Capitulo 3- Sagrada Família
http://www.youtube.com/watch?v=RKX2bo2GwSE
Favela do Vidigal, Rio de Janeiro, 21:00
Marta e Antônio estão na sala assistindo televisão.
MARTA – Onde está essa menina, já está tarde e você sabe que as ruas do Leblon não são mais seguras como antigamente.
ANTÔNIO – Para de reclamar Marta! Já está me dando dor de cabeça esse seu mi mi mi o dia todo, se tivesse acontecido algo com ela nós já teríamos sido avisados, notícias ruins circulam rápido.
MARTA – E você só fica ai nesse sofá o dia todo fazendo nada, seu imprestável.
ANTÔNIO – (Gritando) Cala boca Marta! Cala essa sua boca!
Marta se retira para seu quarto e Antônio continua assistindo televisão.
***
Leblon, Rio de Janeiro
TONY – Você entendeu né, Cristiana.
Tony sobe e deixa Cristiana na sala, ao chegar no seu quarto encontra Helena deitada na cama.
TONY – Como você está meu amor?
HELENA – Como você acha que eu estou?
TONY – Só você ser uma boa mulher, fazer tudo o que eu mandar e prometo não fazer novamente.
HELENA – Eu também tenho querer, sabia?
TONY – Pobre mulher, vocês não tem querer, vocês foram feitas para nos servir, servir aos homens, e nada mais.
HELENA – Larga de ser machista.
TONY – Vá se limpar e se preparar que hoje eu quero você.
HELENA – Eu não estou com vontade.
TONY – Eu não te perguntei se estava com vontade, eu mandei você se limpar e se preparar.
HELENA – E eu já disse que não vou.
TONY – Talvez umas palmadas façam você mudar de ideia.
HELENA – (com raiva) Não encoste as mãos em mim seu nojento, eu não gosto de você, eu não amo você, eu te odeio, te odeio, seu monstro! Você só veio para destruir a minha vida, eu quero que você morra, sai do meu quarto sai da minha casa!
TONY – (chegando perto de Helena) Não fale assim, amor, venha aqui pro seu bem.
HELENA – (gritando) Eu já disse que eu não quero, vai embora, vai…
Nesse momento Tony pega ela pelos cabelos e sai arrastando da cama para o banheiro, a mãe de Cristiana grita, mas ninguém pode escutá-la, porque seu marido mandou construir o quarto do casal no ponto mais longe da casa.
Chegando no banheiro Tony coloca sua esposa debaixo do chuveiro e começa a rasgar as roupas dela até deixá-la nua, em seguida limpa as partes íntimas.
Terminando a limpeza Tony a puxa pelo braço até a cama, enquanto isso Helena chora, ele a coloca de bruços na cama e sem mais forças para lutar ela se entrega. Tony tira o cinto e abaixa a calça com a cueca, lentamente ele vai colocando seu órgão masculino dentro das partes íntimas de Helena, ele pega o cinto e começa a bater com força nas costas dela.
Helena olha fixamente para a parede e deixa as lágrimas rolarem, não fala nenhuma palavra e também não grita. A sua costa começam a sair os primeiros vestígios de sangue, quando Tony, saciado, se retira para fora da cama.
TONY – Isso é para você aprender a me obedecer, querida.
Tony vai até perto de Helena e dá um beijo nela, se veste e sai do quarto.
***
Enquanto Tony sai pela porta de entrada, Cristiana vai até o quarto de sua mãe e a encontra do mesmo jeito que o seu padrasto deixou.
CRISTIANA – Mãe, precisamos denunciá-lo.
HELENA – Pegue as minhas coisas.
CRISTIANA – Mas você não quer tomar um banho, limpar essas feridas?
HELENA – Não, para o exame de corpo de delito precisa ser assim, não se pode mexer, só peguem um roupão para mim.
CRISTIANA – Okay, mãe.
Cristiana levanta da cama e vai ao banheiro pegar o roupão, lá ela encontra as roupas rasgadas e coloca uma luva que estava em um armário ali perto, depois pega as roupas e coloca em um saco, retira o roupão do cabide e leva a sua mãe.
CRISTIANA – Pegue mãe, vamos antes que aquele ogro volte, você não está em condições de dirigir.
