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Agridoce

Capítulo 4 – Agridøcє

Agridøcє

Passava um pouco das 15:00, quando minha última aula acabou. Sai do prédio 4 e caminhei para a parte norte leste do Campus, onde ficava o prédio dormitório feminino Leste e Oeste. Olhava discretamente para os jovens passando perto de mim, nunca havia visto tantas pessoas com idades semelhantes juntas, enquanto caminhava, contei cerca de 30 estudantes, que passavam por mim indo para diferentes direções, me senti meio perdida. Acelerei o passo.

— Hey, Wendy! — escutei uma voz me chamar. Não olhei, fingi que não era eu. — Ei, Wendy, pare de fingir que não me escutou! — a voz gritou de novo.

Eu parei, mais não olhei para trás, fixei meu olhar na porta, eu só precisava dar mais uns quatro passos, será que seria tempo suficiente? Decidi não arriscar.

— Poxa! Como você é difícil. — Ralph parou do meu lado, se inclinando para frente e pondo as mãos no joelho, respirando rápido.

— Precisa de alguma coisa? — Perguntei sem tirar os olhos da porta. Só mais quatro passos.

— Hm. Não. — Ele respirou fundo, se recompondo.

— Então, se me permite, vou entrar. — Sussurrei tirando o cabelo de trás da orelha e deixando que ele caísse sobre meu rosto, como sempre.

— Espere! — Ele inclinou seu braço esquerdo sobre a porta, impedindo minha passagem.

— Hm?

— Bom, queria saber, se tipo, você está livre hoje à noite?! — Ele passou a mão direita pelo cabelo desgrenhado e pude sentir seus olhos ônix me encarando.

— Não, sinto muito. — Sussurrei, dando um passo a frente.

— Ah! — ele sussurrou, tirando o braço da frente da porta, meio desconsertado. — Quem sabe outro dia, então?

— Quem sabe. — Levantei um pouco a cabeça e o encarei sem jeito, ele retribuiu o olhar, seus olhos pretos, pareciam me perfurar, me deixavam desconfortável.

Abri a porta e entrei. Olhei os dois elevadores do lado esquerdo da entrada e a escada a minha frente, preferi subir as escadas, me sentia um pouco estranha. Era óbvio, que eu tinha dificuldade em me relacionar com qualquer tipo de ser humano que não fizesse parte do meu ciclo familiar, e só naquelas 24 horas no campus da Universidade já tivera que lidar com pessoas. Meninos, principalmente. Eu não sabia lidar com meninos. Eles me deixavam desconfortável, acuada, me deixavam na defensiva e, eu não sabia confiar em meninos.

Pensei em ligar para Ally, na verdade, até liguei, mais ela não me atendeu. Ela nunca não me atendia. Suspirei.

Passei na máquina de doces no começo do corredor e peguei um saquinho de bolinhas de chocolate, caminhei lentamente pelo corredor enquanto comia. Encostei na parede ao lado da porta para pegar minha chaves, quando ela se abriu.

— E aí, Wendy! — Disse Joy, saindo do quarto segurando uma toalha e alguns produtos de higiene.

— Oi. — Sussurrei.

Ela passou por mim, em direção ao banheiro, eu entrei no quarto e fechei a porta, só então percebendo que tinha alguém sentando na cama de Joy.

— Wendy! — Rylan sorriu.

— Oi. — Sussurrei, jogando minha bolsa em cima da cama.

— Hmm. Bolinhas de chocolate com caramelo, minhas preferidas! — Ele sorriu novamente.

— As minhas também. — Comentei, esticando o braço para oferecer.

— Não, obrigado! Joy disse que eu tenho que comer só três pacotes por dia, se não vou sair de forma, e puxa! Deus sabe como lutei para ficar em forma! — Ele riu.

— Ah. — Sentei em minha cama e encostei a cabeça na parede, fechando os olhos.

— Então, como foi seu primeiro dia?

— Normal? — Saiu mais como uma pergunta, do que como uma afirmação.

— Hm. Geralmente o primeiro dia é sempre chato, complicado, estressante, ou, legal, maneiro, novo. Enfim, mais nunca normal… — Ele riu.

Abri os olhos e o encarei, sem saber se aquele comentário exigia algum tipo de resposta. Rylan me encarava, aqueles expressivos e redondos olhos verdes que pareciam muito com os da Joy, uma boca perfeitamente delineada e de um rosa convidativo, quase como se pedisse para ser beijada, tinha os cabelos pretos, maiores do que o da própria irmã, ele penteava-os para trás, fazendo um leve topete e botava o resto atrás das orelhas, tinha uma barba por fazer, era magro e alto, não alto do tipo exagerado, mais alto o suficiente para que eu precisasse erguer um pouco a cabeça caso ele estivesse em pé.

— Ei, seria estranho se eu te perguntasse se você tem por acaso uma irmã gêmea?

— Hm, acho que não. — Passei os cabelos para trás das orelhas, de novo.

— E então? — Ele me encarou, inclinando um pouco a cabeça para o lado, me fez lembrar um pouco um cachorro. Sorri com a comparação.

— Sim, eu tenho.

— Ah, que bom! Não vou precisar procurar um psicólogo, então! — Ele sorriu. — Por que tenho certeza que a menina da minha aula de Ciências é igualzinha a você, tirando os óculos e o cabelo castanho.

— Ally. — Suspirei o nome dela.

— Ela me pareceu bem bacana! E agora que sei que não estou doido, posso conversar com ela na próxima aula. — Ele riu, Rylan era um distribuidor de sorrisos e risos ambulante.

Inclinei-me um pouco para o lado e puxei meu notebook da escrivaninha, pondo-o no colo. Levantei a tampa e o liguei, talvez pudesse mandar um e-mail para mamãe. Isso me faria se sentir um pouco mais “normal”, se é que isso é possível.

— Então… — Rylan pigarreou para chamar minha atenção.

— Sim? — Levantei os olhos da tela que carregava do notebook e o encarei.

— Eu e a Joy vamos à fraternidade UNI, o pessoal de lá vai dar uma festa de boas vindas pros novatos. Quer ir?

— Não. — Voltei meu olhar para a tela do notebook e abri meu navegador.

— Por quê?

— Eu não vou a festas.

— Nunca? — Pude sentir seu olhar curioso em mim.

— Nunca. — Abri meu e-mail e abri uma nova caixa, digitei o nome da mamãe e comecei a escrever.

— Por quê?

— Por que eu não bebo, não fumo, não me relaciono bem com pessoas. Não tenho por que ir a festas.

— Você é estranha. — Pude sentir o sorriso em sua fala.

— Eu sei. — Suspirei.

“ Mamãe…

    Isso aqui é uma loucura, têm jovens por todos os lados, muitos jovens. E meninos. Muitos. Talvez eu vá pra casa no final de semana, talvez te ligue. Ally já fez amizades, eu não. Minha colega de quarto me da medo, o irmão dela não para de sorrir. Isso é tudo muito frustrante. 

                                                                                                      Te amo, Wendy! “

  • Capítulo 5 – Dia 05/01

Stephanie

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3 comentários sobre “Capítulo 4 – Agridøcє

  • Muito interessante, aguardo ansioso pelo próximo. Você só precisa ficar mais atenta quanto ao uso de MAIS quando deveria ser MAS, e alguns erros ortográficos que sei que são apenas deslizes que acontecem naturalmente.
    Grande abraço!

    • Obrigada pelas dicas! Eu já revisei a web umas 30 vezes e sempre que reviso arrumo alguma coisinha, mas já estou tão acostumada com a história que os erros acabam passando, mas vou ficar de olho. Rs

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