Capítulo 52 – Filho Amado
Filho Amado.
Capítulo 52.
A arma misteriosa mira em Éssio, que está de costas para o atirador. Com precisão ele atira duas vezes nas costas do irmão de Noronha.
Éssio despenca no chão, e continua caído. O carro arranca com tudo.
Casa dos Dávila.
Jasmine lê uma revista sobre moda: Nossa, eu sou a cara dessa tal Camila Pitanga…
Noronha aparece, com cara de satisfação: Dever cumprido, agora é só esperar um pouco…
Jasmine o olha de canto: Foi confrontar a mamãe?
Noronha, animado: Exatamente, ela entrou em desespero quando anunciei da demolição da casa…
Jasmine: E por que você demorou tanto?
Noronha pega whisky: O único que podia me fazer essa pergunta era o meu pai, mas como estou sem acidez hoje irei responder. Fui na delegacia pra reabrir o inquérito de duas mortes: A do Figaro, a pedido da Josélia e também porque quero descobrir quem o atropelou; e a do Chico Branco, que é a mais importante.
O telefone toca, e Ema atende.
Jasmine, contente: A tia Josélia vai ficar muito contente.
Ema interrompe a conversa: Senhor Noronha é a sua tia Alminha, ela parece aflita, está em um hospital pelo que entendi.
Noronha, sem entender: Ah, era o que faltava- Ele atende, e Alminha lhe fala algo- Repete, tia. Se acalma e me conta o que aconteceu…Sei…O ÉSSIO FOI BALEADO?
Jasmine fica em estado de choque.
Venda de Jurema…
Jurema termina de atender um cliente: Volte sempre, querida.
Betânia, estressada: Acabou com a venda? Pois bem, tenho um assunto importante pra falar contigo.
Jurema se senta: Diga, Betânia! Estou toda ouvidos.
Betânia joga a carta na mesa: Leia essa carta do seu irmão adotivo preferido! Belarmino voltou pra Bahia.
Jurema, assustada: Como assim? Como ele foi?
Betânia: Olha Jurema eu não sei se ele foi a pé, de trem ou com a mula dele mas o que importa é que Belarmino voltou pra Juazeiro dizendo que quer morrer lá, na sua terra natal.
Jurema: MEU DEUS!
Betânia: Leu a carta?
Jurema confessa: Na verdade não li porque estou sem meus óculos aqui, mas pelo que você me disse o Belarmino voltou pra Juazeiro pra…MORRER?
Betânia avalia as próprias unhas: Isso mesmo, e ele disse que deixou um testamento com o advogado dele, o doutor Jequinha. Mas eu acho que isso é só pra chamar a nossa atenção, você conhece algum parente que mora em Juazeiro?
Jurema, indignada: Não foi pra chamar atenção coisa nenhuma, o Belarmino já tinha conversa comigo e me contou que você quis abandona-lo! Ele tava muito triste, se alguma coisa acontecer…
Betânia: Jurema chega de discurso correto, liga pra algum parente baiano logo! Aposto que o Porco Man deve estar pelo Mato Grosso rindo da nossa cara!
Jurema disca no seu celular: Alô? Oi seu Manéquinho, sou eu sua sobrinha Jurema! Isso mesmo! Eu queria saber se o Belarmino deu notícias, ele disse que ia chegar aí de surpresa!- Ela parece preocupada- NÃO ACREDITO!
Betânia, irritada: O que aconteceu? Fala!
Cadeia Municipal.
Natércia conversa com Batista: Eu acredito em tudo o que você me diz, meu amor- Ela chora- Vou dar um jeito de te tirar daí o mais rápido possível, mas antes preciso arrumar um emprego, tá difícil desde que a loja do Clécio fechou.
Batista, apático: Aquele José do Gado e a Anna me pagam, acho ótimo que ele perdeu. Velho falso e asqueroso.
O carcereiro chega: O tempo de visita acabou, vamos indo.
Batista se levanta e abraça a mulher: Não fica muito tempo sem me visitar, tá?
Natércia, triste: Eu vou vir e você vai sair daí rapidinho meu amor, te amo!
Um pouco depois…
Batista percebe que o carcereiro já passou de sua cela: Ué, eu fui transferido?
