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Cantiga de Amor

Capítulo 43 – Cantiga de Amor (Reta Final)

Cena 01: Rio dos Campos.

Brás – Então? Aceitarás ou não a minha proposta?

Agnella fica calada, e anda de um lado para o outro.

Brás – Vamos, garota, não percas tempo pensando!

Agnella – Como eu posso acreditar em tuas conjecturas sobre as atitudes de Gustavo? Se antes ele iria se casar comigo, que sou uma camponesa?

Brás – A ambição, minha cara, ultrapassa os limites do nosso entendimento. A possibilidade de casar-se com a herdeira de um tesouro tumultuaria os pensamentos de qualquer homem, até os pensamentos daqueles que consideramos serem os mais inatingíveis.

Agnella – Nesse caso… É só isso mesmo que eu preciso fazer? Ficar calada sobre ti?

Brás – Só. Ah, e mais uma coisa. Pero Marques também sabe que eu estou vivo. E tu precisas convencê-lo a não abrir a boca.

Agnella – Bem… Eu prometo então fazer o possível. Agora eu tenho de ir. Pero está na igreja, e quanto antes eu falar com ele, melhor para ti.

Brás – E para ti também, Agnella.

Ela entra na floresta, voltando para a igreja.

Brás – Como ela é tola…

Cena 02 : Igreja del Fiume. Sala de recepções.

Izabella – O senhor está demorando a nos dar respostas, senhor Giancarlo!

Cecília – Pai, eu também acho que o senhor precisa esclarecer tudo o que lhe foi perguntado.

Giancarlo – (Esbraveja) Eu não irei falar nada a ninguém!

Cecília – Pai, por favor, o senhor foi o causador de toda essa confusão…

Edetto – O senhor precisa entender que todos estamos insatisfeitos com esse rumo da conversa.

Cecília – Pensa em mim, pai. O colar não era meu? O senhor não acha que tenho o direito de entender o motivo disso tudo?

Giancarlo – Isso pode ser verdade. Só que eu não irei falar mais nada. Não agora.

Ele passa por todos e para na porta da sala de recepções.

Marlete – Então irá ficar assim? A conversa irá ficar em aberto mesmo?

Giancarlo dá as costas e sai.

Edetto – (Furioso) Quanta petulância! Quanta ousadia! Envolve todos nós em um jogo maluco e nos deixa esperando por respostas!

Izabella – Só pode estar louco! Bem, mas será que nós não podemos ir embora agora, meu marido?

Edetto – Talvez. Eu vou pensar se vale a pena partir com tantas dúvidas.

Cena 03: Igreja del Fiume. Quarto em que prenderam Gregório.

Ottavio – Meu filho… Mas tudo isso que tu me falaste de sonhos… Tu acreditas mesmo nisso?

Gregório – Claro, meu pai. É a única explicação para o fato de que eu e Valentina tenhamos sonhado juntos. Somente Deus pode ter feito uma coisa dessas.

Ottavio – Mas e os planos que nós tínhamos pensado para o teu futuro? Tu serias um padre! Uma função tão nobre! Será que Deus não se alegraria com isso?

Gregório – Não, porque eu não faria a obra de Deus com a dedicação necessária. Eu nunca fui realmente feliz como seminarista, e nunca o seria como padre! Porém com Valentina é diferente. Eu a amo… E eu planejo me casar com ela! O senhor já imaginou? Depois de tantos anos tendo apenas a mim como um familiar, ganhar então uma nora! E os netos que nós poderíamos dar ao senhor? O senhor não acha que seria bom se isso acontecesse?

Algumas lágrimas se acumulam nos olhos de Ottavio.

Ottavio – Só que agora tu estás preso, não é? Isso não é mais possível.

Gregório – Não se o senhor me ajudar. O senhor pode… Falar com o padre, usar uma desculpa qualquer para persuadi-lo a que os Schiartoni fiquem por mais uma noite… E então o senhor falaria com Gustavo. Ele poderia conseguir as chaves do meu quarto e de Valentina, para que nós fugíssemos ao anoitecer…

Ottavio – Porém isso é loucura demais! E… Mesmo que desse certo, meu filho, para onde vocês iriam? E como eu poderia ver meus netinhos, se tu e ela estariam longe?

Gregório – Eu não sei para onde vamos… Mas não existe uma regra que diz que se um servo fugir de seu feudo e passar um ano em uma cidade sem ser encontrado, ele ganha o direito de sair de sua terra natal? Eu posso… Eu posso fugir com Valentina para uma cidade qualquer, e por lá ficar até esse prazo se cumprir. Depois nós voltaríamos e ficaríamos com o senhor.

Ottavio – Meu filho, eu… Tudo bem, eu aceito. É quase uma insanidade, mas eu aceito, se tudo isso pode fazê-lo feliz.

Eles se abraçam.

Cena 04: Povoado das Hortaliças. Casa de Simone.

Simone – Inês, não irás pedir desculpas a Leonor pelas ofensas dirigidas a ela?

Inês – Tudo bem, tudo bem. Dona Leonor, eu lhe peço perdão por ter sido agressiva em minhas palavras proferidas para com a senhora. Eu reconheço que disse a verdade de uma maneira dura demais.

