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Ela Veste Preto, mas o Baile é Cor de Rosa

Capítulo 31 – Ela Veste Preto, Mas o Baile é Cor de Rosa

Música – Un-thinkable (I’m Ready) – Alicia Keys – Tradução

Momento de honestidade
Alguém tem que tomar a liderança essa noite
Quem vai ser?
Eu vou ficar sentada bem aqui
E dizer enquanto se trata de mim
Se você tem algo a dizer
Você deve dizer isso agora

 

Mesmo sucumbida pelo beijo de Alonso, Dora foi mais forte para voltar a si e dar-lhe um tapa na cara que não aceitaria suborno como forma de explicação. Ficaram quietos por um tempo, um em cada canto da sala. Pensando cabisbaixos por onde começar as resoluções dessa longa história, até que Alonso resolveu começar.

– Eu posso explicar agora? – sussurra.

– Se você for começar com mais mentiras é melhor…

– Não! Dessa vez será tudo verdade! Eu juro que só lhe brindarei com a verdade, pra provar o meu amor de uma vez por todas! E se depois da explicação você disser que não me perdoa, eu entenderei e sumirei da sua vida pra sempre!

Dora pareceu relutante no início, mas depois se sentou calada, concedendo-lhe uma chance. Alonso recomeçou.

– Você já ouviu falar na Baviera?

– Acho que sim! Um país que fica do outro lado do oceano! Mas o quê isso tem a ver? – pergunta ela sem entender.

– Meu pai é Cônsul deles! E eu deveria estar lá também se não fossem alguns problemas sérios! – responde pensativo.

– Problemas? Você não é daqui então? – espanta-se.

Alonso, nessa hora a mirava com olhos tristes. Sabia que contar seus segredos custaria o amor que tinha. Mesmo assim, tomou coragem e replicou.

– A Baviera é um importante centro comercial que une diversos países nos mais diferentes ramos de negócio, por isso o país vive pisando em ovos para ser bem guardado em seu direcionamento, pois se alguma coisa sair errada as consequências poderiam ser catastróficas. O maior problema que eles tem por lá é a família real, que por mais que o parlamento tente dissuadir, sempre acaba falhando e são eles quem tomam as decisões finais.

– Mas você não precisa ficar no meio disso, seu pai é só um Cônsul e está tão distante da Baviera. Não sei como isso te afetaria?

– Meu pai é só um Cônsul como você diz, mas eu sou o próximo representante da família na linha de sucessão! Deveria ser meu pai, mas a verdade é que nós somos desse país e não da Baviera. E com certeza eu seria só um bolsista na Faculdade se não fosse por meu tio o Rei, que não tem filhos nem mulher descobrir-nos em Holanda Garden.

Dora o ouvia boquiaberta, sentindo as palavras de Alonso pesadas conforme saiam de sua boca, ganhando os ouvidos em choque.

– Isso tudo é inacreditável e confuso demais! E eu que achava que tinha todos os conflitos do mundo. Agora você me vem também com todos do universo? Acho que não posso ouvir mais nada! – diz Dora saindo da sala quando Alonso segura em seu braço e pede que fique.

Ela cedeu, retornando de fasto para trás, ficando a poucos metros da maçaneta no que seria a última e indecisa chance de explicar.

– Há uns dez anos, meu tio estava sozinho e doente pressionado pelo parlamento a entregar o poder, porém ele é um homem teimoso e mandou em segredo que investigassem por parentes desconhecidos. Foi quando ele soube que o pai dele, meu avô teve um caso com uma secretária particular que era estrangeira. O rei então na época, querendo abafar o escândalo, mandou a secretária de volta a seu país de origem sem saber que ela esperava um filho dele. Meu pai então nasceu e ficou sem saber sobre sua paternidade até o dia que meu tio mandou nos buscar e o nomeou Cônsul da Baviera pra que ele e minha mãe pudessem desfrutar das mordomias da realeza.

– Esse enredo tá pior do que das novelas que minha mãe assiste! Mas ainda não ouvi nada que te obrigue a fazer parte do Clube do Pinóquio! – graceja Dora querendo aliviar o clima super tenso.

– Meu tio tentou de qualquer jeito validar os direitos do meu pai, mas o parlamento negou dizendo que ele era ilegítimo e não tinha a formação adequada. Aí ele muito esperto, deslumbrou meus pais com tudo que pôde e o poder subiu-lhes a cabeça, tanto que se esqueceram de mim. Meu tio distorceu as leis e me fez seu sucessor que se prepararia com a devida formação. Passando a perna no parlamento e fazendo muitos inimigos radicais.

– Mas isso é um absurdo! Alguém te perguntou alguma coisa? – revolta-se Dora.

– Não! E mesmo que perguntassem, só tinha doze anos! O pior foi crescer no meio dessa guerra de gente falsa que me adulava enquanto tinham seus próprios interesses. E como eu correspondia as expectativas exigidas para assumir o trono, conspiravam até sobre meu assassinato.

