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Filho Amado

Capítulo 55 – Filho Amado

Filho Amado.

 

Capítulo 55.

 


 

Jequinha lê: “Josélia, não pude te conhecer direito mas por uma conversa que tivemos, acho que você é a pessoa mais integra e honesta que pude ter a honra de conhecer em anos de vida. Como forma de agradecer o conselho que você me deu aquele dia, deixo pra você, sem nenhum remorso e arrependimento, a escritura e as chaves do meu sítio que vivi por anos. Espero que faça um bom proveito dele.”

 

Betânia se engasga: Ele deixou o sítio pra uma pessoa que mal conhece? NÃO É POSSÍVEL, AQUELE VELHO JÁ TAVA NO EXTREMO DA CADUQUICE!

 

Josélia explica: Estou tão surpresa quanto todos vocês, mal conheci o Belarmino mas pelo que conversamos ele era um homem muito frágil. Eu não posso aceitar esse sítio…

 

Betânia se exalta: Ótimo, me entrega a chave Jequinha!

 

Jurema a atropela: Nada disso, essa chave é minha, sou a única com um laço de parentesco.

 

Jequinha se levanta: Dona Josélia, estou aqui para cumprir as vontades do senhor Belarmino. Aceite a chave e as escrituras, o que você quiser fazer depois já não me cabe mais.

 

Josélia, sem jeito: Bom, apesar de eu achar uma medida um tanto quanto drástica, aceito então- Ela recebe os pertences do sítio.

 

Betânia fica se roendo. E Jurema muito desconfiada.

 

Casa de Noronha…

 

Noronha, feliz: Entrem e sintam-se a vontade, a casa é minha mas podem imaginar que é de vocês também.

 

Anna e Éssio entram.

 

Anna, tentando conter a admiração: Quando nós vamos poder pegar as nossas roupas e pertences?

 

Noronha se joga no sofá: No mesmo dia da demolição da casa.

 

Jasmine: Noronha, você ainda não desistiu disso?

 

Noronha pega seu celular: Ah por favor Jasmine não se intrometa. Minha mãe e meu irmão já sabem que sou irredutível quanto a isso, não complique as coisas- Anna e o filho ainda estão parados na entrada- Vocês estão esperando o quê pra entrar? Vamos logo!

 

Bruno e Caio chegam.

 

Bruno: Eu já disse garoto, você tem que torcer pro FLA-MEN-GO.

 

Caio está tomando suco: Mas eu quero torcer pro FLU-MI-NEN-SE, tio Bruno.

 

Bruno percebe que Éssio chegou: AI MEU DEUS, ÉSSIO QUER DIZER QUE ERA VERDADE…

 

Jasmine, constrangida: Bruno seja mais discreto…

 

Bruno disfarça: Ah, desculpa é que realmente é um choque pra mim ver o Éssio nessa cadeira- Ele se segura nas paredes.

 

Noronha ordena: Bruno vai fazer o suco de goiaba ou alguma coisa mais útil, por favor. E fala pra sua mãe se apressar com o almoço.

 

Anna e Éssio se entreolham, ainda pouco a vontade.

 

Noronha os olha fixamente: Depois a Ema vai mostrar onde será o quarto de vocês. Não sejam tímidos!

 

Caio olha com medo para Anna.

 

Jasmine se abana: Vou tirar essa roupa que tá muito calor, aproveitar e tomar um banho.

 

Noronha se levanta: Eu vou com você- Eles sobem e Caio fica.

 

O menino sai correndo.

 

Éssio suspira: Eu tô me sentindo horrível aqui…

 

Anna o acalma: Isso é provisório. Também tô meio desconfortável, tá todo mundo olhando com uma careta pra mim…Mas quando o tratamento se concluir vamos poder nos ver livre dessa casa. Mas até que ela não é tão ruim!

 

Éssio avalia a sala: Não é mesmo. E o pior que nem temos pra onde ir, Noronha vai demolir a nossa casa, então praticamente somos…Sem- Tetos…

 

Anna pensa: Filho eu vou falar com ele, vou resolver nosso problema repentino mais cedo do que você pensa.

