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Filho Amado

Capítulo 47 – Filho Amado

Filho Amado.

 

Capítulo 47.

 


 

Bravejo, sem entender nada: Que afobação é essa, Anna? Ficou louca de vez? Aliás, depois de tudo o que você e sua família fizeram comigo, ainda me admiro de vir me procurar com esse descaramento!

 

Anna se senta, está exausta: Não viria te procurar se não fosse algo urgente, Coronel!- Ela respira fundo- Alguém anda mandando cartas anônimas pro Bento, com fotos e revelações daquela época lá!- Gesticula.

 

Bravejo, desconfiado: Que época?

 

Anna, irritada: Que época você acha que estou falando? De 1974, daquilo tudo que aconteceu, quer que eu refresque sua memória?

 

Bravejo, indignado: Não é possível, tudo que aconteceu naquele maldito ano foi enterrado, e as  únicas provas que restaram estão trancadas no Acervo Municipal, ninguém pode ter descoberto!

 

Anna, irada: MAS ALGUÉM ACHOU! E agora o Bento está determinado a contar pra alguém tudo o que ocorreu, aliás, ele já deve ter contado pro Noronha, e você sabe que se eu afundar você vem junto comigo, não fiz nada daquilo sozinha!

 

Bravejo fica tonto: Se ele contar pra alguém, eu não vou poder ser eleito, e o Noronha ainda vai ficar furioso…ISSO NÃO PODE ACONTECER!

 

Anna, desesperada: Mas eu tenho quase certeza que o Bento já contou, ele saiu furioso disposto a revelar tudo pro Noronha e depois pro resto da família!

 

Bravejo pensa um pouco: Se ele tiver feito isso vamos ter que fugir, e agora!

 

Casa de Noronha…

 

Bento está no sofá junto a Caio, Jasmine e Josélia, quando de repente se levanta: Não aguento mais esperar, o Noronha está demorando muito, aposto que ele ainda está na prefeitura- Ele pega a chave do carro- E o que tenho que falar com ele não pode esperar mais nem um minuto!

 

Ema chega: Paciência Bento, eles já devem estar chegando, aguarde só mais um pouco.

 

Jasmine apoia: Fora que você não tem condições nenhuma de dirigir!

 

Bento se recusa a ouvir qualquer coisa: Agradeço pelos curativos, mas não posso esperar mais-Ele se levanta e abraça Caio- Alguém abre o portão pra mim, preciso ir atrás do meu filho!

 

Ema pega a chave: Você devia esperar, mas já que insiste…- Os dois vão até o jardim.

 

Bento se despede: Fica com Deus, Ema!- Ele olha para Caio que está na porta e acena- Tchau, Caio!- E entra em seu carro.

 

Na sala, o detetive Américo chega.                                   

 

Américo: Estava estudando até agora, por isso não sai do quarto desde manhã, estou com uma fome…

 

Josélia: A Ema vai começar a preparar o jantar, ela só foi deixar o Bento ali e trancar o portão.

 

Américo, intrigado: O Bento estava aqui?

 

Jasmine conta: Sim, ele chegou sangrando, todo machucado, disse que queria falar com o Noronha sobre uma tal carta que incrimina a Anna…Mas cansou de esperar e foi atrás dele.

 

Américo, desesperado, se lembra da carta: O Bento não pode ir, ele tem que ficar aqui em segurança, ele corre perigo de morte com as informações que tem ali naquele maldito envelope.

 

Jasmine fica aterrorizada: Afinal, o que tem lá? O Bento não quis contar e já estou aflita com essa história, ele até disse que Anna tentou mata-lo mas…

 

Américo sai correndo em direção ao portão, mas tromba com Ema: CADÊ O BENTO??

 

Ema, aflita: Ele acabou de ir pra prefeitura…

 

Américo coloca as mãos sobre a cabeça: Isso não podia ter acontecido, ele corre perigo!

 

Ema se benze: Misericórdia, o que está acontecendo nessa casa hoje?

 

Instantes depois, o portão da garagem se abre, e Noronha chega com Bruno e Helder.

 

Noronha, bravo: Teríamos chegado mais rápido se você não tivesse batido naquele poste, ainda bem que foi bem de leve, mais um desses e eu te demito, Helder.

 

Helder, meio tonto: Desculpe…

 

Noronha o analisa: Eu não estou acreditando! Helder você bebeu? Agora entendi porque bateu com o carro, é nisso que dá ser gentil e arrumar emprego para os amigos, eles retribuem bebendo!

 

Helder: Juro que isso nunca mais vai se repetir…

 

Bruno, envergonhado: Não tô acreditando nisso, pai!

 

Noronha entra em casa, e percebe a expressão de todos: Nossa, que ar pesado, o que aconteceu por aqui? Cadê o papai?

 

Américo, aflito: O seu pai acabou de sair daqui, ele não aguentou esperar e foi te encontrar na prefeitura, com aquela carta…Você sabe que ele está correndo perigo.

