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Sublime

Capítulo 3: Sublime

CAPITULO: 3

 

 

 

Poucas pessoas reunidas na manhã seguinte davam sua presença no celebre funeral de Heitor. A densa neblina no local era fortemente sentida como uma triste presença rodeando a todos.

Clara estava inconsolada ao lado do caixão prestes a ser sepultado, fingindo realmente estar sentindo a morte do pai, diferente do resto da família que ainda estava perplexa com o acontecimento.

Renan chega ao local ainda acreditando ser tudo um simples acidente, cumprimenta e deseja seus pêsames a todos, por último a Clara, ele sutilmente a afasta dos demais procurando saber mais detalhes sobre o acontecimento.

 

Renan cochicha — Me explica direito como aconteceu? Foi logo depois que nos falamos?  .

 

Clara irônica— É Renan, foi logo depois, e ele ouviu toda a nossa conversa ontem.

 

Renan surpreso — Como? E, mas, como aconteceu?

 

Clara — Não podia deixar fazer o que queria, iria contar a Ellen, e provavelmente me denunciar, então fiz o que era mais obvio e necessário!

 

Renan — O que fez?

 

Clara sem o encarar— Empurrei ele pela escada.

 

Renan — Fez o que? Clara você enlouqueceu?

 

Clara se exalta — Não é diferente do que faríamos com a Ellen, e você havia concordado lembra?

 

Renan — E quando pretende colocar em prática o esse plano. Você vai adiar?

 

Clara — Daqui uns dois dias, já avise os rapazes que contratou para o serviço!

 

Renan — A morte de seu pai, já não é o bastante?

 

Clara — Não chega nem na metade do que pretendo fazer.

 

A cada vez mais Renan percebe o quanto Clara é maquiavélica, porém cada vez mais se apaixona por sua beleza e fascínio, e está disposto a atender todos os seus pedidos, mas uma dúvida atormente seu coração, será que ela realmente o ama? É essa mesma duvida que consome seu coração dia e noite.

Ellen nem imagina o terrível destino que dela se aproximava, e no momento nem se preocupava, pois ao lado do corpo do pai nada mais importava, e ela se questionava, qual eram os planos de Deus para permitir esse acontecimento? E Alice ao seu lado respondia.

 

Alice — Deus não permite nada de mau.  “E olhando para Clara que se aproximava junto de Renan completa” —São as pessoas que agem diferente a sua vontade.

 

Os planos para o sequestro de Ellen já estavam programados para o dia seguinte, Renan apenas iria contratar dois capangas, com seus contatos, para realizarem o serviço.

Antes mesmo de se despedir, Clara acompanha Renan até o portão do cemitério, se despede e sozinha dirige-se rumo a sua casa, para poder descansar a fim de realiza seus desejos. Andando lentamente pelas ruas pouco movimentadas, o ar de outono frio predomina sobre a cidade, a pequena camada de neblina dá a nítida impressão de um dia fúnebre. Sem ninguém mais nas ruas, apenas Clara ouvindo seus passos e faltando poucos quarteirões para chegar a casa, Clara começa a ouvi passos além dos dela, então para de caminhar e percebe que a pessoa que está atrás também para; calmamente vira!

Era aquele estranho rapaz, com capa e capuz cobrindo o rosto, o chamado Carrasco, como algumas pessoas haviam lhe apelidado, depois que também o viram, especialmente a noite, assustava a todos. Mesmo sem poder ver os olhos daquele rapaz, Clara teve uma breve impressão de que esse homem não apenas a olhava, mas a sentia, seu cheiro, ou presença o embriagavam! Clara também ficou parada em sua frente, então muitas lembranças vieram a sua cabeça, abandonos, desejo de vingança, tudo o que já fez e pretendia fazer, Clara não resiste e desmaia na frente do Carrasco.

Calmamente o rapaz a pega os braços e caminha cautelosamente os poucos quarteirões que faltam para chegar à casa da moça, então delicadamente a deixa caída em sua porta, e vai embora sem olhar para traz.

