Capítulo 59 – Filho Amado
Filho Amado.
Capítulo 59.
Josué pega o detetive pelo braço: O que você tava fazendo no meu quarto? QUEM É VOCÊ DE VERDADE?
Américo tenta fugir mas deixa a bolsa e o celular caírem, Josué os pega e vê algo no visor.
Josué lê: “Nova mensagem de voz de Noronha Dávila” então você está aqui a mando do Noronha?
Américo cospe na cara dele e consegue recuperar o celular, depois chuta a barriga do lavoureiro que cai no chão, e consegue recuperar a bolsa: Foi um prazer te conhecer, Josué- Ele sai correndo.
Josué se levanta e corre atrás: Volta aqui!
Na frente da casa, o detetive entra apressado no carro: Toca com esse carro, Helder, rápido!
Helder liga o carro e arranca com ele, mas Josué consegue subir em cima do veículo.
Américo instrui: Vamos pelo Monte Varzeônico, é mais rápido- Helder acelera e entra no Monte.
Josué consegue rastejar até a janela, aproveita que o vidro está aberto e consegue puxar a bolsa de Américo.
Américo porém pega a bolsa pela alça, os dois travam uma disputa.
Américo, usando toda a força possível: Fecha o vidro desse carro, Helder!- O motorista faz isso, mas o braço de Josué impede que feche por inteiro.
Josué grita: Essas provas contra o Éssio são minhas- Ele tenta puxar a bolsa.
Américo não vê outra alternativa e morde o braço do lavoureiro, que urra de dor: Faz uma curva Helder!
Helder faz o pedido e Josué acaba caindo do carro, mas antes disso abre a bolsa e deixa todos os papéis caírem.
Américo ordena: Para esse carro!- Ele desce e tenta pegar papel por papel antes que o vento os leve, Josué se levanta, os dois estão à beira do monte.
O lavoureiro lhe esmurra: Me dá esses papéis, eles são meus!- E travam nova briga pelos documentos.
Então Américo pisa no pé de Josué, que acaba escorregando em um montinho de pedras lisas comuns pela região e cai monte abaixo, de braços levantados.
O detetive observa o corpo de Josué cair e ouve-se seu grave grito até que tudo se silencia novamente, então, ele engole em seco e diz: Meu Deus…O que eu acabei de fazer?
Helder sai do carro: Vamos embora antes que a polícia chegue!- Ele puxa o frágil detetive.
Américo, preocupado: Será que ainda tem como ele estar vivo?- A dupla entra no carro.
Helder ri: Você sabe quantos metros de profundidade tem esse Monte? Sinto muito mas essa hora o Josué deve estar no purgatório!
Américo treme: Eu só fiz isso em lealdade ao senhor Noronha…
Helder coloca o cinto: Contanto que não me descubram, ficarei quieto. Já vi tanta gente caindo desse Monte, relaxe detetive, o Josué foi só mais um. Quem mandou se meter com a gente…- E solta um riso abafado.
Américo soa frio: Pela primeira vez na vida…Eu me sinto um bandido- E começa a chorar, fazendo Helder rir mais ainda.
Casa de Jurema…
Betânia lê o papel rosa: “ Se o dinheiro quiseres achar, saiba que não tão fácil será…Os violinos podem tocar o quanto quiser mas não sem antes serem limpados por uma mulher”.
Betânia, furiosa: Eu ODEIO o Belarmino, depois de morto continua nos dando trabalho! Foi de propósito…
Jurema pega o papel: Quem era a mulher que limpava os violinos do Belarmino?
Betânia tenta se lembrar: Uma tal de Mabel… Morava no centro se não me engano.
Jurema: Eu conheço ela. Vamos lá, agora! Na casa dessa mulher o Belarmino deve ter deixado o dinheiro- Elas pegam suas respectivas bolsas e saem.
Apartamento de Lara…
Lara abre a porta e Noronha entra, ela ainda está com medo.
Noronha, informal: Pode tirar essa expressão do rosto porque eu vim aqui te fazer uma proposta irrecusável!
