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Cantiga de Amor

Capítulo 37 – Cantiga de Amor

Cena 01: Navio 3. Manhã.

Marlete – Essa Inês de quem tanto foges não é de tua família, Magno? Não seria ela tua viúva? Ou melhor, ela não é a viúva do senhor… Como é mesmo o nome? Ah, sim: (fala destacando as palavras) Brás da Mata?

Brás se espanta.

Brás – Eu, eu, eu não sei de onde tiraste esta ideia. Tu estás maluca. Deve ser o mar que está te deixando enjoada. Quem é esse… Brás da Mata? Nunca ouvi falar nesse nome, e tu pensas que eu sou essa pessoa?

Marlete – Ai, ai, é impressionante como o surgimento, do nada, dessa Inês aqui no navio mexeu com sua cabeça, porque nem uma desculpa convincente você conseguiu inventar. Eu vim aqui só para confirmar a suspeita que eu tive, e tu me ajudaste nisso. Agora, Brás, tu terás que me dizer por que mentiste sobre teu nome e tua identidade.

Brás – Muito bem. Palmas para sua descoberta. Porém antes de eu te responder, me fala uma coisa: como descobriste?

Marlete – Primeiro, desconfiei de tua atitude ao vê-la no navio. Depois, perguntei a ela se ela conhecia algum Magno e ela me falou de um homem que morava no seu povoado e que morreu antes de vocês se casarem. Nessa hora ela deixou escapar que era viúva, que ela não gostava do marido, e que ele havia morrido há pouco mais de um mês. Então eu me lembrei do dia em que me contaste sobre ter feito alguém sofrer no passado, e que isso te fez sair do lugar onde moravas. Daí foi só associar as informações, e eu pensei: “ele deve ter pensado em um outro nome, e o primeiro que veio foi o desse Magno, falecido; aproveitou que ninguém o conhecia para se passar por ele aqui; e deve ter mandado uma falsa notícia para sua esposa sobre sua morte assim que estava longe de casa – o tempo, inclusive, bate”. Então, eu decidi observar como reagirias se eu te chamasse pelo teu nome verdadeiro. E reagiste exatamente como imaginavas: atrapalhado. Mas e aí, diz-me: por que mentiste esse tempo todo?

Brás – Não deveria te dizer nada, mas já que deduziste tantas coisas, falarei a verdade. Menti para conseguir o tesouro, claro. Para que Inês achasse que estava livre de mim, e para que ninguém de tua família soubesse quem eu realmente era. E aí, quando eu obtivesse a minha parte do tesouro, surpreenderia Inês, voltando para casa. Voltando rico, como ela e a família dela sempre esperaram. Mas eu não irei desistir desse propósito. Eu continuarei morto para Inês. E ai de ti se contares algo para ela ou se tentares ver-te livre de mim, me impedindo de alcançar meu prêmio!

Marlete – Tu és um homem bastante audacioso. Não tens medo das consequências dos teus atos, porque achas que estás sempre no controle… Mas eu te digo uma coisa: eu não sou uma pessoa burra, não. Tudo bem, eu não contarei nada à inocente “viúva”, pelo menos por enquanto. Pelo menos enquanto não fizeres nenhuma besteira.

Brás – Muito bem. Pois eu preciso que tu me ajudes a prender Inês em algum lugar desse navio, para que ela não saiba que eu estou aqui.

Marlete – Eu? Eu não farei nada com Inês. Nem tu. Aliás, serás tu quem irá ficar enclausurado até chegarmos à península. Eu até já disse a ela que estás doente, e que não queres ver ninguém. Enquanto isso, eu estarei ao lado de minha nova amiga. Tenho certeza de que esses dias serão bastante agradáveis.

Marlete sai, deixando Brás resmungando de raiva.

Cena 02: Navio 3.

Marlete se encontra com Inês.

Marlete – Estás melhor com essas roupas, querida?

Inês – Sim. Tu não sabes como eu sou muito grata a ti por estares fazendo isso por mim.

Marlete – Eu sei, eu sei. Mas não te acanhes, não precisas ficar sempre lembrando isso. Estou apenas agindo como acho certo: estendendo a mão para quem precisa. Eu iria te chamar para sairmos daqui, mas parece que vai chover. Então vamos ficar por aqui mesmo. Vamos conversar sobre coisas agradáveis.

Inês – Claro.