Fernanda e suas filhas já estranhavam a ausência de Clara, mas conhecendo o modo de ser da garota vão para casa ao fim do enterro, pensando que ela já deve estar lá. Ellen é a primeira a se deparar com a irmã caída na frente de porta, todos então se alarmam, Fernanda entra em casa, Catarina e Ellen carregam Clara para dentro e a colocam deitada no sofá! Calmamente ela desperta.

 

Fernanda aflita — O que aconteceu Clara? Me diz está bem minha filha?

 

Clara sem emoção — Estou.

 

Fernanda — Deve ter sido a situação, a perda de seu pai, provavelmente foi por isso que não passou bem!

 

Clara — Claro, foi isso sim.

 

Mas o que Clara não iria se esquecer era daquela misteriosa figura, e porque ele a carregou até sua casa. Clara queria definitivamente descobrir quem era esse rapaz, e o que pretendia com ela.

 

Na manhã seguinte, um belo dia de domingo, Ellen junto de sua família, já havia tomado o café da manhã, e estava pronta para ir à igreja. Observa um estranho envelope que estava no chão, como se alguém o tivesse colocado debaixo da porta durante a noite. Ele estava endereçado a ela, dizendo apenas:

 

“Siga o caminho que planejou

não olhe para traz…”

 

Já acostumada e não temendo mais como antes essas mensagens, Ellen termina seu café, guarda o bilhete em sua bolsa e sai de casa. Clara pede licença e vai rapidamente até seu quarto ligar para Renan.

 

Clara — Já está tudo certo? Ela acabou de sair.

 

Renan — Sim, os homens que contratei estão próximos a sua casa.

 

Clara — E eles sabem como ela é?

 

Renan — Mostrei uma foto sua, a final vocês são idênticas, mas eles vão acertar.

 

Clara — Assim espero, quando ela estive no cativeiro me avise.

 

Ellen passa em frente aos bandidos, eles a observam, mas não tem certeza de que seja a garota certa, então os dois caminham atrás dela calmamente e um deles decide chamá-la pelo nome para ver se atende.

 

Sequestrador a chama— Ellen!

 

Ellen — Pois não?

 

Rapidamente a amordaçam e colocam um saco preto em sua cabeça e a arrastam para a vã que possuíam.

Ellen não acredita no que está acontecendo, apenas fica desesperada e só pensa em sair de tal pesadelo, não compreendia que motivo teriam para sequestrá-la.

Quando estavam próximos do cativeiro, um dos bandidos tira o saco da cabeça de Ellen, a deixando apenas amordaçada e com pés a mãos atadas. O homem diz:

 

Sequestrador — Aproveita princesa à nova vizinhança, a final é só essa área verde que vai ter por muito tempo.

 

Ellen olha chorando pela pequena janela, e a única coisa diferente que observa é uma antiga placa na beira da estreita estrada, que dizia “Chácara Pedaço do Céu”, mas para ela passe-se um pouco despercebida.

      Ao chegarem naquela cabana abandonada, o rapaz a tira brutamente da vã, a joga no chão e acorrentam seus pés e suas mão. As correntes eram pouco longas, permitiam a ela que se mexesse, mas não ficar em pé e nem andar.

Depois que os capangas ligaram para Renan avisando sobre a concretização do plano, o mesmo liga para Clara.

 

Clara — Perfeito, venha me buscar e me leve até lá!

 

Renan — Vai querer mesmo ver sua irmã? Contar tudo o que planeja?

 

Clara — Claro que sim, até porque ela não vai viver muito tempo, e eu quero ter esse prazer de vê-la antes de matá-la!

 

Renan ao desligar o telefone — Está certo.

 

Fernanda pergunta a Clara — Aonde vai há essas horas querida?

 

Clara — Vou sair com o Renan, quer tomar conta as minha vida também? Ou a sua não é medíocre o bastante!

 

Em pouco tempo Renan chega, Clara entra no carro e os dois seguem até o local.

No cativeiro Ellen ainda com muito medo pergunta aos rapazes qual era a razão, e um deles apenas diz.

 

Sequestrador — Isso terá que perguntar aos patrões, eles já chegam ai.

 

Ellen estava temendo a chegada dessas pessoas, mas ao mesmo tempo queria saber quem desejava tanto assim seu mal.

