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Cantiga de Amor

Capítulo 26 – Cantiga de Amor

Cena 01: Termes. Casa de Giancarlo. Final da tarde.

Giancarlo – (Em pé, efusivo, sorrindo, emocionado) És tu, então, o homem prometido para se casar com minha filha! Com a minha Cecília!

Dessa vez, é Gustavo quem fica paralisado, em choque.

Giancarlo – Eu sabia que em qualquer momento tu aparecerias. À medida que os anos passavam, eu sentia que estava mais perto de tua vinda. Mas, diz-me… Onde está teu pai?

Gustavo começa a se recompor.

Gustavo – O que disse, senhor?

Giancarlo – Teu pai? Ele veio contigo?

Mil e uma coisas passam pela cabeça de Gustavo. Ele se decide por uma delas.

Gustavo – Ah, meu pai? Ele… Morreu. Infelizmente.

Giancarlo – Meu Deus… E isso faz quanto tempo?

Gustavo – Anos, já. Foi logo depois que o senhor voltou da visita a nossa casa.

Giancarlo – Oh, eu sinto muito.

Gustavo – Obrigado. Isso aconteceu há muitos anos. E eu tenho conseguido superar. Mas…

Giancarlo – Mas essa noite nós precisamos comemorar. Comemorar a tua chegada. Cecília! Marlete! Venham à sala! Tenho uma notícia muito importante para dar!

As duas chegam.

Cecília – Pois não, meu pai?

Giancarlo – Minha filha, minha enteada, eu tenho o prazer de informar que esse homem que veio até nós esta noite em breve fará parte dessa família. Ele será meu genro. Teu futuro marido, Cecília!

Cena 02: Floresta ao redor do Povoado das Hortaliças. Final da tarde.

Três pessoas andam pela floresta, até encontrarem uma clareira.

Valentina – Graças a Deus achamos este lugar. Nós precisamos dormir.

Gregório – Só espero que não nos encontrem enquanto estivermos dormindo.

Valentina – Ninguém nos encontrará enquanto estivermos aqui. As pessoas evitam entrar na mata fechada.

Gregório – Eu também espero que ninguém perca esse medo.

Agnella – Mas claro que não! Eu mesma estava com pavor, já, da floresta. Mas agora quero descansar. Quero ter energia para amanhã. Terei tanto para fazer…

Valentina – Amanhã é um outro dia. E precisaremos de muita coisa se quisermos permanecer vivos, e a salvo.

Agnella – Onde dormiremos?

Valentina – No chão, Agnella. Pega algumas folhas, junta e faz uma espécie de cama. É o que temos por hoje.

Gregório – Bem, senhoritas. Vamos dormir. Boa noite.

Os três “se acomodam” e começam a tentar dormir.

Cena 03: Termes. Casa de Giancarlo. Final da tarde.

Cecília e Marlete estão surpresas.

Cecília – Como disse, meu pai?

Marlete – Eu acho que também não entendi direito.

Giancarlo – Exatamente o que ouviste, filha. Ele será o teu marido. Vamos, rapaz, mostre a elas.

Receoso, Gustavo apresenta o colar. Ao vê-lo, Cecília começa a ficar boquiaberta. Marlete permanece impassível.

Cecília – (Nervosa, embolando as palavras) É… Ele, pai? Ele… Eu… Quer dizer, o senhor, meu avô…

Giancarlo – Isso filha, isso. Ele é o neto do amigo de meu pai, que foi prometido em casamento a ti, e tu a ele.

Cecília – (Embaraçada) Eu… Não sei nem o que dizer.

Giancarlo – Não precisas dizer nada, querida. Apenas comemorar. Vamos, esse jantar será em comemoração à tua chegada, rapaz.

Marlete – Eu só posso… Parabenizar a ti, querida Cecília, que és quase uma irmã para mim, por essa notícia. A ti, também, Gus…tavo. Esse é realmente um momento importante.

Cecília – Muito obrigada.

Gustavo – Também agradeço.

Giancarlo – Bem, que tal irmos? Irá escurecer logo, e ficará muito perigoso para voltares para a estalagem em que estás, Gustavo, além de bastante escuro, claro.

Gustavo – Está bem, senhor.

Eles se dirigem à mesa.

Giancarlo – Essa é uma ocasião de alegria, querida Cecília. (Ele passa a mão na cabeça da filha) Então, comamos. A partir de amanhã, teremos muito para resolver, a fim de preparar o casamento da minha menina.

Cecília sorri, embaraçada. Gustavo dá um sorriso amarelo. Marlete apenas concorda com a cabeça. Os olhos de Giancarlo brilham.

Cena 04: Floresta ao redor do Povoado das Hortaliças. Dia seguinte. Manhã.

Valentina, Gregório e Agnella estão acordados.

Valentina – Nós precisamos sair daqui o mais rápido possível.