– Imagino seu sofrimento! Se há uma coisa que eu não permito é que me controlem! – Dora comove-se.

– Não tenho dúvidas de que em qualquer parte do mundo, em maior ou menor escala todos nós vivemos numa New Park! Há uns dois anos eu simplesmente cansei da minha vida e voltei pra Holanda Garden, pra terminar minha formação e cumprir o destino. E nesse meio tempo eu devo me encontrar, me divertir e procurar uma esposa a altura da Baviera. – fala olhando-a carinhosamente. – Condições impostas por meu tio pra que eu viesse. Meus pais ficaram irados, achando que iam perder a boa vida com o meu retorno, por isso vieram também e se acham os donos do mundo. O rei e a rainha fora do reino, por isso eu os escondo da minha vida universitária, ou logo as coisas seriam como na Baviera. – termina.

– Mas ainda ficaram algumas pontas soltas! Por exemplo, o Romeu?

– Ele é meu secretário e melhor amigo. Nos conhecemos desde crianças antes de eu ir embora.

– O medo da polícia e tudo que represente ser público?

– Eles poderiam me reconhecer ou ainda contar o que fiz a meus pais que inventariam uma desculpa pra que eu tivesse que voltar pra Baviera.

– É, parece que você tem resposta pra tudo! – sussurra Dora indo embora.

– Espera! Aonde você vai? – pergunta Alonso sem entender.

– Pensar, Alonso! Pensar… – já estava passando da porta quando Lara a puxa com violência pra dentro novamente e discursa escandalosa.

– Filha, eu não sei o que esse sujeito te contou, mas com certeza é mentira! Isso tudo é uma armadilha pra te prender. Eu jamais faria qualquer coisa pra te prejudicar, só queria te proteger!

Dora encarou a mãe com surpresa e disparou.

– Eu não faço ideia do que a senhora tá falando, Dona Lara!

Lara recobrou o juízo percebendo que havia falado demais no afobamento. Começou a puxar a filha em sentido contrário.

– Me desculpe! Nem sei o que estou dizendo depois desse King-Kong que você me fez passar! – desculpa-se fitando Alonso misteriosamente.

Dora desvencilhou-se da mãe e se sentou novamente.

– Lá vamos nós outra vez! Mãe quer ter a honra de começar a falar ou eu vou ter que arrancar a verdade em suaves e cansativas prestações?

– Dora querida, eu mandei que esse rapaz… – Lara ia dizendo quando Alonso tomou a palavra.

– Dora nós não nos conhecemos por acaso! Sua mãe queria alguém que ficasse perto depois dos momentos difíceis que você passou, por isso contratou alguém pra te proteger!

– Vigiar! Você quer dizer! E esse alguém é… – solta bufando de raiva pelo abuso apesar de já ter atinado quem era o espião.

– Foi pra chamar sua atenção que eu respondi atravessando sua resposta, e não foi por acaso que eu apareci pra te ajudar na mudança. – conta envergonhado.

Lara recomeçou.

– Você estava se descontrolando com facilidade, as pessoas comentavam por todo lado. Então resolvi contratar um segurança, mas como você jamais iria aceitar, ele teria que vir disfarçado de amigo! Aí procurei os nomes dos bolsistas da faculdade porque eles aceitariam o trabalho e estariam lá o tempo todo sem desconfiança! – conta com ar de vacilo.

– Foi então que Lara me encontrou por engano, pois eu só me matriculei como bolsista pra despistar! Eu ia recusar, mas quando vi sua foto, minha voz comandou meu corpo e acabou aceitando e eu não me arrependo! – confessa Alonso sorrindo. – Ela começou a me instruir onde você estaria e como deveria fazer pra chamar sua atenção.

– Por isso você apareceu pra me ajudar em Holanda Garden e logo depois ela chegou! – compreende Dora enojada.

– Tudo se perdeu quando obviamente não aceitei o dinheiro e Lara pensou que eu tinha intenção de ficar com você pra dar um golpe!

– Pensava não! Ainda penso! – grita Lara.

– E estamos nessa guerra que você já conhece quando nos encontramos, mas ninguém teve coragem de revelar nada pra você!

– Era pro seu bem, pra te proteger minha filha! Se esse cara não fosse tão complicado você não se machucaria com mais essa sordidez! Vamos querida, você não precisa ficar aqui nem mais um minuto ouvindo esse verme!

– Ela me xinga com a boca cheia, mas se esquece que tentou me atropelar no final do baile e ligava fazendo cobranças! Agora não se lembra como me agradeceu por eu ter te seguido até a Carnation Street daquela primeira vez! – ofende-se Alonso.

– Eu só te liguei, e se alguém tentou te atropelar é porque você deve mais do que pensa! – retruca Lara.

Dora estava no meio dos dois exaltados, com as mãos tapando as orelhas na tentativa de não escutar nada daquilo. Seus olhos jorravam lágrimas dolorosas na respiração profunda. Até que deu um ponto final na discussão.