Então, passando alguns minutos, eis que chegam, Clara entra primeiro e olha de frente para Ellen, que está sentada no chão e com um olhar tão vidrado, como se tivesse levado um choque ao ver que Renan e Clara haviam mandado esse sequestro.

 

Ellen — Cla…Clara, é..é você? Você quem pediu isso?

 

Clara debocha — Cla…Cla… há há há! Sim sou, fui eu.

 

Ellen chocada — O que espera disso? O que pretende?

 

Clara — Você sempre foi à preferida de todos, do nosso pai, mãe, amigos, outros familiares. Sempre me comparavam a você, Clara você deveria se como e Ellen e tal! Bobagem! Você não é nada, mas você não é a única culpada, a nossa mãe, sempre me repudiou, nunca senti o amor dela e ainda não vejo o porquê paga-la com amor! O nosso pai é claro, sempre nos comprando com presente, eu aceitava é lógico, mas não sabia o quando a falta dele me fazia mal.

Eu já planejava esse sequestro a tempos, mas o grande Heitor ouviu uma conversa minha e do Renan a respeito, eu não podia deixar que ele estragasse tudo, então tive que… Empurra-lo da escada para evitar que alguém descobrisse!

 

Ellen cada vez mais perplexa — Vo… Você matou o nosso pai? Assassina você não pode ser, isso não, eu não acredito!

 

Clara — Acredite, é claro que não foi pensado, mas faria isso de novo sem nenhum arrependimento, afinal ele nunca foi nada pra mim

 

Ellen chorando — E comigo? Vai me deixar aqui?

 

Clara — pega o revolver de um dos capangas— Não deixaria você aqui!

 

Clara desiquilibrada—Vou te deixar junto do querido papai e do seu amado Danilo! Há há, quer fada madrinha melhor do que eu?

 

De repente Clara abaixa a arma e diz.

 

 Clara — Na verdade o que pretendo no momento é ir para casa, deixar esse corpo de Clara que tenho, para traz e assumir a personalidade de Ellen! É isso mesmo, vou me passar por você, assim sendo a santinha da família fica mais fácil fazer a minha mamãe e a outra irmãzinha pagarem também!

Clara entrega a arma para Renan.

 

Clara diz para Renan — Enquanto vou salão, me arrumar e me vestir de acordo a essa ai, quero que você faça o que sugeri.

 

Renan — E o que seria?

 

Clara — Imbecil, quero que a mate, e se livre do corpo! Lamento não ficar aqui para ver irmãzinha, mas tenho que ir já, um beijo!

 

Renan leva Clara até a cidade, onde ela fica para se arrumar de acordo ao vestuário da Ellen. Então volta para o cativeiro para acatar a ordem de sua amada.

 

Ellen tenta confundi-lo — Realmente vai me matar? Tudo bem atira! Você é pau mandado da Clara, lógico o típico homem que não sabe o que quer!

 

Renan aponta a arma — É necessário.

 

Ellen — Acha mesmo que ela te ama? Que ela não está te usando apensas para acabar comigo e ajuda-la nessa vingança? Você faz isso por amor e ela por ódio! Vai sujar suas mãos atoa?

 

Renan já incerto — Tenho certeza de que ela me ama!

 

Ellen — Quando foi que ela te disse “eu te amo” e que você sentiu sinceridade? Acho que nunca e isso porque ela nunca amou ninguém.

 

Renan abaixa a arma — Tudo bem faremos o seguinte, vou dizer para Clara que acabei com você, e vou deixar um tempo assim, se ela continuar comigo e mostrar me ama como eu quero, ai simplesmente cumpro o pedido dela, mas se ela me trair de alguma maneira, te solto, para ir a polícia ou para casa, tanto faz!

 

Sequestrador — Tem certeza de que a patroa vai concordar? Diz um dos sequestradores para Renan.

 

Renan — Vou pagar a mais para vocês, de agora em diante quero que deem comida e água a ela, não quero nenhum tipo de violência, mas mantenham-na presa, está certo?

 

Sequestrador — Sim senhor.

