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Filho Amado

Capítulo 5 – Filho Amado

Filho Amado.

 

Capítulo 5.

 


 

Chico Branco surpreende Coronel Bravejo em sua sala.

 

Coronel Bravejo, surpreso: Chico Branco, faz tempo que não te vejo, achava que você nem podia mais andar…Afinal…

 

Chico, que ia se sentar, permanece em pé: Você pode ser sarcástico o quanto quiser, mas o que eu tenho pra te falar não muda.

 

Bravejo, intrigado: E o que é que o senhor tem para me falar? Eu estou ocupado, você deve saber como um prefeito trabalha.

 

Chico: Sei sim, afinal, fiquei vinte anos no cargo, e você já está no seu oitavo ano…É uma pena que não vai se reeleger.

 

Bravejo congela: O que o senhor quer dizer com isso?

 

Chico ri: Quero dizer que você não vai se reeleger, Coronel Bravejo, porque o povo tá furioso contigo, e é disso que eu vou me aproveitar. Você virou o vilão da história depois do caso do saneamento básico, e o herói será ninguém menos que o José do Gado!

 

Bravejo fica preocupado: Chega. Eu não tenho que ficar escutando essas suas ofenças, se retire daqui imediatamente, Chico, e me deixe trabalhar.

 

Chico fica satisfeito: Eu saio sim, mas não finja que não ouviu o que eu te falei- Ele muda o tom de voz- Esse ano, eu bolei uma campanha extraordinária pro Zé do Gado, se depender de mim, Bravejinho, você não vai ganhar nem dez votos!- Ele sai, aos risos baixos.

 

Bravejo espera ele sair, e atira um vaso na parede: O José do Gado não pode ganhar, eu não vou aceitar isso!

 

Praça de Vila Varzeônica/ Ainda de noite.

 

Noronha anda cabisbaixo pela praça, ele vê Aurora e Bruno em um banco e se aproxima.

 

Noronha, ansioso: Oi, Aurora, e então? O que o seu pai falou? Ele consegue um emprego pra mim?

 

Aurora, triste: Eu sinto muito amor, mas…

 

Noronha suspira: Nem precisa terminar a frase, eu já previa isso, ele não gosta de mim, jamais me arrumaria um emprego…Justamente agora que eu andava cheio de planos pra minha vida…

 

Aurora, curiosa: Planos? Que planos?

 

Noronha, abalado: Os planos não importam mais…Agora eu preciso pensar em um jeito de lucrar enquanto não consigo outro emprego, e vai ter que ser com a festa na semana que vem.

 

Bruno come outra maçã: A festa do Pequi? Como você vai lucrar com ela?

 

Noronha, pensativo: Ainda não sei, tenho que bolar uma ideia, se tanta gente vem de fora só pra lucrar com essa festa eu também posso conseguir isso.

 

Aurora olha a hora em seu relógio: Bom, eu vim mesmo só te dar essa noticia, tenho que ir jantar, meu pai está cada vez mais desconfiado dessas minhas saídas a noite, toda vez que ele pergunta eu minto, e você sabe como odeio mentir, me deixa angustiada.

 

Bruno joga a maçã no chão: Por quê você não conta logo pro seu pai que está namorando o Noronha? Mentira tem perna curta Aurora, e você é maior de idade, pode namorar quem quiser!

 

Aurora concorda: Eu sei, Bruno, estou criando coragem pra contar, e não vai demorar…Bom, eu vou indo, tchau- Ela beija Noronha e sai.

 

Bruno pega um chiclete: Quer?

 

Noronha se senta no banco: Não é hora de comer, Bruno, é hora de pensar em um jeito de lucrar com a festa.

 

Bruno se levanta: Vamos andar, isso sempre me ajuda a pensar, é por isso que eu ia mal nas provas escolares, porque eu não podia andar muito- Os dois saem andando, de repente Éssio e um grupo de amigos que estavam de bicicleta passam em toda a velocidade e derrubam Bruno em uma poça de lama.

 

Noronha, irritado: Não acredito Éssio!

 

Éssio volta, cinicamente: Nossa, Bruninho, me perdoe, eu estava correndo tanto que não vi quando te derrubei.

 

Noronha ajuda o amigo a se levantar: É melhor não se explicar, fica pior quando você mente, volta pra lá e deixa a gente em paz.

 

Éssio começa a rir: Sabe o que vocês dois parecem? Namorados! Só vivem juntos, os dois e a Aurora. Mas pensando bem formam um belo triângulo amoroso!

 

Noronha o derruba da bicicleta: Você é um idiota mesmo.

 

Bruno, dolorido: É melhor nós irmos Noronha, não liga pras provocações dele ou você perde a cabeça e acaba fazendo algo pior.

 

Éssio, provocando: É verdade, além de desempregado pode ser expulso de casa pela mãe por mau comportamento comigo, Noronha!- Ele começa a rir.