 

Noronha se dá conta: É verdade, se aquilo lá cair em mãos erradas pode fazer um estrago…Helder, vai atrás do papai, aliás, vai você Bruno porque seu pai não está em condições- Ele joga a chave do carro pra o amigo.

 

Bruno: Volto logo…

 

Betânia, querendo rir: Seu pai chegou aqui com o rosto ensanguentado e sabe o que ele disse? Que a Anna tinha tentado matar ele!

 

Noronha, horrorizado: O quê?!

 

Enquanto isso, as ruas do centro já estão vazias, já passa das oito da noite, e normalmente nessa época do ano as pessoas ficavam em casa, pois fazia um pouco de frio.

 

Bento estaciona o carro com pressa em frente a prefeitura.

 

Lá dentro…

 

Bravejo pega sua mala.

 

Anna, desesperada: Mas pra onde a gente vai fugir, Coronel? O Noronha tem muitos contatos que podem nos achar, acho que é o fim da linha pra gente…

 

Bravejo pega a chave de seu carro: O FIM? Nunca te vi tão fraca como hoje, Anna, nem parece aquela mulher que conheci há tantos anos atrás, se quiser ficar aqui, pode ficar, eu é que não fico…O que me dói é que eu ia ganhar as eleições de novo, amanhã era pra ser um dia muito feliz pra mim…

 

Anna: Não é hora de pensar em eleições!

 

Alguém bate na porta.

 

Anna, assustada: Nos descobriram! E agora?- Ela se esconde atrás de um móvel!

 

O Coronel age com naturalidade: Para de dar bandeira, fica calma!- Ele abre a porta e Bento entra.

 

Bento: Preciso falar com o Noronha, cadê ele?- O lavoureiro repara em Anna- Anna Maria?

 

Anna, sem reação: Bento, eu…

 

Bento começa a ligar os fatos: Agora estou percebendo tudo…Aquele homem na foto que recebi…Era o seu cúmplice, é o Coronel Bravejo! É ELE!

 

Bravejo fecha a porta: Escuta Bento, sei como deve estar se sentindo, mas já que veio aqui vamos ter uma conversa civilizada, pelo que percebi você ainda não conseguiu falar com o Noronha, isso é ótimo, assim posso te contar a verdadeira história, por que essa da carta é mera invenção!

 

Bento, irritado: Não vou cair na enrolação de vocês, seus bandidos, vocês conseguiram arruinar a família Dávila e isso precisa ter punição, vocês merecem arder no fogo do inferno!

 

Anna tenta se explicar: Bento, Deus sabe que…

 

Bento, nervoso: Não use o nome de Deus em vão, sua cínica, ainda tem coragem de falar comigo depois de tudo, sua casa caiu, a casa de vocês dois vai desmoronar e é agora- Ele abre a porta par sair, mas Bravejo o impede.

 

Bravejo entra em sua frente, e tira uma arma de sua mala: Não quis me ouvir por bem, agora vai ter que ouvir ou eu atiro em você.

 

Bento: Não tenho medo de você, Coronel, nunca tive, aliás eu tinha admiração e respeito mas acabo de descobrir que você nunca valeu nada esses anos todos, e ainda deu um jeito de se aproximar da minha família!- Ele empurra Bravejo, que cai e bate a cabeça em um móvel.

 

Bento sai correndo e desce as escadas.

 

Bravejo, desesperado: Pega a arma, Anna, vai!-Pressiona.

 

Anna, nervosa: Mas…

 

Bravejo ordena: ANNA, VOCÊ JÁ FEZ ISSO OUTRAS VEZES, ATIRA NELE, MATA O BENTO, É A ÚNICA ALTERNATIVA!

 

Anna pega a arma e sai correndo, até que alcança Bento, que já está perto do carro.

 

Anna grita: BENTO, para!

 

Bento se vira para ela, e os dois ficam frente a frente, para a surpresa da mulher, o lavoureiro estende os braços: O que você fez Anna vai ter punição sim, nem que eu morra, um dia tudo vai descoberto…A justiça tarda, mas ela não falha, e sua tardou muito…Não tenho medo da morte, mas se você fizer isso, vai ser mais um crime que irá ser descoberto junto com os outros! Então…É isso, atira, pode atirar, lava a sua alma enquanto pode…

 

Anna está trêmula: Seu jogo emocional não me comove!

 

Bento, irado: Alguma coisa te comove? Uma pessoa que foi capaz de traumatizar o filho mais velho, cometer tantos crimes físicos e emocionais e ainda se diz uma puritana. É preciso ter um nível muito grande de falsidade e impiedade com todos! Você é uma monstra que eu deixei entrar na minha vida!- As lágrimas começam a escorrer- Foi a pior coisa que eu fiz…

 

Anna encara ele nos olhos: Sinto muito, Bento, mas você foi só mais um fraco que passou pela minha vida, ainda te aguentei por muito tempo, mas agora foi a gota d’ água, é o seu fim!- Ela sorri.