 

Há muito tempo Clara já sabia tudo sobre Ellen, havia estudado seus movimentos, maneira de agir, de se vestir. Andando de loja em loja como se fosse apenas um dia glorioso de compras, Clara adquire algumas novas roupas, muito parecidas com as que Ellen costuma usar, a maioria vestidos, pouco acima dos joelhos e com cintos na cintura! Clara deixa de usar maquiagem pouco pesadas como de costume, e adota as mais leves assim como a irmã.

Ao fim do dia de compras, Clara pega um taxi em direção a sua casa, está ansiosa para ver se ninguém notará a diferença; seu celular toca, é Renan.

 

Clara — Diga Renan, fez o que te pedi?

 

Renan — Sim, a enterrei aqui perto também, como você me pediu.

 

Clara — E os documentos dela? Quero que me entregue.

 

Renan — Amanhã entrego todos a você, beijos, até amanhã!

 

Clara — Tchau!

 

Na mansão, todos já estavam preocupados com a demora de Ellen, Alice também estava na casa, porém ela mais do que ninguém estava com um pressentimento muito grave sobre a amiga, algo que a estava incomodado muito desde a manhã daquele mesmo dia.

Disfarçada de Ellen, Clara chega em casa, e com a mesma maneira de andar e falar engana a todos.

 

Clara — Boa tarde? Mãe, Catarina, Alice!

 

Fernanda — Quase noite não é filha? Onde você estava? Pergunta Fernanda aflita

 

Clara — Calma, fui à igreja como falei a vocês, ai fui a cemitério, fiquei junto do pai e me perdi nas horas!

 

Fernanda ainda aflita — Menos mal, mas ainda estou preocupada com a sua irmã! Clara também saiu nesse horário, logo depois de você e até agora não voltou.

 

Alice interrompe — Que bom que não demorou Ellen, podemos conversar um momento?

 

Clara — Vamos até meu quarto!

 

Ao chegar ao corredor, Clara acaba abrindo seu próprio quarto, e é surpreendida por Alice que sem surpresas diz.

 

Alice cruza os braços — Acho que o seu quarto é o do lado Ellen!

 

Clara disfarça — Há é, desculpa, não estou muito bem hoje!

 

Clara e Alice entram no quarto de Ellen, então Alice imediatamente diz.

 

Alice ameaçadora — Porque não para com esse teatro que me conta o que você fez com Ellen!

 

Clara se defende — Do que está falando Alice? Sou eu a Ellen, não tem motivos pra você agir assim!

 

Alice se exalta — Me diga o que você fez, e diga onde ela está!

 

Clara procura manter a pose — Eu acho que você está de cabeça quente, melhor ir embora!

 

Alice — Eu vou, mas não pense que vou desistir de encontrar a Ellen.

 

Clara sentiu um frio tremendo subindo todo seu corpo, mas por algum motivo sabia que Alice não iria contar a ninguém, pelo menos não até o momento certo, um momento que Clara desconhecia.

Depois desse susto, Clara pega um pedaço de papel e uma caneta, então começa a escrever:

 

“O motivo pelo qual escrevo essa mensagem é simplesmente

para dizer que não pretendo mais viver com essa família

medíocre que finge amor e atenção.

Estou indo embora, não quero mais viver a sombra de vocês,

mas sim a minha própria vida, não importa para onde vou,

afinal não quero mais ver ninguém.

Até nunca mais!

 

Ass.: Clara Dalcin”

 

Clara coloca a carta em um envelope, e desce correndo as escadas dizendo:

 

Clara — Mãe, mãe, encontrei uma carta, parece ser da Clara!

 

Fernanda preocupada— Uma carta? Deixe-me ver!

 

Ao terminar de ler, Fernanda não crê no conteúdo, começa imediatamente a chorar; Clara também parece estar triste, mas apenas é exteriormente.

Fernanda não compreendia o que fez com que sua filha agisse daquela maneira e preferisse ir embora a viver com eles, naquele momento apenas pedia a Deus que Clara estivesse bem.

