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Recomeçar

Capítulo 20 (último / parte I) – Recomeçar

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CENA 01. DESPENHADEIRO. EXT. NOITE.

Continuação da última cena do capítulo anterior. Usando um lenço na mão, Lorenzo tira a mala de Belita do banco de trás do automóvel e atira-a despenhadeiro abaixo. Entra no carro e vai embora assobiando. O corpo de Belita ali no chão. Corta para:

CENA 02. RIO DE JANEIRO. EXT. DIA.

Ao som de “Are You With Me” (Lost Frequencies), um novo dia nasce. O sol desponta no céu do Rio de Janeiro. Imagens das praias, Cristo Redentor, Pão de Açúcar e outros pontos da cidade. Finaliza na fachada do prédio de Tia Sofia. Corta para:

CENA 03. APART. DE TIA SOFIA. SALA. INT. DIA.

Vestida num camisolão, Tia Sofia vem da cozinha com uma xícara de café. Apanha o jornal debaixo da porta e senta no sofá, onde está seu gato. Liga a televisão e abre o jornal. Bota os olhos numa manchete: “Argentina é encontrada morta em despenhadeiro”. A notícia vem acompanhada com a foto do RG de Belita. Tia Sofia leva um susto.

TIA SOFIA: – Minha Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, valei-me!

Mais que depressa, ela vai pro quarto. Num corte descontínuo, volta pra sala já pronta pra sair, puxando uma mala. Coloca o gato numa caixa de transporte e sai. Na TV que foi esquecida ligada, corta para:

CENA 04. FACHADA DO PRÉDIO DE TIA SOFIA. EXT. DIA.

Apressada, Tia Sofia entra num táxi.

TIA SOFIA: – Pro aeroporto, moço. (resmunga) O Rio de Janeiro já não é mais o mesmo.

O táxi sai. Corta para:

CENA 05. HOSPITAL. SALA DE QUIMIOTERAPIA. INT. DIA.

Música: “Emerald Legacy” – Kevin Kern. Numa sala coletiva, alguns pacientes estão sentados em poltronas, em franco processo de quimioterapia. Numa delas, está Davi, recebendo tranquilamente um medicamento na veia. Se entristece um pouco ao olhar mais adiante uma moça na mesma situação, só que já bastante debilitada, com um lenço na cabeça. Corta para:

CENA 06. ESTACIONAMENTO DO HOSPITAL. EXT. DIA.

A música continua. Filipe e Davi caminham abraçados até o carro. Filipe não economiza carinhos ao namorado, que ainda está meio tristonho e sentindo um pouco os efeitos das drogas. Entram no carro. Davi no passageiro.

FILIPE: – Tá bem mesmo?

DAVI: – Tô ótimo, meu amor.

FILIPE: – Vamos pra casa.

O carro sai. Corta para:

CENA 07. AVENIDA/PRAIA. EXT. DIA.

Mesma música. Filipe dirige o carro. Davi, com a cabeça encostada no banco, vai olhando a paisagem e tudo que lhe chama atenção pelo caminho. Melancolia. Vê as pessoas fazendo suas atividades, vivendo normalmente: pessoas na praia, um pai ensinando a filha pequena a andar de bicicleta, um casal namorando etc. Sua atenção é quebrada por Filipe, que aperta sua mão, num gesto de carinho. Trocam um sorriso, e Davi volta a olhar pela janela. Corta para:

CENA 08. PRAIA. EXT. DIA.

Segue a música. Fim de tarde. Sol despedindo-se no horizonte, deixando o mar alaranjado. Vemos Davi e Filipe abraçados, em pé, contemplando o entardecer. CORTE DESCONTÍNUO. Brincam com as ondas que chegam com pouca força na areia. Corta para:

CENA 09. COMPILAÇÃO. DIA/NOITE.

Ainda com a mesma música, agora vemos momentos diversos de Davi às voltas com o tratamento do câncer. Já sem cabelos, faz outras sessões de quimioterapia e exames. No meio da noite, acorda com náuseas e corre pro banheiro, vomitando. Filipe ao seu lado. Em outro momento, uma transa frustrada entre eles. Davi sente muitas dores nas costas. Num último insert, vemos Davi sendo levado apressadamente numa maca pelo corredor do hospital. Filipe chora encostado na parede. Lágrimas de muito sofrimento. Gilda chega correndo e abraça o filho, que continua chorando copiosamente. Corta para:

CENA 10. HOSPITAL. SALA DO MÉDICO. INT. DIA.

