Capítulo 16 – Cantiga de Amor
Cena 01: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo. Manhã.
Enzo e Prudência falam sobre Agnella.
Enzo – Não precisas ter medo. Há alguém que todos sabem estar interessado em casar com ela. Já decidi: Agnella se casará, o mais rápido possível, com Adelmo.
Prudência – Quem diria que um dia nossa filha se casaria com ele… Tudo bem que ele sempre gostou dela, mas eu nunca achei que ele fosse exatamente o melhor para Agnella.
Enzo – Não te queixes, mulher. Ele é camponês, assim como nós. E dará um bom casamento para ela.
Prudência – E quanto a Agnella? Não ficará sabendo disso?
Enzo – Acho melhor tu, que és a mãe, dizeres a ela. Agora, tenho que trabalhar.
Prudência – Tenha um bom dia, marido.
Enzo – Obrigado. Ah, e não se esqueça de levar, mais tarde, a comida para Agnella. Mas só mais tarde.
Enzo sai.
Cena 02: Entrada do Povoado das Hortaliças.
Inês estava chegando à entrada da floresta, no caminho que levava ao rio. Nesse momento, Leonor apareceu, vinda do povoado. Ela está um pouco distante de Inês.
Leonor – Inês! Não faça isso!
Inês – Deixa-me quieta, Leonor! Eu não vou mais viver presa por aquele crápula! Tenho que fugir!
Leonor – Mas tu não podes! Pelo menos não agora! O teu irmão…
Ao ouvir a menção ao irmão, Inês recua até Leonor.
Inês – O que há com meu irmão?
Leonor – Adelmo sofreu um grave acidente, e está agora em minha casa, como um morto. Foi por isso que Simone e eu estávamos à procura do padre. Ele, tua mãe e o teu marido seguiram para a minha casa, e eu vim buscá-la.
Inês – Bem, nesse caso, acho melhor irmos. Mas a senhora vai ter que me prometer uma coisa. A senhora vai me dar abrigo, porque de modo algum eu voltarei a viver junto de um homem horroroso como esse.
Leonor – (Suspira, sem ter o que fazer) Está certo, Inês. Mas andemos.
Cena 03: Povoado das Hortaliças. Casa de Leonor.
O padre, Simone e Brás chegaram e se dirigiram até Adelmo.
Santorini – Meu Deus, realmente foi grave! O que houve com ele?
Simone – Eu não sei, padre! Eu só sei que ele está aí, quase morto!
Santorini – Não digas isso, minha filha. Jesus há de curá-lo desse sofrimento e ele vai voltar à vida que ele tinha. Bem, não vamos perder tempo, não é? A situação é urgente.
O padre começa a rezar uma oração em latim. Simone e os vizinhos de Leonor que estavam lá se ajoelharam e fecharam os olhos. Só Brás ficou em pé.
Brás – (Sussurrando) Sinceramente, eu não sou obrigado a ficar aqui! Tenho coisa mais importante a fazer.
Na hora em que ele está do lado de fora, Leonor e Inês chegam, seguradas pelas mãos.
Brás – (Em voz alta) A-Ha! Peguei-te, mocinha!
Ele segura no braço de Inês e começa a puxá-la, porém ela resiste.
Leonor – Largue-a, seu cafajeste!
Leonor dá tapas em Brás, mas não tem efeito. Então, o padre chega.
Santorini – Brás, solte o braço de sua mulher!
Brás – Ah, padre, me esqueça! Já o ouvi demais por hoje. Aliás, o senhor não estava fazendo uma oração agora?
Santorini – Já terminei, e eu tenho certeza de que fará muito efeito. Agora, largue Inês.
Brás obedece. Inês bate o pé no chão, com ar triunfante, e depois segue para a casa de Leonor.
Brás – (Para o padre) Feliz agora? Com licença.
Ele se vira.
Santorini – Nem continue. Ou já esqueceu que temos uma conversa? Agora, por favor, fique aqui comigo na casa de Leonor enquanto sua mulher vê Adelmo. Depois, iremos a sua casa.
Eles entram e veem Inês ajoelhada ao lado de Adelmo, chorando. Simone vai falar com Santorini.
Simone – Ele irá ficar bem, não irá?
Santorini – Irá sim. O Senhor Todo-Poderoso vai agir por ele. (Ele se vira para Inês) Inês, por favor, venha comigo.
Inês – Mas, padre, não posso deixar meu irmão. E eu nunca mais quero ficar perto desse homem que está ao seu lado.
Santorini – Não tenha medo. Venha comigo.
Inês olha para sua mãe, que balança a cabeça em confirmação. Ela se levanta e sai, junto com Brás e o padre.
