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A Ilha

Capítulo 6 – A Ilha

Já estava surtando com as milhões de possibilidades do que poderia ter acontecido com a Lila. Minha cabeça parecia não ter mais espaço. Minha agonia era tanta que pareceu alongar ainda mais o caminho. Tinha a sensação de estar andando horas.
– Você está bem? – Richard perguntou.
– Minha irmã sumiu em um universo paralelo onde tudo pode acontecer – quase gritei – acho que está tudo beleza!
– Não precisa ser tão grossa! – ele fechou a cara.
– Richard, por favor, sem draminha! – o ignorei.
Finalmente chegamos à passagem. Por uma rápida fração de segundos eu quase recuei, mas eu precisava achar Lila a qualquer custo. Ela era a única coisa que havia sobrado da minha vida passada. Não suportaria perde-la também.
– Por onde vamos procurar primeiro? – Richard me irritava por qualquer coisa. Sei que ele não tem culpa, mas não consigo evitar. Preferi não responder.
Acabei seguindo meu instinto e continuando em frente. Corri por entre a plantação de trigo sem olhar para os lados. Ouvi Richard resmungar alguma coisa, mas o ignorei novamente. A plantação era muito grande e por vários momentos achei que pudesse estar perdida. Estávamos quase saindo da plantação de trigo quando Richard me trouxe de volta com uma pergunta perturbadora.
– Mas que cheiro horrível é esse? – Richard tapou o nariz imediatamente.
Como se tivesse sido acordada de um sonho, meus sentidos voltaram ao normal. Só então reparei que estava com alguns arranhões, trigo grudado no cabelo e um pequeno corte no pé. E, claro, comecei a sentir o mau cheiro que Richard falou.
– Meu Deus, Richard! – virei o rosto encostando no ombro de Richard.
Era um cemitério de ossos. Muitos ossos espalhados por todo lugar. Algo realmente terrível. E nem queria imaginar do que ou de quem eram aqueles ossos.
– Calma Susi! – Richard acariciou minhas costas – Pelo que estou vendo não são ossos humanos.
Tomei coragem e resolvi olhar novamente. De fato não eram ossos humanos. Mas a quantidade era considerável. Os ossos pareciam ser de aves, javalis e outros animais selvagens.
– Você acha que…
– Estou quase tendo certeza! – interrompi a pergunta do Richard. Sem dúvida só havia um animal naquela ilha que poderia fazer esse tipo de estrago: A onça!
– E vai continuar por esse caminho? – Richard tentava se aproximar, mas evitei que me tocasse. Estava muito tensa para qualquer tipo de contado físico.
– Richard, é a minha irmã. – consegui ser mansa com ele – Não posso desistir dela. São palavras clichês, mas eu sei que ela não desistiria de mim se estivesse em meu lugar.
– Está certo! – ele tentou segurar minha mão, mas fugi novamente.
– Você não tem obrigação nenhuma de me acompanhar. – tentava fazê-lo voltar – Pode seguir sua vida.
– Susi – mais uma vez Richard tentou me tocar, mas desta vez falhei em fugir – enquanto estivermos nesta ilha a minha vida será com você. – Richard corou – E com a Lila, claro.
– E se, por um milagre, conseguirmos sair daqui? – não sei o que me deu para fazer essa pergunta – Vou, digo, vamos continuar sendo sua vida?
– Isso vai depender de você! – Richard me puxou para perto dele.
– Por favor, Richard! – o empurrei – Isso não é hora para este tipo de conversa. E eu já disse que não adianta tentar nada comigo. Eu nem te conheço!
– Entendo – ele respirou fundo – Mas, se ninguém cair com outro avião aqui, seremos só nós. Talvez só nós pelo resto da vida.
– O resto da vida é muito tempo. – não estava acreditando no que iria dizer – Até o resto da vida acabar muito coisa pode acontecer.
Seguimos em silêncio pelo cemitério de ossos. Era extremamente desagradável. Se a Lila estivesse fazendo algum tipo de brincadeira comigo ela iria me pagar muito caro. Mas não conseguia sentir que pudesse ser uma brincadeira. Infelizmente algo me dizia que a Lila não estava segura. Algo sério havia acontecido com ela.
O caminho estava difícil devido ao mau cheiro. Por várias vezes tive que tapar o nariz. E o caminho era longo. Não conseguia entender como não tinha enxergado este lugar quando estava na entrada deste “mundo paralelo”. Aliás, a impressão que tinha era de que quanto mais andava mais o lugar crescia. Tive a sensação de ter me afastado por completo da ilha. Era apavorante, mas nada comparado ao que viria depois.
– Mas que porcaria é essa? – Richard gritou.
Estávamos diante de um grande rio. Um rio de águas vermelhas.
– E agora? – me desesperei – O que eu vou fazer?
– Calma! – Richard olhava para os lados – Deve haver outro caminho.
Comecei a observar também. De fato havia outro caminho, mas teríamos que fazer uma longa volta. E meus instintos já não me apontavam mais para qual direção seguir. Estava completamente sem ação.
– Quer arriscar? – Richard perguntou apontando com os olhos em direção ao rio.
– Arriscar o que? – me fiz de desentendida – Atravessar o rio?
– É o caminho mais rápido! – ele continuava apontando para o rio.
Confesso que fiquei em dúvida sobre atravessar ou não aquele rio vermelho. A julgar pelos ossos atrás de mim era provável que aquilo nem fosse exatamente um rio. Fiquei toda arrepiada só de imaginar.
– Vamos pelo menos ver se não é muito fundo. Com essa cor fica difícil saber! – comecei a procurar uma pedra.
– Tome! – Richard encontrou antes de mim.
– Obrigada. – respondi sem pensar. Richard sorriu.
Atirei a pedra. E ficamos esperando. E esperando. E esperando. E esperando.
– Mas que raio de lugar é esse? – Richard pareceu ler meus pensamentos.
– E agora? – comecei a ficar aflita – O que vamos fazer?
– Creio que você saiba nada.
– Óbvio! – não estava gostando da ideia.
– Então vamos? – ele novamente apontou para o rio, mas desta vez usou as mãos.
– Que seja o que Deus quiser! – tomei coragem – Mas uma coisa eu te juro: se isso for brincadeira da Lila…
– E pode contar com a minha ajuda para o que você for fazer! – ele deu um leve sorriso, mas logo desfez. Provavelmente se lembrou que a situação era grave.
– Richard – o segurei antes dele entrar no rio – Desculpa por minhas grosserias.
– Tudo bem! – ele deu outro sorriso leve – Vamos então?
– Vamos!

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