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Filho Amado

Capítulo 36 – Filho Amado

Filho Amado.

 

Capítulo 36.

 


 

Bento, sério: Eu queria saber porque você resolveu comprar uma casa aqui!

 

Noronha, irritado: Até você vem com esse papinho pra cima de mim, pai?

 

Bento: Filho, é incompreensível que você tenha voltado! Você tinha uma vida estável no Rio, tinha boas condições e nenhum problema, de repente resolve voltar pra uma cidade defasada como essa, pra se candidatar a vice-prefeito? Por quê você tomou essa atitude tão drástica, Noronha?!

 

Noronha começa a ficar nervoso: Pai, eu cansei da minha outra vida, tinha o direito de querer mudar pra cá!

 

Bento, paciente: Não minta pra mim, Noronha, eu te conheço a tanto tempo e você jamais largaria o Rio de Janeiro pra morar em Vila Varzeônica, não tente enganar seu pai!

 

Noronha engole em seco: Eu voltei pra…Pra me vingar!

 

Bento põe as mãos sobre a cabeça: De novo essa história, eu sabia que sua volta não era atoa!- Ele vai até o filho- Por isso eu vim aqui, eu fiquei muito feliz em te rever, mas acho que já está na hora de você voltar pro Rio e esquecer tudo o que aconteceu aqui, vai viver sua vida longe e feliz, sem lembrar do Éssio! Esquece esse maldito passado que te acorrenta!

 

Noronha, paranóico: Nunca. Eu nunca vou esquecer nada do que me aconteceu, e agora que comecei eu irei até o fim! Você não percebe que esses anos em que passei longe não me mudaram nada? Eu sou a mesma pessoa pai, com um pouco mais de dinheiro e poder, mas eu ainda sou o mesmo Noronha, e ainda quero muito fazer o Ésio sofrer muito!

 

Bento: Não fale isso, esse desejo de justiça faz mal pra você e pra sua alma, é melhor tentar se livrar do que insistir, e apesar de tudo o Éssio é seu irmão!

 

Noronha o sacode: Você não entende, ninguém entende os meus sentimentos! Eu sou assim por causa de tudo o que aconteceu comigo desde a minha infância, será que você não percebe no meu rosto pai? Nas minhas expressões,?! E nunca me recuperei de ter sido rejeitado, e nunca vou me recuperar, e o minimo que posso fazer é me vingar dos dois, da mamãe e do Éssio, esse sentimento de maldade e frieza não vai descansar enquanto eu não fizer justiça!— Ele fica com os olhos vermelhos- Isso tudo pode soar artificial mas é tudo o que eu sinto, e ouça o que te digo, depois dessas eleições nada mais será o mesmo, pai, eu vou acabar com aqueles dois, é uma promessa que fiz pra mim mesmo! E essa promessa precisa ser cumprida, ou eu nunca vou ter paz na minha vida e comigo mesmo!- Ele cai chorando.

 

Bento chora também: Esse sentimento corrói a nós todos, filho eu te suplico, desiste de se vingar!

 

Noronha balança a cabeça: Não. Você acha que também não dói em mim? Você sabe o que é ser rejeitado? A mamãe nunca me deu nem ao menos os meus parabéns no dia do meu aniversário! O Éssio sempre teve os melhores bolos, enquanto eu não tinha direito nem de escolher um presente, isso é justo? Não! Eu aprendi na marra que a vida não é justa, e se não é justa comigo, não vai ser com eles também! É tudo o que tenho pra te falar, pai, e você jamais vai conseguir mudar meus ideais!

 

Bento o abraça: Me desculpe se eu não fui um bom pai, eu não queria que você fosse desse jeito, frio e rancoroso! 

 

Noronha, emocionado: Eu te amo, pai, mas jamais vou amar o Éssio e a minha mãe, o único sentimento que tenho por eles é ódio, e esse sentimento ainda está guardado aqui, esperando o dia de explodir!

 

Na sala…

 

Noronha e Bento chegam.

