Capítulo 18 – Agridøcє
Agridøcє
Estava jogada na minha cama na terça-feira à noite, quando Ally passou pela porta. Os olhos vermelhos e inchados mostravam que ela havia chorado. Eu não perguntei, ela não disse. Ficou cada uma jogada em sua cama. Eu não seria a primeira a quebrar o silêncio, não mais. Não era mais essa Wendy.
— Ralph terminou comigo. — Ela comentou depois de um tempo.
— Lamento. — Mas era mentira, eu não lamentava, eu nunca gostara daquele cara.
— Eu também. — ela se encolheu na cama, abraçando os joelhos e afundando o rosto no travesseiro. — Eu também.
— Por que ele terminou? — Sentei na cama e a encarei, encolhida como uma bola.
— Pelo que parece eu não era a gêmea que ele queria. — Ela abriu os olhos e me encarou.
— Sinto muito.
— Sei que sente. — Ela se levantou e caminhou até minha cama, deitou a cabeça em meu colo e se enroscou como uma bola novamente.
— Ele não merecia nem eu, muito menos você. Ele é um babaca, como o amigo dele. Tem mais uma porção de caras legais no Campus, semestre que vem você vai encontrar outro gatinho.
— Não, desisto dos homens! — Já havia perdido as contas de quantas vezes ela dissera aquilo e uma semana depois estava com um novo paquera.
— Como foram as provas?
— Espero que tenha conseguido manter um B-.
— Eu perdi a virgindade. — Ally saiu da sua forma de bola e se sentou na cama com os olhos arregalados. Me encarou sem dizer nada por um tempo.
— C-A-R-A-M-B-A! — ela pronunciou cada palavra devagar, a boca formando um “O”. — Quando isso? Detalhes, Wen, detalhes!
— Foi no último dia de aula. Sei lá, eu quis, ele quis. Aconteceu.
— Quero mais detalhes, isso não é o bastante!
— Você sabe como é Ally, eu não tenho com o que comparar, então pra mim foi bom. — Sorri, botando o cabelo atrás da orelha.
— Você ama ele! — Ela arregalou os olhos novamente, como se aquilo fosse óbvio só ela não tivesse percebido.
— Acho que sim. — Dei de ombros.
— Ah, Wen! — ela se jogou nos meus braços, me apertando. — Me desculpe por agir como uma idiota esse tempo todo! Eu te amo tanto, irmã, senti tanto sua falta! Senti falta de não poder te contar minhas novidades, meus segredos. Às vezes acontecia alguma coisa e eu corria pro celular pra te ligar, mas lembrava o quanto eu tinha sido idiota com você e sentia vergonha. Que irmã péssima que eu sou! Você precisando de mim, e eu dando uma de idiota, eu sinto muito, muito mesmo!
Eu a apertei com força e escondi meu rosto em seu ombro, deixando que as lágrimas caíssem, era bom saber que eu tinha minha irmã de volta, era bom saber que ela também tinha sentido minha falta.
— Eu também te amo, Ally. — Nós duas nos abraçamos com mais força e choramos. E foi extremamente reconfortante.
E foi assim que eu e Ally voltamos a ser inseparáveis de novo, ficamos bem uns 3 dias trancadas praticamente o dia todo no quarto, contando as novidades, o que uma tinha perdido na vida da outra nesses meses em que não nos falamos muito. Descobri que tinha um carinha que era irmão de uma menina que morava na frente do quarto de Ally que era um-fofo-mais-não-era-tão-gato. Seu nome era Steve e ele tinha chamado Ally para sair várias vezes, talvez no próximo semestre ela aceitasse.
Na quinta-feira à noite, meu corpo estava inquieto, no dia seguinte Rylan apareceria em casa, e seria a primeira vez que nos víamos e falávamos desde “o dia”. Ally afirmou que ele viria, que era normal ele não ter me ligado, ou me mandado mensagem, provavelmente estava aproveitando as férias com a família, talvez estivesse tão desconcertado quanto eu. Mas eu tive medo, aquele medo estranho que percorre sua espinha e faz os pelos da nuca se eriçarem. E eu não gostava daquela sensação.