Simone – (Repreensiva) Inês!

Leonor – Deixe estar, minha amiga, deixe estar. Ela ainda é nova, mas já, já vai entender o motivo pelo qual pessoas como eu fazem o que fazem. Eu apenas zelo pela manutenção da ordem e do bem-estar das pessoas.

Inês – Se metendo… Digo, procurando aconselhá-las de modo… É… Sem um pedido prévio.

Simone – Essa discussão não vai dar em nada, não é? Vamos logo para a igreja. O padre disse ontem para Inês comparecer à igreja. Nós vamos com ela, Leonor, e lá podemos aproveitar e rezar, não é?

Cena 05: Igreja del Fiume. Quarto em que Pero está.

Santorini – Bem, meu filho, agora nós podemos retomar nossa conversa, não é? Tu tens muito que me falar sobre teus devaneios ao lado de Inês.

Pero – Padre Santorini, tudo o que eu fiz, desde me encontrar às escondidas com ela, até fugir e entrar em um navio, tudo isso foi movido por um amor cego, que eu tenho certeza de que não veio de Deus. Mas graças aos céus eu me dei conta do meu erro, e, em pleno mar, decidi mudar a minha rota. Eu estou muito arrependido por tudo o que fiz.

Santorini – Será mesmo? E por que voltaste? Me disseram que havias decidido ficar no porto por mais alguns dias. Por acaso voltaste porque querias prestar contas com a igreja? Ou foi porque tinhas a intenção de retomar teu relacionamento com Inês?

Pero – Não, padre! Pelo contrário! Eu descobri que, mesmo que eu assim o quisesse, eu não poderia fazer isso. E foi por isso que eu voltei.

Santorini – Como assim? Explique-me melhor essa tua razão.

Pero – Padre, eu descobri que Brás está vivo, que esteve vivo todo esse tempo.

Santorini – O quê? Isso é impossível! Eu mesmo tive a notícia de sua morte…

Pero – Só que o senhor mesmo disse que não viu o corpo. Isso porque, na verdade, o corpo pertencia a outro homem. O verdadeiro Brás, o que está vivo, aproveitou uma confusão em seu navio para se passar por um tal Magno, e se meter na mesma história de tesouro com a qual Gustavo se meteu. E é por causa desse tesouro que ele se mantém escondido até agora.

Santorini – Mas como descobriste tudo isso?

Pero – No porto. Por isso eu voltei. Voltei trazendo Brás, para que ele contasse a verdade. Porém, na floresta, quando estávamos a caminho do povoado, ele me derrubou e fugiu.

Santorini – Então, se isso tudo for verdade, ele ainda está por aqui?

Pero – Claro que é verdade! E quem pode confirmar tudo isso com o senhor é a família de Cecília. E eu suspeito também, padre, que essa Marlete pode saber onde Brás se esconde.

Cena 06: Nave da Igreja del Fiume.

Agnella entrou correndo na igreja, encontrando Cecília.

Agnella – (Com o rosto sério) Com licença. Tua presença está atrapalhando minha passagem.

Cecília – Claro.

Ela abre passagem e Agnella sai, com o passo apressado. Encontra Gustavo.

Gustavo – Agnella, que bom que reapareceste. Eu preciso conversar contigo. Tu precisas compreender minha situação melhor…

Agnella – Gustavo, eu não vim aqui para conversar contigo. Tudo o que eu precisava ouvir eu já ouvi. Por favor, eu posso passar?

Gustavo – Tudo bem.

Agnella deixa Gustavo e se dirige ao quarto de Pero. Quando ela entra no quarto, encontra o padre ainda conversando com Pero.

Santorini – Meu rapaz, o que me contaste é bastante sério. Eu irei agora descobrir se é verdade mesmo que… Brás está vivo.

O padre sai.

Agnella – Do que o padre estava falando, Pero?

Pero – É um assunto delicado, Agnella, e muito confuso. É que eu descobri que Brás está vivo, e não morto como havíamos pensado.

Agnella – Então tu contaste isso ao padre?

Pero – Sim. Não deveria?

Agnella se vira e, olhando para a parede, uma lágrima cai.

Agnella – Agora eu não poderei mais ficar com Gustavo…

Pero – Agnella, eu o que está acontecendo? Por que disseste isso?

Agnella – Não te interessa. Isso é um assunto meu. E eu não quero mais ficar aqui. Tu não podias ter feito isso. (Fala alto) Não podias!

Ela sai.

Cena 07: Nave da Igreja del Fiume.

Agnella passa pela irmã Francisca.

Francisca – Ei, menina, o que está havendo contigo hoje? Parece que toda vez que passas por mim estás com pressa para alguma coisa! O que foi dessa vez?

Agnella – Não interessa à senhora. Com licença, eu vou embora daqui.

Agnella vai em direção à porta.

Francisca – Mas olha só, menina, quem vem ali! Teu pai e teu futuro marido!

Enzo e Adelmo entram na igreja.

Agnella – Pai? O que o senhor está fazendo aqui?