Cena 04: Povoado das Hortaliças. Casa de Inês.
Santorini, Brás e Inês chegaram.
Brás – Mas, afinal de contas, o que o senhor quer comigo?
Inês – E por que eu tenho que estar aqui ao lado desse homem a quem eu, tola, chamava de marido?
Santorini – Tenham paciência. O assunto é sério e diz respeito, no final de tudo, aos dois. Por isso estão aqui.
Brás – E do que se trata?
Santorini – Bem, meu caro, você andou faltando às missas, e perdeu o que eu falei na última delas. Explicarei para vocês o que eu expliquei ao povo naquela noite.
Santorini repete tudo sobre os mouros, Jerusalém e a Guerra Santa.
Brás – Ah, padre, mas isso eu já ouvi muito! Virou assunto aqui no povoado. Só não sei que relação tenho com isso.
Santorini – É simples. Você já foi um escudeiro do rei, não é? Por isso, seu nome foi lembrado como um dos homens que lutarão na Guerra Santa.
Brás se assusta. Os olhos de Inês brilham.
Brás – (Revoltado) Eu? Eu não irei a viagem alguma! Nada vai me tirar daqui! Nada!
Santorini – Não há discussão: são ordens da Igreja. Amanhã mesmo, bem cedo, partiremos daqui para o litoral. E você, Brás, irá conosco.
Brás começa a avançar em direção ao padre, mas desiste.
Brás – E… O que tenho que fazer?
Santorini – Não muita coisa. Separar roupas, claro. Ah, e, no seu caso, estar hoje na igreja no final da tarde. São ordens.
Brás – E quanto a Inês? Ela irá comigo.
Santorini – Nem pensar. Mulheres não irão. Ela ficará aqui, o aguardando.
Brás, furioso, parte em direção ao quarto e bate a porta. Inês corre para abraçar o padre.
Inês – Obrigada! Mil vezes obrigada!
Santorini – Não é bem a mim que tu tens que agradecer.
Inês – (Surpresa) Não?
Santorini – Não. Que isso não se espalhe, mas foi alguém muito mais preocupado contigo que me deu essa ideia.
Então o padre sai. Inês fica sorrindo.
Cena 05: Igreja del Fiume. Horas depois.
Gustavo permanece no quarto em que foipreso pela irmã Francisca. Ele está relembrando um momento.
– Flashback –
Gustavo e Agnella estão à beira do Rio dos Campos.
Gustavo – Eu te amo muito. De verdade.
Agnella – (Volta a abraçá-lo calorosamente) Eu também te amo. Muito.
Agnella e Gustavo, no calor do momento, não resistem aos impulsos. Começam a se beijar, e, aos poucos, se rendem, amando-se ali mesmo, embaixo da frondosa árvore e à beira do rio.
– Fim do flashback –
Gustavo – Agnella, meu amor, a gente ainda vai ficar junto! Eu prometo!
A porta se abre e o padre entra.
Gustavo – Padre? O senhor veio me tirar daqui?
Santorini – Não, rapaz, apenas trazer sua comida. Depois de desobedecer à minha ordem, você ficará aí pelo menos até o final do dia.
O padre entrega a comida a Gustavo.
Santorini – Pois bem, Gustavo, até mais tarde. E reflita muito bem sobre suas atitudes. Lembre-se: às vezes, é melhor não se precipitar.
Ele sai. Gustavo começa a comer.
Cena 06: Povoado das Hortaliças. Casa de Inês. Final da tarde.
Brás passou todo o dia dentro do quarto. Ao sair, pronto para ir para a igreja, encontra Inês.
Inês – (Irônica) Até que enfim tu saíste! Estive te esperando para me despedir de ti.
Brás – Não sei por quê. Me odeias tanto, não é?
Inês – (Se aproxima dele, cínica e sensualmente) Até que eu gostava de ti. Porém, me decepcionei quando percebi quem realmente tu eras. Só que agora, te vendo sair para a guerra, eu me sinto livre. (Se vira e vai se afastando dele) Boa viagem, escudeiro do rei! Quer dizer, do papa.
Brás – Que viagem que nada! Ainda vai nascer papa que me tire daqui!
Brás agarra Inês pelo braço, sai de casa, monta no cavalo e segue para a entrada do povoado.
Inês – (Gritando) Socorro! Me solta, seu crápula! Socorro!
Quando eles chegam à entrada, Pero aparece em sua frente, montado em seu cavalo, encurralando-os.
Pero – Larga a minha Inês!
Brás desvia, mas Pero o segue.
Pero – Estou dizendo: largue-a!
Brás – Saia do meu encalço, camponesinho apaixonado! Eu fugirei e levarei minha mulher comigo!
