Agridøcє

— Vamos, Wen! — Chamou Joy da porta.

— Pode indo, encontro vocês em meia hora, hoje é o último dia que eu tenho para entregar.

— Tem certeza?

— Sim, sim. — Respondi sem tirar os olhos do notebook.

Era sexta-feira e estava trabalhando arduamente em minha redação desde a fatídica terça, as notas das provas já haviam saído e o Campus já estava quase vazio, tirando o pessoal que tinha ficado para recuperação. Eu e o pessoal decidimos ficar até o domingo, por algum motivo que eu ainda não entendia muito bem.

Tínhamos combinado que nas férias iríamos nos encontrar, passar uns dias na praia, ou algo do tipo, mas enquanto isso não acontecia eu precisava terminar minha redação. Na verdade, eu já tinha terminado, só precisava revisar pela décima vez.

— Amor? — Rylan entreabriu a porta e colocou a cabeça para dentro do quarto.

— Achei que tivesse ido com eles. — Tirei os olhos do notebook por um segundo.

— Decidi te esperar. Podemos ir?

— Só um minuto. — Entrei no meu e-mail e abri a caixa de mensagens.

 “Espero que ainda esteja em tempo. Obrigada por acreditar em mim quando nem eu mesma acreditava.

                                                                                                     Wendy.”

Anexei minha redação e enviei. Me levantei, me sentia leve como a muito tempo não me sentia e principalmente, me sentia confiante. Peguei minha bolsa e minha jaqueta e me olhei no espelho atrás da porta, me sentia bonita também, decidi prender meu cabelo em um rabo de cavalo no alto, para deixar meu rosto livre, não precisava mais me esconder. Eu podia não ser a mais perfeita, nem a mais inteligente, nem a mais engraçada, mas eu era eu, e tinha que me amar por isso. E naquele momento, eu me amava.

— Eu te amo. — Rylan sussurrou para mim, me encarando pelo espelho.

— Eu também te amo. — Nós sorrimos um para o outro e ele me puxou, me aninhando em seus braços.

— Vamos?

— Sim. — Tranquei a porta depois que saímos, segurei firme a mão de Rylan enquanto caminhávamos calmamente pelo corredor.

Chegamos no Starbucks e nos sentamos com o pessoal em uma mesa enorme no canto da loja, encarei Ally, Steve, Joy e T. — Que agora sabíamos que se chamava Toddy — , Sarah e Rylan e sorri, era louco como em um ano tanta coisa tinha mudado, mas eu não trocaria aquele ano por nada.

Eu tinha começado aquele ano como uma Wendy frágil, que chorava por tudo e que dependia da irmã para se sentir alguém no mundo, que não sabia lidar bem com as pessoas — principalmente com homens —, que não se amava, que não se achava suficiente para nada, que não sabia lidar nem com si mesma e olhe agora, o que eu tinha me tornado! Talvez, eu ainda não soubesse lidar tão bem assim com as pessoas e que vez ou outra ainda tivesse algumas crises existenciais, mas eu estava cercada por uma quantidade de amigos que eu nunca tinha tido em minha vida toda, tinha um relacionamento saudável com a minha irmã, algo baseado em igualdade, não mais em dependência e ali do meu lado, estava o cara mais bacana do mundo, que carregava em seu dedo uma aliança com meu nome.

Realmente, eu podia não ser a mais bonita, nem a mais inteligente, a mais engraçada, eu podia não ser nada a mais do que qualquer outra pessoa, apenas uma menina comum, mas olha que engraçado! O mundo está cheio de pessoas comuns, e até as pessoas comuns são boas em alguma coisa e até as pessoas comuns são amadas de uma forma única e até com as pessoas comuns, acontecem coisas especiais. Sim, eu era apenas uma garota comum, mas era incrível ser comum como todos os outros!

Epílogo – 19/02

Stephanie

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