 

Bento não para de chorar.

 

Anna atira em seu peito três vezes, e ele cai no chão.

 

Bento, caído, começa a murmurar: Deus, por favor…Não me leve antes me despedir do meu filho, me deixa falar com o Noronha…- Ele põe as mãos no coração, e vem a imagem do filho- Ele não mereceu nada do que viveu, e eu nunca consegui me desculpar…

 

Anna se aproxima lentamente: Foi necessário, Bento- Ela não demonstra qualquer tipo de emoção- Quer saber? Foi tarde, tarde, já estava me atrapalhando demais, nunca gostei de você mesmo!-Ela se ajoelha ao lado do corpo- Tá ouvindo? Nunca gostei, você e o Noronha só atrapalharam a minha vida, e quem me atrapalha acaba assim, então se o Noronha voltar a mexer com o Éssinho, ele vai ter o mesmo fim seu!

 

Bento, agonizando, vira a cabeça e olha pra mulher: Deus vai proteger o Noronha…E você vai pagar por tudo, Anna, por tudo…- Ele começa a vomitar sangue, e acaba fechando os olhos-  Nada sai impune…Nada.

 

Bravejo chega, mancando: Vamos embora daqui imediatamente, você vai pra sua casa como se nada tivesse acontecido!- Ele tranca a porta da prefeitura e vai em direção ao carro, puxando a mulher.

 

Anna, ainda ofegante: E se alguém tiver visto? Não podemos nos complicar mais e nem ter testemunhas!

 

Bravejo entra no carro: A essa hora todas as lojas estão fechadas, nunca tem ninguém na rua!- Ele dá a ignição- Trate de agir naturalmente quando chegar em casa, provavelmente alguém vai achar o corpo do Bento amanhã, aí sim você se derrame em lágrimas, como se amasse ele!

 

Anna ri: Amar? Essa foi ótima, Coronel, nunca amei aquele tosco, e tirar a vida dele foi melhor ainda!- Ela abre a janela e fica olhando pro corpo- Esse é o destino de todos os fracos, foi assim com ele, e com a burra da Helena…

 

Os dois sorriem, Bravejo arranca com o carro.

 

Minutos depois, Bruno chega e para o carro em frente a prefeitura.

 

Bruno, ainda dentro do carro: Acho que já fechou, todas as luzes estão apagadas….O Bento deve ter voltado pra casa-Ele abre a porta- Mas não custa tentar, talvez ele ainda esteja lá dentro…

 

Bruno bate na porta várias vezes mas ninguém dá notícia, ao voltar pro carro ele repara no corpo estirado na calçada.

 

Ele fica horrorizado.

 

Ele vai até perto do corpo, ainda sem saber de quem se trata, mas quando se aproxima, obtém uma resposta, era mesmo o pai de Noronha.

 

Bruno, ainda sem acreditar: Meu Deus…

 

Quase meia-hora depois…

 

Casa de Noronha.

 

Ema chega, estão todos quietos no sofá: O jantar está pronto, posso coloca-lo na mesa?

 

Betânia quebra o silêncio: Claro! O Bruno deve ter ido a um quilômetro por hora e eu estou faminta!- Ela vai até a mesa.

 

Noronha, desanimado: Podem ir, não consigo comer antes que meu pai chegue, ficarei esperando ele…

 

Jasmine, triste: Não se preocupe atoa, daqui a pouco o Bruno e ele chegam, se estressar agora não é bom, amanhã nas eleições você tem que ficar bem revigorado e…

 

Noronha grita: Estou pouco me lixando pras eleições Jasmine! Todo mundo sabe quem vai ganhar!

 

Bruno chega, com expressão de tristeza.

 

Noronha se levanta: Aleluia, parece que levou uma eternidade pra ir na prefeitura que nem é tão longe assim, cadê meu pai?

 

Bruno não responde nada, apenas abaixa a cabeça, deixando todos preocupados.

 

Noronha, plenamente estressado: Você não achou ele, né? Sabia, até o seu pai bêbado dirige mais rápido…Ou melhor, eu devia ter ido, se quiser uma coisa bem feita faça você mesmo!

 

Bruno, lacrimejando: Eu achei sim, Noronha, achei o corpo do seu pai…

 

Noronha, sem entender: Como é?

 

Bruno revela: Seu pai está morto.

 

Noronha não consegue acreditar.

 


 

Termina o capítulo 47.

Victor Morais

Escrevi as webs novelas Beira-Mar e Filho Amado que foram publicadas no portal. Atualmente escrevo " Ser Humano", que se passa nos anos 80 e trata da relação complicada entre mãe e filha. Drama, emoções, cotidiano, conflitos familiares...Esse é o meu estilo.

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