Capítulo 5 – Jovens Tardes
Roteiro de telenovela Brasileira Capítulo 005
Personagens deste Capítulo:
Anita
Ariel
Vendedoras
Continuação Imediata do Capítulo anterior:
Cena 01. Interior, dia, Mansão Loureira. QUARTO CASAL.
Anita (irônica) – Ah, mas não faça essa cara, sei que ela é feia de nascença, mas não piora. Acordei cedo e vim fazer essa decoração linda. Eu sou uma artista.
Besançon levanta desesperada e começa a rasgar as fotos e cartas.
Anita – Isso querida rasga mesmo. As fotos estão em pen drives e espalhadas por aí.
Besançon – Você não tinha o direito de entrar na minha privacidade.
Anita – Você é que não tinha o direito de enganar meu pai dessa forma sórdida. Se queria riqueza, vida boa, trabalhasse. Ou ao menos fosse uma esposa fiel, decente.
Besançon – Você não tinha que se meter…/
Anita – Me meto sim. Agora você vai provar do seu veneno. Eu cansei de ver meu pai feito otário comendo na sua mão. A balança se inverteu Besançon, você acabou.
Besançon – Não pense que me intimida dessa forma. Você não me tem nas mãos.
Anita – Debaixo dos pés, talvez?
Besançon – Eu só queria saber, como você teve acesso a essas cartas, como você conseguiu tirar Xerox?
Anita – Você é muito amadora. Eu te segui e conseguia sempre pegar suas cartas. Não me pergunte como, mas eu tenho meus informantes dentro dos correios.
Besançon – Eu tenho o recibo de postagem, vou processar você e aquela agência.
Anita – Só assim mesmo pra você ganhar algum dinheiro daqui muitos anos, porque você sairá desse casamento como entrou: uma pobre coitada.
Besançon – Não pense que estou derrotada. Eu ainda tenho cartas na manga.
Anita – Te dou 24 horas pra você se separar do meu pai. Aí não conto nada, não mostro nada. Mas você terá apenas um dia.
Besançon – Mas o que eu vou dizer pro seu pai? Eu não posso simplesmente dizer que tô indo embora, eu sei que ele vai atrás de mim, sei que ele vai querer uma explicação. O que eu vou fazer?
Anita – O que você vai fazer eu não sei. Agora trate de pensar em algo bem convincente ou meu pai vai ter acesso as cartas, fotos e acabará com a sua raça. Até mais ver… Piranha!
Anita sai do quarto e Besançon tem um ataque de fúria e começa a rasgar as fotos e as cartas. Em seguida começa a chorar.
Corta para:
Cena 02. Interior, dia, Mansão Acioli. SALA DE JANTAR.
Bela e Lorena estão sentadas a mesa, tomando café da manhã e conversando.
Bela – Então quer dizer que a minha sobrinha já está de chamego com um rapaz aqui da cidade?! Rápida demais você hein.
Lorena – Não é chamego não, é namoro mesmo.
Bela – Namoro? Mas você nem me apresentou o bofe.
Lorena – Na hora certa tia. Tudo há seu tempo. Em breve você conhecerá o Laerte.
Bela – Laerte. Esse era o nome que o Marechal mais gostava. Lembro até de quando ele disse que nosso filho se chamaria – Bela interrompe a própria fala – Meu Deus, Laerte deve ser filho do Marechal com a Tomázia.
Lorena (confusa) – Quem são esses?
Bela – É uma longa história. Trás ele aqui pra jantar hoje.
Lorena – Hoje não dá. Marcamos de sair pra oficializar nosso namoro.
A Campainha toca.
Bela – Hum, tá bem. Vou fazer o que? Te desejo felicidade Chaveirinho.
Lorena – Você ainda se lembra desse meu apelido?
Bela – Se fui eu quem te dei. Lembro que sua mãe detestava. Ah que falta a Bia nos faz.
Lorena fica triste. Filó, a empregada, entra na sala.
Filó – Com licença, dona Bela tem um senhor na sala querendo falar com a senhora.
Bela olha apreensiva para Lorena e volta a olha para Filó.
Bela – Ele disse o nome fofinha?
Filó – Não senhora e agradeço pelo fofinha.
Bela – Chamei de fofinha pra num chamar de gorda. Porque você tá bem acima do peso hein rolha de poço.
