Capítulo 16 – Filho Amado
Filho Amado.
Capítulo 16.
Lavoura…
Éssio bebe água antes de voltar para o trabalho: Ah, eu odeio esse lugar.
Bento se aproxima: Éssio, vou aproveitar que você fez uma pausa no trabalho pra conversar contigo.
Éssio, impaciente: Aposto que aqueles dois idiotas foram encher a sua cabeça de lorotas, pai!
Bento se senta em um banquinho: Nem precisava eles irem conversar comigo, eu percebo no teu jeito, Éssio, você anda muito irritado ultimamente, o que aconteceu? Me fala, eu preciso te entender pra poder te ajudar.
Éssio é ignorante: Não tem nada pra entender, aqueles dois vivem fazendo piadinha, dando risadinha, eu acabo me estressando e perdendo a cabeça, só isso.
Bento: Você se estressa com as piadas deles? Mas filho, eu vivo te dizendo que devemos levar a vida com leveza e humor!
Éssio bate o pé no chão: Não tenho paciência pra levar a vida com humor, desde que eu me demiti daquele emprego da prefeitura minha vida virou um inferno, eu odeio esse lugar, sinto que não devo ficar aqui!
Bento tenta ligar as coisas: Tá querendo dizer que quer ir embora daqui? É isso?
Éssio, com a cara fechada: Isso mesmo, cansei dessa lavoura, das pessoas daqui, esses pobres nojentos, enjoei essas plantações, meu lugar não é aqui!
Bento explode: Pois então não tivesse vindo trabalhar aqui, ingrato! Todos da lavoura te acolheram com a maior humildade e você ainda tem a coragem de chamar a gente de “ pobres nojentos”? Tenho nojo de pessoas assim, aqui realmente não é o seu lugar, é lugar de gente sensata e respeitosa!
Éssio tira seu avental: Ótimo, tava cansado de trabalhar nesse lixo mesmo.
Bento lhe dá um tapa: Nunca mais repita isso, ou eu te expulso de casa também, seu sem vergonha- Ele recolhe o avental do filho- Não ouse aparecer nessa lavoura novamente, Éssio!
Éssio, ainda com a marca do tapa: Muito bem, prefiro assim mesmo, sorte teve o Noronha que conseguiu sair dessa cidade e não precisou trabalhar com plantação e nem colhendo tomate podre!
Bento: SAI DAQUI!
Cidade de São Cristovão.
São Cristovão Hotel’s.
Quarto de Noronha…
Noronha troca de roupa: Eu vou visitar a minha mãe, aposto que ela vai ficar com o queixo caído ao me ver.
Jasmine, cautelosa: Cuidado com o que você vai falar, Noronha.
Noronha ajeita sua roupa: Já tenho em mente tudo o que vou falar desde 22 anos atrás, Jasmine-Ele a beija- Eu vou mas volto logo, prometo.
Heliporto do hotel…
Noronha sobe no helicóptero: Podemos ir, Domingues.
Domingues faz os ajustes finais: Certo, chefe.
Calçados Clécio…
Bruno entrega a sacola para uma cliente: Aqui está o seu tênis, senhora, espero te ver todos os dias fazendo a caminhada!
Clécio conta os lucros: Esse mês nós estamos indo muito bem, nunca vendi tanto assim.
Natércia limpa uma vitrine: Sorte sua que você tem a única loja de calçados daqui, chefe- Ela escuta um barulho- Ih, olha Bruno! É um helicóptero.
Bruno sai correndo: Viu, eu falei que ele existia!
Todas as pessoas saem da loja pra olhar.
Bruno, eufórico: Queria saber quem está dentro dele…
Uma menina chega na loja, tem uns 5 anos.
Natércia a observa: Você se perdeu, querida?
A menina “ faz que sim” com a cabeça.
Clécio chega, todo feliz: Pode deixar que eu atendo a nossa cliente mirim- Ele a pega no colo- Posso saber qual o seu nome, lindinha?
A menina sorri: Miriam!
Clécio lhe dá um pirulito:Toma aqui, Miriam- Ele a põe em um balcão- Sua mãe deve estar preocupada atrás de você.
Natércia, estranhando: Bruno, você já percebeu que o chefe se transforma quando uma criança entra nessa loja?