O Carcereiro avisa: Hoje chegaram uma leva de 20 presos da cidade vizinha e sua cela e mais outras foram ocupadas- Ele para em uma cela no ultimo corredor- Você vai ficar aqui até que se tome outra providência.
Batista entra na cela, onde há um homem virado de costas: Olá- Diz timidamente- Meu nome é…
O homem se vira, a aparência é medonha mas dá para reconhecer: É Clécio.
Batista, espantado: CLÉCIO?!
Hospital de São Cristóvão.
Anna, desesperada: Só pode ter alguém fazendo macumba pra nossa família, tanta desgraça em tão pouco tempo!- Ela chora- Meu Deus ajude que não tenha acontecido nada com o meu filho…
Alminha, triste: Quem será que atirou no Éssio assim sem motivo?
Anna chora: Não sei mas o Éssinho recebeu uma ligação e…- Ela começa a soluçar- Ele saiu desesperado, e pouco depois me ligaram contando que tinham atirado nele! Alguma coisa errada ele tava me escondendo, o pobre do meu filho já tava sofrendo com a derrota e agora leva mais esse chute da vida, ele não merece isso…Mas eu sei de quem é a culpa.
Alminha: Até eu tô ficando nervosa! Os médicos não deram nenhuma notícia até agora…
Anna suplica: O Éssio não merece isso, meu filho sempre foi bom e honesto Alminha! Mas eu creio que nada de ruim vai acontecer, o inimigo não vai atingir seus objetivos!
Alminha se levanta pra beber água, ela olha pra Anna e pensa: “ Toda vez que eu me aproximo da Anna começo a passar mal, sinto uma energia negativa, e agora tá mais forte do que nunca…”
Venda de Jurema…
Jurema desliga o telefone: O Belarmino morreu ontem- Ela começa a chorar- Ele tomou uma caixa inteira de remédio pra dormir e se jogou no Rio São Francisco. Nenhum dos nossos parentes sabiam, eles acharam que o Bê tinha ido lá pra passar uns dias.
Betânia abaixa a cabeça: O Belarmino é burro até na hora de morrer, estragou a vida de uma maneira tosca!
Jurema lhe dá um tapa: Não fala assim do meu irmão sua porca! Ele tinha sentimentos verdadeiros por você e sempre te amou, e se ele ficou depressivo foi porque você o abandonou.
Betânia: Abandonei mas ele me deixou trancada um mês em casa, esqueceu? Belarmino era louco e possessivo!
Jurema lhe dá mais tapas: Ele exagerou nas emoções mas era uma boa pessoa, que no fundo só queria ser amado, mas acabou sozinho e sem amor nenhum.
Betânia retribui com outro tapa, que deixa Jurema zonza: VOCÊ também o abandonou, ele só tinha a nós duas e seus animais, então não venha me culpar porque se você fosse uma boa irmã visitaria ele com frequência e não teria deixado isso acontecer! A culpa também é sua!
Jurema começa a chorar: Ai como eu me arrependo, você nem sabe…Mas eu pelo menos amava meu irmão e muito, e nem consegui me despedir decentemente, isso não podia ter acontecido…
Betânia pega sua bolsa: MAS ACONTECEU! E se eu não tivesse vindo aqui você nem saberia!
Jurema se defende: Saberia sim, o tio Manequinho ia me ligar hoje mesmo, é que só acharam o corpo do Belarmino hoje no início da manhã…Ainda tava todo mundo muito atordoado.
Betânia, determinada: Aqui na carta diz pra procurarmos o advogado dele, o Jequinha. Ele vai nos contar tudo.
Jurema não para de chorar.
Casa de Noronha.
Jasmine anda atordoada de um lado para o outro na sala: Tomara que o Noronha me traga boas notícias…E que não tenha acontecido nada com o Éssio…- Então Ema aparece.
Ema avisa: Dona Jasmine, chegaram uns portões novos e uma grade elétrica, os entregadores querem que você assine a autorização.
Jasmine estranha: Portões? Grades?
Ema avisa: Isso mesmo.
Jasmine: O Noronha não me avisou de nada mas…De qualquer forma eu assino- As duas saem.
Benê entra na casa, com flores. Josélia aparece no mesmo instante.
Josélia, animada: Benê, que bom te ver aqui!
Benê entrega o ramo de flores: A Ema me deixou entrar, eu vim te ver e parabenizar o Noronha pela vitória de ontem.