 

Benê come biscoitos: O papo aqui com a dona Josélia e coma dona Jasmine estava ótimo, mas não posso ficar aqui muito tempo, tenho um compromisso importante!- Ele se levanta- Você também já vai embora, Bento?

 

Bento, tentando esconder o choro: Vou sim!

 

Benê: Então eu vou com você, vamos!

 

Noronha o impede: Espere um pouco, tio- Ele pega sua mala- Aqui tem os papéis referentes a compra da casa que o senhor tem que assinar, depois das eleições eu te pago tudo a vista, como o prometido!

 

Benê põe seus óculos e pega a caneta: Onde devo assinar?

 

Noronha indica os locais.

 

Josélia adverte: Não era melhor ler antes?

 

Benê pensa um pouco: Eu confio no Noronha, e outra que estou muito apressado- Ele assina os papéis.

 

Noronha pega tudo: Pode confiar em mim, você não vai se arrepender- Ele sorri.

 

Clécio Calçados…

 

Natércia atende uma cliente: Esse modelo é ideal pra sair pra festas e baladas- Ela mostra o sapato.

 

Clécio e Taléfica chegam.

 

Natércia: Senhor Clécio, achei que não viria hoje pra cá depois de ter ficado tantos dias fazendo shows de mágica, deveria descansar!

 

Clécio se senta no sofá: Eu iria fazer isso, mas aconteceu um imprevisto e tive que vir pra cá.

 

Natércia repara: Que cara de abatimento é essa? E o que a dona Taléfica está fazendo por aqui?

 

Clécio não responde: Esquece…Escuta Natércia, você sabe me dizer se tem algum quartinho pra alugar aqui no centro, pra duas pessoas?

 

Natércia lembra: Tem sim, em um prédio do lado da pré-escola, na mesma rua do Acervo, é a cinco minutos daqui!

 

Clécio: Ótimo, vou lá agora, vamos mamãe!

 

Natércia pergunta: O senhor saiu de casa?

 

Taléfica, irritada: Deixa de ser curiosa e vai atender a cliente, empregada tosca!

 

Clécio corrige a mãe: Não fale assim com ela- Ele se dirige a Natércia- Eu me separei da Aurora, se você quer saber, mas por favor tente não comentar com ninguém!

 

No carro…

 

Taléfica, que estava calada, resolve perguntar: Filho, a Marinez e o José te chamaram de criminoso! Por quê falaram isso?De que crime estão te acusando?

 

Clécio, receoso: Não importa isso agora, mãe, o que importa é que temos de arranjar um lugar para morar! Mas aqueles ali vão me pagar por terem me humilhado!

 

Taléfica: Principalmente a Aurora, ela ainda vai se ver comigo!

 

Clécio, bravo: E o pai dela também, aquele corrupto infeliz, tomara que perca de novo pra deixar de ser trouxa!

 

Casa dos Dávila…

 

Éssio chega em casa, Anna aspira o pó da sala.

 

Éssio, cansado: Nossa, o clima na casa do José do Gado não estava dos melhores, parece que tinha acontecido alguma coisa por lá!

 

Anna desliga o aspirador: Que bom que você chegou antes do seu pai chegar, tenho um assunto sério pra falar contigo!

 

Éssio suspira: Lá vem…

 

Anna, séria: Não faz piada com isso, Éssinho, é algo muito importante, é sobre você que por esses tempos anda muito estranho, desde que foi demitido da lavoura ficou com um comportamento diferente e nem adianta negar que eu percebi! Também não foi a chegada do Noronha que te fez ficar assim, foi outra coisa, e durante a festa de bodas de ouro você simplesmente sumiu com o carro e logo depois aconteceu um atropelamento, isso não é estranho?

 

Éssio, bravo: Está me acusando de atropelar o Fígaro?

 

Anna: Jamais, só quero te entender, quero saber o que está acontecendo e não esconda nada de mim, ou vou ter que descobrir por mim mesma.

 

Éssio, inseguro: Eu não ia falar, mas já que você pediu, vou contar tudo!