Lorena – Tia para com isso.
Bela – Eu só disse a verdade.
Lorena – Mas a Filó é tão boa gente. Aceitou sair do outro emprego e vir trabalhar aqui.
Bela – Boa gente, porque não tem opção. A pessoa quando é feia ou gorda, tem que se espiritualizar, porque a matéria já tá podre.
Filó sai correndo chorando.
Lorena – Viu só o que você fez?
Bela – Eu só disse a verdade. Quem fala a verdade não merece castigo. Pronto falei!
Bela se levanta e sai da sala.
Corta para:SALA DE ESTAR
Igor está olhando as fotos nos porta-retratos da sala, quando Bela entra na sala.
Bela – Gostou das fotos?
Igor – Você sempre foi linda.
Bela – Bela, eu sempre fui bela. Claro que o peso da idade já caiu sobre mim, mas eu ainda arrasto uma boa asa.
Igor e Bela se olham.
Bela (se sentando) – Mas se sente e me conte o real motivo dessa tua visita. Sei que não foi pra olhar fotos do passado.
Igor – É sobre Carmita e eu.
Bela – Ai meu Jesus Maria José, nem te perguntei, o que ela disse ontem depois do flagra? Aposto que me xingou horrores.
Igor – Nós decidimos nos separar.
Bela (assustada) – O que? Separar?
Igor – Eu já não amava mais a Carmita e você me fez descobrir isso. Aí foi melhor a separação. Ela já foi embora de casa, acho que hoje cedo.
Bela – Eu sinto muito Igor, mas não posso fazer nada por você. A Carmita me odeia, é fato!
Igor se levanta.
Igor – Eu só vim aqui pra dizer que estou livre. Livre pra te amar. Eu quero namorar, ter um romance e até se Deus permitir, me casar com você.
Bela cai na risada.
Bela – Você tá louco Igor?
Igor – Eu não tô entendendo. Eu te amo e você me ama. A gente agora tá livre pra ficar junto, pra poder assumir pra sociedade o nosso querer.
Bela – Quem disse que eu te amo?
Igor – Oi? Eu ouvi direito?
Bela – Igor eu vou ser sincera, não quero te decepcionar. Você foi bacana, mas acabou. Eu nunca senti nada, na verdade nem nunca quis ter nada com você. Mas eu precisava te usar pra me vingar da Carmita.
Igor – Agora eu tô achando que você é que tá louca meu amor.
Bela – Em primeiro lugar, não me chama de meu amor. Eu nunca fui, não sou e nem serei sua. O que tô querendo explicar é que eu, Bela Acioli, nunca te amei, eu te usei como escada para me vingar da Carmita.
Igor (surpreso) – Então eu fui escada pra você?
Bela – Olha pra mim Ceregí, olha bem pra mim. Acha que eu iria querer ficar com alguém como você? Pegar resto da Carmita? Ah, poupe-me bebê.
Igor – Você é mesmo uma vagabunda barata. E eu aqui cheio de amor pra te dar e você me usando o tempo todo. Sua psicopata.
Bela – Pode ofender. Sou superior. Eu voltei pra destruir um por um dos que me desprezaram a vida toda e a Carmita foi uma delas. Aquela alcoviteira dos infernos, ela tentou a adolescência toda me separar do Marechal. Aí dei o troco. Só não pensava que seria fácil demais.
Igor – Eu vou nessa. Mas fique ciente que quem vai se vingar agora sou eu, e de você.
Bela – Veremos.
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Cena 3. Exterior, dia, rua.
Murilo e Letícia estão andando pelas ruas conversando. Murilo com um envelope grande na mão.
Letícia – Eu quase nem preguei o olho essa noite. Você ronca quem nem uma bezerra desmamada.
Murilo – Ai mulher, larga de faltar com a verdade. Eu durmo como uma deusa.
Letícia – Só se for no cio. Porque essa noite era cada barulhão que eu pensei que o céu estivesse desabando.
Um rapaz malhado passa por eles e sorri.
Murilo – Jesus Maria José, que calor é esse?
Murilo começa a tirar a roupa e Letícia envergonhada tenta tampar.
Letícia (beliscando Murilo) – Para com a graça viado. Vai ser preso aí.
Murilo – Ai mulher não me aperreie não. Você viu aquele tríceps do boy magia? E aquela barba por fazer? Ai gente.