Na noite que sucedera aquele mesmo dia, os sonho de Clara era perturbados por terríveis pesadelos! Não pelo que fizera com a irmã e seu pai ou o que planejava contra a família, mas de alguma maneira, aquele homem que havia visto logo depois do sepultamento de seu pai a estava atormentando; sentia como se o mesmo estivesse do lado de fora de sua janela a aguardando, esperando por alguma coisa, algo que ela ainda não sabia explicar, mas temia, pois Clara não conseguia entender o que aquela estranha figura tinha além de sua estranha aparência para traumatiza-la!

Clara acorda em gritos naquela noite, um grito que foi ouvido pela casa toda, um grito de terror e desespero, como se estivesse sendo presa e sufocada, como se o destino estivesse culpando-a pelo que fizera.

 

Fernanda — Bom dia filha! Como dormiu? __Pergunta Fernanda para Clara na manhã seguinte.

 

Clara sem expressão — Bem, só estou com um pouco de sono.

 

Fernanda — É percebi, tem que se alimentar melhor, eu também quase nem dormi, estava preocupada com a sua irmã, e quando peguei no sono por um instante ouvi um grito que parecia vir de longe, mas acabei dormindo e não fui verificar, foi você?

 

Clara — É acho que foi.

 

Fernanda instiga — É pelo mesmo motivo? Ainda não esqueceu Danilo e aquelas cartas, mas se for por elas não se preocupe, parece que hoje não veio nenhuma!

 

Clara força um sorriso — Foi por isso mesmo, mas já está tudo bem!

 

 

Fernanda — A propósito, hoje vira uma nova empregada, achei melhor mais alguém aqui em casa para nos ajudar!

 

Clara — Faz o que você quiser!  “ Percebendo o que diz logo corrige “— Quer dizer, desculpa falar assim, mãe eu vou sair.

 

Fernanda — Com quem?

 

Clara — Renan!

 

Fernanda estranha — Como? Renan? Ellen, é a Clara que geralmente sai com o Renan!

 

Clara disfarça — Eu disse Renan? Não é a Alice, vou sair com a Alice!

 

Fernanda — Que ótimo, ontem ela saiu estranha daqui, mas que bom que vocês se dão bem!

 

Realmente quando saiu de casa Clara imediatamente ligou para Renan, pedindo a ele que a encontrasse na praça da cidade, pois estava a fim de esquecer um pouco o terrível pesadelo que tivera noite passada. Uma tentativa vã, pois onde quer fosse, a imagem daquele homem ficara marcada.

Nesse mesmo instante encontra-se Alice em sua casa a beira da praia. Sua aparência não é muito boa, parece muito preocupada e realmente está, Alice sabe que aquela que habita na mansão dos Dalcin não é Ellen, mas onde a verdadeira poderia estar? De alguma maneira Alice sabia que Ellen ainda estava viva, mas pressentia que não seria por muito tempo, e sua vida dependia apenas de que Alice a encontrasse, porém por mais que reza-se, que pedisse e intercedesse para que algo pudesse lhe mostra onde procura-la, a única coisa que lhe vinha à cabeça era de que ainda não estava na hora de encontrá-la!

Alice entregava cada vez mais a situação nas mãos de Deus, sabia que ele não iria desampará-la, e ainda sim aguardava um momento de salvação para a vida de Ellen.

Na praça da cidade Clara e Renan se cumprimentam com um beijo, porém Clara procura manter discrição. Os dois conversam, Clara fala pouco e Renan se empolga ao relatar os planos que pensou para os dois.

 

Renan segura delicadamente o rosto de Clara — O que está acontecendo Clara? Eu falo tanto sobre os planos que tenho pra gente, mas você parece não se importar muito.

 

Clara — Não é isso, é que não estou muito bem hoje, quase não dormi, e te chamei pra me distrair, te ver, foi isso.

 

Renan — Se arrependeu de alguma coisa? Se arrependeu de estar comigo?

 

Clara — Não me arrependi de nada, muito menos de te amar, não tem nada a ver com isso, só não estou me sentindo muito bem hoje.

 

Renan então sorri, compreende, beija Clara calmamente e a leva para casa a fim de que ela procure descansar um pouco, porém Clara só poderá descansar quando descobrir quem é e o que o Carrasco deseja.