Passei a noite e a manhã seguinte segurando o celular esperando uma mensagem ou uma ligação. Apertei o botão no canto do celular novamente, só para me certificar que havia chegado algo e eu não tivesse percebido. A manhã passou, a tarde veio e passou também. Quando o relógio marcou 5 minutos para ás 19:00 decidi aceitar que ele não viria.
— Relaxa, Wen. Por que você não liga para ele? — Ally apareceu no quarto, depois de me chamar várias vezes no andar de baixo.
— Por que não. — Dei de ombros.
— Da aqui que eu ligo. — Ela estendeu a mão.
— Não, deixa de ser boba, Ally. Quando ele quiser ele liga. — Me deitei, segurando o celular contra o peito.
Então alguém bateu na porta e Ally gritou pra que entrasse, eu continuei virada de costas enrolada na forma de bola em que Ally havia feito dias antes.
— Oi. — Ally disse se levantando. — Qualquer coisa estou lá embaixo, Wen.
Só então me virei para olhar quem havia entrado no quarto, e lá estava ele com aquele sorriso lindo e seus olhos verdes arredondados, o cabelo despenteado apontando para todas as direções, uma camiseta branca e um short jeans mostrando suas pernas bem torneadas.
— Oi. — Ele sorriu. — Demorei?
— Um pouquinho. — Fiz biquinho sentando na cama.
Ele caminhou até a cama e me deu um beijo na testa, me puxando para seu colo. Eu botei meus joelhos em volta da sua cintura e o encarei.
— Te amo. — Sussurrei.
— Te amo mais. — Ele passou a mão no meu rosto e sorriu.
— Demorou, por quê? — Fiz bico.
— Se continuar fazendo bico pra mim, vou ser obrigado a te beijar, meu amor. — fiz bico novamente, então ele me segurou pela cintura e nos beijamos. — Eu avisei.
— Por isso que eu fiz. — sorri.
— Demorei por que sai pra comprar uma coisa, e poxa! Nunca achei que Joy fosse tão cheia de frescura, me fez ficar umas duas horas em cada loja e depois de termos ido em umas seis lojas, ela decidiu que a da primeira era a mais bonita.
— Comprou o que?
— Nossas alianças. — fiquei meio sem reação, nunca tinha passado pela minha cabeça usar alianças, nunca havia passado pela minha cabeça que ele gostasse de mim tanto assim para querer andar por aí com meu nome gravado em uma joia redonda em seu dedo. — Que foi, não gostou da ideia?
Encarei ele sem saber se conseguiria falar sem começar a chorar. Era muito estúpido começar a chorar agora? Provavelmente.
— Eu sei que eu deveria ter te perguntado, mas é que eu estava tendo um almoço super chato com a minha família e minha mãe estava contando mais uma de suas mil histórias com meu pai e aí ela disse sobre o dia que ela ganhou a primeira aliança dele e como foi mágico e como o namoro deles evoluiu pra uma outra coisa depois disso, e aí eu pensei que seria legal, por que eu gosto tanto de você e você parece gostar tanto de mim… — Ele continuou tagarelando até que eu passei os braços em volta do seu pescoço e o silenciei com um beijo.
— Eu amei, só fiquei surpresa, mas amei. Obrigada! — Joguei os cabelos pra trás da orelha, como tinha costume de fazer quando estava envergonhada.
Rylan tirou do bolso uma caixinha vermelha e abriu, duas alianças brancas uma menor com duas pequenas pedrinhas delicadas e uma maior apenas com uma pedrinha. Simples. Perfeito.
O encarei com os olhos cheios de lágrimas enquanto ele colocava a aliança em meu dedo. Agora era tudo mais real.
Capítulo 19 – 07/02
muito boa