Letícia – Vista essa camisa, ninguém merece ter que ver essa barriga medonha sua.
Murilo – Discordo. Essa barriga é passageira, daqui a pouco ela some.
Letícia – E tu vai emendar o pescoço na cintura é?
Murilo – Larga de assuntar essas coisas e vamos para a loja.
Murilo sai andando na frente e Letícia o acompanha.
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Cena 04.Interior,dia,Mansão Kalil.SALA DE ESTAR.
Tomázia e Helena estão sentadas no sofá conversando.
Tomázia – Helena, eu sei que você está passando por dificuldades financeiras, que o seu marido te deixou em maus lençóis e é por isso que eu te chamei aqui.
Helena – Olha só Tomázia, se você quer bancar a boa samaritana pra cima de mim, pode esquecer. Você sabe que nunca nos demos bem, que éramos rivais na adolescência e que hoje, você deve estar rindo da minha desgraça.
Tomázia – Eu sempre fui superior a tudo isso e se te chamei aqui hoje, é pra te ajudar, pra poder te estender a mão nesse momento de dificuldade. Eu já passei por problemas financeiros e sei como é difícil encontrar alguém que nos ajude.
Helena (desconfiada) – Até agora eu não entendi o motivo dessa ajuda. Olha só Tomázia, eu até entendo que você queira realmente me ajudar, mas não careço da sua ajuda não.
Tomázia – E vai ter ajuda de quem? Do Divino Espírito Santo? Ah me poupe, deixa de ser orgulhosa e aceite a minha oferta.
Helena – Eu não quero esmola.
Tomázia – Eu tô te dando a oportunidade de trabalhar, de conseguir uma vida digna.
Helena – Isso deve ser coisa da Bela, não é? Você tá com ela, sei que querem me humilhar.
Tomázia – Assim você me ofende Helena, eu nunca tive nenhum laço ou contrato com aquela mulher, pra dizer a verdade eu tenho nojo, pavor dela. Eu só estou querendo te ajudar, de coração, porque, apesar de tudo que você me fez, apesar de me humilhar na época de escola e de tentar me bater, eu acredito na redenção das pessoas, acredito que você possa ser uma boa pessoa.
Helena – Nossa tô envergonhada agora desculpa. Eu fiz mau juízo de você. Nem todo mundo é como aquela demônia da Bela Acioli.
Tomázia – Aquela lá tem a alma escura, cercada pelo ódio.
Helena – Depois de tantos anos, nós temos uma coisa em comum: O horror aquela mulher.
Tomázia – Eu quero que ela tenha o pior fim que se possa imaginar. A morte é tão pouco, qualquer sofrimento seria pequeno pra ela.
Helena – E então, o que quer me oferecer?
Tomázia – Quero que trabalhe aqui em casa, que ajude a Santa nos afazeres domésticos. Sei que é pouco, mas é a única forma de te ajudar.
Helena – Eu não tenho muita saída mesmo. Eu tô sem emprego e sem apoio. Minhas economias estão no fim. Eu aceito sua ajuda.
Tomázia sorri e as duas se abraçam.
Tomázia – Garanto que seremos grandes amigas.
Nesse instante Santa entra na sala.
Santa – Dona Tomázia, com licença, é a dona Carmita ao telefone querendo falar com a senhora.
Tomázia – Obrigada Santa. Agora auxilia a Helena nas tarefas aqui de casa, ela será sua ajudante aqui.
Tomázia vai atender o telefone.
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Cena 5. Exterior, dia, Shopping.
Imagens aéreas e térreas de um grande Shopping.
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Cena 6. Interior, dia, Shopping. LOJA GLAMOUR.
Lorena está auxiliando algumas vendedoras, quando Murilo e Letícia entram na loja.
Vendedora – Pois não, o que desejam?
Murilo e Letícia se olham com deboche.
Murilo (cantando) – Desejo a todas inimigas vida longa, pra que elas vejam cada dia mais nossa vitória.
Entra o áudio da música “Beijinho no Ombro” e Murilo e Letícia começam a dançar. Todos na loja olham assustados e algumas clientes saem indignadas.
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Cena 7. Exterior, dia, Shopping.
Murilo e Letícia são jogados na rua em frente ao shopping pelos seguranças.
Murilo – Cambada de mal educados. Essa Lorena vai se ver comigo.