No cativeiro Ellen acorda em mais um dia de tortura psicológica; um dos sequestradores joga no chão uma vasilha térmica com alimento que parecia estar um pouco passado, mas mesmo assim Ellen come para manter-se firme a fim de fugir dali.

Em um momento de descuido dos sequestradores, Ellen se recosta na parede, baixa a cabeça sem nenhuma intenção, vê então uma carta perto dela quase escondida. Era a mesma carta que Ellen havia lido antes de sair de casa no dia do sequestro, a carta que ela não havia entendido na hora, mas que fazia todo o sentido naquele momento.

 

“Siga o caminho que planejou

não olhe para traz…”

…”

 

A carta havia caído da bolsa de Ellen quando Renan tirou seus documentos para entregar á Clara. Ao terminar de ler novamente a carta Ellen ri por um momento, quase como instantâneo, então dobra a carta e guarda dentro da calça antes que alguém veja.

Poucas horas depois, Clara chega a casa, Olga pergunta se estava tudo bem, ela consente com a cabeça e sobe para seu quarto. Começa a pensar no Carrasco, pois quem seria aquele homem, porque estaria invadindo seus pensamentos e lhe causando tanto medo.

Já era umas duas horas da manhã, Clara já estava dormindo nesse horário, mas a estranha sensação de ter alguém lhe observando a acorda; assustada olha para todos os lados, mas não vê ninguém, então lentamente olha pela janela e observa na calçada em frente a sua casa, aquele estranho homem, o Carrasco, parado ali como se esperasse por ela. Clara se esconde rapidamente, não querendo que ele a veja do lado de fora, porém uma enorme vontade de saber de quem se trata, Clara foi tomada pela coragem, apenas coloca um roupão rapidamente e desce as escadas, abre a porta da frente e vai até o encontro do homem para finalmente descobrir  quem era e o que procurava. Rapidamente chega à frente do homem que parece nem perceber sua presença, então sem notar nada Clara arranca aquela touca e máscara que cobriam o rosto do elemento.

Tratava-se de um belo rapaz, aparentando a mesma idade de Clara, porém ela não o reconheceu.

 

Clara assustada —   Quem é você?

 

O rapaz pareceu ficar enfeitiçado com sua voz.

 

Diz o homem — É você!

 

Clara ao ouvir o rapaz dá uns passos para traz, e reconhecendo a voz do elemento diz:

 

Clara — Carlos?

 

Carlos — Sim, sou eu, mas não poderia me mostrar, não queria que me visse desse jeito.

 

Clara assustada — Que jeito?

 

Carlos se aproxima — Cego! A última coisa que vi na vida foi seu rosto, me permitiram entrar na sala de cirurgia enquanto você estava anestesiada! No navio você me pediu uma prova de amor, e pensei que essa seria a melhor maneira de demonstrar que te amo, mas ainda sim sabendo que você é muito orgulhosa, achei melhor não dizer que o doador era eu, para que não se sentisse em dívida comigo, porém não consegui ficar longe de você, então me vesti dessa maneira e te segui, seu cheiro e voz me guiavam, me perdoe não ter falado antes.

 

Clara grita — O que quer eu diga? O que pensa que eu sou pra você hein? Eu nunca, nunca te pedi pra fazer isso, e te ondeio te odeio com todas as minhas forças por ter me abandonado sem dizer nada, não importa por quais sacrifícios, se me amasse de verdade nunca teria feito isso! Sabe qual é o meu desejo? Que você morra, você e toda a minha maldita família! Sai daqui! Some da minha vida!

 

Os gritos de Clara puderam ser ouvidos na casa toda, Fernanda, Catarina e Olga se a acordaram vão a até a rua para ver o que estava acontecendo, todos então se surpreendem ao ver que Carlos estava ali e ao perceberem que ele era cego, Catarina logo percebeu o motivo.

 

Fernanda corre até a filha — Calma Ellen, calma, vamos entrar, amanhã vocês conversam melhor!

 

Carlos cochicha para si mesmo — Ellen? __Diz Carlos baixinho.

 

Clara afirma antes de entrar — E nunca, nunca mais quero te ver ouviu!

 

Olga também entra então Carlos fica lá fora apenas com Catarina.

 

 Catariana docemente — Como você está?

