Capítulo 24 – Detalhes Sórdidos
GARIBALDI – Eu posso ser muito bonzinho e matar você tão rapidamente, que você não vai sentir nada. É só me falar onde está a outra vagabunda. Vocês estavam juntas.
MARINNA – Eu não sei! Um cão nos perseguia. Nos dividimos e o cão a seguiu. Ele deve tê-la comido.
GARIBALDI(mostrando desespero) – Oh, não! Não! Não! Se ele a comer, estará tudo perdido. Venha, não posso perder tempo.
Garibaldi agarrou Marinna pelos cabelos, arrastando-a até o quarto onde Anita está presa.
GARIBALDI – Sem gracinha, vocês duas.
MARINNA – Anita! O que esse louco fez com você?
GARIBALDI – O mesmo que farei com você se tentar algo.
Garibaldi amarrou Marinna junto a Anita.
GARIBALDI – Sabe, pensando bem, acho que vou acabar com você agora.
Apontou a arma para Marinna, a queima-roupa, bem na testa. Ela começou a tremer e a suar. Seus olhos esbugalhados, fitavam Garibaldi, com terror.
GARIBALDI – Primeiro mato uma e depois a outra. Acho que é perigoso deixar vocês duas juntas pensando em formas de como escapar daqui. O que acham, hã? Não têm nada a dizer?
Ele se sentou no chão e assumiu uma forma bem teatral, girando o revólver no ar, ao falar, como uma criança com um brinquedo interessante.
GARIBALDI – Sabem, eu sempre quis uma escrava sexual, e aqui eu tenho uma prostituta para me satisfazer. Mas… como é irônica a vida! Terei que matá-la. Mas é assim mesmo. Vem fácil, vai fácil. Além do mais, eu acho que não tenho muita atração por mulheres imundas, que se deitam com o homem mais sujo e fedido por dinheiro. O Anfitrião teve uma brilhante idéia em expor nossos detalhes sórdidos. Mas incompreensivelmente ele sumiu. Por que será? Acho que ele se cansou disso aqui. Mas sabem de uma coisa? Se ele chegar aqui, também é um homem morto.
Garibaldi se levantou, e novamente apontou a queima-roupa na testa de Marinna.
GARIBALDI – Você não é má pessoa, Marinna. O que você é mesmo? Ah, sim, você está cumprindo pena alternativa por ter roubado no shopping, não é isso? Que coisa feia! Uma menina bonita, sensual…
Ele lambeu o rosto de Marinna.
GARIBALDI – Conte até três. Sua vida acaba agora.
Silêncio.
GARIBALDI(Gritando) – Eu disse conte… até… três!
Marinna fechou os olhos e começou a chorar. E com a voz quase imperceptível, ela contou:
MARINNA – Um… dois…
Garibaldi pressionou devagar o gatilho, para fazer um suspense.
MARINNA – Três!
Ele puxou o gatilho. Mas não aconteceu nada, apesar de Marinna ter dado um grito enorme.
GARIBALDI – Que desastrado que eu sou! Esqueci: acabou a munição.
Garibaldi se dobrou de tanto rir.
GARIBALDI – Eu sou um pândego! Agora fiquem quietinhas, que já já eu volto para matar vocês, viu?
Corta para Júnior.
MORDOMO – Eu acho que temos que dar um jeito de liquidar o Garibadi. Ele não tem a mínima noção de controle. Ele mataria a própria mãe.
PADRE DORNAS – Você tem razão. Mas ele conhece todo o caminho para se chegar ao tesouro. Vamos esperar que ele faça isso, e que ainda mate o Anfitrião. Depois o matamos.
MORDOMO – Eu fico desconfortável com a idéia de matar o Anfitrião. Ele é uma excelente pessoa.
PADRE DORNAS – Como assim? Olha no que ele nos meteu com esse negócio de detalhes sórdidos.
MORDOMO – Você não sabe de nada…
PADRE DORNAS – Mas então, por que criou tudo isso?
MORDOMO – Eu não tinha intenção de matá-lo. Aqueles túmulos lá fora estavam fechados. Haviam corpos lá dentro, de outras pessoas, mas eles pertencem ao Thomas, à Marinna, à Mariah, à Anita e à freira.
PADRE DORNAS – Mas uma coisa não se encaixa. Por que o Edson? Onde ele entra?
MORDOMO – Eu não sei, mas Garibaldi havia conseguido fotografias dele também. Ele não parece fazer parte das tais Crianças do Pacto, que Garibaldi inventou.
PADRE DORNAS – Muito estranho.
Corta para Mariah.
Mariah corria do cão. Por mais que ela tentasse fugir, a fome do animal, lhe dava uma força sobrenatural para ir em busca da sua presa: Mariah. Ela passou perto de uma escadaria, e de um pulo, saltou como uma rã para os lances do alto através do corrimão. O cão deu a volta e começou a subir os lances de escada. Ela corria, mas o cão a alcançava, porque ela já se sentia esgotada, sem forças. Estava prestes a desistir. E desistiu. Ela caiu, e fechou os lhos, esperando somente as mordidas do cão. Mas não as sentiu. Na verdade, ela nem mesmo o ouviu mais. Quando olhou para trás, o cão estava caído no meio da escada, ainda agonizando, com uma faca enfiada nas costelas.
MARIAH – Garibaldi…
GARIBALDI – Viu como o titio Hernesto é bonzinho? Agora vem, que você vai se juntar às suas amiguinhas no inferno.
Trôpega, Mariah começou a se levantar, ainda sem forças, para fugir de Garibaldi. E na maior frieza do mundo, ele retirou a faca do cão e a limpou na sua própria roupa, subindo calmamente a escada.
GARIBALDI – Você viu que seus pés estão sangrando, não viu? Não tem como fugir de mim. Por que não adia seu sofrimento? Hã?
Garibaldi subiu o corredor, e na segunda porta viu o rastro de sangue saindo por baixo da mesma. É claro que Mariah havia entrado lá. Ele sorriu, e abriu a porta de uma vez, mas levou uma pancada na cara, quebrando-lhe nariz. Ele caiu e Mariah, passando por cima saiu correndo pelo corredor. Isso não abateu Garibaldi, que se levantou, e continuou rindo.
GARIBALDI – Eu vou pegar você! E quando estiverem as três juntas, eu vou me divertir muito provocando as dores mais insuportáveis, que vocês jamais sequer imaginaram, só pela dor que estão me causando. Aí está você…
Rastro de sangue debaixo de outra porta.
GARIBALDI – Saia já daí. Pois se eu entrar, eu vou bater tanto em você…
Silêncio.
GARIBALDI(aos berros) – Saia já daí!!!
Nada.
Dessa vez ele arrombou a porta com o pé. Mas para a sua surpresa, o quarto estava vazio, e a janela aberta.
GARIBALDI – Eu adoro uma caçada!
Fim do capítulo 24