– Príncipe, espião, o que mais você vai me contar até o fim do dia? Vem cá! Você é desse planeta? Porque se não for é só piscar e dizer porque esse é o momento! E claro a Santa Dora compreensiva vai entender! – ironiza irada.

Mal ela terminou, as portas se abriram bruscamente e o Detetive Leo apareceu do nada. Nenhum dos três entendeu sua aparição, mas Lara tinha que desabafar a curiosidade em um comentário.

– Ah, não! Só falta o país dele ser simpatizante ao terrorismo e eles revelarem que escondem terroristas em algum buraco!

Detetive Leo, que conhecia Lara resolveu ignorar o que ela dizia e ser direto. Já haviam muitos ultrajados com a situação, especialmente os pais de Alonso.

– Estou apenas dando uma busca geral em conta de uma denuncia anônima recebida esta manhã.

Não demorou muito e Leo desceu as escadas com uma mochila reconhecida como sendo de Alonso que continha diversos cartões vermelhos, fotos de David, de Mell sendo torturada, algemas, remédios, drogas e uma arma. Tudo confiscado para averiguação. Alonso ao ver a cena se desesperou, porém não mais do que Dora. Chorando e algemado desvencilhou-se dos polícias para falar com ela.

– Dora, acredita em mim! Eu não fiz isso, jamais teria coragem de te trair e brincar com você desse jeito! – diz trêmulo e embargado pelo nervosismo.

Ela apenas olhou para ele, e como se não estivesse enxergando nada falou.

– Pois não foi isso que você e minha mãe acabaram de provar!

Após dizer ela saiu deixando para trás um rapaz de coração quebrado, uma mãe desnorteada e um circo de luxo.

– Eu preciso de ar! – grita desesperada enquanto corre pelas ruas sem destino.

Alonso foi levado para a delegacia.

– E eu que vim pra cá pra ficar longe de confusões! – pensa.

 

Por que desistir antes de tentarmos?
Sentir os baixos antes dos altos
Amarre as nossas asas antes de voarmos para longe
Não posso dizer que não se pode comparar
Estou suspensa no ar
Você não vem ficar no céu comigo?

Camila Oliveira Santos

Camila Oliveira Santos - Pseudônimo Mila Olivier. Tem 30 anos, mas sua cabeça não tem idade. Escreveu a vida toda, porém só percebeu que gostava aos 17 anos, quando queria dar novos rumos aos filmes e séries que assistia, sua outra paixão. Estudante de Produção Multimídia, formada em Processamento de Dados e Pós Graduada em Docência para o Ensino Superior que adora escrever. Sendo publicada em jornais e antologias de São Paulo e Sorocaba. Fase Regional do Mapa Cultural Paulista 2013/2014, Antologia de Apoio à APAE de São Paulo 2013, 2° Concurso Literário Cruzeiro do Sul 2011, 2º Lugar no Concurso Literário da Universidade de Sorocaba 2014 (Modalidade – Causos), entre outros ao longo de 10 anos de carreira. Aguarda ansiosamente a finalização da publicação do primeiro livro “Madame Cage – A Mulher que Colecionava Jovens” pela editora Buriti. Participa de muitos concursos e oficinas literárias visando agregar cada vez mais conhecimento desse mundo infinito que é o literário, têm ideias e inventa moda toda hora, entretanto gosta mesmo é de criar histórias.

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Camila Oliveira Santos - Pseudônimo Mila Olivier. Tem 30 anos, mas sua cabeça não tem idade. Escreveu a vida toda, porém só percebeu que gostava aos 17 anos, quando queria dar novos rumos aos filmes e séries que assistia, sua outra paixão. Estudante de Produção Multimídia, formada em Processamento de Dados e Pós Graduada em Docência para o Ensino Superior que adora escrever. Sendo publicada em jornais e antologias de São Paulo e Sorocaba. Fase Regional do Mapa Cultural Paulista 2013/2014, Antologia de Apoio à APAE de São Paulo 2013, 2° Concurso Literário Cruzeiro do Sul 2011, 2º Lugar no Concurso Literário da Universidade de Sorocaba 2014 (Modalidade – Causos), entre outros ao longo de 10 anos de carreira. Aguarda ansiosamente a finalização da publicação do primeiro livro “Madame Cage – A Mulher que Colecionava Jovens” pela editora Buriti. Participa de muitos concursos e oficinas literárias visando agregar cada vez mais conhecimento desse mundo infinito que é o literário, têm ideias e inventa moda toda hora, entretanto gosta mesmo é de criar histórias.

Um comentário sobre “Capítulo 31 – Ela Veste Preto, Mas o Baile é Cor de Rosa

  • Melhor capítulo ever. Só bafões!!
    Agora sim o segredo de Alonso foi revelado de vez 😯
    Eu nunca imaginaria que Lara e ele estariam juntos kkk tanta inimizade que há entre os dois me impossibilitou de enxergar tal coisa.
    O que a Dora vai fazer com todas as revelações?
    Só nós resta uma única pergunta agora: quem é o miserável do R? Que foi capaz até de armar para cima de Alonso!

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