Enzo – Em primeiro lugar, eu vim buscar-te para voltarmos para casa, porque tu ainda estás de castigo. Ou já havias esquecido?

Agnella – Então por que Adelmo veio com o senhor?

Adelmo – Porque antes de voltarmos para o povoado, Agnella, eu e teu pai temos um assunto para tratarmos com o padre.

Enzo – Nós viemos marcar a data do teu casamento.

Agnella – Mas já? Eu não quero me casar com Adelmo! Eu já falei tantas vezes para o senhor!

Enzo – Agnella, isso é um assunto encerrado! Não está em discussão. Tu irás, sim, se casar com Adelmo. E o mais rápido possível.

Adelmo – Mas onde está o padre Santorini para resolvermos logo esse assunto?

Cena 08: Igreja del Fiume. Sala de recepções.

Marlete conversa com o padre.

Marlete – Desculpe, padre, eu não prestei atenção ao que o senhor disse. O senhor pode repetir?

Santorini – Eu apenas quero saber onde está Magno. Fui informado de que esse é o nome do homem que os acompanhou na viagem até aqui.

Marlete – Bem, bem… Eu não sei onde ele está. Eu nem tinha me dado conta de que ele não estava por aqui, olha só! Pensei que ele estivesse em algum lugar da igreja.

Giancarlo chega.

Giancarlo – O senhor disse que queria falar comigo, padre?

Santorini – Perfeitamente. Sabe Pero Marques, o rapaz que veio com vocês do porto? Ele me informou que tinha outro viajante. Porém eu não o vi e queria conhecê-lo. Um tal Magno. O senhor sabe onde ele se encontra?

Giancarlo – Magno? Pero só pode ter ficado louco! Foi ele mesmo quem nos contou a verdade sobre Magno! Padre, Pero não lhe informou que o nome real de Magno era Brás? E que ele é dessa região, e que se passou por morto por um bom tempo? O próprio Brás admitiu isso para nós! Só que eu pensei que ele, junto com Pero, havia ido revelar tudo à sua esposa. Mas se Pero está aqui, eu não sei onde Brás pode estar.

Santorini – Então Pero estava certo… Vocês realmente não sabem onde Brás está?

Os dois mexem a cabeça negativamente.

Santorini – Tudo bem. Mas se ele esteve aqui pela manhã, não deve estar longe. Podemos procurá-lo. Porém, antes disso, eu preciso contar a verdade a quem realmente precisa saber.

Cena 09: Nave da Igreja del Fiume.

O padre Santorini chega, vindo da sala de recepções.

Enzo – Padre, estávamos mesmo procurando pelo senhor.

Adelmo – É sobre meu casamento com Agnella.

Agnella – Padre, por favor, não dês ouvido, não permitas isso. O senhor deve saber o que é melhor para todos nós…

Santorini – Eu sei que esse assunto é importante, mas vocês terão que me dispensar dele, pelo menos no momento. É que eu tenho um negócio mais importante para resolver no momento. Aliás, Adelmo, esse assunto envolve também a você, uma vez que você é irmão de Inês.

Inês, Simone e Leonor entram na igreja.

Inês – O senhor está falando de mim, padre?

Santorini – Graças a Deus você chegou, minha filha. Eu precisava urgentemente conversar consigo.

Simone – Tem relação com o pedido que o senhor fez ontem a Inês? De que ela viesse aqui hoje?

Santorini – Não, não. É algo mais relevante. É sobre seu marido, Inês.

Inês – (Confusa) O senhor por acaso fala de Brás?

Leonor – Mas como ele pode ser marido dela? O senhor se esqueceu da viuvez dela, padre?

Santorini – É justamente essa a questão que justifica a urgência dessa conversa. Na verdade, essa viuvez foi fruto de uma confusão. Brás está vivo. E está por perto.

2 comentários sobre “Capítulo 43 – Cantiga de Amor (Reta Final)

  • É parece que Brás conseguiu iludir Agnella, mas parece que de nada adiantou pois Pero já havia falado tudo ao Padre.
    Já Gregório conseguiu converter o pai a ajudar-lhe na fuga com Valentina, será que dará certo desta vez? Veremos….
    Enzo e Adelmo vieram marcar a data do casamento, mas o padre tem assuntos bem mais importantes para resolver, e põe importante nisso. Marlete continua a mentir, garota insolente…
    Mas o padre acabou por contar tudo a Inês, onde isso vai chegar? Louco para saber 😛

    • Pero contou a verdade sobre Brás, mas uma vez que Agnella firmou um compromisso com Brás, será difícil de se ver livre dele.
      Gregório vai em sua última tentativa de salvar Valentina – ou pelo menos é o que ele acha, afinal surpresas podem aparecer pelo caminho.
      Enzo e Adelmo estão dispostos a continuar com a ideia desse casamento – será que algo pode demovê-los?
      Marlete permanece mentindo, é fato. Ela precisa manter o segredo, ao menos até conseguir o tesouro.
      E, agora que Inês sabe a verdade, ela não irá ficar calma, afinal a qualquer hora ela pode se deparar com Brás, não é?

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