Bruno só presta atenção no céu: Me deixa em paz, Natércia, deixa eu ver o helipoctero!
Uma mulher entra na loja, atordoada: Ah, minha filha- Ela vai até o encontro da criança- Que susto que você me deu, Miriam, nunca mais faça isso- Ela se curva para Clécio- Obrigado por cuidar dela, senhor.
Clécio, gentil: De nada- Ele dá um beijo no rosto da menina- Adoro crianças.
Casa dos Dávila…
Anna continua limpando a casa, de repente a campainha toca: A Alminha deve ter esquecido alguma coisa aqui- Ela abre a porta, mas não há ninguém, apenas um pacote- Se for mais uma brincadeirinha dos moleques dessa rua eu bato em um por um- Ela pega o pacote, fecha a porta, e o abre, são recortes de jornais.
ENTREVISTA COM NORONHA DÁVILA, ELEITO O MELHOR DEPUTADO DE 2010.
NORONHA VAI COM A MULHER E O FILHO PARA CANCUN.
DEPUTADO NORONHA DÁVILA DÁ PALESTRA E É ACLAMADO POR ASSEMBLÉIA.
NORONHA DÁVILA É EXEMPLO DE PERSONALIDADE, DIZ PRESIDENTE DO PAÍS.
NORONHA DÁ EXEMPLO DE HUMILDADE EM FEIRA ANUAL.
OPINATIVO: O QUE DIZER DE UM SER TÃO GENEROSO COMO NORONHA DÁVILA? POR ELEONOR GOODBERRY.
Anna fica perplexa, ela joga todos os recortes no chão: Quem é o responsável por essa brincadeirinha infame?Tem que ser um cretino mesmo, eu vou jogar tudo isso aqui no lixo!- Ela vai até a cozinha, em direção a lata do lixo, quando de repente…
Noronha aparece: Nem pense em jogar isso no lixo, eu levei anos pra juntar tudo!
Anna, horrorizada: N-N-N-Noronha?
Noronha estende os braços: Surpresa!
Anna se afasta: O que você veio fazer aqui?
Noronha abraça a mãe: Que saudades eu estava daqui, pelo visto as coisas continuam do mesmo jeito! Cadê papai e Éssio?
Anna se afasta do filho: Estão trabalhando.
Noronha se senta na cadeira e cruza as pernas: Melhor ainda, assim eu posso ter uma conversa franca com você, gostou dos recortes?
Anna lhe devolve: Pra quê você me mandou isso? Aliás, ainda não entendi, o que você tá fazendo aqui? Sim, porque nunca veio visitar ninguém depois que enricou, não teve um pingo de consideração nem ao menos com o seu pai, que te deu um carro de bandeja!
Noronha pega os recortes e os espalha: Esses recortes são a minha vida depois que sai daqui. Eles mostram a pessoa que me tornei, olha- Ele mostra vários recortes- Veja só como me tratam aqui nessas revistas, olha os elogios que me fazem, eu só tive triunfos depois que saí dessa cidade, e agora voltei, pra triunfar de novo- Ele acaricia o rosto da mãe- E então? Não tem nada pra me dizer?
Anna se mantém firme: Eu teria algo pra te dizer?
Noronha pega os recortes: Lê isso daqui Anna Maria Dávila, “ Deputado Noronha, um exemplo de pessoa pra todo o país”, isso não te orgulha? Eu sou seu filho!
Anna pega o recorte e o lê, mas depois o amassa: Isso não significa nada, eu sei quem você é realmente, na frente de todos aqueles famosos você é uma pessoa, em casa deve ser outra!
Noronha a ronda: Então tudo bem…Eu tentei te mostrar que me tornei uma pessoa de respeito, influente, poderoso! Mas você não ligou pra isso…Tudo bem, então eu vou mostrar na prática, eu voltei pra triunfar mãe, voltei pra jogar aquele jogo que jogamos no passado, aquele jogo em que você e o Éssio me humilhavam, só que dessa vez, eu vou ditar as regras do jogo, e vocês dois vão ter que obedecer.
Anna, seca: Eu sabia, você nunca vem com boas intenções, sempre tem algo por trás! Eu te conheço desde que você nasceu, Noronha, você não é bom, você é maldoso, e vê maldade em tudo, tanto que mesmo rico resolveu voltar pra fazer o mal pra sua família!