Letícia – Povo sem cultura, sem humor.
Murilo – Discordo. Eles até tem cultura, mas uma cultura cheia de não me toque.
Letícia – E a gente só quis distrair o ambiente antes de entregar os currículos. Aquilo lá tava muito brega.
Murilo – Discordo. Aquilo lá tava chique demais, porém muito formal.
Letícia – Ah vamos embora. Nesse shopping a gente nem entra mais.
Murilo – Então vamos. Fazer o que né?
Letícia e Murilo seguem caminhando pela rua afora.
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Cena 8. Interior, dia, Consultório Psiquiátrico.
Maria Marta e Giulio estão sentados em uma sala esperando a psicóloga aparecer. Estão aparentemente nervosos.
Maria Marta – Acho que não deveríamos ter vindo. Sei que foi com a melhor das intenções o que o pastor nos proporcionou, mas os casamentos antigamente não tinham esses tais cursos.
Giulio – Mas também não duram muito e se duram muito, são com traições e muitas brigas. Eu quero o melhor casamento, um casamento blindado.
Maria Marta – Ai, mas o que será que perguntarão pra gente? Teremos que falar das nossas intimidades, dos nossos anseios e desejos.
Giulio – Melhor assim. Se o pastor aconselhou, faremos isso.
Nesse instante a psicóloga entra na sala.
Psicóloga – Olá, prazer. Eu sou a Dr. Lourença Helena Côrtes. Sou terapeuta de casais e há dois anos ministro o curso de “novos casados”. O pastor me falou sobre vocês e também li a ficha que fizeram contando um pouco da relação de vocês. Tudo que fizermos aqui hoje, será em conjunto, afinal se pretendem casar, dividirão tudo: problemas, dinheiro, amor…
Giulio – Quantas sessões nós teremos?
Psicóloga – Aí depende de cada casal, mas no mínimo três. Não se assustem, não é bicho de sete cabeças.
Maria Marta – De verdade, eu preferiria não estar aqui.
Psicóloga – É normal. Ninguém quer falar de suas intimidades, seus anseio, mas se faz necessário. E agora eu vou pedir para que cada um de vocês aponte três defeitos no outro.
Maria Marta – Mas o Giulio não tem defeito algum, eu gosto dele assim do jeito que é.
Psicóloga – Eu sei que o ama, mas ele é humano e tem defeitos também. Apontar os defeitos aqui, nessa circunstância, não é uma forma de hostilizar, mas sim de tentar melhorar o convívio e administrar os pontos fracos de qualquer relação.
Giulio – Então eu posso começar?
Maria Marta olha surpresa para Giulio.
Psicóloga – Por favor, comece Giulio.
Giulio – A Maria Marta é legal, é boa namorada e…/
Psicóloga – Eu quero que você aponte os defeitos da sua noiva. Nesse instante só diga os defeitos e sem rodeios.
Giulio – Ela não sabe cozinhar, não gosta de cachorros e é avarenta.
Maria Marta – Não é bem assim. Eu só estou poupando para termos uma vida digna.
Psicóloga – Por favor, Maria Marta, aqui não é lugar de roupa suja. Eu pedi pra ele dizer quais defeitos seus mais o incomodam e ele listou, agora é a sua vez.
Maria Marta – Ele ronca, é cordial demais com as mulheres e me sufoca muitas vezes.
Giulio (surpreso) – Eu? Mas eu nem…/
Psicóloga (p/ Maria Marta) – Como assim ele te sufoca?
Maria Marta – Às vezes ele quer estar o tempo todo ao meu lado e nem me dá tempo para estar com meus amigos, para curtir a minha família. Eu respiro ele.
Psicóloga – Eu entendo. Agora vou pedir que entrem naquela porta verde, onde encontraram uma sala sem nada dentro, lá vocês terão quinze minutos para discutirem e me trazerem soluções para amenizar esses defeitos.
Maria Marta e Giulio se olham fixamente e entram na sala.
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Cena 9. Interior, dia, Mansão Loureira. SALA.
Anita está na sala com o celular na mão e sorridente. Nesse instante Besançon desce as escadas com suas malas.
Anita – Enfim você vai embora. Como eu sonhei com esse dia.
Besançon deixa suas malas no canto e olha fixamente para Anita.
Besançon – Eu só quero saber quem tá por trás de você, sua vadia mentirosa.