Gregório – Claro, claro. Mas antes temos que arranjar comida, água. Ou morreremos de fome e de sede no caminho. Aliás, desde ontem à tarde, quando acabou a última gota d’água da garrafa que eu trouxe da igreja, nós não bebemos nada. Minha boca está seca.

Valentina – Sim, a minha também está. Mas para isso não existe um rio próximo de nós?

Gregório – E como faremos para chegarmos lá? Há uma grande chance de sermos vistos por alguém.

Valentina – Encontraremos alguma via por meio da floresta, chegaremos ao rio, e de lá partiremos. Quanto à comida, aprendi a obtê-la na natureza.

Agnella – Mas qual o destino dessa viagem?

Valentina – Isso é algo que não sabemos. Nós só descobriremos à medida que andarmos.

Agnella – Eu me recuso a fazer isso. Eu não sairei a esmo por aí. Não foi por isso que eu fugi daquele convento.

Valentina – Eu não estou te entendendo, Agnella. Nós temos que nos afastar desse lugar com a mais absoluta pressa.

Agnella – Porém eu fico. Aliás, eu sei para onde irei. Eu voltarei ao povoado, e de algum modo descobrirei para onde Gustavo foi.

Gregório – Mas, como farás isso, se… (É interrompido)

Valentina – Espera, Gregório. Ela não fará isso. Ela irá conosco para longe de onde estamos.

Gregório – Sabe, Valentina, de certa forma, eu preciso concordar com Agnella. Tu tens levado essa vida de incertezas há bastante tempo. E até agora, o que encontrastes? Algum lugar realmente seguro? Ou melhor, gostaste dos lugares por onde passaste? Eu acho que não. Não adianta nos debandarmos sem ter a certeza do lugar aonde queremos chegar, nem sem ter os recursos suficientes para realizar essa caminhada. Eu só sairei daqui se for em direção a outro lugar seguro. Talvez não o Povoado das Hortaliças, nem os outros povoados. Lá, as pessoas nos procuram, com certeza, e irão nos denunciar quando nos descobrirem.

Agnella – Mas eu preciso saber de Gustavo. Meus pais não quiseram me contar nada, mas quem sabe eles não me dizem agora. Eu preciso voltar ao Povoado.

Por um tempo, todos ficam em silêncio.

Valentina – Tudo bem, tudo bem. Eu cedo. Nós iremos encontrar um local em que estejamos protegidos, em que possamos comer alguma coisa, beber um pouco d’água, até sabermos, mas com urgência, para onde partiremos. Mas a pergunta é: onde está esse local?

Agnella – No povoado, eu já disse. Ou pelo menos perto…

Valentina – (Um pouco reflexiva) Hum… Sim, sim… (Se vira para os outros) Eu acho que eu sei onde fica esse lugar.

Cena 05: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo.

Enzo está prestes a sair para o trabalho.

Prudência – Marido, eu quase não dormi esta noite. O que será de nossa filha, meu Deus?

Enzo – Prudência, tu precisas ser paciente. Todas as pessoas dos povoados estão em busca de Agnella e dos outros dois fugitivos. Inclusive nós, principalmente nós, devemos fazer nossa parte, e ficarmos atentos. Até porque ela deve querer voltar para casa.

Prudência – É verdade… Ela não conseguiria ficar longe de nós. Aliás, será que ela já esqueceu aquele rapaz, o Gustavo?

Enzo – Não sei. Eu tenho esperanças que sim. Se não tiver esquecido, nós, ou mesmo a irmã Francisca, ou a vida do convento, porque ela vai voltar para lá, a faremos esquecer. Agora eu preciso sair. O trabalho me aguarda.

Enzo sai de casa. Ele anda um pouco e, ainda em sua rua, é abordado por Adelmo.

Enzo – Ora, mas que surpresa encontrá-lo por aqui, Adelmo. Diz-me, como estás? Já recuperado do acidente?

Adelmo – Por favor, senhor. Não me fales disso, minha cabeça dói apenas de pensar. Na verdade, ela tem doído o tempo inteiro, principalmente quando tenho que me lembrar das coisas.

Nesse momento, Prudência aparece na porta de casa, e, surpresa, decide acompanhar a conversa de longe.

Enzo – Que pena. Deve ser culpa do que aconteceu. Não irás trabalhar hoje?

Adelmo – Não, não sei se já posso. O que eu quero mesmo é falar com o senhor. É que eu me recordei que tenho algo de muito importante para tratar com o senhor, e que acredito ser do seu interesse. Ah, e ele também diz respeito a Agnella.

Cena 06: Termes. Estalagem. Quarto de Gustavo.

Gustavo, mais uma vez, não dormiu direito. Sua cabeça estava confusa.