 

No banheiro…

 

Jasmine tira a roupa: Sua mãe e seu irmão não estão muito confortáveis aqui…

 

Noronha se joga na cama: E não é pra eles ficarem mesmo. Acha que falei aquilo de verdade? Só tô pegando leve no começo, daqui a alguns dias eles vão ter o devido tratamento!

 

Jasmine liga o chuveiro: Não gosto dessa forma que você fala, por um instante achei que você tinha boas intenções em ajudar eles, que estão passando por necessidades de verdade.

 

Noronha ri: De boas intenções o inferno tá cheio, Jasmine. Eles merecem sofrer e muito, isso ainda não é nada. No coração da Anna Pedra Dávila ela está sofrendo porque finalmente perdeu a pose, ela vivia se gabando de ser dona de casa, líder da família e tudo mais, só que agora empobreceu, perdeu a casa e ainda as pernas do Éssinho. E ainda teve a coragem de matar meu pai.

 

Jasmine: Lembre-se que tudo ainda é uma suspeita Noronha. Mas faça como quiser, só acho que vingança não é um bom caminho.

 

Noronha entra no banheiro: Perdão você quer? Me poupe Jasmine.

 

Jasmine pensa em Éssio.

 

Noronha se olha no espelho: Cada um tem o que merece.

 

Sítio de Belarmino…

 

Josélia distribui os pertences de cada um: E aqui está o seu livro Vidas Molhadas, Betânia- Ela confere no testamento- Acho que já entreguei tudo, já podemos ir.

 

Betânia, irada: Esse sítio devia ser meu, era a única coisa do Belarmino que tinha valor- Ele olha pra Grace- Agora tenho que ficar com essa porca!

 

Benê se lembra: Falta a minha mala de dinheiro, que está em cima do chiqueiro.

 

Josélia: Nossa mas o chiqueiro é alto, vamos ter que pegar uma escada- Os dois entram.

 

Jurema pega seus pertences: Já vou indo então.

 

Betânia a chama: Ei, não vamos ser bobas, Jurema!- Ela vai até a cunhada- Deixa eu montar em você pra pegar essa mala, mas temos que fazer isso de pressa antes que a dupla idosa chegue. Eu fico com 70% do dinheiro da mala e você com o resto.

 

Jurema: Nada disso. Meio a meio ou eu desisto.

 

Betânia não vê outra solução: Tá bom, meio a meio- Elas se aproximam do chiqueiro. Betânia pega um balde e tenta subir em Jurema.

 

Jurema: Cuidado…Cuidado comigo, menina!- Betânia consegue subir nela- AI, MEU CABELO!

 

Betânia, lá em cima: Desculpa- Ela alcança o telhado e vê a mala- ACHEI! ACHEI!

 

As duas ouvem as vozes de Josélia e Benê.

 

Jurema: Rápido, vai!           

 

Betânia pega a mala.

 

Jurema não aguenta: AI…Você é muito pesadaaa- ela acaba caindo junto com Betânia.

 

Betânia, zonza: Olha pelo menos eu tive você pra amortecer a minha queda!- Ela se levanta e sacode a poeira- Vamos logo antes que eles cheguem.

 

Jurema, dolorida: Ai, acho que eu fiquei paraplegia depois dessa queda. Não tô sentindo minhas perninhas.

 

Betânia a puxa: Vamos logo, vamos no seu carro antes que eles cheguem- As duas saem correndo com a mala.

 

Quintal da casa de Noronha…

 

Helder: Você quer que eu cerque a casa com essa cerca elétrica? Pra quê? Isso tudo é medo de ladrão?

 

Noronha: Não questione as minhas ordens, Helder. Você pode colocar a cerca ou tá bêbado? Se eu sentir cheiro de pinga na sua blusa te expulso daqui!

 

Helder toma postura: Não se preocupe, vou colocar essa cerca.

 

Noronha: Ótimo, eu vou reforçar os muros e fechar toda a casa. TODA. Pra que ninguém tente fugir…

 

Helder, apavorado: Fugir do quê?

 

Noronha ri: Do destino, meu caro.