Davi e Filipe diante do médico, numa mesa. O médico checa alguns exames.

FILIPE: – Quanto progredimos, doutor?

MÉDICO: – O tumor não está respondendo ao tratamento. O tumor cresceu, temos de removê-lo agora ou pode haver metástase. Vamos operar.

FILIPE: – Mas já? Não é muito cedo?

DAVI: – Quais as chances de eu morrer na mesa de operação?

MÉDICO: – Sendo bem realista, uma cirurgia desse tipo é perigosa, oferece riscos. O tamanho e o local do tumor colaboram pra isso. Mas é a opção que temos.

Davi e Filipe entreolham-se. Corta para:

CENA 11. MARANHÃO. EXT. DIA.

Letreiro: Maranhão. Uma colagem de paisagens do Estado toma conta da tela, ao som de “Tambor de Crioula” (Rita Ribeiro). Vemos ainda o Centro Histórico, brincantes dançando o tambor de crioula, a culinária típica, o arroz de cuxá etc. Por fim, vemos a beleza dos Lençóis Maranhenses. Corta para:

CENA 12. LENÇOIS MARANHENSES – BARREIRINHAS. EXT. DIA.

Numa lagoa de águas cristalinas, no meio das dunas de areia branca, vemos Júlia e Kadu tomando banho. Mais apaixonados que nunca.

KADU: – Quero viver aqui pra sempre.

JÚLIA: – Quer mais nada da vida não?

KADU: – Não. Você quer?

JÚLIA: – Você. Pro resto dos meus dias. Pra todo o sempre… ao alcance dos seus braços, dos seus olhos e dos seus beijos.

KADU: – É?

JÚLIA: – Aham.

E beijam-se. Música: “Kiss Me” – Ed Sheeran. Javier aparece correndo na areia. Kadu vai pegá-lo e entra com ele na água. Os três bem felizes. Corta para:

CENA 13. CASA DE JÚLIA. QUARTO. INT. DIA.

Segue a música. Júlia e Kadu fazem amor. Quarto bonito de detalhes artesanais. Da cama é possível ver uma paisagem belíssima, com as dunas de areia ao longe. CORTE DESCONTÍNUO. Ainda na cama, o casal depois da transa. Júlia com a cabeça sobre o peito de Kadu.

JÚLIA: – Nunca imaginei que pudesse ser tão feliz.

KADU: – Pra felicidade ficar completa mesmo, só falta a gente colocar o nosso bacurizinho no mundo.

JÚLIA: – Ah não, Kadu.

KADU: – Você prometeu, amor. O ano já virou, tá na hora de cumprir.

JÚLIA: – E a loja? Quem vai cuidar da loja? Meu Deus, a loja!

Júlia dá beijinho nele e corre pro banheiro.

KADU: – Ah, volta aqui, amor! Vamos namorar mais um pouquinho, tá tão gostoso. Deixa pra abrir a loja só à tarde, vai.

Júlia volta já se arrumando pra sair.

JÚLIA: – Nada disso. E você também, preguiçoso… Não tem as fotos do catálogo pra fazer?

KADU: – Caramba! Tô mais que atrasado!

Kadu pula da cama e, apressado, entra no banheiro. Júlia sorri, enquanto penteia o cabelo em frente ao espelho. Corta para:

CENA 14. LOJA DE JÚLIA. INT/EXT. DIA.

Uma loja de artigos artesanais. Júlia atende alguns turistas interessados em souvenirs. Um sujeito – que a CAM não identifica – a observa de longe, por entre alguns tecidos pendurados. Corta para:

CENA 15. RIO. EXT. DIA.

Música: “Save Room” – John Legend. Num barco, acompanhado por colegas de trabalho, Kadu vai tirando fotos das margens do rio. Corta para:

CENA 16. COMUNIDADE RIBEIRINHA. EXT. DIA.

Segue a música. Kadu tira fotos dos moradores e de coisas peculiares da comunidade ribeirinha. Corta para:

CENA 17. RUA DA LOJA DE JÚLIA. EXT. DIA.

Final de tarde. Júlia fecha a loja e vai descendo a rua de pedras. Começa a ser seguida por um sujeito. CAM subjetiva. Tensão. Ela sente que há alguém no seu rastro. Olha pra trás, mas não vê ninguém suspeito. Júlia entra num beco e fica à espreita.

Continua na segunda parte…

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