Lara, ainda desconfortável: Senta…
Noronha, animado: Não, nossa conversa será rápida…Eu ouvi o tio Poldo te elogiando durante aquele jantar lá em casa, disse que você era ótima cozinheira!
Lara: Modéstia a parte, sou sim…
Noronha ri: Ótimo, você está disposta a tudo pra ter um restaurante?
Lara, objetiva: Claro, é o meu maior sonho, mas sei que está longe da realidade…
Noronha tira um cartão do bolso: Não mais, eu comprei o prédio desse famoso restaurante no Rio de Janeiro e pretendo reformular a equipe de cozinheiros…E queria você como chefe.
Lara parece não acreditar: Nossa…É sério?
Noronha tira o papel das mãos dela: Mas pra isso eu exijo uma simples condição: Que você me conte se foi o Éssio que matou o Fígaro.
Lara fica sem resposta.
Noronha: O gato comeu sua língua? Vamos Lara, eu suspeito do Éssio faz tempo, ele pegou o carro do papai naquela noite que eu sei…Só preciso de uma resposta- Discretamente, ele liga o gravador.
Lara confessa: Eu tenho pesadelos horríveis com aquela noite de vez em quando e me arrependo de ter sido cúmplice do Éssio…Ele me usou no seu plano, disse que ainda íamos ser muito felizes juntos mas depois me esqueceu. O atropelamento devia atingir Josué mas ele errou tudo e matou Fígaro.
Noronha se dá por satisfeito: Bem como eu suspeitei- Ele entrega o cartão e se levanta- Falei que seria tudo rápido, agora tenho outro compromisso mas me ligue na semana que vem, providenciarei sua transferência pro Rio de Janeiro- Ele estende a mão- Você fez um ótimo negócio, se o Éssio se der mal não se preocupe, te pouparei de ir junto com ele apesar de não entender seu mal gosto, como uma pessoa se apaixona por um tosco daqueles?
Lara ri, mas no seu pensamento se lembra do aviso que Leopoldo lhe dera sobre Noronha.
Casa de Alminha…
Alminha está paralisada, frente a frente com o espirito de Bento possuído no corpo de sua cliente: Meu irmão, você voltou…Se liberte, vá deixar sua alma em paz e saia da terra…- Implora.
A voz de Bento sai do corpo da mulher: Não sem antes te falar tudo o que aconteceu. Eu preciso falar isso pra poder me ver livre.
Alminha sente um arrepio percorrer seu corpo: Fale, irmão. Estou te ouvindo.
Bento revela precisamente: A Anna me matou, ela é uma bandida com passado sujo, ela atirou contra mim, e é cumplice do Coronel Bravejo. Foi ela. E o Coronel ajudou também!
Alminha fica chocada: Não pode ser…
Bento, com a voz cada vez mais forte: Pois foi ela, Alminha. E a justiça tem que ser feita, conte tudo pro Noronha e pro Éssio.
Alminha pega nas mãos da cliente: O Éssio está sofrendo muito, ele está cadeirante e…
De repente a voz da cliente volta ao normal: Tira as mãos de mim…O que eu tenho a ver com isso?
Alminha percebe que o espirito do irmão foi embora: Quer dizer que a Anna matou o Bento, por isso eu me arrepiava quando chegava perto dela! Preciso falar isso pro Noronha agora, o barraco dele no enterro tinha fundamento!- Ela se levanta, deixando a cliente confusa.
Casa de Noronha/ Quarto de Anna/ Ainda de dia…
Éssio termina de contar a história:…E foi isso. Matei o Fígaro por engano.
Anna, decepcionada: Filho, esse é seu segundo crime e logo tudo pode vir a tona! Temos que dar um jeito de apagar com o Josué, é por causa dele que estamos aqui presos nessa casa e sofrendo!
Éssio soluça: O mais preocupante é se o Noronha descobrir o meu caso com a Jasmine, ele não aguentaria perder a pose, se isso acontecer ele me mata de vez.