 

Carlos — Acho que não muito bem.

 

Catariana — Por que você e Ellen estavam discutindo?

 

Carlos fica confuso — Você e sua mãe chamaram a Clara de Ellen. Por quê?

 

Catarina explica — Não, não é a Clara, a Clara foi embora há alguns dias, sabe como ela impulsiva, essa é a Ellen.

 

Carlos afirma — Não, conheço a voz e o cheio de Clara até antes mesmo quando podia enxergar! Essa é a Clara.

 

Catarina — É claro que ela está estranha por esses dias, mas se essa fosse a Clara, onde estaria à verdadeira Ellen? Mas e agora? Você vai embora daqui?

 

Carlos chora — Quando for possível vou voltar, ainda mais agora que não tem sentido me esconder.

 

Catarina — Por favor, volte, Clara pode até não te amar, mas eu… eu.. Até amanhã!

 

Na manhã seguinte, todos expostos a mesa do café da manhã, Fernanda dá um jeito para entrar na conversa sobre o ocorrido na madrugada passada.

 

Clara — Simplesmente não quero mais falar sobre isso mãe, já passou!

 

Fernanda — Tudo bem, se Fosse a Clara eu entenderia, mas você? Ainda mais você, que motivos teria?

 

Clara se exalta — Tudo bem, se desejam tanto falar sobre isso lá vai, Carlos merece isso e muito mais, eu sei como a Clara ficou depois que ele a abandou, e tão pouco importa por que motivou ou “prova de amor” tenha sido, o que ele fez está feito, talvez foi até por isso que ela foi embora!

 

Fernanda ao ver a filha saindo da mesa — Aonde vai?

 

Clara — Perdi a fome.

 

Passadas algumas horas, Renan estava como sempre à espera de Clara no local combinado, exatamente as 15h30minh Clara chega, então ela o beija como se já não o visse há muito tempo, pois ainda estava com muito ódio de Carlos.

 

Renan sorrindo — Nossa! Que beijo foi esse!

 

Clara finge — Eu te amo só isso, e estou louca pra acabar com todas as pessoas que me fizeram algum mal, minha família e também o Carlos.

 

Renan — Carlos? Ele não tinha ido embora?

 

Clara — O tal Carrasco que algumas pessoas viram inclusive eu, era o Carlos, foi ele quem doou as córneas pra mim, mas se pensa que vou ficar eternamente grata está enganado, quero que ele sofra muito! __Responde Clara.  Mas também o abandono dele foi essencial para eu te conhecer!

 

Com isso Renan tinha certeza de que Clara realmente o amava, pois não se abalou nem um pouco com o retorno de Carlos, naquele momento Renan tinha certeza do que deveria ser feito, ele teria que acabar com Ellen.

Ao fim do encontro, Renan após deixar Clara perto de casa, vai até um comercio na cidade especializada em artigos religiosos, compra então um terço, volta para o carro e segue até o cativeiro de Ellen.

Renan chega até o local, pega o terço nas mãos, se aproxima de Ellen que já está um pouco desidratada e um fraca.

 

Renan — Onde estava indo mesmo quanto te trouxemos pra cá?

 

Ellen estranhando — A igreja, porque quer saber.

 

Renan joga um terço sobre Ellen — É que achei que iria gostar disso!  E já que cansei dessa brincadeirinha é bom que saiba que amanhã de manhã vou terminar o que Clara pediu, você estará morta!

 

Renan realmente não estaria brincando, não em um momento como aquele, estava mesmo pensando em assassinar Ellen no dia seguinte, Ellen também sabia que ele estava falando sério, mas ela já não se importava com sigo mesma, apenas com sua família e o mal que Clara poderia fazer.

Já eram 01h00minh da manhã, Alice estava em casa ainda acordada como já em muitas noites desde o sequestro de Ellen, começa então começa a orar para encontrar Ellen, para que Deus de alguma maneira a proteja.