HELENA – Chame a Susana ela é minha amiga.
CRISTIANA – Vou ligar pro Rafa, ele sabe de tudo contei para ele.
HELENA – Está bem.
Cristiana desci até a sala, pega o telefone e liga para Rafael.
CRISTIANA – Alô, rafa?
RAFAEL – Oi, Cris, aconteceu alguma coisa?
CRISTIANA – Você pode chamar a sua mãe? Por favor, depois explico para você.
RAFAEL – Tá bom, espera um minuto.
Cris espera um pouco até que uma voz feminina fala:
SUSANA – Susana falando.
CRISTIANA – Oi, “tia”, eu preciso que você acompanhe a mãe até a delegacia ela resolveu dar queixa do Tony.
SUSANA – Já estava mais que na hora, ela não merece sofrer assim, eu já estou indo.
CRISTIANA – Okay, não demore, não quero que aquele louco se meta.
SUSANA – Ta bom.
Cristiana desliga o telefone e volta para o quarto encontra sua mãe já vestida no roupão, que pelo fato de ser branco mostrava algumas manchas de sangue vivo.
CRISTIANA – Mãe, está sentindo alguma coisa?
HELENA – Não, só um pouco de dor.
CRISTIANA – A senhora quer um remédio?
HELENA – Já tomei umas aspirinas, falou com a Susana?
CRISTIANA – Sim, ela já está a caminho.
HELENA -Estou com medo de que ele faça algo com vocês
CRISTIANA -Ele vai fazer nada contra nós.
Cristiana vai até a mãe e a abraça e as duas choram
***
Leblon, Rio de Janeiro
Susana e Rafael estão no carro indo para a casa de Cristiana
RAFAEL – Mãe, a senhora sabia do que está acontecendo com a dona Helena?
SUSANA – Sim, eu e ela somos muito amigas, só que nessa situação a gente fica com as mãos atadas sem poder ajudar, pois ela vive sendo ameaçada de morte.
RAFAEL – A Cris nunca me falou nada, aliás só hoje que me falou.
SUSANA – Às vezes é difícil falar sobre isso, principalmente quando acontece na nossa família, cria-se uma barreira e não queremos acreditar que isso acontece.
RAFAEL – Mas porque ela não denuncia?
SUSANA – Por medo, medo que ele possa fazer algo contra seus filhos, com ela mesmo, a mulher fica vulnerável e acaba cedendo ao marido, muitas dependem deles e acaba que não denuncia por medo de não ter como se sustentar.
RAFAEL – Mas a Helena tem como se sustentar.
SUSANA – E os seus filhos? Tudo tem uma vertente para que a mulher tenha medo de denunciar.
RAFAEL – Mas se denunciar os homens vão presos.
SUSANA – As coisas não são assim, antes de serem presos, se não forem pegos em flagrante, eles são intimados a depor, vai para o juiz e isso pode demorar, eles ficam soltos e é exatamente nesse período que eles podem fazer as piores coisas.
RAFAEL – É complicado mesmo, por isso as mulheres não querem denunciar, espero que o Tony fique preso, não quero que nada aconteça de ruim com a dona Helena e muito menos com a Cristiana.
SUSANA – Eu também não meu filho.
***
Leblon, Rio de Janeiro
Tony no seu carro
TONY – Alô, Vanda.
VANDA – Oi, Tony!?
TONY – Me encontre lá no hospital agora.
VANDA – Mas, acabei de sair de lá.
TONY – Não importa estou mandando você ir para lá agora.
VANDA – Está bom chefinho.
TONY – E não demore.
Tony desliga o telefone e dirigi em alta velocidade pelas ruas do Leblon em direção à Gávea.
***
Leblon, Rio de Janeiro
Gabriel e Amanda estão deitados na cama nus, os dois abraçados com o lençol de seda cobrindo eles.
GABRIEL – Não disse que seria bom!
AMANDA – Foi sim, mas tem certeza que aquele probleminha que tivemos não vai resultar em nada?
GABRIEL – Não eu troquei a camisinha, vai dar tudo certo, amor, você vai dormir aqui né?
AMANDA – Acho melhor sim, só tenho que ligar para o meu pai.
