tempo, sobrinho. Mas acho que o assunto é de seu interesse. É sobre o Bento.
Noronha fica atiçado: Meu pai? Que assunto é esse? Fala logo, tia!
Alminha suspira: Eu não sei se você acredita em espirito, mas eu acredito. Eu acredito e vi.
Noronha, sem entender nada: Viu o quê? Tia, se você me disser o que aconteceu, eu irei acreditar até no espirito de Cleópatra!
Alminha conta: Eu estava fazendo uma consulta normalmente, com uma mulher que queria descobrir o segredo que o marido lhe escondia…Tava tudo normal, eu peguei em uma carta e disse algumas coisas pra ela…Mas de repente começou a ventar, todos os papéis da minha salinha se espalharam, a energia de outro corpo tinha invadido a sala!
Noronha olha no relógio: Tia, eu já assisti A Viagem de Ivani Ribeiro, me diz logo o porque dessa visita!
Alminha, soturna: O espirito do seu pai tinha entrado no corpo da minha cliente- A voz se embarga- Eu reconheci a voz na hora…Me emocionei inclusive…Nunca tinha acontecido tal experiência comigo na minha carreira de vidente! Foi algo muito forte, mas o mais impressionante mesmo foi o que Bento me falou.
Noronha fica imóvel, a espera da continuação da frase.
Alminha engole em seco: Seu pai me contou que a Anna e o Bravejo o assassinaram.
Noronha fica tenso: Eu sabia…- Ele bate forte na mesa- EU SABIA!
Alminha se levanta: Calma…A gente tem que saber como agir diante dessa informação, só te peço que não me chame de louca, eu vi tudo com meus próprios olhos…Eu senti…Eu me arrepiei. Bento me pediu que lhe procurasse, e aqui estou.
Noronha pega nas mãos da tia: Eu acredito em você, e principalmente no meu pai- Ele começa a chorar- Mas…Até o Coronel Bravejo tá envolvido nesse passado sujo? Disso eu não sabia. Mas ele me paga. ELE ME PAGA!
Alminha, nervosa: Eu vim te procurar porque sou muito sentimental, não sei agir com frieza e nem ser calculista como você- Ela se abraça ao sobrinho- Você deve saber o que fazer agora, tá tudo na sua responsabilidade…Eu ainda tô tão chocada, jamais pensei que a Anna fosse capaz disso, é a maior decepção da minha vida!
Noronha chora: Pode deixar, ela vai pagar por tudo, tia! Minha mãe acha que seus crimes são perfeitos, mas eu farei ela sofrer por cada palavra contra meu pai! Ele nunca mereceu aquela monstra.
Alminha soluça: Agora o Bento tá em paz…Ele só me pediu isso…Que a justiça fosse feita…Cumpra a vontade do seu pai, e não deixe nada disso ficar impune!
Noronha, com ódio no olhar: Todo o sofrimento que ele viveu em sua vida vai se reverter. Obrigado por me avisar, tia Alminha. Eu vou tomar as devidas providências pra já- E escorre as lágrimas.
Alminha vai saindo quando é parada por Anna.
Anna, curiosa: Olha só quem apareceu…Tava falando o quê tanto com o Noronha?
Alminha é fria: Assuntos particulares, com licença que tenho agenda lotada hoje…
Anna a pega pelo braço: Mas que rispidez é essa comigo? A gente sempre foi amiga, é de se estranhar!
Alminha, nervosa: ANNA ME SOLTA!- Ela empurra a cunhada- E não encosta em mim novamente, tenho nojo de você!
Anna, impressionada: Meu Deus do céu, o que eu fiz? Tô sendo amigável e gentil com você como sempre fui e você me trata dessa maneira! Foi o Noronha, né? Você caiu na lábia desse bandido? Ele te envenenou contra mim, é isso?
Alminha se curva: Eu não te devo explicações de nada, apenas descobri a verdadeira pessoa que dizia ser minha amiga…Como você pode fazer isso com o Bento?- Ela sai andando.
Anna a impede de ir: Espera aí! Do que você tá falando, Alminha? Eu exijo uma explicação imediatamente!
Alminha a pega pelo pescoço: Para de ser cínica! Eu já sei de tudo, sua ASSASSINA! Você matou o meu irmão!
Anna fica sufocada: Me larga…Me larga!- Ela se solta- Você enlouqueceu de vez, isso sim! Já te achava meio maluca por conta das suas previsões, mas agora foi o ápice!
Alminha, irritada: Para de tentar disfarçar, eu sei que você e o Coronel mataram o meu irmão! E o que mais me dói é lembrar que eu te considerava como uma irmã, uma confidente em que eu podia confiar…Mas depois disso eu nunca mais quero olhar na sua cara!- Grita.
Noronha vai saindo do escritório, mas ao ver a briga entra e fica espionando pela brecha da janela.
Anna tenta se defender: Escuta aqui Alminha, o seu irmão andava muito estranho antes de morrer. Não me admiro nada se descobrirem que ele tava metido com drogas, é bem provável! Agora me culpar já é um absurdo!
Alminha não suporta e lhe dá um tapa: FALSA, CÍNICA! NÃO ABRE ESSA BOCA PODRE PRA FALAR DO MEU IRMÃO!- Ela a agarra novamente- Ele era a pessoa mais honesta que já conheci, um homem bom e com um coração de ouro, que nunca mereceu ser casado contigo!