Anna, em tom ameaçador: Eu não deixo ele fazer nada contra você, meu filho, aconteceram uma série de erros sim mas no fundo você não tem culpa de nada!- Ela abraça o filho- Vamos conseguir resolver isso!
Éssio, abraçado forte na mãe: Como? Estou preso aqui e impossibilitado, fora que dia a dia os problemas vão aumentando pro nosso lado, sinto que eles despencarão em breve…
Anna: Tô aqui pra te defender, filho. Nos problemas pode contar comigo, faço o impossível pra te ver livre de tudo- Eles se dão as mãos- E olha pra mim: Você não tem culpa de nada, absolutamente de nada…
Prefeitura…
Noronha se senta em uma das cadeiras na sala principal: Andam acontecendo muitas coisas por isso mal tive tempo de vir aqui, o Éssio ficou cadeirante e hoje mesmo eu demoli a nossa antiga casa.
Ruper arregala os olhos ao ouvir aquilo.
Bravejo fuma: Eu entendo Noronha…Logo vou visitar o Éssio, embora não sinta pena porque ele se voltou contra mim e creio que isso tenha sido um castigo divino! Quanto a prefeitura, não se preocupe porque depois da nossa deliciosa vitória estamos no período que chamo de “Descanso Sessental”, que se resumem a sessenta dias sem fazer nada depois de ganhar as eleições.
Noronha pensa: “Vagabundo cretino, logo me livro de você também…”- E, cinicamente, responde- Então tudo bem, logo eu volto pra discutirmos assuntos políticos, até breve- Ele se levanta e sai.
Na hora do almoço…
Ruper vai até um bar pegar as diárias “ quentinhas”, uma para ele próprio e a outra destinada ao Coronel Bravejo. José do Gado está sentado em uma das mesas, sozinho, aliás, acompanhado de uma garrafa de cerveja.
José bebe tudo: Ô Genovaldo, trás mais uma!
Genovaldo embrulha as quentinhas: Eu acho melhor você parar, depois não me responsabilizo de ter que ir te deixar em casa quando estiver tonto de bêbado.
José bate o copo forte na mesa: Eu vim aqui pra beber o quanto eu quiser portanto pare de frescuras e me obedeça, já cansei da minha vida e quero afogar todos os problemas nessa linda bebida que um gênio teve a sabedoria de inventar!
Ruper dá uma indireta: Tem pessoas que não sabem lidar com a derrota mesmo!
Genovaldo anota o preço das quentinhas em um papel, e pega um suco para Ruper: Depois que você sofrer um acidente de carro quando estiver bêbado não fique reclamando por aí, provavelmente fica paraplégico pra sempre! Quem avisa amigo é…
José ri: Eu sei me cuidar, agora me dá mais uma garrafa logo ou eu mudo de bar e gasto meu dinheiro com uma pessoa que me entenda realmente!- Ameaça.
Ruper embrulha tudo e paga: Falando em “paraplégico” vocês sabem o que aconteceu com o Éssio Dávila?
José: Tomara que tenha morrido, foi por culpa daquele rato jovenzinho que eu perdi as eleições. Me arrependerei eternamente por ter dado oportunidade pra ele. Como se um iniciante pudesse ganhar sem ao menos ter nenhuma bagagem política!
Ruper avisa: Ele não morreu, mas ficou paraplégico! Foi atingido por um tiro misterioso e agora tá na cadeira de rodas…
Genovaldo se benze: Nossa…
Ruper: Pra vocês verem como a vida dá voltas, em um dia ele estava candidato a vice-prefeito e no outro preso em uma cama de hospital agonizando e a beira da morte.
José resmunga: Eu acho pouco, ele devia ter um castigo pior do que esse!
Genovaldo nem liga: Me impressionei com essa história do Éssio, é cada coisa que acontece com as pessoas…
Ruper pega sua comida: Mas Éssio teve sorte porque o irmão Noronha pagou todo o tratamento e ainda deixou ele se hospedar na mansão! Isso porque DIZIAM que os dois se odiavam!