 

Noronha não aguenta e o agarra pelo colarinho: Agora você vai ver…

 

Bruno, assustado: Noronha fica calmo, solta ele!

 

Éssio, tentando feri-lo: Me solta, seu infeliz, eu não tenho culpa da sua desgraça pessoal e profissional- Mas Noronha só o aperta mais- Me solta…Você tá me inforcando…VAI TENTAR ME MATAR DE NOVO?

 

Fica um silêncio.

 

Noronha o atira no chão, furioso.

 

Betânia chega com algumas amigas: NORONHINHA! Há quanto tempo não nos vemos!- Ela o abraça- Eu estava ali com umas amigas e ouvimos uma discussão- Ela repara em Ésiso, caído- Está tudo bem por aqui? Se você quiser, eu chamo meu primo policial e mando prender o sujeito que estava te incomodando.

 

Noronha, mais contido: Não precisa, ele é meu irmão mesmo.

 

Betânia ri: Ah então era conflito familiar, eu entendo como são, apesar de não ter irmão nem irmã eu vivo discutindo com meu pai, discutindo sobre coisas do dia dia como o aumento da mesada, um quarto novo o ou o helicopetro que eu quero no aniversário de 19 anos, coisas do tipo…

 

Bruno se aproxima dela: Oi, lembra de mim? Eu era seu colega na escola também…

 

Betânia o analisa: É mesmo, você é o filho do dono da fábrica de sabão…Túlio, né?

 

Bruno, desapontado: Bruno, eu te ajudei a passar de ano naquela prova de matemática e…

 

Noronha tapa a boca dele: Bom, desculpe se eu te incomodei Betânia, boa noite pra você, tenho que ir- Ele sai com Bruno e Éssio se levanta.

 

Éssio: Nem adianta arrastar asa pro meu irmão, pode parecer difícil mas ele já tem namorada.

 

Betânia o ignora: Alguém falou com você? Acha que eu não me lembro que você atordoava seu irmão na escola? Se enxerga, garoto!- Ela volta para onde estava, junto com as amigas.

 

Noronha e Bruno caminham pelas ruas, calados.

 

Bruno, meio tímido: Noronha…Durante a discussão o Éssio perguntou se você ia tentar matar ele NOVAMENTE. O que ele quis dizer com isso?

 

Noronha tenta disfarçar: É invenção dele Bruno, até parece que você não conhece a figura- Ele encara o amigo- Tá achando que eu tentei matar alguém?

 

Bruno, assustado: Não, foi só curiosidade mesmo- Eles chegam em uma esquina- Até amanhã- Bruno segue reto e Noronha dobra uma rua.

 

Noronha tira alguma coisa do bolso, é uma caixinha, ele a abre, dentro tem duas alianças: Eu tenho que me decidir, comprei essas alianças antes de ser demitido e agora fiquei com uma divida na joalheria…Mas eu não posso devolve-las, eu e Aurora estamos juntos há tanto tempo, chegou a hora de termos alguma coisa mais séria- Ele chega na porta de casa, e guarda a caixinha.

 

Sala…

 

Noronha percebe que um papel ficou colado no seu sapato, ele o tira e resolve ler: Chegou a grande chance para jovens de 18 a 21 anos que moram na região interiorana do Mato Grosso. Oferecemos vagas de emprego na capital, é só ir ao banco mais próximo, as entrevistas ocorrem todo inicio de mês e o transporte é gratuito, temos vagas para inspetor, auxiliar prestativo e ainda para gerente de lojas parceiras. Não perca o prazo de inscrição no programa “ JOVEM DE OURO” de Mato Grosso.
Taxa de inscrição para participar do programa que te oferece vagas de emprego: 500 reais.

 

Noronha reflete: Essa é a minha chance, eu tenho que juntar esse dinheiro e a festa do Pequi pode ser útil, já tenho um pouco guardado, só preciso de mais um pouco- Ele sorri-  Se eu e a Aurora conseguirmos vagas podemos ficar morando na capital, longe de todos os problemas daqui…É a chance perfeita pra eu finalmente ter uma vida feliz.

 

No dia seguinte…

 

Casa dos Dávila/ Cozinha.

 

Anna prepara o café, ela vê um papel e vai joga-lo no lixo quando Noronha chega.

 

Noronha a impede: NÃO! Me dá esse papel, eu não posso perder ele jamais.

 

Anna estranha: O que é isso? Um bilhete premiado?

 

Noronha o guarda: Quem dera…É só um papel importante.

 

Anna pega sua bolsa: Eu vou ali no mercado comprar a mistura de hoje, se o Éssinho chegar avise que a broa que ele gosta está fresquinha dentro do forno – Ela sai.

 

Noronha fica olhando para o papel, de repente Éssio chega.

 

Éssio, zonzo: Cadê a mamãe?