Anita olha para trás.
Anita (debochando)- Eu não vejo ninguém.
Besançon – Não faça à dissimulada.
Anita – Esse papel já é seu né?
Besançon – Você foi instruída por alguém, eu tenho certeza. Quando eu descobrir quem foi, ah eu juro que mato.
Anita – Você não tem cacife pra matar nem uma barata, quem dirá matar alguém. Mas se está tão curiosa assim, eu te mostro que me ajudou a te derrubar.
Besançon – Mostra logo.
Anita liga para a pessoa.
Anita (ao celular) – Pode entrar.
Nesse instante a pessoa entra e Besançon fica muito surpresa.
Besançon – Eu não consigo acreditar que você estava por trás dessa sujeira. Não é possível que você ajudou essa pirralha a me destruir.
Nesse instante a outra pessoa aparece, é Bela Acioli, sorridente.
Bela – Surpresa em saber que fui eu Besançon? Que coisa mais feia, você traindo seu amado Gregório.
Besançon – Só me diz qual o motivo que eu te dei pra você querer me destruir?
Bela – A Anita me pediu ajuda, me contou toda a história e eu quis ajudá-la, afinal de contas ela é a minha única amiga aqui nessa cidade.
Anita – Você perdeu Besançon. Dessa vez você perdeu.
Besançon – Eu vou acabar com vocês duas. Saio daqui sem nada, humilhada, mas podem ter a certeza de que volto e volto pra acabar com vocês.
Bela – Pago pra ver.
Besançon – Essa foi a primeira vez que você cruzou o meu caminho, a próxima será bem pior. Muito pior Bela Acioli.
Bela e Anita debocham, enquanto Besançon pega suas malas e sai da casa.
Corta para:
Cena 10. Exterior, dia, Parque Municipal.
Santa e Melione estão sentados em um banco conversando.
Melione – Me lembro como se fosse ontem, a gente se formando no curso normal. Ah o curso normal, meu pai me obrigou.
Santa – Também, você era o único filho homem e seu pai sempre dizia: Meus filhos, todos eles farão o curso normal, serão professores.
Melione – Tempo bom, eu amava a escola, os amigos. Até aqueles namoricos de corredor, ah eu era feliz e não sabia.
Santa – Mas você escolheu abdicar de tudo isso e ir viver com a Ância, casar com ela.
Melione – Às vezes a gente nem pensa muito nisso. Eu troquei muita coisa pela minha esposa, mas não deu certo.
Santa – Eu sempre soube que seu casamento já acabou há séculos, na verdade não é segredo para ninguém.
Melione – Mas meu pai disse que eu deveria tomar cuidado e que se isso acontecesse, era pra eu segurar esse casamento, até o fim dos meus dias. Honrar meu papel de homem.
Santa – Mas vai ser infeliz? Vai passar a vida toda num falso casamento? Viver de ilusão não dá mais.
Melione – Eu fiz essa promessa pro meu pai.
Santa – E vai ficar agarrado ao que não te faz feliz? Nós só temos uma vida Melione, só temos esse momento para nos entregarmos ao que amamos.
Melione – Você ainda lembra do nosso romance?
Santa – E tem como esquecer o homem da minha vida? Acho que não né?!
Melione – Eu preciso ir embora.
Santa – Porque será que você sempre foge? Quando o assunto chega a nós dois, você some, evapora.
Melione – Eu sou casado.
Santa – Mal casado. Você e a Ância não se amam. Me dê uma chance, seja feliz comigo.
Melione – Eu preciso ir.
Melione se levanta.
Santa – Pensa no que te falei, mas pensa com carinho.
Melione – Passar bem Santa.
Melione vai embora e Santa continua sentada e imóvel.
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Cena 11. Interior, noite, Mansão Loureira. SALA.
Anita e Gregório estão discutindo.
Gregório – Como é que você deixa a Besançon ir embora? Como você não me diz nada?
Anita – Eu achei que você soubesse, que ao menos ela tivesse te avisado. E também, pai, eu não sou pombo correio.
Gregório – Eu tenho certeza que foi você à causadora desse súbito sumiço da Besançon. Me diz pra onde ela foi e como aconteceu. Fala logo.
Anita – Se eu soubesse, ao menos se eu soubesse, eu diria. Mas eu não sei, não sei. Tá bem?