Gustavo – Casamento… Casamento… Não é isso que eu quero pra mim. Eu só quero voltar, e reencontrar a minha Agnella… Eu não posso me casar. Por outro lado, eu prometi a Marconi que acharia esse tesouro por ele. Só que ele não me disse que envolvia casamento. Ele sabia que eu amava Agnella, mas ainda assim ele me pediu isso… (Ele leva as duas mãos à cabeça, encostando os cotovelos nas pernas) Eu não abrirei mão do meu amor por Agnella. Eu não posso. Esse tempo longe não vai, não pode me fazer esquecê-la. Será… Será que não existe outra maneira de realizar esse desejo de Marconi? Será que eu preciso mesmo me casar? E por quanto tempo eu conseguirei mentir sobre quem eu sou? Meu Deus, meu Deus, o que fazer? Eu estou perdido… Tudo o que eu queria era não estar aqui, era não ser necessário tudo isso ter acontecido. E pensar que por causa de uma senhora mexeriqueira, de um homem intruso e de regras que, perdoe-me, Senhor, eu nem sei se são tuas mesmo, que por tudo isso eu estou neste lugar… Se não fossem essas coisas, eu estaria ao lado de Agnella agora…

Gustavo se levanta, e, calado, passa a andar pelo quarto. Nesse momento, ele ouve batidas na porta. Ao abrir, descobre que é Giancarlo.

Gustavo – Pois não, senhor? Confesso que não esperava vê-lo aqui, a essa hora.

Giancarlo – Eu gostaria muito de falar contigo, rapaz. Melhor, tenho um convite a lhe fazer. E eu estou certo de que tu não o recusarás.

Cena 07: Povoado das Hortaliças. Casa de Pero.

Pero está atendendo ao padre Santorini.

Santorini – Então, nada de encontrar os fugitivos até agora, não é? Pero, tu não tens nem uma ideia de onde eles podem estar agora? Não sabes o que fazer? Afinal, foste tu quem nos apresentaste a serva fugida.

Pero – Eu já disse ao senhor, padre. Eu juro por Deus que eu não sabia que ela era uma serva. E não, até agora não a vi nem vi aos outros. Mas o senhor pode estar certo de que, se eu os encontrar, avisarei ao senhor sobre eles.

Santorini – (Soltando um suspiro) Tudo bem. Acredito em ti. Até logo, Pero. Irei conferir com as outras pessoas como anda a busca aos fugitivos. Tenha um bom dia.

Santorini sai. Pero, então, deixa a casa pelos fundos e se dirige ao ponto da floresta onde costuma se encontrar às escondidas com Inês.

Inês – Até que enfim, camponês! Por que demoraste?

Pero – Tive que parar para conversar com o padre. Ele está passando pelo povoado para saber se as pessoas estão procurando o seminarista e as noviças que fugiram.

Inês – Ainda mais essa! Um seminarista que desiste de ser padre, e duas noviças que desistem de ser freiras! Não entendo o que se passa na mente de determinadas pessoas. Certas decisões são simplesmente incoerentes! Se bem que, se uma das noviças foi Agnella mesmo, a garota que morava em frente a casa de Brás, eu a entendo.

Pero – Entendes? E o que é?

Inês – É amor. Pelo que me contaram, ela quase ficou noiva no tempo em que o louco do Brás me prendeu.

Pero – Ah, é verdade. Mas agora, vamos pensar em nós dois. Sabes que eu estou bastante feliz com o fato de teres me aceitado, minha flor. Parece até que existimos somente nós dois no mundo…

Nessa hora, eles ouvem um barulho vindo da floresta. Ficam alarmados, atentos.

Inês – Será que é algum animal?

Pero – Se for, eu a protegerei. Não temas, Inês.

Então, para sua surpresa, aparecem três pessoas em sua frente.

Valentina – Graças a Deus! Achei que precisaria me arriscar a ir a tua casa. Lembras de mim, Pero?

Pero – Claro, Valentina! A serva e noviça fugida… E estás acompanhada do seminarista… E de Agnella. Por que estão aqui? Vocês não haviam fugido?

Valentina – Nós viemos porque precisamos da tua ajuda, mais uma vez. Pero, tu poderias nos abrigar em tua casa, pelo menos por um tempo?

Agnella – Por favor, nós imploramos…

Gregório – Tenhas compaixão de nós…

2 comentários sobre “Capítulo 26 – Cantiga de Amor

  • Gustavo está mesmo nunca enrascada, ele terá que casar com Cecília, e agora o que fazer?
    Gente, todos estão motivados a encontrar os fugitivos, e será que eles vão conseguir se esconder por muito tempo? A Agnella está com medo de sair sem saber onde irá. Veremos como essa história vai conseguir se desenrolar, mas parece que vai vir muita coisa por aí 🙂

    • Boa pergunta… O que Gustavo fará? Será que ele fará algo – ou alguém fará por (e com) ele?
      E será que esse desejo de Agnella em sair para buscar notícias de Gustavo não é perigoso?
      Os próximos capítulos têm mais! Essa semana está agitada!
      😀

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