No mesmo instante Ellen também pega o terço que Renan lhe jogará e começa a clamar por uma solução, mas sua intensão não é de ser salva, mas pede a Deus que seja feita sua vontade, que ela sobreviva ou não segundo seu desejo, mas suplica que proteja sua família em primeiro lugar. Os capangas já estavam dormindo, e Ellen acaba caindo em um profundo sono, talvez o primeiro que não tem há dias. E no mesmo momento, Alice também já dormindo tem um sonho, uma estrada de chão, mato em todo o lugar e uma placa “Chácara Pedaço do Céu”.

Alice acorda assustada e diz a si mesma.

 

Alice — Eu conheço esse local!

 

Como gostava de pintar, Alice havia gravado aquela imagem em sua mente, não tinha como saber se Ellen estava lá, mas o jeito era ir ver, então no meio da noite se veste rapidamente, vai até o centro da cidade, pega um taxi e se dirige até as proximidades.

A noite é muito escura e difícil de localizar, até que Alice encontra a Placa, mas continua em frente.

 

Taxista pergunta — O que procura aqui moça?

 

Alice — Ainda não sei exatamente, mas continue, por favor.

 

Até que de longe e com dificuldade encontra uma cabana.

 

Alice sai correndo do veículo — Para ai, por favor, me espere aqui e não faça barulho, eu volto logo.

 

Vai correndo até o local, chegando perto começa a andar devagar.

Não há portas ali, Alice paga um isqueiro da bolsa para clarear, observa os dois homens dormindo profundamente, ao virar mais um pouco quase grita de emoção ao ver dormindo Ellen.

Devido ao sono leve que possui Ellen se acorda, Alice faz sinal para que ela não grite, então fica muito feliz ao rever a amiga. Alice se aproxima dela, as duas se abraça, fortemente.

 

Alice sussurra — Vou te tirar daqui!

 

Ellen — A chave das correntes está no bolso de um deles!

 

Alice cautelosamente se aproxima de um dos homens, coloca a mão no bolso e vira seu rosto com medo de acordá-lo. Finamente encontra a chave, a tira do bolso, vai até Ellen, consegue destrancar, então Alice apoia a amiga em seus braços e a leva para fora; rapidamente as duas vão até o taxi que as esperam, entram, o homem estranha, mas as leva de volta pra casa do mesmo jeito.

O taxista deixa as duas no local onde encontrou Alice, então as duas se dirigem até a sua cabana.

Depois de tomar um banho, vestir roupas limpas, Alice pergunta o que Ellen pretende fazer, a resposta é a seguinte.

 

Ellen — Amanhã voltarei para casa!

 

Alice aflita — Como assim? Não pode!

 

Ellen pega o terço que Renan havia lhe entregue e diz.

 

Ellen — Não é de vingança que estou atrás, mas pedi para que Deus ajudasse a minha família e entendo que será através de mim, vou volta me passando por Clara, ficar mais atenta e consegui provas de tudo que ela fez, só quero que tenha justiça!

 

Chega à manhã seguinte, Renan estaciona o carro perto do cativeiro; os sequestradores ainda estão dormindo.

Ao entrar na cabana se surpreende por ver que Ellen já não está mais lá.

 

Renan grita — Acordem seus idiotas, acordem!   O que houve com ela!

 

Sequestradores — Não sabemos, ontem ela estava ai!

 

Renan pensa — Agora sim Clara que vai me matar se descobrir que ela está viva!

 

Ellen espera Alice chegar com algumas roupas novas que havia comprado! A moça chega, são roupas como as que Clara costuma usar, Ellen então veste, se maquia como a irmã, então se vira para Alice e pergunta.

 

Ellen — Como estou?

 

Alice — Idêntica a ela, chega a assustar!

 

Ellen abraça Alice — Tenho que tentar agir como ela, é difícil, mas necessário.   Mas já está em tempo, há essas horas estão todos em casa, e é quando todos estiverem que eu quero chegar, até mais amiga!

 

Alice — Tome muito cuidado!

 

Ellen — Pode ter certeza!

 

Ellen não mora muito longe da casa de Alice, então vai de a pé, chega à frente de casa, respira fundo e toca a campainha.

Na casa todos estão tomando café inclusive Clara.

Então Olga abre a porta, Ellen sorri e entra sem a permissão. Olga já havia notado que se tratava da irmã gêmea.

 

Ellen cinicamente — Bom dia a todos!

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