 

Casa de Noronha.

 

Quarto do detetive Américo…

 

Noronha abre a porta: Aqui está o seu novo quarto, detetive, dessa vez um só pra você, não precisará dividir com o Domingues, já que ele voltou pro Rio.

 

Américo entra: Muito arejado, obrigado senhor!

 

Noronha: Aliás preciso falar com você, essa história de assassinato acabou “parando” nossas investigações, mas elas devem continuar sim! Preciso que você descubra pra mim onde mora o caipira pira pora do Josué, ele me disse que tinha provas contra o Éssio durante a festa mas acabou sumindo, e com tudo o que aconteceu na festa acabei deixando isso de  lado!

 

Américo concorda: Farei isso amanhã mesmo, masse engana o senhor se acha que parei as investigações, eu acabei descobrindo uma coisa muito importante, e tem haver com a sua família: É sobre um incêndio na orquestra aqui em Vila Varzeônica, em 1974!

 

Noronha: Incêndio?

 

Américo confirma: Exatamente, o ano de 74 foi muito conturbado na cidade, já que vários membros de uma famosa gangue estavam vindo se refugiar aqui, e um desses membros, revoltado pela morte de um ente, acabou colocando fogo na orquestra que havia nessa cidade, só houve apenas uma morte: a de Helena Dávila. Já ouviu falar nela?

 

Noronha: Nunca, Quem era?

 

Américo conta: A primeira esposa do seu pai!

 

Noronha: Meu pai já teve outra esposa? Não acredito…

 

Sitio de Betânia…

 

Betânia pega sua bolsa: Belarmino, estou indo visitar o Noronha na casa dele, já volto!-Ela tenta abrir a porta, mas está trancada e sem chave- Belarmino cadê a chave?

 

Belarmino aparece, sério: Não vou dar a chave, tranquei  a porta justamente pra você não ir visitar o Noronha!

 

Betânia ri: Como é?

 

Belarmino, firme: Isso mesmo, eu não quero mais você se aproximando dele, cansei de fazer o papel de marido bonzinho, agora comigo vai ser na marra, e te proíbo de visitar esse homem, tanto que tranquei tudo aqui, desde as portas até as janelas, pra mim basta!

 

Betânia, brava: Eu sou livre, posso fazer o que quiser e você não vai me impedir!

 

Belarmino: Livre mas cada, e tem que ter respeito por mim que sou seu marido!

 

Betânia joga a bolsa no sofá: Ótimo, estávamos mesmo tocar nesse ponto,  é aí que quero chegar: Quero me separar de você, Belarmino, e precisava falar isso faz tempo porque nunca te suportei, até hoje não sei porque me casei contigo!

 

Belarmino não cede: Resolveu se separar agora, cretina? Pois saiba que não  quero, não vou me separar e nem deixar você sair daqui, a partir de agora eu dito as regras do jogo! Agora com licença, tenho que ir praticar meu violino!

 

Betânia corre atrás dele até que chegam os dois no quarto: Vem cá, me dá essa chave agora ou te denuncio por cárcere privado, seu velho babão!

 

Belarmino ri: Eu cortei a linha do telefone, e escondi o seu celular!

 

Betânia: Isso não! Devolve o celular e me dá a chave!-Ela vai até a gaveta do quarto, e tira uma arma- Me dá a chave, ou eu atiro e você sabe que eu sou capaz disso!

 

Belarmino duvida: Atira, lambisgóia, eu quero ver se você tem coragem, vamos, mostra o seu sangue frio, atira Betânia e me mata de vez, me mata com a minha própria arma, vamos!

 

Betânia  não perde tempo e atira.

 


 

Termina o capítulo 36.

Victor Morais

Escrevi as webs novelas Beira-Mar e Filho Amado que foram publicadas no portal. Atualmente escrevo " Ser Humano", que se passa nos anos 80 e trata da relação complicada entre mãe e filha. Drama, emoções, cotidiano, conflitos familiares...Esse é o meu estilo.

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