 

Carro de Jurema…

 

Betânia tenta abrir a mala: O Belarmino trancou com cadeado, temos que tentar abrir depois! Agora eu tô morrendo de fome, vai com a mala pra sua casa porque a Josélia pode desconfiar da gente e tentar entrar no meu quarto. Mas nem tente roubar o dinheiro, Juju!

 

Jurema toma a mala: Ótimo, não se preocupe que desleal não serei.

 

Betânia sai do carro: Depois eu passo na sua casa.

 

Lá dentro…

 

Ema coloca a mesa: Aqui temos creme de espinafre, nossa tradicional mojica, salada de rúcula que é a favorita de Noronha, arroz de forno e feijão com bastante sustância.

 

Caio, sorridente: E de sobremesa?

 

Ema sorri: Mousse de morango, como você pediu!

 

Caio: E-BA!- Ele começa a dançar.

 

Noronha e os outros se sentam na mesa: Menino, se comporta como gente!

 

Anna e Éssio sentam-se um do lado do outro.

 

Anna lê as recomendações médicas: Aqui diz que você pode comer de tudo mas com moderação, Éssinho.

 

Betânia aparece: Olha só, família inteira reunida e eu nem sabia- Ela repara em Anna e Éssio.

 

Anna: Nossa, eu não sabia que você morava aqui…Pelo visto sua casa parece hotel, Noronha.

 

Betânia não liga, e se senta.

 

Ema pega a jarra de suco de 3 litros: Bom, eu vou servir vocês.

 

Noronha a interrompe, ele se levanta: Por favor, Ema, não faça isso. Você sempre nos serve muito bem e com muita dignidade mas quem vai nos servir hoje é a mais nova empregada da casa.

 

Betânia, ainda dolorida por conta da queda: Quer dizer que teremos outra criada?

 

Noronha faz sinal e Bruno vai até a dispensa: Sim, a nova empregada dessa casa é a minha querida mãe, Anna Maria Dávila- Ele ri para Anna.

 

Tensão.

 

Bruno chega com um avental, Noronha o pega e se levanta.

 

Noronha entrega o avental para a mãe: Aqui está o seu uniforme mamãe, eu esqueci de te avisar mas você começa a trabalhar desde já- Ele se senta, rindo- Agora por favor se levante e comece a servir todos, um por um!

 

Anna fica furiosa, mas não demonstra: Certo…

 

Jasmine, incomodada: Noronha ela acabou de chegar, deixa ela comer primeiro, se estabilizar aqui.

 

Noronha: Ela vai comer também, depois que servir todo mundo aqui. Ema, se sente no lugar da minha mãe e coma conosco.

 

Anna, muito humilhada, veste o avental.

 

Noronha, feliz: Ficou perfeito, mãe!- Debocha- Serve primeiro o Caio, porque daqui a pouco ele tem que ir pra escola dele, que é na cidade vizinha.

 

Anna fica cabisbaixa, ela vai até Caio e o serve com um pouco de tudo. Noronha fica muito satisfeito ao ver a cena.

 

Noronha: Agora por favor, me sirva! Estou morrendo de fome- Ele levanta o prato- Pode colocar bastante arroz, eu não quero economizar! Sem creme de espinafre, eu costumo come-lo só uma vez por semana.- Anna se esforça para não chorar, mas está lacrimejando.

 

Todos da mesa estão calados observando a cena, inclusive Betânia.

 

Anna engole o orgulho: Mais alguma coisa, Noronha?- Fala baixo.

 

Noronha pega o garfo e a faca: Sim, eu sou seu patrão portanto me chame de SENHOR Noronha a partir de agora- Ele olha pra Éssio- Entendido?

 

Anna, devastada: Quê? Mas Noronha…

 

Noronha, furioso: SENHOR NORONHA, deu pra entender ou vai precisar de cotonete? Essas empregadas de hoje em dia não respeitam mais os patrões!

 

Éssio começa a chorar baixinho.

 

Noronha: Bom, então vamos almoçar que hoje eu estou até motivado- Ele ri.

 

Anna continua servindo os outros.

 

Um pouco depois…

 

Escritório de Noronha…

 

Ele está sozinho, falando ao telefone: Amanhã você pode chamar o pessoal da demolidora, quero acabar com essa casa urgentemente. SIM, EU TENHO URGÊNCIA, portanto sem questionários, afinal eu tô pagando!- Ele desliga.

