Capítulo 27 – Detalhes Sórdidos
O helicóptero pousou assim que a chuva passou. Tom e Edson ficaram olhando pela janela, quando robustos e armados homens saltaram da aeronave.
TOM – Ele trouxe reforços. Você acha que é para acabar conosco?
EDSON – Não creio.
TOM – O que você acha? Vamos ficar aqui escondidos, ou tentar contato?
EDSON – Tudo é melhor do que o que estamos passando.
TOM – Por que ele não desce logo do helicóptero?
EDSON – Ele deve ter uma boa razão para isso.
TOM – E você parece saber qual é…
EDSON – Está enganado.
Corta para Garibaldi.
GARIBALDI – Você ouviu isso? Um helicóptero…
MORDOMO – O meu patrão chegou!
GARIBALDI – Em péssima hora. Não tenho sequer uma bala em meu revólver.
MORDOMO – Se eu o conheço bem, você precisará de um arsenal inteiro.
GARIBALDI – Do que você esta falando?
MORDOMO – Estou falando, que se eu conheço bem o Anfitrião, ele veio com um verdadeiro exército.
Garibaldi agarrou Júnior pelo colarinho.
GARIBALDI – E você sabia disso o tempo todo e não me disse, seu filho da mãe!?
Desdenhosamente, Júnior tirou a mão de Garibaldi do seu colarinho.
MORDOMO – E arriscar você me matar? Você não é tão esperto quanto imaginei.
GARIBALDI – Eu deveria ter mesmo liquidado com você…
MORDOMO – Mas você não pode, não é mesmo? Enganou todas aquelas pessoas…
GARIBALDI – Nem mais uma palavra. Vamos ver o que está acontecendo lá fora.
Jardim Frontal.
MORDOMO – É o Anfitrião realmente. Mandou seus guardas saírem para sondar o lugar.
GARIBALDI – Mas o que ele quer aqui?
MORDOMO – Você sabia que ele viria. Quando foi cortada a energia, que ele não teve mais contato com vocês, ele resolveu que viria ver o que estava acontecendo. E é melhor rezar, Garibaldi, porque o Anfitrião é um homem muito justo.
GARIBALDI – Temos que pensar no que fazer…
MORDOMO – Está sozinho nessa, Garibaldi. Vou correr ao meu senhor e dizer que você planejou tudo.
GARIBALDI – Eu mato você antes…
MORDOMO – Como? Um com espeto de atiçar carvão? Não seja ridículo!
Novamente Garibaldi agarrou o colarinho de Júnior.
GARIBALDI – Eu conheço quarenta e sete formas de matar…
MORDOMO – Mas existe apenas uma forma de ficar vivo. Contenha-se.
GARIBALDI – Você está pensando que me assusta? Eu nunca me assusto com nada.
MORDOMO – Estranho, porque me pareceu estar apavorado com a chegada do Anfitrião.
GARIBALDI – Eles entraram na casa. Vou dar um jeito de me defender. E você, nem pense em me trair. Você pode se dar muito mal.
MORDOMO – A recíproca é verdadeira…
Corta para a sala de convivência.
Os homens armados, observam com horror as carcaças de cães mortos e o corpo dilacerado da freira, já coberto de vermes, nos poucos vestígios de carne que sobraram O cheiro era insuportável. Garibaldi os observava de longe. Ele vislumbrava a possibilidade de atacar um deles de surpresa e lhe roubar o rifle. Eram três homens, e vestiam roupas pretas, para atrapalhar a visibilidade no escuro. Mas estava de dia e não estava tão escuro assim. Eles decidiram se separar, e Garibaldi viu aí a sua oportunidade. Um deles ficou sozinho na sala de convivência, e no parapeito do piso superior, Garibaldi vigiou, até um momento de distração. Ele então pulou em cima do mercenário, que foi surpreendido e não teve como se defender. Os dois foram às vias de fato, e a luta se prolongou mais do que Garibaldi previa. O mercenário tentou recuperar a arma, mas Garibaldi o impediu, esbofeteando o seu rosto. Enfim, Garibaldi se levantou e chutou a barriga do vigilante. E então, calmamente, pegou o rifle e disparou na cabeça.
GARIBALDI – Que idiota!
Ele pegou também toda a munição do mercenário.
Corta para Tom.
EDSON – Vamos falar com ele.
TOM – Tem certeza?
EDSON – Sim. Vamos lá.
Eles se aproximam do helicóptero, e visualizam o rosto do Anfitrião. Um homem de cerca de 35 anos, com barba bem espessa.
ANFITRIÃO – Thomas, Edson, Marinna. Que prazer.
TOM – Você… você é paraplégico?
ANFITRIÃO – Tetraplégico. Só movimento, e muito mal, o braço direito.
O piloto e o co-piloto o ajudaram a descer da aeronave, em sua cadeira de rodas motorizada.
ANFITRIÃO – Acho que temos muito o que conversar.
TOM – Te juro, que se não fosse um aleijado, eu quebraria a sua cara…
ANFITRIÃO – E eu lhe asseguro, que nada disso do que certamente está acontecendo é culpa minha. Eu fui traído. Acredite, eu tinha realmente intenção de constranger vocês, mas assim que terminasse, eu ia realmente pagar o que prometi. Eu nunca quis matar ninguém.
TOM – Me convença…
ANFITRIÃO – Edson…
EDSON – Há um lugar seguro lá atrás, perto do cemitério. Vamos lá para conversar.
TOM – Vocês são cúmplices?
EDSON – Na verdade, esse é o motivo pelo qual Garibaldi tentou várias vezes me matar. Ele sabia que eu poderia frustrar seus planos…
MARINNA – Essa história fica mais absurda cada vez que passa. Por que você fez isso conosco?
ANFITRIÃO – Vamos ao cemitério, e eu explico tudo.
Corta para o cemitério.
ANFITRIÃO – Aqui está o túmulo de vocês. Seus antigos nomes, seus verdadeiros nomes: Miguel Gilson Oliveira Martins; Antônio Oliveira Martins; Ana Maria Oliveira Martins; Amélia Santana Oliveira Martins; Brígida Maria Oliveira Martins; Marina, Zélia Marta oliveira Martins. Respectivamente: Thomas, Sérgio, Marinna, Mariah, Irmã Sofia e Anita. Vocês estão mortos. Suas identidades foram forjadas depois que vocês foram adotados por famílias diferentes.
TOM – Então, aquele negócio de Crianças do pacto é verdade…
ANFITRIÃO – Não sei nada sobre crianças do Pacto. O que vou lhes contar, foi o roubo mais espetacular de que já se tem notícia. Tão espetacular, que foi mantido em segredo por quase trinta anos. E será elucidado hoje.
GARIBALDI – Não conte com isso, Anfitrião.
ANFITRIÃO – Garibaldi!?
GARIBALDI – Em carne e osso. Eu agora vou matar vocês um por um. Mas a mulher vai precisar fazer uma coisinha pra mim antes de morrer.
ANFITRIÃO – Não faça nada que vá se arrepender depois, Hernesto.
GARIBALDI – Eu jamais me arrependo.
Fim do Capítulo 27