José se levanta, ainda tonto: Já que eu não consegui beber a minha cerveja aqui, irei pra outro bar- Ele deixa uma nota qualquer na mesa e sai, lentamente.
Rua qualquer no centro…
Jurema e Betânia batem palmas em uma velha casa.
Betânia olha pro bilhete rosa: O Belarmino fez isso de propósito pra gente sofrer correndo atrás do dinheiro dele…Burro ele não era pelo menos- Ela analisa o papel- E ainda escreveu na forma de poesia, eu mereço…
Jurema: Se ficar só reclamando desista da caça ao dinheiro e volte pra mansão do Noronha…Fico com tudo pra mim…
Betânia: Nunca! Parte desse dinheiro devia ser meu por direito porque eu era mulher dele!
Uma senhora aparece, ela coloca os olhos e lança olhares enigmáticos para as duas: Eu não estou interessada em nenhuma panela elétrica nem coisa do tipo…
Jurema: Deixe-me explicar, nós viemos aqui a mando de uma pessoa que a senhora conhecia bem. O Belarmino.
A senhora muda de expressão rapidamente: O Belarmino veio aqui umas semanas depois e me deixou uma coisa, falou que provavelmente alguém vinha buscar!- Ela abre o portão- Entrem enquanto eu pego.
Lá dentro…
Betânia olha para a casa com repúdio: Tenho horror de lugar todo escuro e fechado…- Jurema não comenta nada- Só espero que essa mulher não tenha roubado o dinheiro todo pra ela, as idosas de hoje andam muito espertinhas também…- E fica sem resposta.
Mabel aparece com uma mala, as duas arregalam os olhos: Foi isso que ele me deixou, me implorou pra que eu não abrisse- Ela entrega o objeto- Até hoje não entendi o porquê dessa visita, ele sempre vinha aqui quando queria que eu limpasse ou afinasse o violino de ouro dele!
Betânia percebe que a mala não tem cadeado e a abre, euforicamente, mas logo a afobação das duas se rompe quando acham mais um bilhete, dessa vez amarelo.
Betânia lê, com ódio no olhar: “ Não adianta colocar as mãos no dinheiro sem dor; pra sucesso obter vai precisar agir como pescador”.
Jurema, intrigada: Como pescador?
Betânia taca a mala no chão: Eu odeio ficar decifrando enigma, desisto de tudo!- Ela sai.
Jurema vai atrás: Espera…
Mabel fica sem entender absolutamente nada.
Jurema consegue alcançar Betânia: Se você não quiser isso tudo, não se preocupe que eu fico com tudo pra mim- Ela pega o bilhete- Não te entendo, Betânia! Você não trabalha e nem faz nada o dia inteiro e fica resmungando por causa de uns bilhetes? Sinceramente…
Betânia: É verdade, eu não posso ser fraca e nem desistir de nada justo agora, deve ser a fome que me consumiu e atingiu meu cérebro…Vou continuar com essa busca sim, mas antes preciso almoçar. Você me deixa em casa?
Jurema entra no velho carro: Só porque eu sou muito boazinha, mas depois que você almoçar vamos continuar com nossa jornada. Temos que fazer de tudo pra colocar as mãos na grana antes que o Benê e a Josélia desconfiem, ninguém falou que ia ser fácil…
Casa de Noronha…
Helder estaciona o carro na garagem, Américo salta apressado com a bolsa em mãos. Ele passa pela cozinha onde Ema faz o almoço e vai direto pro quarto.
O detetive fala consigo mesmo: Não acredito que o Josué morreu…Não acredito…- Ele vê a cena como que se estivesse acontecendo agora mesmo, o coração está acelerado e os lábios tremem.
Porém ao entrar ele se depara com Éssio encostado em sua cama e dá um grito.
Éssio se aproxima: Você já deve saber o assunto que quero falar…
Anna surge de trás do detetive, entra no quarto e fecha a porta: É algo muito grave, detetive.
Américo segura forte na sua bolsa.
Termina o capítulo 59.