Noronha a aplaude: Exatamente. Eu retornei pra devolver tudo o que vocês me fizeram, e na mesma moeda, só que no passado eu não tinha condições de me defender, eu era constantemente pisado, humilhado, massacrado-Ele faz gestos- Só que agora eu sou poderoso, mamãe, e posso fazer o que quiser, eu posso mover montanhas com o meu dinheiro!- Ele a segura pelo braço.
Anna, dolorida: Essas suas ameaças não me assustam, você não sabe do que eu sou capaz quando quero defender alguma coisa, Noronha, se eu fosse você, pararia com esses planos e voltaria pra casa, porque você se acha o invencível mas esquece que em um jogo qualquer um pode se ferir, deixa a gente em paz!
Noronha ri: Não vou deixar vocês em paz, mãe, eu já dei o meu recado, já avisei antes o que eu sou capaz de fazer, agora vamos deixar o destino fluir- Ele solta seu pulso, e ela acaba caindo no chão.
Anna, rancorosa: Você não vai conseguir o que quer, Noronha, eu tô te avisando, nos deixe em paz, ou vai piorar tudo!
Noronha coloca seus óculos escuros: Mostra esses recortes pro papai, ele vai ficar muito feliz, porque ele gosta de mim- Ele abre a porta pra sair- Hoje, as oito, reuna toda a família, quero um jantar em homenagem ao meu retorno, até lá-Ele bate a porta.
Anna fica chorando: Ele veio me arruinar, tava tudo tão em paz…Mas o Noronha não sabe do que eu sou capaz, não sabe.
Lá fora…
Noronha sai andando em direção ao helicóptero: Vai começar a diversão!- Ele sobe em seu veículo- Pode dar partida, Domingues, voltaremos hoje as oito.
Jurema fica observando o helicóptero levantar voo: Meu Deus, que fofoca! O Noronha voltou, preciso contar pra todo mundo!
Na cozinha, Anna pega todos os recortes e coloca em uma bacia: Não quero saber, você não pode me atrapalhar, você não vai me atrapalhar- Ela pega o fósforo e o risca, produzindo fogo- Não me importo com a sua carreira, nem com seus prêmios- Os recortes começam a queimar- Não me importo com você!- Ela começa a rir maldosamente, mas com uma mistura de medo e angustia.
Calçados Clécio…
Clécio fecha a loja: Foi um ótimo dia de vendas, até amanhã, pessoal.
Natércia põe seus óculos escuros: Até!
Jurema chega, afobada: Gente, tenho uma fofoca daquelas hoje, vocês nem imaginam!
Clécio entra em seu carro: Não quero nem saber.
Jurema, exaltada: Escuta essa, eu tava lá em casa pegando uns trocados pra depois ir lá no meu mercado, de repente eu escuto um barulhão- Ela representa, exageradamente- Achei que era o fim do mundo gente, mas quando fui pra fora ver, descobri que o barulho era do helicóptero, o mesmo que passou por aqui hoje cedo, e vocês querem arriscar um palpite de quem é o dono do helicóptero?
Clécio, sem humor: Era o governador que veio mandar destruir essa cidade?
Jurema se benze: Claro que não, Clécio, o helicóptero era do Noronha Dávila, filho da Anna e do Bento!
Bruno quase cai pra trás: O Noronha?
Jurema confirma: Ele mesmo, veio e ficou conversando com a mãe, saiu com cara de feliz, deve ter humilhado a megera da Anna, que sempre maltratou o coitado!
Clécio tenta se lembrar: Mas quem é Noronha?
Natércia conclui: Você ainda não morava aqui quando o Noronha abandonou a noiva porque foi acusado de assassinato.
Bruno, melancólico: Me lembro daquele dia horrível como se fosse ontem, eu fui preso como cúmplice, mas nunca acreditei que o Noronha tivesse cometido aquele crime, ele era o meu melhor amigo- Bruno se lembra de Noronha- Será que ele ainda lembra de mim?- Seu coração enche-se de esperança- Preciso contar isso pro papai e pra mamãe! O Noronha voltou!- Ele sai correndo pela rua- O Noronha voltou!
Termina o capítulo 16.