Josélia cheira as flores: Vou colocar em um vaso, fique aí que peço pra Ema preparar um lanche e poderemos conversar- Ela vai para a cozinha.
Benê: Pelo tanto de coisas ali pelo visto Noronha vai fazer uma bela reforma aqui- Ele olha pela janela o jardim, onde o helicóptero fica.
Américo aparece, ele fica animado ao ver Benê: Exatamente com quem eu queria falar…
No hospital…
Noronha aparece no corredor, onde estão apenas Anna e Alminha.
Anna fica furiosa ao ve-lo: O que você tá fazendo aqui?
Noronha, sério: Mãe eu vim com boas intenções, me preocupo muito com o meu único irmão!
Anna: Você não se preocupa com nada e ninguém, apenas consigo mesmo! Tanto que quer jogar a mim e ao Éssinho na rua, seu cruel! Sai daqui e não piore as coisas.
Noronha: O hospital é público, eu posso ficar onde quiser!
Anna: Você ama me provocar com seus ataques ferinos, mas não vou me importar mais com a sua presença, só na hora de te denunciar pra polícia por ter atirado no meu filho!
Alminha a contém: Cunhada, essa é uma acusação muito séria!
Noronha se ofende: De todas as humilhações essa foi a pior, me acusar de tamanha coisa? Quem você acha que eu sou pra fazer isso, mãe?! Diferente de você, eu não tenho o sangue frio de atirar em ninguém.
Anna se levanta: Olha lá o que você vai falar…
Noronha: ASSASSINA SIM! Não negue na frente da tia Alminha, você enganou a todos durante o enterro do papai com seu teatrinho didático mas eu notei tudo, e sei de muita coisa sobre sua pessoa. O papai não foi sua primeira vítima!
Anna avança pra cima dele, mas Alminha a impede: Parem com isso, aqui é um hospital e não a feira do peixe!
O médico chega: Quem é o acompanhante do senhor Éssio Dávila?
Anna esquece Noronha e se aproxima correndo do médico: SOU EU! EU! O QUE ACONTECEU COM O MEU FILHO?
O médico respira fundo.
Casa dos Dávila…Ainda de manhã…
Américo se aproxima de Benê, que está olhando pela janela.
Américo: Bom dia senhor Benedito.
Benê, contente: Olá, pode me chamar somente de Benê. Você é o assessor do Noronha, né?
Américo mente: Eu mesmo- Ele trata de mudar de assunto- Esses dias o Noronha tava me contando que você já foi violonista, eu acabei me interessando porque meu pai também é e eu morro de vontade de aprender…- Inventa, para tentar arrancar informações.
Benê confirma: Eu era sim, eu e o Belarmino éramos os violonistas da antiga Orquestra de Vila Varzeônica, modéstia à parte eu tocava muito bem mas agora perdi a habilidade com as mãos.
Américo, como se não soubesse de nada: Nossa, eu não sabia que essa cidade tinha orquestra, nunca ouvi falar.
Benê se recorda: Eram bons tempos apesar da guerra que estava acontecendo no Mato Grosso, e a família Dávila participava ativamente, inclusive o próprio pai do Bento e a esposa dele…A Helena!
Américo se interessa: Ah é, a Helena era o quê?
Josélia chega: Coloquei as margaridas em um lindo vaso- Ela repara no detetive- Cadê a Ema pra nos servir um lanchinho?
Jasmine e Ema entram em casa.
Ema: Não sei porque o Noronha comprou uma grade elétrica…
Jasmine, aflita: Ele ainda não deu nenhuma notícia do hospital…
Benê: Hospital? O que aconteceu com o meu sobrinho Noronha?
Jasmine conta: Com o Noronha nada, mas o Éssio foi baleado.
Benê se levanta, surpreso: BALEADO?
No hospital…
Anna suplica: Me diz o que aconteceu com o Éssio, doutor!
O médico tira os óculos: O seu filho levou um tiro na coluna, o tiro rompeu a medula óssea e atingiu exatamente a terceira vértebra lombar.
Noronha, dúbio: Quer dizer que o Éssio…
O médico prossegue: Nós fizemos os exames necessários e não há mais dúvidas: Éssio está paraplégico, e com remotas chances de conseguir se recuperar.
Anna, trêmula: PARAPLÉGICO?
Termina o capítulo 52.