 

Anna bate na porta.

 

Noronha: Pode entrar.

 

Anna entra, ainda trajada como empregada: Eu preciso falar seriamente com você, sobre a minha casa…

 

Noronha não a encara, ele mexe no computador: Mãe, eu tô sem tempo agora, você poderia me chamar mais tarde, inclusive se eu fosse você falaria com a Ema pra ela te dar todas as instruções de como funcionam as coisas aqui e de quais serão as suas funções.

 

Anna, séria: É um assunto inadiável! Você pode me humilhar e me fazer de empregada assim como acabou de fazer no almoço mas vai ter que me ouvir!

 

Noronha não responde nada.

 

Anna: O meu filho Éssio sofreu um acidente e você bem sabe disso, nós estamos enfrentando uma crise tremenda depois que seu pai morreu!

 

Noronha, irônico: Sim, eu sei, agora me conte as novidades!

 

Anna, enraivada: Você não pode, não tem o direito de demolir nossa casa! Não sei se é um fetiche seu ou coisa do tipo mas nós precisaremos dela quando o tratamento do Éssio acabar. Se você demoli-la vai nos deixar na completa miséria, você teria coragem de fazer isso com sua própria mãe e seu irmão?

 

Noronha para tudo o que está fazendo: Não adianta, nada do que você falar vai mudar a minha ideia, eu não te devo explicações nenhumas porque agora você é minha empregada e só isso. A parte demãe sinto muito, mas já se acabou faz tempo. Você nunca teve orgulho de dizer que era mãe, pois agora eu não quero ser seu filho, só seu patrão e isso.

 

Anna: Noronha não seja frio, vim aqui te fazer um pedido muito importante e você tá desviando pros assuntos do passado…Me escuta, tô clamando pra que você não destrua aquela casa e você nem tá se lixando pra isso!

 

Noronha a encara: É preciso ser frio, mãe. Quanto a casa, eu faço com ela o que eu bem entender porque ela tá na minha posse, quer que eu mostre o documento? Mas que insistência maldita!

 

Anna, nervosa: Já entendi, você tá fazendo um jogo emocional pra acabar comigo mas isso não vai funcionar. Agora nem discutir você sabe mais, fica usando fatos do passado pra conseguir o que quer!

 

Noronha abre a gaveta e pega o papel: Quer ler? Todas as casas da família Dávila estão em minha propriedade! Mãe, os fatos do passado são o motivo da minha volta, se você não percebeu. Eles me guiam.

 

Anna: Quem vive do passado é fraco- Ela se levanta- Não tem coragem de encarar o presente, mas eu já esperava esse tipo de atitude de você, agora deixar a família na miséria é algo de extrema desumanidade, mas você ainda vai pagar.

 

Noronha vai até ela: O PRESENTE É QUE EU SOU RICO, VITORIOSO E PODEROSO- Ele esfrega o papel em sua cara- Absorveu as ideias? E O ÉSSIO, SEU AMADO ÉSSINHO É UM CADEIRANTE DERROTADO!- Ela tenta sair mas ele a impede- Volta aqui…Agora você vai encarar o presente, e pagar por tudo, TUDO, o que fez. Vai ter tudo o que merece. E ninguém vai te ajudar, porque se duvidar nem seu filho quer saber mais de você!

 

Anna: Para de falar do Éssinho, ele me ama! Ele sim!

 

Noronha, ferino: O Éssinho agora é fracassado de vez, mas ele também vai pagar por tudo que me fez, ele não tem como fugir e nem como escapar do destino, nem andar consegue mais!

 

Anna lhe dá um tapa: Não abre essa sua boca pra falar dele, meu filho é puro! PURO!

 

Noronha revida com outra bofetada, que a faz cair no chão.

 


 

Termina o capítulo 55.

Victor Morais

Escrevi as webs novelas Beira-Mar e Filho Amado que foram publicadas no portal. Atualmente escrevo " Ser Humano", que se passa nos anos 80 e trata da relação complicada entre mãe e filha. Drama, emoções, cotidiano, conflitos familiares...Esse é o meu estilo.

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