GABRIEL – Não quer que eu fale com ele?
AMANDA – Melhor não, eu me entendo com ele.
Amanda vai até o banheiro onde liga para o seu pai.
AMANDA – Alô pai!
ANTÔNIO – Filha aonde você está?
AMANDA – Estou na casa do Gabriel, vou dormir aqui, tudo bem?
ANTÔNIO – Tudo certo, ainda bem que sua mãe já está dormindo e trate de vir bem cedo para casa, para Marta não suspeitar que você dormiu fora.
AMANDA – Tá bem, pai.
ANTÔNIO – E juízo minha filha, se for pra ser aquilo lá, que você sabe, não esquece de usar preservativo.
AMANDA – Tá bom pai, fique tranquilo.
ANTÔNIO – Deus te abençoe.
Amanda volta para o quarto e deita-se com Gabriel.
***
Favela do Vidigal, Rio de Janeiro
MARTA – (saindo do quarto) Era a Amanda no telefone?
ANTÔNIO- Deu para ficar escutando atrás da porta agora?
MARTA – Era ela ou não?
ANTÔNIO – Era ela sim!
MARTA – E onde ela está?
ANTÔNIO – No Leblon, na casa do namorado dela.
MARTA – E vai ficar lá? Porque eu ouvir você falando sobre camisinha com ela.
ANTÔNIO – Coisa que você não faz né Marta.
MARTA- Eu evito falar para não influenciar.
ANTÔNIO – É por essas atitudes, iguais as suas, que os jovens vão procurar informações em outros lugares, se informando mal e acabam fazendo besteira na hora do sexo, por não terem uma educação sexual dentro da família.
MARTA – Não quero saber dessa baboseira toda de educação sexual, para mim quanto menos ela souber, melhor é, porque assim ela não procura praticar.
ANTÔNIO – Fique pensando desse jeito.
MARTA – Você não respondeu minha pergunta, ela vai ficar lá?
ANTÔNIO – Sim ela vai dormir lá, satisfeita?
MARTA – Tá certo.
Marta volta para o quarto e Antônio continua a ver Tv.
Minutos depois ela sai do quarto e vai em direção a porta da rua.
ANTÔNIO – Onde você vai?
MARTA – Vou buscar minha filha.
***
Leblon, Rio de Janeiro
CRISTIANA – Vamos mãe, a Susana e o Rafael já chegaram.
HELENA – Não sei se devo ir dar parte, minha filha, tenho medo de ele fazer algo com vocês.
CRISTIANA – Não vamos desistir agora, ele não vai fazer nada conosco, tire essa ideia de sua cabeça e vamos logo antes que ele volte.
Cristiana e sua mãe descem até a sala.
SUSANA – Minha amiga, como você está? O que aquele monstro te fez? (Susana corre ao encontro de Helena)
CRISTINA – Estou bem (dá um abraço em Susana) podemos ir logo antes que o Tony volte.
Helena e Cristiana entram no carro de Susana eles vão pela Rua Adalberto Ferreira, depois seguem pela Rua Humberto de Campos até chegar à 14º delegacia de polícia do Leblon que fica a 500 metros da casa de Cristiana, cerca de 6 minutos, durante esse percurso todos vão calados.
Ao chegar à delegacia eles vão até o balcão de atendimento e perguntam onde se faz denúncias sobre violência doméstica, a recepcionista os encaminham até uma sala.
DELEGADA – Boa Noite, podem entrar, qual a ocorrência?
CRISTIANA – Eu quero denunciar a violência que minha mãe tem sofrido.
DELEGADA – Vamos com calma, sentem-se por favor, aqui na frente da minha mesa só quem está fazendo a denúncia e a vítima… a senhora já tinha feito alguma denúncia antes?
HELENA – Não, nunca fiz, tenho medo de que ele possa fazer alguma coisa com os meus filhos.
DELEGADA – Tens algum documento dele? ou me diga o nome completo do agressor.
HELENA – Tony Rubens Siqueira, não tenho nenhum documento.
DELEGADA – Ele é o que para a senhora?
HELENA – Marido
DELEGADA – Ele faz uso de bebidas ou drogas?
HELENA – Não que eu saiba.
DELEGADA – Tem alguém que possa constatar essas agressões?