 

Noronha se aproxima lentamente dele: Saiu. Ela falou que não fez a sua broa então você come qualquer coisa.

 

Éssio pega um pão e passa manteiga nele.

 

Noronha, sério: Escuta Éssio, eu não gostei do que você me disse ontem, fiquei muito ofendido.

 

Éssio não liga: Que você era namorado do Bruno? Ué, quem não deve não teme!

 

Noronha, com raiva: Não é isso, você sabe do que eu estou falando, você gritou pra todos que estavam na praça que eu era um assassino…

 

Éssio, rindo: E eu falei alguma mentira? Você acha que eu esqueci da noite em que você queria me matar? Eu nunca contei pra mamãe porque o  papai implorou! Senão eu já teria contado!

 

Noronha pega a faca que está na mesa: Você gosta de me deixar mau com a mamãe, não é? Porque, Éssio?

 

Éssio repara na faca: Larga essa faca, Noronha, você está me assustando…

 

Noronha se aproxima dele: Essa faca aqui? Imagina, eu não quero te assustar, apenas te aviso: Pare com essas brincadeiras pro meu lado, ou eu realmente posso querer te matar, e agora eu não tenho mais dez anos, tem muitas formas mais praticas de assassinar alguém do que com um travesseiro.

 

Éssio fica paralizado: Solta essa faca Noronha…

 

Noronha aponta a faca para o irmão, arrancando um grito dele: É apenas um aviso. Tome mais cuidado comigo. De agora em diante eu não vou suportar mais suas brincadeiras. Depois que uma tragédia acontecer, ninguém não diga que eu não avisei- Ele solta a faca e sai da cozina, deixando Éssio apavorado.

 

Um pouco depois…

 

Campina de Vila Varzeônica.

 

Noronha e Aurora estão deitados sobre a grama.

 

Aurora, sensível: Me desculpe seu meu pai não te conseguiu um emprego, é que…

 

Noronha compreende: Não precisa me explicar Aurora, ele não me deve nada… Mas, já que você voltou a  falar sobre isso eu tenho uma novidade.

 

Aurora levanta a cabeça: Novidade?

 

Noronha se senta e tira o papel do bolso: Ontem quando eu cheguei em casa…

 

Aurora o interrompe: Espera Noronha, essa caixinha caiu quando você foi puxar o papel- Ela a abre- Alianças? Essas alianças são suas?

 

Noronha fica sem reação.

 

Casa dos Dávila/ Cozinha.

 

Bento chega da lavoura pois esqueceu alguma coisa, Éssio ainda está sentado na mesa.

 

Bento, apressado: Bom dia filho, não vai pra escola?

 

Éssio, ainda assustado com  o que ocorreu: Vou. Vou sim, mas antes posso te fazer uma pergunta pai?

 

Bento procura algo nos armários:Pode sim, mas fala rápido, tenho que voltar pra lavoura logo…

 

Éssio, tentando chegar no que quer: Você lembra da noite em que o Noronha tentou me matar?

 

Bento derruba uma panela no chão fazendo um estrondo: Assim você me deixa nervoso filho, o que aconteceu? Ele tentou te matar de novo?

 

De repente Anna Maria chega: Quem tentou matar o Éssio de novo?

 

Bento e Éssio se entreolham.

 

Campina…

 

Aurora, intrigada: Me responde Noronha, essas alianças são suas ou não?

 

Noronha não vê alternativa: Eu ia ter que te contar uma hora ou outra Aurora- Ele respira fundo- Antes de eu ser demitido da dedetizadora, resolvi que já era hora de nós assumirmos algo mais sério, afinal nós já estamos juntos faz tanto tempo…

 

Aurora entende tudo: Quer dizer que você ia me pedir em casamento Noronha? É isso?

 

Noronha afirma com a cabeça: Me desculpe, eu fui muito burro mesmo, tomei essa atitude sem pensar…

 

Aurora porém ri: Te desculpar? E quem disse que eu fiquei brava com você, Noronha?

 

Noronha ri também: Quer dizer que você não…

 

Aurora completa: Não! Eu acho muito bonito da sua parte, afinal, isso prova que você me ama mesmo- Ela suspira- Seria tão maravilhoso se a gente se casasse, mas infelizmente nós dependemos dos nossos pais, fora que nenhum de nós tem emprego, seria impossível sobreviver sem emprego e sem uma casa para morar.

 

Noronha pega o papel novamente: Era sobre isso que eu queria falar, leia o anuncio desse papel, isso vai mudar nossas vidas!
Termina o capítulo 5.

Victor Morais

Escrevi as webs novelas Beira-Mar e Filho Amado que foram publicadas no portal. Atualmente escrevo " Ser Humano", que se passa nos anos 80 e trata da relação complicada entre mãe e filha. Drama, emoções, cotidiano, conflitos familiares...Esse é o meu estilo.

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