Anna fica com a mão sobre o rosto: Eu que nunca mereci ser casada com aquele babaca, que além de reclamão era um otário! EU que merecia ter tido coisa melhor, se Bento foi assassinado, só teve o que mereceu!
E recebe outra bofetada, mais forte ainda, que a faz parar no chão.
Alminha, furiosa: NOJENTA! INFELIZ!- Ela começa a chutar Anna, que tenta se segurar no sofá mas não consegue.
Anna, desesperada: SOCORRO! TEM UMA LOUCA ME BATENDO!
Alminha senta no chão e a pega pelo pescoço: Você vai pagar por tudo o que fez, um ser humano como você merece arder no mais profundo fogo do inferno!- Ela joga a cunhada contra a parede.
Anna, toda descabelada: Alminha, o resto de sensatez que tinha em você foi pro espaço! Cretina, jamais pensei que fosse chegar nesse ponto!
Alminha lhe dá um murro, com a mão que contém um anel em cada dedo, fazendo Anna perder um dente: Eu que jamais pensei em encontrar um ser como você…Me arrependo de cada palavra que troquei contigo, mas o seu castigo vai chegar, escuta o que eu digo! SEUS CRIMES NÃO SÃO PERFEITOS, E VOCÊ VAI ACABAR NA CADEIA!- Termina, pegando educadamente sua bolsa que estava no sofá e se retirando da mansão.
Anna, dolorida, tenta se levantar: Ai…AI AI AI- Ela consegue- Como…Como a idiota da Alminha descobriu tudo? Não é possível…Tão montando um complô contra mim e eu preciso acabar com isso, pro meu bem e pro do Éssinho- Ela escorre o sangue em sua boca.
Noronha fica satisfeito com o que vê.
Apartamento de Marinez/ Noite.
Conceição entrega as roupas e algumas coisas uteis.
Marinez, grata: Muito obrigada por tudo, Ceição, vamos ter que recomeçar a nossa vida aqui.
Conceição, feliz: Só estou cumprindo com o meu dever moral, sou amiga da senhora há tanto tempo que estou arrasada com o que aconteceu até agora! O seu José não está bem, aproveitei que ele saiu pra vir entregar isso, ou ele me demite e preciso do emprego pra cuidar do meu filho que é especial.
Marinez guarda tudo: O Zé vai provar da pior coisa que existe nessa terra, a solidão. Eu tentei aguenta-lo, mas não tava dando certo…E depois das palavras frias que ele disse pra a Aurora eu jamais conseguiria me sentir em paz novamente.
Conceição termina de entregar as roupas: E ele tende a piorar, hoje mesmo perseguiu a dona Taléfica com uma faca! Se eu não suportar mais, saio da mansão também! Como vou trabalhar correndo perigo constantemente?
Marinez, compreensiva: Eu te entendo, Ceição, quando nos estabilizarmos te chamo pra trabalhar aqui. Mas você disse que a Taléfica foi lá? O que ela queria?
Conceição: Queria pegar umas roupas velhas, eu até estranhei…
Marinez: Mas é pra estranhar mesmo- Ela pensa em algo.
Casa dos Dávila/ Noite.
Anna termina de limpar todas as persianas, Noronha chega na sala onde estão todos reunidos.
Noronha, sério: Helder, fez o que eu te pedi?
Helder consente com a cabeça.
Noronha, satisfeito: Ótimo…Quero fazer um comunicado pra todos!- Ele se curva pra mãe- Para de estender esses tapetes e me escute, é algo muito importante!
Anna o obedece, ainda muito dolorida.
Noronha olha no relógio: Antes que o Caio chegue da escola, gostaria de comunicar que eu criei um novo aposento nessa casa- Ele sorri.
Bruno: Aposento? Você já vai se aposentar?
Noronha, sem paciência: Bruno termina seu sanduiche quieto!- Ele toma postura- Devido aos recentes acontecimentos, que a mim não foram nada agradáveis, resolvi que vou punir certas pessoas que feriram o meu coração de uma forma brutal e desonesta!
Jasmine se manifesta: Se você estiver falando de mim…
Noronha a corta: Deixe me prosseguir, não quero ser interrompido! Eu fui apunhalado e feito de idiota, mas isso não vai ficar assim, nada nessa vida sai sem pagamento! E TODOS, eu repito, TODOS que tem ficha criminal comigo irão pagar cruelmente!- Ele faz sinal pra Helder, que se levanta.
Bruno, de boca cheia: Até agora eu não entendi nada, que história é essa de aposentadoria mesclada com ficha criminal?
Helder abre o porão.
Noronha circula pela sala: Acho que os outros só aprendem a cumprir as minhas leis na base da marra, ultimamente eu tô sendo muito desafiado, tô sendo feito de palhaço…Quem me desobedecer a partir de agora vai mofar na escuridão, independente de quem for!- Todos arregalam os olhos- E os primeiros a pagar pelos crimes serão Éssio e Jasmine.
Éssio, aterrorizado: Não entendo onde você quer chegar…
Noronha ri: O porão dessa casa é muito espaçoso, desconfortável, escuro e cheio de bichos porém espaçoso! E é nele que você e a Jasmine vão morar a partir de agora!
Jasmine congela.
Anna, barbarizada: O quê? Como é?
Noronha, estressado: Mãe se você quiser traduzo em libras já que sua surdez se manifestou! EU FALEI QUE O ÉSSIO E A JASMINE VÃO FICAR TRANCADOS NESSE PORÃO!
Jasmine e Éssio ficam apavorados.
Termina o capítulo 62.