Marlete – Vamos lá. Fales qualquer coisa a respeito de tua vida que te agrade. Estou bastante curiosa, disposta a te ouvir e a contar sobre mim também.

Elas continuam a conversa.

Cena 03: Navio 2.

Pero está pensando.

Pero – Agora, minha vida volta ao que era antes… Quer dizer, agora ela não irá girar mais em torno de Inês. Uma hora dessas ela está bem longe, longe de me fazer pensar nela novamente, e ficar louco por ela novamente… Irei tocar a minha vida da maneira que devia ter tocado antes…

Valentina e Gregório conversam.

Valentina – Gregório…

Gregório – Pois não, Valentina?

Valentina – Eu… Saiba que eu estou aceitando me levar nessas idas e vindas porque… Por tua causa. Quer dizer, se eu estivesse sozinha, se eu não te conhecesse, com certeza não abriria mão de ir para o mais longe possível. Mas eu acho que essa possibilidade de eu não ter conhecer nem estava traçada na vontade de Deus para mim…

Gregório – Oh, Valentina, eu já te disse, não foi, que tu fizeste a diferença em minha vida? Se não fosse por tu, eu estaria triste, agora, melancólico, exercendo de forma ruim uma função tão sagrada e importante como a de um padre…

Valentina – E se foi Deus quem nos fez cruzarmos nossos caminhos, se ele nos une através desses sonhos, nos mostrando o caminho que devemos seguir, então eu não o contrariarei. Eu só quero estar contigo, porque eu sei que sou mais forte ao teu lado.

Gregório – Isso, Valentina. Juntos somos fortes…

Cena 04: Navio 2.

Cecília e Gustavo também conversam.

Gustavo – Eu só queria te dizer que eu gostei da maneira como me defendeste das ofensas de Agnella. Como disseste que eu não a havia esquecido… Eu acredito que deve ter sido difícil falar uma coisa dessas, já que…

Cecília – Eu te defendi porque eu sabia qual era a verdade. Eu entendo que a cabeça dela deve estar muito confusa, até a minha está, mas eu não podia vê-la dizendo aquelas coisas para ti. Ver-te passando por isso me incomodou muito mais do que falar o que eu falei.

Gustavo – Sendo assim… Obrigado. Eu estou certo de que poderei contar contigo mesmo em momentos como esse.

Cecília aceita o “obrigado” com um sorriso. Eles trocam um abraço.

Cena 05: Navio 2.

Gustavo entrou no compartimento onde Agnella descansa.

Agnella – Meu amor, que bom vê-lo…

Gustavo – Vim apenas saber se estás melhor.

Agnella – Graças a Deus, sim. E graças a ti… Mas eu poderia estar melhor, se tu…

Gustavo – Agnella, eu queria te pedir: por favor, não fiques me pressionando para repetir algo que tantas vezes eu já te disse, e em todas elas eu fui sincero. Olha, eu estarei sempre do teu lado; eu nunca te deixarei, Agnella. Tu podes confiar em mim, sempre. Então: ficamos combinados assim?

Ele estende a mão a ela. Ela aperta.

Agnella – Apenas me diz isso então: quem é essa mulher que estava contigo mais cedo?

Gustavo – Cecília… Ela é uma amiga que eu conheci na cidade onde eu parei, em vez de ir para Jerusalém.

Agnella – Agora tudo bem, meu amor. Eu confio em ti. Confiarei sempre.

10 dias depois…

Cena 06: Navio 2. Tarde.0

Gustavo, Cecília, Pero, Valentina, Agnella e Gregório estão no interior do navio.

Gustavo – Parece que estamos chegando ao porto. Graças a Deus pisaremos em terra firme.

Pero – Me desculpe se isso frustra tuas expectativas, mas eu andei conversando com o comandante, e ele me disse que, com essa chuva que não dá trégua, será impossível desembarcarmos em segurança do navio.

Valentina – Uma simples chuva é capaz de atrapalhar um navio?

Gregório – Não é uma simples chuva, Valentina. É uma forte tempestade, e que quase destruiu algumas partes desse navio alguns dias atrás, lembra? O comandante disse que deve ser melhor esperarmos até amanhã de manhã, quando o sol deve aparecer, pelo menos por alguns instantes.

Cecília – Mas melhor será se durar o dia todo, claro.

Agnella – Vocês observaram que desde que mudamos de navio, o sol não brilhou mais? Será que é sinal de algo ruim?