HELENA – Sim minha filha, ela já viu algumas agressões.
DELEGADA – Como é o seu nome?
HELENA – Helena Silva de Albuquerque Siqueira
DELEGADA – Dona Helena, esse comportamento agressivo do seu marido é constante?
HELENA – Sim, praticamente um dia sim outro não, isso já vem a mais de um ano, ele tem uma mente muito machista e não gosta de ser contrariado.
DELEGADA – Quando foi a última agressão?
HELENA – Hoje, a poucos minutos.
DELEGADA – Eu vou emitir uma guia para você ir ao IML, que fica perto daqui, para fazer o exame de corpo de delito.
CRISTIANA – (Interrompendo) E quando o Tony vai ser preso?
DELEGADA – Como não foi pego em flagrante, nós vamos mandar uma intimação para o seu pai…
CRISTIANA – (cortando) Padrasto.
DELEGADA – …para o seu padrasto e ele vai vir aqui para prestar esclarecimentos e vamos ouvir você também.
CRISTIANA – Sim, só isso?
DELEGADA – Vamos abrir o processo, após isso sua mãe não pode mais retirar a denúncia, porque houve agressão física, temos até 48 horas para mandar o pedido ao juiz e ele tem a mesma quantidade de tempo para dar sua decisão.
CRISTIANA – Muito bem.
DELEGADA – Tem mais alguma prova, além das marcas no corpo?
CRISTIANA – Sim as roupas dela, estavam rasgadas no banheiro, tomei cuidado para não deixar minhas digitais nela.
DELEGADA – dei-me que mandarei para perícia, onde podemos encontrar o Sr. Tony Siqueira?
HELENA – Ele deve estar no hospital São Miguel na Gávea, onde trabalha.
DELEGADA – Mandarei uma viatura até lá para trazê-lo até aqui para prestar esclarecimentos.
CRISTIANA – Mas, se ele voltar para casa e agredir ela ou até a mim?
DELEGADA – Você pode nos telefonar que mandarei uma viatura até lá, pode ligar para o 190. Eu recomendo que vocês vão logo ao IML, faça o exame e volte para casa, entraremos em contato com vocês para informar sobre o processo.
HELENA – (chorando) É necessário mesmo ir?
DELEGADA – Sim, é a prova essencial do processo… Força você já deu o passo mais importante para não ficar impune.
DEPOIMENTO REAL
Roseni – Brasília DF
Uma mulher que apanha do marido só vai à delegacia quando ela está no seu limite, depois de sofrer muito. Fui queimanda com ferro de passar roupa por me negar a ter relações sexuais com meu marido. Fui à delegacia dar queixa e a delegada perguntou se eu tinha testemunhas do fato. Ora, eu estava ali queimada. Só me senti uma mulher livre para criar meus dois filhos depois que enfrentei meu marido com um facão. Foi só aí que ele parou de me espancar. Após seis tentativas de separação, fui vítima de cinco balas disparadas por meu ex-marido, e eu carrego todas essas marcas e a cicatriz na alma. Ele foi condenado a apenas cinco anos de prisão, mas, mesmo assim, a Lei Maria da Penha é um avanço e uma esperança.
Capítulo forte principalmente na cena da agressão de Tony para com Cristina, porém necessária para a trama. Parabéns pelo capítulo e continue escrevendo.
Obrigado, espero que continue agradando
Um capítulo primoroso! Tony é um vilão perfeito, manipulador, calculista, machista e manda em todo mundo! Excelente composição! Nesse capítulo, Cristiana teve mais força, porém, se escorou no drama de Helena! Helena foi o ponto alto do capítulo: esperta, sagaz e doce! Amanda perdeu o protagonismo mas, continuou no posto, simplesmente interessante! Marta é uma insuportável! Até eu, bateria nela kkk, brinks. Antônio é um pai excelente, seus diálogos de pura sensibilidade e cuidado com a filha é comovente. Rafael e Suzana são dois patetas! Não tem precisão de existir!
O capítulo continuou apostando em diálogos sensiveis, dramas envolventes e personagens cativantes! A melhor web-novela que já li e olha que já li muitas! Adorei! Parabéns ao autor!
Obrigado, ainda tenho que melhorar muito rses