Gregório – Se eu souber que você está mentindo, ah Anita, você vai se arrepender.
Anita – Eu não preciso mentir, ela deve ter cansado de ficar com você.
Gregório – Eu não vou perder o meu tempo com você. Não tô a fim de discutir meus assuntos pessoais com uma mimada.
Anita – Eu nem te reconheço mais, essa mulher te domina, parece um vício.
Gregório – Quando você se apaixonar, quando sentir o coração preenchido, vai me dar valor, vai saber o que é amor e com certeza saberá que eu sempre tive razão.
Anita – Vai pai, vai procurar a sua esposa. Eu ficarei aqui, no recanto do meu doce lar.
Gregório – É isso mesmo que eu farei.
Gregório sai e Anita fica arrasada.
Corta para:
Cena 12.Interior, dia, Pensão da Milú. SALA.
Murilo, Letícia, Hamilton, Ariel, Filipe, Desiree, Milú e Luzia estão assistindo TV.
Letícia – Ai, adoro essa novela. É a melhor dos últimos anos.
Murilo – Discordo. A anterior era bem mais linda, mais romântica. Ai como eu adoro cenas de romance.
Hamilton – A gente quer assistir esta porcaria, dá pra calar a boca ou tá difícil?
Luzia – Menos Hamilton, bem menos. Vive com um mau humor do cão.
Murilo – Discordo. O seu Mimi às vezes solta um sorrisinho.
Desiree – Quando? Porque até hoje, com anos ao lado dessa criatura, eu nunca o vi sorri.
Hamilton – Eu sou do jeito que sou e gosto assim. Quem não está satisfeito, favor manter distância.
Filipe – Gente dá pra ficar quieto? Agora é sério.
Milú – Olhe meu filho, abaixe o seu tom ou então eu corto o fio e ninguém mais vê nada nessa pensão.
Murilo – Discordo.
Ariel – Ih mais você discorda de tudo hein.
Murilo – Eu discordo que discordo de tudo. Eu só tenho outro campo de visão gato!
Letícia – Ih nem mexa com o Ariel, esse daí é da Edith.
Filipe – Que eu saiba ela não é de ninguém. Tá solteira e disponível.
Ariel – É, pode até ser, mas eu tô investindo pesado nela, eu quero estar com ela.
Filipe – Isso é que vamos ver.
Ariel e Filipe se entreolham.
Corta para:
Takes da cidade anoitecendo.
Corta para:
Cena 13. Interior, noite, Mansão Acioli. SALA.
Bela está sentada no sofá lendo uma revista, quando Filó entra.
Filó – Deseja alguma coisa dona Bela?
Bela para de ler e olha fixamente Filó.
Bela – Te pedi alguma coisa?
Filó – Não senhora.
Bela – Então larga de ser bajuladora, querer bancar a eficiente… Não pense que com esse gesto vai conseguir aumento de salário.
Filó – Mas eu nunca reclamei do meu salário.
Bela – Então é a hora de reduzi-lo, como se não bastasse comer tudo do bom e do melhor as minhas custas, ainda tem o privilégio da minha presença.
Filó – A senhora vai reduzir meu salário?
Nesse instante Lorena começa a descer as escadas.
Bela – Eu vou pensar no seu caso. Depende de você.
Filó – Como assim?
Bela – Você faz um favor pra mim?
Filó – Ah, mas é claro que sim.
Bela (gritando) – Me favoreça com a sua ausência escrava Isaura.
Filó sai correndo em direção a cozinha.
Lorena – Eu não entendo porque você é tão áspera com a Filó.
Bela – Nessa vida meu bem, existe cadeias alimentares, existem níveis de conhecimento e também existe uma coisinha chamada “Seu Lugar”. E aqui em casa é assim, eu na sala e a criadagem na cozinha.
Lorena – Você não podia ter tratado ela tão mal.
Bela – Podia.
Lorena – Não, não podia.
Bela – Podia, podia sim, meu anjinho ignorante. Tanto podia que fiz e continuarei fazendo, afinal de contas, é assim que se lida com esse povo subalterno.
Lorena – Ser educada não dói, muito pelo contrário, edifica um ser.
Lorena vai saindo.
Bela – Vai onde?
Lorena – Namorar, ser feliz. Conhece essa palavra?
Bela fica calada e Lorena a olha com desprezo, a imagem congela.