Gregório – Não! Deus não há de querer que coisas ruins aconteçam.

Gustavo – E eu tenho certeza de que amanhã esse sol estará lindo, brilhando para todos nós.

Cena 07: Navio 03.

Brás – E agora, Marlete, o que faremos? Em nenhum desses dias que passamos de viagem tu tocaste no assunto “tesouro” com Giancarlo. De que maneira pretendes encontrá-lo? Perguntando a Deus?

Marlete – Se bem que não seria má ideia. Mas calma, também eu estou aprendendo a ter mais paciência, até porque se existe um lugar no qual esse tesouro não está é nesse navio.

Brás – Tudo bem, tudo bem. Mas até quando esperaremos?

Marlete – Até hoje, talvez. Ou amanhã. Não sei se desembarcaremos com essa chuva que faz lá fora. O que importa é que quando Giancarlo encontrar a filhinha, ficar feliz com a filhinha, aí ele estará menos nervoso para responder nossas perguntas.

Brás – Ou nós podemos encontrá-la antes do pai, e aí colocarmos em prática o primeiro plano.

Marlete – Pode ser… Mas assim, nesse lugar cheio de gente, e com a vontade que ele deve estar de vê-la, eu acho dicícil.

Nesse instante, batidas na porta.

Inês – Marlete, tu estás aí? Tu podes abrir a porta agora para eu te perguntar uma coisa?

Cena 08: Navio 02.

Gregório – Gustavo, de tudo o que me contaste sobre tua não-viagem para Jerusalém, eu só não entendi uma coisa: por que paraste em Termes? Tua missão não era a Guerra Santa?

Gustavo – Porque… Tu sabes que eu nunca quis ir à guerra, então quando eu percebi que havia a chance de ficar em Termes, eu fugi do navio.

Gregório – E como conheceste Cecília?

Gustavo – Como eu conheci Cecília? Eu… Me tornei amigo de uma pessoa no navio. E essa pessoa me falou sobre a família de Cecília. Então… Foram eles que eu procurei quando cheguei à cidade.

Gregório – Entendi… Mas aí decidiste voltar…

Gustavo – É. Mas chega dessas perguntas por hoje, não é? O que importa é que estamos todos bem e seguros.

Cena 09: Navio 03.

Marlete faz sinal de silêncio para Brás, e sai em seguida.

Marlete – Pois não, Inês? Essa conversa é rápida, não é? Magno ainda está precisando de mim. Esse tempo chuvoso só fez piorar seu estado…

Inês – É uma coisinha simples. É verdade que a gente não irá desembarcar hoje?

Marlete – Ao que tudo indica sim. Por quê? Estás achando ruim?

Inês – De maneira nenhuma. Eu prefiro assim, porque tenho mais chances de alcançar uma pessoa que se encontra naquele outro navio à nossa frente.

Marlete – Hum… E quem seria essa pessoa?

Inês – O camponês que me viajava comigo para bem longe desse lugar; mas isso antes de ele me abandonar. Porém se ele pensa que se livrou de mim, ele se enganou.

Marlete – Que bom, então. Agora eu preciso voltar. Até mais.

Marlete volta para o compartimento onde Brás está.

Brás – O que ela queria?

Marlete – Nada de importante. Ela veio me falar de um camponês que estava com ela no navio que cruzou o nosso, e que a abandonou para embarcar no navio que está à nossa frente. Daí tu percebes como existe gente maluca nesse mundo…

Brás – Espera… Tu disseste camponês? Será que é quem eu estou pensando? Mas… De qualquer forma, todos teremos que desembarcar. Precisamos fazer isso sem que ela me veja.

Marlete – É só tu saíres depois dela, e te esconderes no primeiro lugar que for possível, porém desde que eu saiba onde estás. Quando ela for embora, então poderás voltar à vida normal.

Brás – Eu só espero que isso dê certo…

Cena 10: Dia seguinte. Navio 2. Manhã.

Gustavo – É… Parece que hoje o sol resolveu aparecer, mostrar sua luz para nós.

Agnella – Ainda bem. Agora poderemos sair desse lugar.

Pero – Então vamos logo. As pessoas já estão descendo.

Eles começam a sair do navio.

Valentina – Havia outro navio atrás de nós, não era? Parece que ele também teve que esperar para liberar os navegantes.

Enfim, eles pisam em terra firme.