Pero – Ah, mas não vai fugir mesmo!
Pero dá um tapa forte no cavalo, que se descontrola e, correndo desenfreado, acaba batendo no cavalo de Brás. Todos caem no chão. Brás se levanta e corre, arrastando Inês, mas Pero pega uma pedra de tamanho médio e arremessa em sua cabeça. Ele cai, com Inês embaixo.
Cena 07: Povoado das Hortaliças. Casa de Enzo. Quarto de Agnella.
Agnella está deitada, segurando um prato de comida e um copo de água. Sua mãe está ao seu lado.
Prudência – Minha filha, come! Desde o almoço que eu te trouxe isso, e tu não colocaste nada na boca!
Agnella – Não quero comer, mãe! Não enquanto eu não estiver com Gustavo e nós não noivarmos!
Prudência – Agnella, não insistas. Isso só irá te prejudicar!
Agnella – Mais do que a senhora e meu pai já me prejudicaram, me afastando do meu amor? Fazer jejum não se compara ao que eu já estou sofrendo.
Prudência – Minha filha, sendo tu eu comeria. Até porque não há mais esperanças para ti de casares com aquele homem.
Agnella – O que houve com Gustavo? Ele foi embora? Ele…
Prudência – Não, minha filha. Na verdade, eu e seu pai decidimos que você se casará com outro homem.
Agnella – (Agnella se apavora) C-casarc-om outro homem? Não, mãe, isso não pode acontecer!
Prudência – Filha, eu já disse que não há mais história entre ti e esse filho de senhores feudais! Realidades diferentes, que nunca irão se misturar!
Agnella – Não, mãe! Eu falo… De outra coisa mais séria.
Prudência – (Se assusta) Séria? Filha, não me ponhas medo. (Fala pausadamente) Por Deus e Nossa Senhora, o que te faz ter tanta repulsa em casar com outro homem, se não é o amor que dizes sentir por Gustavo?
Agnella – Eu não queria contar isso para ninguém, principalmente a meu pai. Mas não há saída. Mãe, eu… Eu e Gustavo nos… Nos amamos… Nós… Nós nos deitamos, ficamos juntos, nos unimos… Aconteceu, foi… Inevitável. E por isso, mãe, nenhum homem, a não ser ele, poderá se casar comigo. Só ele! Só…
Agnella vira o rosto, envergonhada. Prudência, atônita, tenta se levantar, mas sente uma tontura e cai no chão, desacordada. Vendo isso, Agnella se ajoelha ao lado dela.
Agnella – (Desesperada) Mãe! Acorda, mãe! Perdoa-me! Me perdoa…
E, olhando para o teto, começa a chorar.
Nossa, fortes emoções. Pero tentando ser o herói e salvar sua amada Inês. Estou do lado dele, já que pra mim Brás não vale o que come, ô homem sem escrúpulos! Coitado do Gustavo, não merecia esse castigo 🙁
E a Prudência não aguentou a revelação da filha, acabou desmaiando!
Adnella( Adelmo e Agnella) não pode acontecer!
O trabalho de Pero é difícil, porque Inês é muito turrona, e ambiciosa. Mas ela já percebeu a diferença entre Pero e Brás, isso, já. Gustavo irá superar tudo isso. O que lhe aguarda mais para frente é que é difícil. Uma mãe desse tempo com certeza ficaria estarrecida com a notícia de Agnella. Quanto ao casal “Adnella”… Bem, o desenrolar dos capítulos nos dirá o que será deles dois.
Nossa, Pero, Inês e Brás numa correria e a pedrada então kkkk, bem que o Brás mereceu.
E essa agora, a Agnella teve que contar a mãe que dormiu com o Gustavo, e a mulher desmaiou…. quando o Enzo saber disso vai cortar o pescoço da filha…iiii vem muita coisa por aí!!!!
🙂
Pero tem sido fiel a sua amada, e provou isso mais um vez agora.
E uma notícia como essas, em plena Idade Média, não é fácil pra uma mãe digerir. E, realmente, pra um pai é pior. Enzo não deverá ficar feliz com isso, mas, quando ele souber, o contexto vai tratar de arranjar um “escape”.
Conto com você nos próximos capítulos! 😀
Não quero nem ver quando o Enzo souber disso…Tomara que a pedrada do Pero dê em alguma coisa contra o Brás. ou que mandem mesmo ele para as Cruzadas.
Brás está, de certa forma, encurralado. Ao menos por enquanto. Será que ele se deixará submeter tão fácil à vontade alheia? Cenas dos próximos capítulos…
Obrigado pelo comentário! Continue presente!