Cecília – Que sensação boa essa de estar aqui. Um lugar tão bonito como esse nos dá a sensação de tranquilidade, segurança…

Gregório – São as belezas que Deus fez e que às vezes esquecemos de admirar.

Pero – E agora? O que faremos? Procuraremos uma estalagem, uma pousada, uma casa? Ou partiremos logo para os nossos destinos?

Gustavo – Podemos primeiro procurar comida. Deve haver alguma estalagem ou alguém que possa nos ajudar.

Cecília – Vamos andando então. Enquanto andamos, nós descobrimos o que faremos.

Nesse momento, surgem duas pessoas dentre a multidão que está atrás deles.

Giancarlo – O que tu farás, Cecília, é voltar para casa comigo!

Cecília – Pai? Como… Como o senhor veio parar aqui? O senhor… Me seguiu?

Marlete – Pensaste que conseguirias fugir tão fácil, mas estavas enganada, Cecília. Teu pai descobriu que fugiste de casa em direção ao navio, só para correr atrás desse homem aí.

Gustavo – Gustavo é o meu nome.

Giancarlo – Não quero saber de nome de ninguém. Agora tu virás comigo, Cecília, e sairás de perto desse canalha mentiroso.

Agnella – O senhor não pode falar assim de Gustavo!

Marlete – Quem és tu, garota? Por acaso o conheces?

Agnella – Eu sou a mulher que ele ama, e que o ama também.

Marlete – Que pena…

Giancarlo – E então, Cecília, virás por boa vontade ou eu terei que te tratar como uma criança, te puxando pela orelha e te levando pelo braço?

Cecília – Pai, o senhor sempre foi e sempre será muito importante para mim. Eu amo o senhor, o senhor é um pai inigualável. Mas eu quero ficar.

Ela dá as costas a ele, e continua a caminhada.

Giancarlo – Cecília! Cecília!!! Volta aqui, filha!

Os outros a acompanham. Giancarlo e Marlete decidem segui-la. Dessa vez, uma outra surpresa.

Inês – Pero! Não fujas de mim!

Pero – Inês?? Eu pensei que estiveste no outro navio!

Inês – Pensaste errado. Da mesma forma que fizeste, assim eu fiz, mudando a minha rota. Agora eu vim aqui porque eu qero ficar contigo!

Pero – Ficarás sozinha, então. Passar bem, sua maluca.

Ele se junta aos outros.

Valentina – Mas que coisa… Parece que todo o mundo resolveu nos interromper…

Edetto – Pois me inclua nesse todo o mundo.

Izabella – Nos inclua. Nós viemos resgatá-la de volta ao teu lugar. E vamos levá-lo conosco também, Gustavo.

Adelmo – E tu, Agnella, saia de perto desse homem sem escrúpulos e fique comigo!

Valentina – Eu não me renderei assim. Eu não me renderei assim.

Agnella – Muito menos eu. Vem, Gustavo, vamos juntos para longe, sermos felizes.

Cecília – Vocês não podem fazer isso! Nós temos que…

Elas se viram para correr. Dão de cara com Giancarlo, Marlete e Inês.

Giancarlo – Ninguém vai fugir não. Está na hora de tudo voltar ao normal.

Edetto – Fim da jornada para todos vocês!

2 comentários sobre “Capítulo 37 – Cantiga de Amor

  • Vish, parece que todos os caminhos se cruzam aqui, depois de dias, jornadas e muitos sentimentos…. tudo termina exatamente como começou!!!!
    Mas antes devo ressaltar que ainda tem a história do tesouro, do Brás está vivo…
    Acho que essa história de Gustavo e Agnella ainda tem muito o que acontecer, rs.
    Esperando o que sucede essa cena! 🙂

    • Pois é… Será que ainda saída para os personagens? Que caminhos eles seguirão agora? Mesmo se parecer que não, tudo aponta para determinado(s) caminho(s) que solucionarão as histórias que, como você bem disse, ainda estão em aberto.
      Gustavo, Agnella e, vale ressaltar, Cecília terão momentos importantes para a frente. E um rumo um pouco diferente do que talvez fosse esperado. Mas, afinal, já dizia a sinopse: a vida causa mudanças, e essas mudanças podem nos atingir. Em outras palavras: será que Gustavo e Agnella são os mesmos do primeiro capítulo?
      Hoje tem mais! E obrigado pela participação, a única que regularmente tem acompanhado a web! 😀

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